


Um O cliente
"Faz décadas," Lucille cuspiu, olhando para a bolsa Birkin que havia tirado do armário. Franziu o nariz em descontentamento e a jogou descuidadamente por cima do ombro. "Tudo está tão sem graça e letárgico."
Agnes pegou a bolsa antes que ela caísse no chão. "Hum, mas acabamos de fechar um caso para nosso cliente—"
"Mas é um caso!" Lucille enfatizou a última palavra como se fosse um palavrão. "Nós deveríamos punir os traidores, não tirar fotos deles para que seus parceiros possam chorar e parecer patéticos. Somos mulheres poderosas, não investidores privados—"
"Investigadoras."
"Ah, tanto faz!"
Jogando um monte de lenços de seda no ar, Lucille se jogou no pufe de veludo no canto do quarto. Seu longo cabelo loiro estava uma bagunça de tanto passar as mãos nele em frustração. Seus sentimentos desordenados (e cabelo) contrastavam fortemente com o corte afiado e estruturado de seu vestido, mas combinavam com a bagunça absoluta que ela havia feito no closet de sua suíte de cobertura. Sapatos de salto e botas espalhavam-se pelo chão, misturados com uma variedade de jaquetas, vestidos e blusas que ela havia arrancado das prateleiras.
Ainda assim, a desordem não parecia suficiente. Ela queria tirar todas as suas roupas, jogá-las no tapete e talvez incendiá-las.
Deus, ela odiava isso. Odiava tudo isso.
Lucille era uma bruxa, uma vingadora, alguém a ser temida e reverenciada. Não uma maluca com uma câmera e tempo de sobra.
Ela culpava a tecnologia—não, ela culpava as pessoas que eram fracas demais para pensar além de impressões digitais e gravações de áudio. Tudo estava bem até trinta anos atrás. Naquela época, as pessoas permitiam que ela jogasse tão sujo quanto seus parceiros desleais. As pessoas pediam para ela se vingar como achasse melhor, e deixavam ela assumir o controle.
Agora? Click, click. Me ajude a conseguir provas para que eu possa confrontá-lo. Isso me dará uma vantagem no divórcio. Isso me ajudará a conseguir a guarda das crianças. Blá, blá, blá.
Que se dane. Lucille queria vingança de verdade, não um tribunal cheio de advogados e longas conversas sobre dinheiro.
Ela exalou bruscamente e cruzou as pernas enquanto Agnes recolhia as coisas do chão, organizando-as na chaise longue.
"Ninguém veio pedir nossa ajuda há dias, Agnes," lamentou Lucille. "Pelo que sei, aquele último cliente pode ser o último. E ele era insuportavelmente desanimado. Minha alma sangra."
Agnes sentou-se no tapete branco e macio e sorriu para sua mestra. "A mesma coisa aconteceu na semana passada. Silêncio por dias, depois bam—novo cliente."
"Mas esta semana pode ser diferente."
"E se não for?"
"Eu não sei." Lucille tentou sorrir. Falhou. "Isso não mudaria o fato de que estou trabalhando com um prazo."
"Isso é sobre a vela?" Agnes perguntou, então imediatamente balançou a cabeça, arrependendo-se da pergunta. "Desculpe. É só que eu nunca esperava que isso acontecesse, que ela acendesse quando estamos tendo esse problema. Não quero pensar que estão conectados."
A declaração pairou sobre elas como uma nuvem de tempestade ominosa, ameaçando chover sobre a pouca felicidade que lhes restava. Até Agnes, que sempre tentava ver o lado positivo das coisas, parecia preocupada pela primeira vez.
Um aperto de culpa bloqueou a garganta de Lucille por um momento. Ela desviou o olhar de sua leal serva, voltando sua atenção para o horizonte de Nova York que se estendia além das janelas do chão ao teto. As vidraças dos prédios brilhavam sob a luz do sol das dez horas. Dali, ela podia ver a mancha verde do Central Park e o contorno orgulhoso da Estátua da Liberdade ao longe. Ainda uma vista cênica, mesmo depois de todos esses anos morando na cidade.
Isso era algo que ela adorava em estar viva há milhares de anos, as mudanças. As transições, as diferenças. Por enquanto, elas eram suas inimigas, mas ela ainda contava com o dia em que se tornariam suas amigas.
Lucille se levantou, ajeitou o cabelo e se agarrou a essa esperança agora. Hoje, ela simplesmente pararia de se preocupar. Com os clientes, com o mistério da vela e o que isso poderia significar para ela. Na verdade, ela pediria a Agnes para se preparar para que pudessem almoçar no Ritz e se embebedar mais tarde.
"Lembra do vestido Giambattista Valli que compramos há um mês? Aquele de seda com flores bordadas?" ela perguntou, trotando novamente até os armários de vidro personalizados para encontrar o tal vestido. "Quero que você o use. Aposto que ficaria deslumbrante nele—"
Ring!
O toque familiar do telefone no corredor encheu o closet. Lucille parou de revirar sua vasta coleção imediatamente.
"Eu atendo," disse Agnes, levantando-se, mas Lucille a deteve.
"Não, não. Vá encontrar o vestido para que possamos almoçar e ambas ficarmos fabulosas." Ela deu um tapinha na bochecha de Agnes e se virou para a porta. "Será por minha conta."
Agnes levantou uma sobrancelha. "Sempre foi por sua conta."
"Eu sei e adoro isso. Com licença."
Lucille saiu do quarto e caminhou pelo amplo corredor, decorado com pinturas emolduradas e fotografias raras. O telefone estava no final, perto da área de estar, e ainda estava tocando quando ela chegou ao banquinho antigo onde ele estava colocado.
Ela pegou o receptor dourado e o pressionou contra a orelha. "Lucille Saint-Claire."
Robert, o porteiro, respondeu do outro lado. "Bom dia, Srta. Lucille. Tenho aqui alguém chamada Christie Shaw, e ela está procurando por você. Devo mandá-la subir?"
"Christie Shaw," Lucille repetiu, vasculhando a memória. Quando não encontrou nada, disse, "Mande-a subir, querido. Obrigada."
Ela podia ouvir o sorriso dele mesmo pelo telefone. "É um prazer, Srta. Lucille."
"Quem é?" Agnes entrou na cena. O vestido bordô estava pendurado em seu braço esguio. "Uma cliente?"
"Não faço ideia." Lucille se dirigiu à cozinha para pegar um copo d'água. E talvez preparar alguns refrescos para a convidada. Quem quer que fosse. "É alguém que se chama Christie Shaw. Talvez seja uma cliente, talvez não, mas eu—"
"Christie Shaw?" Agnes soltou uma risada. "Srta. Lucille, essa é a esposa daquele canalha que capturamos em... 1978, acho?"
"Oh." Lucille parou, sua mão congelada na maçaneta da geladeira. As memórias voltaram com força, inundando seu peito de nostalgia. "Os bons e velhos tempos. Deus, sinto falta de tornar a vida das pessoas miserável."
Juntas, elas prepararam o de sempre para os convidados, que consistia em chá na mais fina porcelana e uma seleção de biscoitos. Agnes colocou tudo em uma de suas bandejas de cerâmica, equilibrou-a em suas mãos bem treinadas e arrumou tudo na área de estar com um vaso de margaridas frescas.
Enquanto isso, Lucille observava as portas do elevador, esperando que Christie Shaw aparecesse.
Essa mulher era uma das duronas, refletiu Lucille. Uma badass, se você a descrevesse na linguagem de hoje. Christie Shaw, mesmo tendo aparentemente mantido o sobrenome do marido, tinha sido bastante implacável. Ela permitiu que Lucille acabasse com seu marido de uma das maneiras mais lentas e tortuosas: esfaqueando-o em lugares superficiais, não fatais, e deixando-o em uma floresta cheia de lobos.
Brutal? Sim. Sem coração? Também sim. Merecido? Definitivamente.
Apesar de suas lamentações anteriores sobre o passado e sua decisão de não se afundar nele, Lucille se viu ansiosa para reencontrar Christie Shaw. Tanto que, quando as portas do elevador se abriram, ela estendeu os braços para a velha mulher como se fosse cumprimentar uma amiga de longa data.
Christie Shaw, agora enrugada, curvada e de cabelos brancos, recuou dela. "Peço desculpas, Srta. Lucille."
"O quê?" Lucille ficou surpresa. Ela olhou para Agnes em busca de respostas, mas ela estava ocupada demais encarando Christie com os olhos semicerrados. "Por que está se desculpando?"
"Eu não deveria estar aqui, eu sei." A velha mulher abaixou a cabeça profundamente, quase caindo de joelhos. "Eu quebrei o voto."
Ah, o voto. Lucille havia esquecido.
Não olhe para trás, não volte. Esse era o voto que ela havia estabelecido para todas as pessoas que optavam por punições extremas. Ela sempre as instruía a ir embora e ir para longe, esquecer tudo o que aconteceu e viver uma nova vida. Christie Shaw parecia ter quebrado tudo, não apenas mantendo um pedaço de seu marido, mas vindo aqui também.
"Sim, você quebrou o voto," Lucille disse a ela com pesar. Ela alcançou o atiçador de metal perto da lareira e o levantou para um golpe. "Você sabe o que isso significa—"
"Espere!" Agnes correu em sua direção e agarrou o atiçador. No entanto, ela não estava olhando para ela. Seus olhos estavam fixos no elevador. "Tem alguém lá dentro."
Lucille seguiu a linha de visão dela, e com certeza, viu que o elevador não havia descido. Havia luz filtrando pelas frestas no contorno da porta.
Ok, agora Christie realmente tinha estragado tudo.
"Desculpe." Ela estava quase chorando. "Sinto muito, Srta. Lucille. Não consigo esquecer o que você fez por mim. Por mais que eu tentasse seguir suas instruções, simplesmente não consigo."
"Você trouxe alguém aqui? Para mim?" Os olhos de Lucille brilharam perigosamente. "Você tem cinco segundos para explicar antes que eu te jogue na lareira e faça um churrasco de você."
"É m-minha neta," Christie gaguejou, desta vez realmente se ajoelhando aos pés de Lucille. "Ela precisa da sua ajuda. Foi arruinada por um homem. Ela não falava comigo há meses, não comia, não conseguia dormir. Ela tem apenas dezenove anos. Esse homem, com mais de trinta. . . ."
Ela parou, e apesar da raiva de Lucille, seu coração se partiu. Agnes conseguiu tirar o atiçador de suas mãos.
"E o que você pede de mim, Christie?" ela perguntou, inclinando a cabeça na direção do elevador como um sinal para Agnes. "O que sua neta quer?"
"Vingança," ela sussurrou.
Agnes apertou o botão. As portas do elevador deslizaram para o lado, revelando uma jovem de cabelos pretos vestindo jeans e uma camisa branca. Ela tinha um rosto em forma de coração e olhos escuros, que olhavam com medo ao redor da sala de estar da cobertura. Quando seu olhar encontrou o de Lucille, o mundo pareceu parar por um momento.
Uma estranha sensação de aperto tomou conta de Lucille. Ela não conseguia identificar onde exatamente, muito menos entender por quê. No entanto, ela se ergueu em toda sua altura enquanto a jovem se aproximava.
"S-Senhora," ela murmurou. "Por favor, me ajude."
A maneira como sua voz se quebrou na última palavra tornou difícil para Lucille continuar com raiva. Isso não era uma surpresa. Ela sempre era incapaz de ficar verdadeiramente furiosa com aqueles que buscavam sua ajuda.
No entanto, ela já sabia onde isso ia dar. A neta de Christie era jovem, ingênua. O homem que brincou com ela era bem experiente no campo.
Lucille começou a contagem regressiva. Estava apostando na menção de tribunal nos primeiros cinco minutos dessa conversa.
Ela suspirou. "Venham. Vamos sentar e resolver isso."
Christie e sua neta trocaram um olhar nervoso, mas seguiram Lucille e Agnes até o canto da sala de estar. Elas ocuparam o sofá estofado, de frente para Lucille, que estava relaxada em sua cadeira de couro vermelho de encosto alto. Agnes ficou atrás dela, observando a conversa em vez de servir as convidadas.
E bem, Lucille não se importava que as convidadas não estivessem sendo tratadas com grande cortesia. Se elas só vão insistir em mais coisas de tribunal, é melhor fazer isso rápido.
Lucille serviu-se de um pouco de chá. "Então, qual é o seu nome?"
"Eu sou Mia," ela disse timidamente.
"Prazer em conhecê-la." Lucille tomou um gole. "Quem é esse homem e como você o conheceu?"
"O nome dele é Cade Linden." Ela engoliu em seco e evitou os olhos de todos. "Eu o conheci há dois anos, quando estava procurando um estágio. Você provavelmente o conhece. Ele dirige a Paradigm Publishing."
"Paradigm Publishing? Não acho que ele valha a pena conhecer. Continue."
"Ainda é muito doloroso falar sobre isso."
Lucille observou a jovem, notando a maneira como ela estava fazendo caretas, a maneira como estava apertando as mãos no colo. Ela havia sido tratada de forma horrível por esse Cade Linden, sem dúvida.
E havia tantas maneiras de machucá-lo de volta.
Inclinando-se contra sua cadeira, Lucille olhou para Mia e fez a pergunta difícil, "O que você quer que seja feito com ele, Mia? Tudo é possível."
"Eu quero que ele pague." Pela primeira vez desde que chegou aqui, Mia parecia determinada. "Eu quero que ele pague com a vida."