


CAPÍTULO 1 — REJEIÇÃO SEVERA
—
Cuidado com essa coisa traiçoeira chamada felicidade, pois é o portal para a tristeza.
—
O mundo diante dos olhos de Celeste havia virado de cabeça para baixo.
Sua vida...
Suas escolhas...
Tudo havia inclinado para a esquerda e Celeste não estava grata à deusa da lua por isso.
Ela conseguiu o que desejava, mas as probabilidades não estavam a seu favor.
Seu companheiro, Zillon Macre, não era tão angelical quanto parecia.
Ele era uma besta, um homem sem consciência, um homem sem coração.
Ele a tratava como se ela fosse um vaso sanitário, mas mesmo assim, seu coração ainda batia por ele.
Sempre que ele estava por perto, seus pulmões se sentiam leves como uma nuvem e seu cheiro; sua singularidade e doçura a acalmavam diligentemente. O vínculo de companheiros era bastante proeminente entre eles, mas nos dois dias em que Celeste o conhecia como seu companheiro, tudo o que ele mencionava era sua irmã.
Ele não a via como sua companheira, deixou isso bem claro na noite em que a marcou.
Naquela noite, quando a cor laranja em seus olhos se dispersou para obsidiana, ele a empurrou para longe como se ela fosse um vírus contagioso. Ele a olhou com um olhar penetrante e as palavras que ele proferiu depois poderiam tê-la matado na hora.
'Lastimável... você é minha companheira? É um esforço até olhar para você, como, em nome do céu, eu viveria com você? Essa marca no seu pescoço, esqueça, meu lobo te marcou, não eu... minha marca pertence a Celia.'
O coração de Celeste quase desmoronou. Foi difícil para ela respirar, ainda mais quando ele cuspiu repulsivamente no chão e continuou a machucá-la com suas palavras duras.
'A única razão pela qual não vou te rejeitar é porque ômegas morrem no processo e, como futuro alfa, proteger minha matilha é minha principal prioridade, não matá-los. Mude-se em dois dias, não posso deixar que os membros da matilha pensem que sou um companheiro ruim de qualquer maneira.'
E então ele deixou Celeste no terreno da matilha com o coração despedaçado. Seus olhos o seguiram até que ele desaparecesse de vista e seu lobo continuava a uivar em sua cabeça.
Era doloroso; ser companheira de alguém que não te queria, mas mesmo depois de ele a desprezar com aquelas palavras, ela acreditava que o vínculo de companheiros o ajudaria a perceber que a deusa da lua não cometia erros. Se eles eram companheiros, então deviam ser por uma razão.
Com um suspiro triste, Celeste empurrou sua última peça de roupa na mala. Era hora de enfrentá-lo agora, os dois dias pelos quais ela estava tão ansiosa haviam passado e agora era hora de se mudar para a casa de Zillon.
Ela queria ir, morar perto de sua paixão era um sonho realizado, mas havia essa dúvida dentro dela.
E se ele continuasse a tratá-la mal?
A lembrá-la duramente que ela não era quem ele realmente queria?
Isso a quebraria; física e mentalmente.
Faria com que ela se sentisse insuficiente e indesejada.
Faria com que ela se sentisse ainda mais solitária do que já era.
Durante toda a sua vida, Celeste caminhou sozinha, seus pais não lhe davam muita atenção porque davam tudo a Celia e na escola, ela não tinha amigos.
Anteriormente, ela havia rezado por um companheiro, alguém com quem pudesse falar livremente e que... simplesmente sempre estivesse lá.
Zillon era o número um em sua lista, mas parece que ele não era capaz de ser o companheiro que ela sempre quis.
Fechando sua mala, ela a arrastou até a tábua retangular presa em um concreto grosso. Ela girou o botão situado nela e, com um suspiro frustrado, abriu a porta, sem hesitar em passar por ela.
Seus passos a levaram pelos rangentes degraus de madeira e, assim que desceu o último, foi bombardeada por seus pais.
"Celeste, você tem certeza de que quer se mudar tão cedo?"
Celeste olhou para sua mãe com olhos indiferentes. Ela parecia preocupada, não parecia?
Bem, a verdade é que ela estava preocupada apenas com Celia.
"Sim, mãe, ele me disse para me mudar, lembra?"
"Sim, mas... b-" ela limpou a garganta e olhou para seu companheiro, Williams. "Querido, diga a ela."
Williams, o pai de Celeste e também o beta da matilha, suspirou. "Por que sou sempre eu quem explica?"
"Porque, querido, você é muito bom em expressar sua opinião, especialmente quando se trata de coisas que as pessoas normais podem achar difícil de dizer."
"Então eu não sou normal?"
"Nem um pouco, então diga a ela."
Com outro suspiro, o beta olhou para sua filha. "Olha, Celeste, nós achamos que isso; você se mudar para a casa do seu companheiro não vai funcionar. Acreditamos que isso só vai afastar você e sua irmã. Zillon é o namorado da sua irmã e, além disso, seu companheiro. Será impossível compartilhar."
Celeste estreitou os olhos enquanto o encarava sem expressão. "Por que teríamos que compartilhar?" Ela deu de ombros. "Ele é meu companheiro, de acordo com a tradição da matilha, é obrigatório que ele me escolha."
"Mas ele vai te escolher?"
Essa pergunta apunhalou Celeste bem no coração e a força fingida que a cercava rapidamente desapareceu.
Ele a escolheria?
Eles eram companheiros, mas ele não precisava necessariamente escolhê-la. É raro, mas às vezes os companheiros se rejeitam.
O processo era doloroso, tanto que ômegas como Celeste não conseguem sobreviver a ele, mas Celeste não seria rejeitada, seria?
Ela não morreria só porque não era desejada, não apenas por seu companheiro, mas por todos, certo?
Nada disso acontecerá com ela... certo?
Certo. Porque Celeste não permitiria. Ela daria tudo de si e, no final, ele não teria escolha a não ser escolhê-la.
Acenando confiante para si mesma, ela caminhou entre seus pais, arrastando a mala atrás de si. "Não tenho certeza, acho que vou ter que me mudar para descobrir."
"Celest..."
Celeste afastou sua mãe com a mão e continuou seu caminho, encontrando a última residente da casa na porta, sua irmã mais velha. Ela sorriu levemente, o canto dos lábios obviamente falso. "Acho que nos veremos em breve."
"Você vai me ver em breve," Celia respondeu. "Quando meu Zillon te expulsar."
Sem energia, sem força para lutar... "Sim, bem, acho que você está certa, Celia." Celeste respondeu.
"Ele deveria te rejeitar, pelo menos assim eu me livraria da minha repetição."
Uma repetição? O coração de Celeste acelerou, seus olhos se voltaram para as paredes brancas e sem vida. "É isso que eu era? É engraçado como estou descobrindo isso agora." Ela riu, os dedos apertando firmemente a alça da mala. "Você deveria ter me contado antes."
"Eu deveria, não sei o que me impediu de deixar claro o quanto você é indesejada. Você é apenas um extra para mamãe e papai, e alguém facilmente substituível pelo próprio companheiro. Mas vá agora, você descobrirá em sua jornada o quão insignificante você pode ser."
Os olhos de Celeste quase se encheram de lágrimas enquanto ela seguia para fora. Ela sabia que sua irmã estava certa, por mais que tentasse negar, ela realmente era insignificante.
Ninguém a queria... Mas estava tudo bem... desde que ela quisesse a si mesma.
A/N// Conheça Zillon no próximo capítulo.