


2. Senhor Firestriker
“L..Lorde...er...,” começou o gerente Fothmar.
“Firestriker.” O homem não olhou para Fothmar de jeito nenhum, e sua voz era tão profunda e masculina quanto ela imaginava. Seus olhos pousaram nas mulheres, alinhadas como se fossem mercadorias. Gayriel se sentiu envergonhada de ser apresentada entre elas.
Isso não era aceitável. Ela não tinha razão para impressionar esse homem. Na verdade, ele parecia ainda mais alerta...e perigoso do que Hreth.
Por um momento, seus olhos se fixaram nos dela. Ela teve a sensação impossível de que ele estava de alguma forma olhando dentro dela, que ele podia ver sua alma, sua intenção.
Ela foi a primeira a desviar o olhar, respirando fundo.
“Lorde Firestriker, nunca tivemos o prazer de fazer negócios com um dos seus...com...,” ele tossiu. “Qual é a sua preferência, grande lorde?”
A sala ficou em silêncio por longos momentos. Até os Lordes, que vieram para o dia de escolha, não ousaram dizer nada.
Ela queria olhar para cima, vê-lo novamente.
“Eu disse aquela!” O homem começou a mostrar sinais de impaciência, “Você me ouviu?”
Agora ela olhou para cima. Aquela?.....ele estava apontando para ela.
Fothmar tossiu, ou talvez tenha engasgado de indignação. Era difícil dizer com seu foco ainda fixo em ‘Firestriker.’ Algo mudou em sua visão periférica.
Hreth, no final da fila, com o braço estendido e segurando o queixo de uma loira, forçando seu rosto para cima para inspeção. Ela ficou parada, permitindo seu toque, olhos baixos.
A ira cresceu dentro de Gayriel, aquela irritação sempre presente com a natureza passiva das outras garotas, com sua própria farsa. Ah, ser livre. Então ela nunca sofreria um toque que não desejasse.
O que ela desejaria? Seu olhar demorou-se nos ombros largos e na cintura fina de Firestriker. Seu corpo a traiu. Um desejo profundo torceu seu abdômen e se instalou em uma poça quente entre suas pernas. Suas bochechas coraram, mas ela rezou aos Seis Deuses para que não fosse perceptível.
“Lorde Firestriker, estamos esperando que elas amadureçam há três anos. Você não pode simplesmente furar a fila.” Hreth se aventurou a dizer, mas não ousou olhar o homem no rosto.
Firestriker não respondeu, apenas o encarou com um olhar deliberado e mordeu o lábio inferior.
Lorde Bannath abriu a boca para falar e depois a fechou novamente ao perceber um brilho assassino nos olhos de Firestriker.
O nerd estudioso ficou em silêncio, olhando para baixo para evitar qualquer contato visual.
Hreth sentiu um rápido remorso misturado com medo. Seu rosto ficou pálido como cinzas, e seus lábios tremiam.
Hreth abaixou a mão, o gesto brusco e abrupto. Seus lábios se curvaram para baixo, esticando suas feições bonitas em uma carranca.
Ele estava com raiva, mas mais do que isso, havia medo, Gayriel supôs. Mas ele não reagiu, apenas ficou ali, encarando.
“Meu Lorde Firestriker, não é assim que esta casa de escolha funciona. Primeiro exigimos um depósito, e elas levam três anos para amadurecer...,” a voz de Fothmar começou forte, mas foi se apagando. Ele estava tentando manter a ordem nesta casa de escolha. Firestriker o encarou, impassível.
“Ofereço trezentos platinas.”
Um longo silêncio preencheu a câmara. Nem mesmo um farfalhar de seda no vento desafiou o silêncio. Talvez até os ventos dessem a este Firestriker um grande espaço.
A mente de Gayriel tropeçou. Ela nunca tinha visto sequer cem platinas juntas, e esse era o seu preço de compra. Trezentos platinas poderiam comprar...bem, muita coisa.
“Isso é mais de três vezes o valor dela, meu Lorde.” Fothmar esfregou o punho de suas vestes brancas, mas não disse não diretamente.
Firestriker estava sério, no entanto, um músculo tremendo em sua mandíbula sombreada. A barba fina ali chamou sua atenção, e ela se perguntou se seria áspera, como a língua de um gato-do-deserto.
Será que ele se desencorajaria com a resistência? Se ele estava procurando uma companheira de cama disposta, faria melhor escolhendo uma das outras.
De qualquer forma, não importava. Desde seu primeiro estudo avaliador dela, ele não olhou para trás.
“Então qual é o problema?” ele exigiu, lembrando-a de que, embora Fothmar não tivesse dito não, ele ainda não tinha concordado...ainda.
“Protocolo—” Fothmar começou.
Mais impaciência em seu rosto. “Você e eu sabemos que tenho direito a qualquer coisa aqui. Em vez disso, ofereço-lhe uma compensação mais do que justa por uma. E se você deseja deixar toda a Guarda Âmbar entrar, sugiro que a libere para mim...agora.”
Fothmar ficou ainda mais pálido. Sua aparência, construída tão perfeitamente quanto todo o resto na casa de escolha, piorou. Ele passou os dedos pálidos e nodosos pelo cabelo grisalho, esquecendo que estava preso firmemente na nuca. Quando ele puxou, vários fios bem engraxados seguiram e ficaram espetados.
A sala parecia congelada, enquanto seu destino pendia na balança. Até que, finalmente, Fothmar assentiu, um movimento tenso e forçado, seus lábios pressionados firmemente para baixo, ou zangado, ou desapontado.
Não. Sua mente sussurrou, e, por um momento, ela não podia correr, e não podia lutar...tudo estava perdido.
“Seu pedido foi concedido, Lorde Firestriker,” Fothmar suspirou. “Vá e pegue suas roupas, Gayriel,” ele a comandou.
“Não se preocupe,” Firestriker interrompeu, um brilho divertido em seu olhar âmbar. “Ela não vai precisar delas.”