


Capítulo 1 Ele vai me matar
POV de Rachel
A chuva batia impiedosamente contra minha pele enquanto eu corria na escuridão. Cada passo enviava ondas de dor pelo meu corpo, meus pulmões queimando a cada respiração desesperada. Minhas pernas estavam travando, implorando para eu parar, mas eu não podia. Eu já estava atrasada.
Ele vai me matar desta vez.
A lembrança da minha última punição passou pela minha mente—dois minutos de atraso e eu não consegui deitar por uma semana por causa dos hematomas.
O que ele faria comigo esta noite?
Diminui o ritmo ao me aproximar do escritório do meu pai, tentando recuperar o fôlego. Minhas roupas encharcadas grudavam no meu corpo, me fazendo tremer apesar da noite de verão. Foi então que eu os ouvi através da porta parcialmente aberta.
"Querida... em alguns dias, ela não será mais nosso problema." A voz da minha madrasta Isabel tinha aquele tom alegre familiar que ela reservava para minhas desgraças.
Eu congelei, me achatando contra a parede, minha mente girando em um turbilhão de confusão. Que diabos estava acontecendo?
Meu coração batia forte enquanto eu tentava juntar as peças, completamente desorientada.
"...eles vão levá-la embora, e nós receberemos o dinheiro."
Dinheiro? Levar-me embora?
"Tic-tac, Rachel. Você está atrasada novamente."
A voz atrás de mim me fez pular. Daniel, meu meio-irmão, estava lá com aquele olhar predatório familiar nos olhos.
Ele deixou seu olhar percorrer minhas roupas encharcadas de chuva, demorando-se onde não deveria. Eu estremeci, lembrando como ele tentava me tocar desde que eu tinha quatorze anos.
A única razão pela qual Isabel tinha parado seu assédio era porque eu trazia dinheiro do meu trabalho como garçonete na lanchonete local.
"Você está pingando no chão," ele sorriu, estendendo a mão para afastar uma mecha molhada do meu rosto.
Eu me afastei. "Não me toque."
Seu sorriso se alargou enquanto ele empurrava a porta do escritório. "Olha quem eu encontrei espionando do lado de fora."
"Pai..." Minha voz vacilou, mal acima de um sussurro enquanto eu hesitava em entrar na sala. O cheiro familiar de uísque pairava pesado no ar.
Uma onda esmagadora de constrangimento tomou conta de mim, fazendo minhas orelhas queimarem de vermelho, como se estivessem em chamas.
Eu podia sentir o calor subindo pelo meu pescoço, e lutei contra o impulso de me mexer sob o peso do momento.
As unhas de Isabel batiam impacientemente contra a mesa. "Eu disse que ela era problema, andando por aí e espionando como um rato. Quem sabe o que ela vai fazer quando crescer?"
"Você estava nos ouvindo?" Meu pai, Henry Sullivan, bradou, sua voz tão alta que me fez recuar.
"Eu—eu trouxe o dinheiro que ganhei hoje..." Eu procurei no meu bolso pela pequena carteira, esperando desviar sua atenção.
A risada de Isabel foi fria. "Como você é esperta, tentando encobrir seus crimes com alguns dólares? Além de estar atrasada, você está espionando... Alguém precisa aprender uma lição."
Meu pai não me bateu imediatamente. Em vez disso, ele arrancou a carteira das minhas mãos trêmulas e esvaziou seu conteúdo na mesa.
"Isso é tudo?" Sua voz estava perigosamente quieta.
"Estava chovendo muito hoje, então a lanchonete não teve muitos clientes... Eu dei a você cada centavo que ganhei..." Eu mantive meus olhos no chão, com medo de encontrar seu olhar.
"O que você está dizendo? Que eu dependo de você para me sustentar? Você ousa zombar de mim?" Seu rosto ficou vermelho de raiva, veias saltando nas têmporas.
"Não, me desculpe... muito desculpe... por favor, não—"
O tapa veio de repente, me derrubando no chão. A dor explodiu na minha bochecha enquanto eu sentia o gosto de sangue.
Antes que eu pudesse me recuperar, seu punho acertou minhas costas, depois minha cabeça. Eu me encolhi em uma bola, tentando me proteger.
"Pai... por favor, pare..." Eu soluçava, braços cobrindo minha cabeça.
"Você vai matá-la, Henry." A voz de Isabel não estava preocupada comigo, mas calculista. "Querido, lembre-se... aquele rosto bonito e voz são seus maiores trunfos. Não queremos danificar isso, certo?"
O próximo golpe de Henry pausou no ar. "Ela claramente não está trabalhando duro o suficiente! Este dinheiro não é nada! Nada comparado ao que eu esperava. Por que a Deusa da Lua a abençoou com tais talentos em primeiro lugar?"
Eu fiquei encolhida no chão, com medo de me mover.
"Ela é obviamente mais decepcionante do que esperávamos," Isabel suspirou dramaticamente. "De qualquer forma. Você conversou com Tyler esta manhã. Você sabe o plano para ela. Em alguns dias, todos os nossos problemas financeiros serão resolvidos, e ela não será mais nossa preocupação."
A respiração pesada de Henry foi gradualmente desacelerando. "Você parece confusa, filha."
Eu ousei olhar para cima, encontrando seus olhos vermelhos de sangue.
"Conte a ela, Henry," Isabel incentivou. "Aposto que ela vai ficar empolgada com a notícia. Eu sei que estou."
Henry endireitou a camisa, um sorriso torto se formando em seus lábios. "Você vai fazer algo importante para mim. Algo que mudará nossas vidas para sempre. Você vai servir ao Alfa da Matilha Ironjaw. Parece que ele precisa de uma... reprodutora, e está disposto a pagar bem por uma."
Uma reprodutora? Todos sabiam o que acontecia com as reprodutoras. Elas eram usadas para produzir herdeiros e depois... descartadas.
"Não faça essa cara, Rachel," Isabel repreendeu, seus olhos brilhando. "Você deveria considerar uma honra servir ao Alfa mais rico e poderoso de todos. Ele pode ter matado muitos, ferido muitos, mas é famoso. Fazer parte da matilha dele... bem, é a maior honra."
Eu não conseguia respirar. O Alfa Ironjaw era notório por sua crueldade. Rumores diziam que ele havia matado a maioria de seus servos—até mesmo seu próprio pai.
"Papai, por favor, não. Por favor, eu vou trabalhar mais. Eu prometo. Deixe-me ficar!" Eu rastejei em sua direção, agarrando a barra de suas calças.
Isabel estalou a língua. "Rachel, não pressione seu pai assim. Implorar não vai te levar a lugar nenhum na vida."
"Eu posso fazer tantas coisas aqui para te ajudar a ganhar mais dinheiro... por favor, me dê outra chance para provar meu valor." Minha voz quebrou enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto.
"Eu sou sua única filha, seu sangue," lembrei-o desesperadamente. "Não deveria ser eu a continuar sua linhagem?"
Quando ele não respondeu, virei-me para minha madrasta. "Isabel, por favor... diga algo..."
"Como você ousa falar com ela assim!" O rosto do meu pai se contorceu de raiva enquanto ele desferia outro golpe nas minhas costelas.
Um grito agudo escapou dos meus lábios enquanto eu instintivamente me encolhia novamente, como se tentando me proteger da tempestade emocional. Lágrimas escorriam pelo meu rosto em rios quentes e incessantes, borrando minha visão.
Em meio a essa tempestade de choro, não consegui impedir que as memórias voltassem—memórias de um tempo em que minha mãe, Marie, ainda estava viva, ainda conosco. Naquela época, meu pai era um homem diferente.
Seus olhos brilhavam de amor sempre que pousavam em mim, e ele me chamava carinhosamente de seu "pequeno rouxinol."
Agora, aquele apelido carinhoso parecia um sonho distante. Cada lembrança vinha com uma dor lancinante, como um ferro quente no meu coração.
O contraste entre o pai que eu conhecia e o homem raivoso diante de mim era uma ferida aberta, latejando a cada batida do coração, uma dor que irradiava por todo o meu ser, deixando-me crua e vulnerável.
"Papai, por favor, não faça isso comigo... não me mande para ele, eu imploro... se a mamãe ainda estivesse viva—"
Suas mãos fecharam-se ao redor do meu pescoço antes que eu pudesse terminar, levantando-me do chão e me jogando contra a parede. "Você vai fazer o que eu mandar!"
Pontos negros dançavam na minha visão enquanto eu arranhava suas mãos, lutando para respirar.
"Daniel!" ele chamou, finalmente me soltando.
Eu deslizei pela parede, ofegando e tossindo, meu corpo inteiro gritando de dor.
"Sim, Alfa?" Daniel perguntou.
"Leve Rachel para cima e faça-a se limpar. Nosso ilustre convidado chegará em breve, e eu não quero que ela pareça assim."
Minha visão ficou turva enquanto Daniel se aproximava de mim. A última coisa que me lembro foi o brilho em seus olhos antes que a escuridão me reclamasse misericordiosamente, com as lágrimas ainda molhando minhas bochechas.
Como isso aconteceu? O pensamento ecoava na minha mente enquanto a consciência se esvaía. Meu pai, que um dia me amou, estava me vendendo como propriedade.
O Alfa da Matilha Ironjaw—o lobo mais temido do território—iria me possuir, me usar, e depois... Eu não conseguia nem completar o pensamento.
Lembrei-me do calor do sorriso da minha mãe, de como ela cantava para eu dormir.
"Você tem a voz de um anjo," ela dizia. "Um dia, ela te trará felicidade."
Como ela estava errada. Minha voz, meu rosto—não eram presentes, mas maldições que me marcaram para este destino.
Dominada por pensamentos tão desoladores, uma onda de exaustão me atingiu.
Minhas pálpebras ficaram pesadas, e eu sucumbi a um sono profundo.