3- Festa de aniversário da ex-namorada
— Sinto muito por te colocar nessa situação — diz Charlie, dando de ombros — Nunca pensei que você teria coragem de vir vê-la.
— Não se preocupe, ela não tem o direito de dizer que você estragou tudo, a Beatriz sabe muito bem o que fez.
Beatriz sempre foi autodestrutiva, causando brigas entre mim e minha família. Ela me fez perder o aniversário do meu avô porque não queria viajar para Sydney naquele fim de semana, e agora finge que estamos arruinando a noite dela. Claramente, não vou cair nos jogos de manipulação dela novamente.
— Nenhum de nós vai cair nos jogos da Beatriz novamente — diz Ivy, vestindo um longo vestido com uma fenda na perna, o tecido de seda verde-oliva se ajusta perfeitamente aos seus seios e pernas.
— Agora essas brigas estão destruindo nossa amizade — diz Charlie — Dan não responde minhas mensagens. Ele acha que eu escolhi você.
— Não é uma briga — diz Franco — Você pode ser amigo do Dan, ou de quem quiser, eu não vou te condenar por isso.
— Eu prefiro não. Gosto que meus amigos tenham um senso de lealdade.
— E por isso, acredito que a Beatriz não pertence mais ao nosso círculo de amigos — diz Ivy, olhando diretamente para Franco, depois colocando uma mão no peito dele, aproximando-se mais. Franco a olha, e seus olhos brilham como um animal caçando sua presa.
— Se você estiver pronto para ver o que eu quero te mostrar... você vai experimentar um novo sentido de lealdade... mais íntimo — sussurra Ivy.
— Então devemos sair dessa festa agora mesmo — diz Franco.
— Isso parece ótimo. Mas infelizmente, estamos ficando sem tempo, ela está vindo atrás de você... fique sexy — sussurra Ivy para Franco enquanto ele se inclina em direção aos lábios dela para ouvir seu sussurro no ouvido. Então Franco se vira, e Beatriz o olha desafiadoramente.
— Eu não sei o que você vai fazer — diz Beatriz — Especialmente com ela, que dizia ser minha amiga e não esperou nem uma noite para pular em você.
— Vou esperar lá embaixo — diz Ivy, olhando para Franco. Ela passa por Beatriz, ignorando-a, e segue para o elevador. — Ela finalmente se foi. Isso é a última coisa que deveria acontecer entre nós. Se você quer terminar nosso relacionamento com vingança e ver quem machuca mais o outro... tudo bem... eu te desejo sorte.
Franco encara Beatriz.
— Beatriz, eu não quero desperdiçar minha energia te destruindo. Você pode passear pelos subúrbios e pelos bairros mais pobres de Caracas com o Dan, se é isso que você quer...
— Você é tão arrogante.
— Não sou, mas nós dois sabemos que o Dan mora no 23 de Enero e você é uma garota do Leste de Caracas que vive em uma mansão em Las Mercedes. Eu não vou ficar e assistir enquanto você se pune tentando ter um romance sério e estável com o Dan, e depois me culpar pela sua infelicidade.
— Eu não vou me meter nos seus assuntos privados, não estou interessada — diz Franco.
— Talvez um cara humilde e simples como ele, sem educação e sem conhecimento dos protocolos e etiquetas sociais, possa me dar mais companhia e apoio do que você jamais deu — diz Beatriz, olhando com raiva para Franco, mas apesar de falar com desdém, seus olhos estão cheios de lágrimas. — Ser sua namorada foi uma das tarefas mais difíceis e dolorosas relacionadas ao mundo das emoções. A parte maternal e sensível de mim foi constantemente aniquilada pelo seu tratamento terrível e severo.
— Eu sempre tentei ser um homem melhor para você, deixar para trás minha infância conturbada e te dar um relacionamento cheio de maturidade, momentos genuínos — diz Franco, e enquanto fala, parece acariciar cada palavra com sua voz profunda e lenta. — Amor — Franco acrescenta finalmente. — Você foi maliciosa, e continua sendo esta noite. Você queria me sujeitar ao seu autocontrole. Você foi austera, séria, espartana em cada uma das minhas festas e saídas sociais.
— Se eu não sorria para as câmeras ao seu lado, é porque nunca fiz isso na minha vida. Mas com você, o senso de dever de permanecer nas sombras, sendo sombrio e distante, foi transformado pela sua presença. Eu sabia que era importante para você que eu mostrasse minha devoção. Mas eu não fiz isso ao ponto de me humilhar, como você queria fazer, como você faz com todos ao seu redor.
— Você nunca assumiu responsabilidade real por mim. Ser meu homem de alguma forma te escravizou — inquiriu Beatriz.
— Beatriz, eu sou prudente e cauteloso, um homem empreendedor desde cedo. Investir meu amor em você teria sido uma má escolha, e esta noite você me mostrou isso. Poucas coisas me pegam de surpresa, e esse senso prático que você tanto critica faz com que a dura realidade de minha namorada me traindo com meu melhor amigo prevaleça sobre os sonhos e fantasias que você pode ter querido construir comigo.
— Não tente me fazer sentir culpado por sufocar o mundo dos seus sentimentos desonestos. Eu me sinto aliviado por fazer isso, pois nunca deveria ter confiado no seu amor.
Franco encara Beatriz com olhos ardentes e se aproxima dela tão de perto que ficam a apenas centímetros de distância. Ela faz um esforço para levantar o olhar e encará-lo, enquanto secretamente deseja que Franco a beije apaixonadamente naquele momento, mas sabe que o perdeu para sempre.
— Agora, se me dá licença, uma garota linda, Ivy, está me esperando no saguão para continuar sua festa de aniversário no meu apartamento. Franco se inclina e beija a bochecha de Beatriz.
— Feliz aniversário — ele sussurra, vira-se e caminha em direção ao elevador, desaparecendo da festa. Beatriz deixa escapar uma lágrima enquanto os convidados dançam, sorriem e conversam ao seu redor. A música "Feel So Close" de Calvin Harris toca e os convidados começam a chamar Beatriz para se juntar a eles na dança. Ela enxuga as lágrimas e, com um sorriso superficial, junta-se aos seus convidados, enquanto percebe que seu melhor amigo Charlie foi embora, Dan não veio à sua festa, e Franco saiu com Ivy, que não é mais sua amiga. Os pais de Beatriz estão viajando e, entre todos os seus convidados, ela só encontra um mar de rostos desconhecidos. Lágrimas começam a escorrer de seus olhos, que são confundidas com lágrimas de felicidade enquanto ela continua dançando e sorrindo.
Franco entra no saguão do prédio onde Beatriz mora, na cobertura do último andar. E lá ele encontra Ivy, sentada em frente às portas do elevador em um sofá vermelho.
— Escuta — diz Franco — Posso te levar para casa, se quiser. Mas planejo pegar um voo cedo amanhã e preciso fazer as malas.
— Perfeito — sussurra Ivy sedutoramente — Podemos aproveitar a noite ao máximo. Me leve ao seu apartamento e depois eu pego um táxi para que você possa arrumar suas coisas. Ela se põe na ponta dos pés e tenta beijar Franco nos lábios, mas ele é muito alto e levanta o rosto, então ela acaba beijando seu queixo.
— Eu adoraria, princesa, mas não esta noite. Vou te ligar quando voltar, tá bom?
Ivy, com seus grandes olhos castanhos e rosto delicado e sutil, olha para ele confusa.
— Por favor, chame um táxi para a moça e certifique-se de que ela chegue em casa em segurança — Franco diz ao recepcionista, entregando-lhe uma nota de cinquenta dólares. Então ele pega o elevador e aperta o botão para o estacionamento. Ele olha para Ivy uma última vez enquanto as portas do elevador se fecham.
