Capítulo 2

O horror me atingiu como uma onda gigante. "Você não pode estar falando sério—"

"Eu nunca estive mais sério em toda a minha vida." Ele se virou para me encarar totalmente, os olhos brilhando com uma luz profana. "Pense nisso, filho. Um casamento político entre nossos povos, legitimado por um verdadeiro vínculo de companheiros? Os lobisomens não teriam escolha senão aceitar. E uma vez que vocês estiverem casados..."

Ele não precisava terminar. Eu entendi perfeitamente. Uma vez que eu me casasse com Seraphina, ele teria influência sobre toda a nação dos lobisomens. Controle.

"Ela nunca concordará com isso," eu disse desesperadamente. "O povo dela nunca permitiria."

O sorriso do meu pai era puramente predatório. "Ah, mas eles permitirão. Porque, veja, eu já fiz os arranjos." Ele gesticulou para as cartas em sua mesa. "A delegação dos lobisomens foi... persuadida... a ver a sabedoria nesta união. Um casamento para selar o tratado de paz."

Minhas pernas quase cederam. "O que você fez?"

"O que eu tive que fazer para garantir o futuro do nosso povo." Seus olhos brilhavam com satisfação maliciosa. "A princesa está sendo preparada para a cerimônia enquanto falamos. O pai dela já deu seu consentimento."

Através da conexão mental, eu senti— a confusão de Seraphina, seu pânico crescente enquanto ela percebia o que estava acontecendo.

"Você não pode forçá-la a isso," eu disse, minha voz falhando.

"Forçar? Meu querido menino, isso é diplomacia no seu melhor." Ele se aproximou, colocando uma mão no meu ombro. "Ela é sua companheira, Lysander. O vínculo a tornará complacente em breve. E uma vez que vocês estiverem casados, uma vez que ela tiver seus filhos... a linhagem dos lobisomens estará para sempre ligada à nossa."

As portas do Grande Salão se erguiam diante de nós enquanto saíamos de seus aposentos, e além delas, eu podia ouvir o murmúrio de vozes. A cúpula estava prestes a começar—mas era tudo uma fachada.

As palavras finais do meu pai me seguiram como uma maldição: "Bem-vindo ao verdadeiro motivo desta cúpula de paz, garoto. Antes do anoitecer, você será um homem casado, e nosso povo terá vencido uma guerra sem derramar uma gota de sangue."

Mas era tarde demais para perguntas.

Eu entrei no Grande Salão com a confiança de um predador que não teme nada—nem mesmo a fúria esperando lá dentro. O silêncio se espalhou pela câmara enquanto as cabeças se voltavam primeiro para ele, depois para mim enquanto eu o seguia. Dezenas de pares de olhos se estreitavam em uníssono, especialmente os lobisomens—fervendo de impaciência e desprezo mal disfarçado.

Deixem que olhem. Deixem que rosnem.

Eu levantei o queixo e encarei seus olhares. Eu não vim aqui para ser simpático.

Do alto, na varanda arqueada dos menestréis, estava o Rei Silvion—o monarca élfico envolto em mantos fluídos de prata e gelo. Como antes, ele observava como um ser celestial distante, intocado pelo caos que se formava abaixo. Seus lábios se contraíram em uma linha rígida com nossa chegada tardia, os olhos brilhando como lascas de safira.

Eu olhei para o relógio ornamentado atrás do estrado. Dois minutos de atraso.

Chore-me um iceberg, pensei.

Silvion limpou a garganta em desaprovação deliberada.

Eu não desviei o olhar. Pomposo idiota.

"Cuidado, irmãozinho," murmurou Darius ao meu lado, sua voz cheia de malícia. "Você está a uma ofensa de se juntar ao jardim de esculturas de gelo dele."

Eu lancei um olhar fulminante para ele. Seu cabelo preto caía sobre os olhos, o mesmo sorriso divertido brincando em seus lábios que ele sempre usava quando o caos estava prestes a se desenrolar.

"Eu preferiria ser uma estátua do que beijar o—"

"Quinhentos ouros que você estará usando carambolas de gelo antes do fim da hora," ele interrompeu, alegre demais.

Eu mostrei o dedo do meio para ele por baixo da mesa. Uma risada escapou de seus lábios, rapidamente silenciada por uma cotovelada da nossa irmã. Nyx, sempre a diplomática, tinha dado uma cotovelada nele sem nem olhar para o lado.

Um movimento perto da entrada chamou minha atenção—e de repente, o mundo se estreitou.

Seraphina Nightclaw entrou no salão, flanqueada por seus guardas e seguida de perto por seus pais. Um silêncio caiu sobre os lobisomens. Eu mal os registrei.

Sua postura era régia. Costas retas. Queixo erguido. Mas seus olhos... deuses, seus olhos. Sombras os assombravam. O cansaço a envolvia como um véu. Seu vestido prateado brilhava como o luar, e ainda assim, parecia pesar em seus ombros.

E ainda assim, ela era deslumbrante.

O desejo se enrolou em meu estômago. Eu cravei minhas garras na palma da mão até sangrar, deixando a dor clarear minha mente. Esse não era o lugar nem a hora para querer ela do jeito que eu queria.

Ela se sentou atrás de seus pais, o peso do cansaço puxando cada um de seus movimentos. Eu quase me levantei. O que aconteceu com ela? Mas me forcei a ficar quieto.

Eu não tinha esse direito. Não aqui. Não agora.

A voz do rei élfico cortou o silêncio. “Agora que finalmente estamos todos presentes,” ele disse, os olhos lançando um olhar de desdém para Seraphina. Ela baixou o olhar. Minhas garras coçavam. Uma palavra—só mais um insulto dele—e eu perderia toda a compostura diplomática.

“Tenho um anúncio,” disse o Rei Malachar, levantando-se de seu trono.

Cada criatura no salão congelou. O rei dos lobisomens, Fenris, virou a cabeça lentamente em direção ao meu pai, o cenho se aprofundando a cada batida do coração.

“Acredito que você vai querer ouvir o que tenho a dizer, Fenris,” meu pai continuou calmamente, sem nunca desviar o olhar dele.

A tensão sufocava o ar. O poder vibrava à beira da violência. Fadas e lobos trocavam olhares e mostravam os dentes, a segundos de uma carnificina completa.

“Vá direto ao ponto,” rosnou Fenris.

O Rei das Sombras permaneceu alto e imperturbável. Ele olhou para Seraphina—apenas por um momento—e meu coração se apertou em pressentimento.

Não... não faça isso, pai.

“Durante séculos, temos guerreado,” começou o Rei Malachar, a voz carregando como um feitiço. “Fadas e lobos, garras e sombras. Mas agora estamos à beira de algo maior—algo que pode mudar o destino dos reinos.”

Ele fez uma pausa.

Eu senti isso nos ossos.

Ele ia fazer.

“Eu ofereço meu filho, Príncipe Lysander Malachar Shadowmere, à Princesa Seraphina Nightclaw,” ele declarou. “Como seu par destinado.”

O mundo explodiu.

Uivos de protesto, gritos de descrença, poder crepitando no ar enquanto ambas as cortes irrompiam em fúria. Um guarda foi arremessado por uma força invisível. Um cálice se quebrou. Vi um nobre lobisomem desembainhar suas garras e avançar—apenas para ser derrubado por dois guerreiros fae.

Seraphina olhou para meu pai, os lábios entreabertos, congelada em descrença. Seu rosto pálido ficou fantasmagórico.

Nossos olhos se encontraram.

E naquele segundo, foi como se o caos desaparecesse. Como se o tempo parasse, e nós fôssemos os únicos dois seres restantes em todo o reino. Seu olhar travado no meu—e eu soube. Ela não sabia. Ela estava tão surpresa quanto eu.

Então a temperatura caiu.

Gelo subiu pelas colunas de pedra, o chão sob nossos pés se cobrindo de uma camada fina e estalante. Lustres pingavam com pingentes de gelo que não estavam lá um momento antes.

Um silêncio mortal caiu.

Todos os olhos se voltaram para a fonte.

O olhar do Rei Silvion brilhava como luas gêmeas na escuridão. A mera pressão de sua presença ameaçava achatar o salão.

“Chega,” ele disse suavemente.

Todos obedeceram.

O Rei Malachar se virou para ele e—pela primeira vez—vi algo estranho nos olhos do meu pai.

Um pedido silencioso.

Silvion inclinou a cabeça lentamente, então se virou para o Rei Fenris. “Acredito que todos estamos ouvindo agora... não é, Fenris?”

O rei dos lobisomens parecia dividido entre eviscerar alguém e arrancar os próprios cabelos. A Rainha Celeste mostrou os dentes em um rosnado silencioso, sua voz afiada como uma lâmina. “Você ousa dizer que minha filha está destinada ao seu filho?!”

“Ela não foi tocada,” falei, levantando-me. “Descobrimos o vínculo apenas na abertura da cúpula.”

Seraphina estremeceu. A fúria de sua mãe se voltou para ela instantaneamente. “É verdade?” ela exigiu. “Você se uniu a esse fae imundo?”

“Ela não se uniu,” eu disse friamente. “Eu a persegui. Ela me disse que nunca poderíamos ficar juntos.”

Gritos de surpresa ecoaram. O salão pulsava com descrença atônita.

A Rainha Celeste zombou de mim, mas Seraphina... ela parecia grata. Um lampejo. Um suspiro. Então desapareceu.

O Rei Fenris se virou para sua filha. “Por que você não me contou?”

Seus lábios tremeram. “Porque eu não queria que fosse verdade.”

Isso doeu mais do que qualquer insulto.

Mas foi honesto.

O rei élfico interveio, a voz calma. “Sugiro um recesso. Duas horas. Deixe os ânimos esfriarem.”

Meu pai assentiu. “Concordo.”

O Rei Fenris hesitou, então finalmente grunhiu, “Que assim seja.”

Silvion levantou a mão. “A reunião está encerrada.”

Enquanto os nobres saíam, os murmúrios aumentavam—fofoca, medo, raiva se transformando em uma tempestade perfeita.

Eu permaneci sentado, o olhar fixo em Seraphina.

Ela não se moveu.

Mas seus olhos... eles brilhavam com algo que eu nunca tinha visto antes.

Terror.

Não. Não apenas terror.

Resignação.

Como uma garota que já sabia o que estava por vir.

E foi então que eu vi—apenas por um instante—um lampejo de escuridão se enrolando na ponta de seus dedos. Quase imperceptível. Quase real.

Mas me gelou mais do que o gelo do rei élfico jamais poderia.

Porque não era magia de lobo.

E não era minha.

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