Capítulo 2

Eu podia sentir o poder inconfundível que emanava da pessoa que estava atrás de mim, uma estranha sensação de ser puxada para me virar e olhar para ele. Os guardas à minha frente se ajoelharam. Virei-me para ver um homem pelo menos meio pé mais alto do que eu, magro, não musculoso como os outros, mas ainda assim parecia alguém que, se quisesse, poderia partir alguém ao meio. Seus olhos castanhos claros brilhavam sob o sol da manhã e sua pele bronzeada parecia quase divina sob o céu azul, mas a característica mais marcante era seu cabelo platinado. Ele encontrou meus olhos por um momento, me segurou ali, senti uma força que mil espadas não poderiam combater e o vento aumentou, farfalhando sua curta juba platinada.

Ele deu um passo à frente, e eu lutei contra o impulso de recuar e me recusei a desviar o olhar dele. Mantive meus olhos fixos nele, mas logo senti meus pensamentos se derreterem. Ele deu mais um passo em minha direção, meus lábios se entreabriram. Inspirei o ar necessário enquanto me sentia desprotegida sob seu olhar ardente.

Então ele desviou o olhar de mim, e eu me virei, sentindo meu coração bater mais rápido do que os cascos de um cavalo.

"Ela não é apenas a princesa do reino mortal; ela é a futura consorte do príncipe Apha e a futura rainha."

"Mas Sua Excelência...

"Sim?"

Reuni meus pensamentos e olhei de volta. Seus olhos estavam neutros agora, não revelando nada, e ele os desafiava sem piscar. Ele continuou olhando para eles até que recuaram e se curvaram em submissão.

"Deixem-na entrar," disse o homem, todo seu ser irradiando poder.

"Quem é você?" Não consigo mais conter minha curiosidade.

Ele se virou para mim, sua expressão relaxada novamente.

"Lord Xendorite, ao seu serviço," disse ele com um aceno educado. "Se isso é tudo, vou me retirar, Princesa." Ele me olhou por mais um momento e se aproximou de mim, inclinando-se em minha direção. Tive a sensação de que ele estava procurando algo no meu olhar. Inclinei-me um pouco para trás, mas ele estava perto o suficiente para que eu sentisse o estranho cheiro de canela e madeira que emanava dele. Pude ver as pequenas manchas prateadas em seus olhos castanhos, e minha respiração ficou presa na garganta.

"Boa sorte," ele disse em voz baixa, tremendo até meus ossos, e se afastou. Soltei um suspiro, percebendo que o vento frio estava batendo no meu rosto. Eu não estava ciente do calor que me cercava quando ele estava perto. Será que estava realmente tão frio antes? Eu tremi, olhando para suas costas enquanto ele se afastava, suas mãos cruzadas atrás das costas e seus ombros largos se flexionando sob a camisa de tecido grosso branco. Senti o calor subir em minhas bochechas novamente, então toquei-as. O que há de errado comigo? Por que me sinto tão quente—estou com febre?

"Sua Alteza, você está bem?"

A voz de Nora me tirou dos meus pensamentos, e eu assenti.

"Vamos entrar."

Respirei fundo e entrei.

"Princesa, você deveria pensar bem," disse o Rei Alfa.

Parada ali no centro do grande salão circular do vale lunar, onde o Rei Alfa realiza sua corte, eu mais uma vez me senti como uma plebeia em vez de uma princesa. Eu deveria sentir essa dor no centro do meu peito enquanto olho ao redor para todos; não deveria estar acostumada com isso? A distância, a frieza, e cada par de olhos, incluindo os do meu pai e do meu meio-irmão, me olham como se eu fosse alguém que eles nunca viram antes, e como se eu não tivesse direito de estar ali. Olhei diretamente nos olhos do Rei Alfa.

"Eu pensei bem, e pensei que os lobisomens não fugissem de um desafio."

"Não fugimos." O Príncipe Alfa se levantou e estreitou os olhos.

"Mas somos princesas diferentes." A voz era familiar, a mesma que tentou questionar a presença de Sansa ali. Virei-me para ver os olhos escuros; ele tinha mais ou menos a minha idade, ou parecia ter. Não dá para saber com lobos.

"Você é uma humana frágil, e esta é uma aliança; não há necessidade de tornar isso tão dramático; você não é uma potencial companheira para o Alfa, e não tem direito de desafiá-lo," disse um membro do clã.

"Minha fragilidade deve ser testada no campo, não acha? E vocês querem uma noiva relutante para seu filho," olhei para o Rei Alfa, que, surpreso, não mostrou nenhuma hostilidade para comigo por estar fora de linha, mas no momento em que as palavras saíram da minha boca, o rosto do meu pai estava azul de raiva.

"Ou seu príncipe alfa está bem com uma noiva relutante; isso não diz muito sobre ele, não é?" O que mais eu poderia fazer? Tudo o que já ouvi sobre lobos é que eles são facilmente provocados e que são cheios de orgulho masculino. Esta era a única maneira de provocar o Príncipe Alfa.

"Já chega!" A voz do meu pai ecoou. Ele marchou até o centro do salão e abaixou a voz para mim. "Você já me envergonhou o suficiente; eu não vou tolerar você..."

"Está tudo bem, Rei Henry. Eu aceito o desafio da Princesa Rossette," disse o Príncipe Kyln enfaticamente.

Meu pai se virou para ver o príncipe, e os olhos do Alfa se moveram por um momento de seu filho para cima e depois de volta para mim, e ele assentiu. Dando sua bênção ao tormento.

"Isso é ridículo."

"Absoluto desrespeito,"

"Não acredito no que vejo,"

Algumas palavras de discordância foram murmuradas sob suas respirações, e meu pai me lançou um olhar fulminante.

"Se eu perder esta aliança por causa da sua estupidez, vou garantir que você pague por isso!" Ele sibilou sob sua respiração e saiu com os outros lobisomens. O Príncipe Klyn me lançou um olhar e passou por mim. O último foi o Rei Alfa, que se levantou do assento e ficou na minha frente.

"Espero que você saiba o que está fazendo, Princesa. Isso pode não resultar no que você deseja," havia um senso de preocupação em sua voz enquanto falava comigo. Dei um passo para trás e assenti.

"Talvez, com todo o respeito, sua majestade, esta aliança não é relevante para mim, e esta é uma questão da minha liberdade."

Ele pausou por um momento, como se estivesse me estudando, e então assentiu. Ele também se afastou.

Olhei para cima para ver onde ele estava olhando, e havia uma varanda vazia. Algo me disse que alguém estava ali. Mas quem?