Capítulo 7

LAMIA

Dez minutos depois, os quatro de nós, eu tinha pego a Kira no caminho, estávamos sentados no meu quarto. Mike e Kel pareciam mais do que desconfortáveis. Eu presumi que eles achavam que íamos ter uma "conversa" sobre o que aconteceu na sexta-feira à noite.

"Aqui", eu disse e joguei o velho livro de couro para Kellen, que estava apoiado na ponta da minha cama, "Vire para a página 123. E leia em voz alta para que todos possam ouvir."

Ele virou as páginas até chegar à página certa e começou a ler em voz alta o mesmo trecho que eu tinha lido. Havia um silêncio sinistro no quarto quando ele terminou, até que Mike quebrou o silêncio.

"Bem, isso explica muito. Sobre você de qualquer maneira e de onde vem a sua força." Mike recostou-se na cadeira em que estava sentado e passou a mão pelo rosto.

Kellen estava olhando para o espaço do lado de fora da minha janela e Kira era a única que parecia animada e tinha um sorriso estampado no rosto.

"Então, o que isso significa?" Kira perguntou.

Passei a língua nos lábios, olhando para Mike antes de olhar para Kellen. "Inanna disse que estava acasalada com Conri centenas de anos atrás. Ele a despertou na noite em que nascemos. Na noite em que ele escolheu você e ela me escolheu."

"Diz que sua loba é uma Rainha, o que significa que você nasceu para ser Rainha." Kellen nem desviou o olhar da janela enquanto falava. Sua expressão neutra tornava difícil dizer o que ele estava sentindo ou pensando.

"Kellen", chamei por ele, "Ela me disse que Conri nasceu Rei e escolheu você. Ele foi um rei poderoso em sua época, e Inanna me escolheu porque não podia deixar o lado dele."

Finalmente ele virou o olhar para mim, seus olhos sem emoção. "Nós somos acasalados, Lamia?"

Suspirei profundamente. Eu não sabia, nem minha loba. Mike se ajustou, parecendo ainda mais desconfortável quando a palavra acasalamento foi mencionada. Eu nunca esconderia nada de nenhum dos dois.

"Eu não sei, minha loba não sabe, ela disse: só o tempo dirá quando chegarmos à idade adulta. O que Conri diz?" Antecipei sua resposta enquanto ele tinha uma breve conversa com sua loba.

"Ele também não sabe. Ele disse que só porque foram acasalados há muito tempo, não significa que a deusa da lua os acasalou desta vez." Suas palavras eram indiferentes, um olhar vazio ainda mantido em seus olhos, sem revelar nada.

"Eu acho que vocês terão que esperar até completarem dezoito anos para descobrir!" Kira interveio.

Afastei meus pensamentos sobre nossas lobas; havia outro assunto urgente que eu precisava discutir com meus amigos. A escolha que Wilson me deu.

"Então, de qualquer forma, era isso que eu queria mostrar para vocês. Agora tenho mais algo para contar."

Passei por tudo o que Wilson tinha discutido comigo, a formatura antecipada, a escolha de permanecer para fazer treinamento avançado de armas e prevenção de tortura para nossos últimos meses aqui. Nós teríamos uma pausa para o inverno antes de voltarmos para nossos últimos meses na academia.

Quando cheguei à parte sobre o que isso implicaria, tanto Mike quanto Kellen soltaram um rosnado baixo, desaprovaram que eu fosse intencionalmente machucada e desse consentimento para que me torturassem. Eu entendia a falta de entusiasmo deles e a raiva ao pensar em alguém me machucando, ou eu me machucando. Afinal, ambos eram muito protetores comigo, apesar de eu ser mais forte do que os dois juntos.

"De jeito nenhum!" Kellen gritou.

"Absolutamente não!" Mike objetou depois que terminei de explicar.

"Acho uma ótima ideia, Lamia," Kira sorriu. "O que sua loba diz sobre isso?"

"Ela disse que éramos fortes o suficiente e seria difícil, mas poderíamos lidar com isso."

"Hmm, bem, se sua loba diz que pode lidar com isso, então acho que seria uma ótima oportunidade para vocês se fortalecerem. E se o Rei e seu pai deram permissão para este "treinamento", eles obviamente acham que você é forte o suficiente."

"Sério, Kira! Você apoia esse treinamento insano?" Mike levantou-se da cadeira, agora andando de um lado para o outro.

"Bem, se isso tranquiliza alguém, Wilson disse que o Kel teria que passar por algumas dessas coisas também." Eu olhei para Kellen, cujos olhos estavam arregalados agora e a boca aberta. "Definitivamente treinamento de armas e acho que uma tolerância a alguns venenos; você teria que perguntar a Wilson para mais informações, porém."

"Iremos passar por isso juntos." Kel falou com determinação. Se eu fosse fazer, ele estaria lá comigo.

"Então..." Kira quebrou a tensão depois que os quatro de nós ficamos ali por alguns minutos em silêncio, cada um de nós ponderando sobre a bomba de informações que eu tinha soltado. "Acho que todos nós deveríamos descer e jantar, não sei quanto aos outros aqui, mas estou com fome como um lobo!" Todos rimos dela e concordamos que era hora de comer.

Enquanto todos começavam a se levantar, olhei para Mike e peguei seus olhos. "Você pode ficar por um minuto, Mike?" Perguntei hesitante, precisávamos ter essa conversa, só nós dois. Para esclarecer as coisas.

Ele assentiu e sentou-se novamente na cadeira. Vi Kellen lhe lançar um olhar de advertência, e Kira mexeu as sobrancelhas para nós. Respondi com um revirar de olhos. Depois que saíram, fechando a porta atrás deles, me virei para Mike, droga, ele estava tão bonito! Sua camiseta branca parecia uma segunda pele e o abraçava nos lugares certos. Passei a língua nos lábios diante da visão maravilhosa dele.

"Então..." comecei.

"Então..." ele disse. "Eu fiz uma promessa ao Kellen."

"Tenho certeza de que sim, e estou supondo que foi no sentido de que você não me tocaria?" Eu realmente esperava que não fosse isso que ele prometeu, mas também sabia no fundo da minha mente que, se Mike e eu fossemos ficar juntos, ainda não era o nosso momento.

Essa ideia me trouxe tristeza e fez meu coração doer. Mas diante de tudo o que saiu hoje e do vínculo que minha loba e a de Kellen têm, faria sentido esperar para ver e esperar causaria muito menos drama e potencial dor de coração para os três no futuro.

"Meu aniversário é daqui a alguns meses e vocês dois completam dezoito anos alguns meses depois, eu disse ao Kel que não faria nada com você até termos certeza..." Ele se interrompeu, deixando a cabeça cair para que eu não pudesse ver seus belos olhos cor de avelã. "Não quero te machucar, e também não quero machucar o Kel. Não sei o que fazer, Lamia! Eu te quero, mas é egoísta dizer isso."

Ele ergueu a cabeça, seus olhos cor de avelã encontrando os meus verdes. Eu senti por ele. Eu podia ver o desejo por mim em seus olhos. Eu entendia, porque tínhamos tido um pequeno gostinho um do outro e ambos sabíamos que queríamos provar mais. Mas a amizade dele era mais importante para mim do que estragar tudo e eu esperava que ele sentisse da mesma forma. Então eu disse isso a ele.

"Mike, você é especial para mim. E sempre será. Sua amizade e lealdade significam tanto para mim quanto a de Kellen. Eu odiaria que algo nos afastasse e isso inclui nós mesmos." Ele me olhou com esperança. "O que estou tentando dizer é... não vou dormir com você até completar dezoito anos. Vamos esperar até lá e ver para onde nossa aventura nos leva. Nossas histórias estão apenas começando e quem sabe, talvez você encontre sua companheira quando fizer dezoito anos!"

Me senti mais tranquila depois de dizer isso e pude ver claramente o corpo de Mike relaxar com minhas palavras. Ele se levantou da cadeira e veio se sentar ao meu lado, me abraçando e beijando minha testa. Quando se afastou, ele olhou nos meus olhos, que só expressavam amor e admiração por mim.

"Eu te disse que você nasceu para ser uma Rainha." Repetindo suas palavras da sexta-feira à noite, um pequeno sorriso brincando em seu rosto.

"É claro, minha loba é uma rainha!" Eu sorri. Ele segurou minha mão, me levantou da cama e me abraçou novamente, envolvendo meu corpo com seus braços fortes, me segurando firme por alguns minutos, até se afastar e me segurar à distância.

Por mais que ainda desejasse Mike e minha loba não protestasse, eu sabia que esperar era a coisa certa a fazer. Me senti aliviada após nossa conversa e esperava que voltássemos ao normal e a tensão da situação agora tivesse desaparecido.

"Eu te amo, Lamia, sempre amei e sempre amarei, mas agora estou com fome e o Kel está nos esperando, provavelmente preocupado de estarmos fazendo algo que ele não vai gostar." Ele piscou e sorriu para mim. Sempre tão travesso. Mas eu não o teria de outra forma.

E como se fosse combinado, meu estômago roncou, nos avisando que eu também estava com fome, então de mãos dadas saímos do quarto e fomos encontrar nossos amigos no refeitório para o jantar. Sorri, sabendo que tudo estava certo no mundo novamente; tudo estava como deveria ser comigo e meus melhores amigos.

Depois do jantar, eu ligaria para meus pais e falaria com eles sobre o programa de treinamento avançado e a formatura antecipada. Afinal, eu confiava mais no meu pai do que em qualquer pessoa, ele era meu modelo.

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LAMIA

Já se passaram algumas semanas desde que liguei para meu pai e pedi seu conselho sobre o curso de treinamento avançado. Claro, ele apoiava totalmente qualquer decisão que eu tomasse, dizendo "Quero que você alcance seu potencial máximo, mas só você pode decidir qual é esse potencial. Até agora, você já superou todas as expectativas, acima e além, e cabe a você decidir se quer dar esse próximo passo."

Ele não, por assim dizer, me encorajou, mas também não me desencorajou. Isso é o que eu amava no meu pai. Desde os meus 14 anos e minha primeira transformação, ele me deixava decidir quais eram as limitações minhas e da minha loba e, verdadeiramente, antes disso, realmente não sabíamos quais eram nossas limitações. Agora, sabendo da força de Inanna e de muita de sua história, eu sentia que poderíamos conquistar o mundo e nada estava além do nosso alcance.

Então, contra o melhor julgamento da minha mãe, é claro que ela sempre se preocupava com sua garotinha, e não gostava da ideia de eu 'se auto-machucar', decidi não apenas fazer um extenso treinamento de armas, mas também experimentar a aula de prevenção de tortura. Tenho certeza de que mais tarde vou me arrepender por ter feito isso. Ela me disse o quanto estava orgulhosa de eu estar me formando com honras em todas as disciplinas e que, é claro, eu herdei minha inteligência dela e minha boca suja do meu pai.

Foi maravilhoso passar o Solstício de Inverno com meus pais e família e realmente odiei ter que voltar para a Academia. Kellen e Mike estavam totalmente a favor, dizendo que era melhor do que ter que estar em uma escola secundária regular. Mesmo que eu pudesse ter ficado em casa, eu não era do tipo que desistia e já tinha me comprometido com o treinamento avançado e, é claro, onde quer que Kellen fosse, eu com certeza o seguiria.

No entanto, conforme as semanas passavam, percebi o quão incrível era o treinamento avançado de armas. Trabalhamos com adagas, espadas longas, samurais, machados de batalha, esgrima e inúmeras outras lâminas. Acho que encontrei minha vocação. Wilson me disse que eu era uma talento natural e ficou extremamente impressionado com minha habilidade de arremesso e precisão.

Cada dia começava com sparring. Às vezes eu lutava com Kellen ou qualquer outro cadete que estivesse nesta classe. Uma vez por semana, Wilson me fazia lutar com Hunji, um especialista em espadas que era de Asiarian. O homem era uma fera e rápido! Ele me ajudou a aprender a me acalmar e acalmar minha loba quando ficávamos frustradas e com raiva, e nos ensinou a equilibrar nossas emoções através da meditação.

Ele tinha essas frases peculiares ou citações inspiradoras como: 'Quando não somos mais capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos' ou 'aprecie as pequenas coisas da vida, pois um dia você olhará para trás e perceberá que eram grandes coisas.'

Uma das minhas favoritas pessoais era: A vida começa no final da sua zona de conforto.

Isso era algo que ele me dizia muito, especialmente no início da minha prevenção de tortura. O que tenho que dizer é que foi difícil pra caramba! Eu sabia que seria difícil, mas não tinha ideia de quanto dor causaria.

A primeira semana foi um inferno. Eu estava doente, vomitando, febres, calafrios, dor de estômago, você nomeia, eu tinha.

Kellen, Mike e Kira estavam preocupados comigo e tentaram me convencer a desistir, especialmente Kellen. Acho que quase o matou ver o que eu estava passando. Eu pensei que eles me injetariam lentamente, aumentando os níveis a cada vez. Mas NÃO, eles não me introduziram suavemente como fizeram com Kel. Droga, eles chocaram meu corpo tão gravemente que até Inanna se escondeu profundamente na minha mente por quase duas semanas.

Wilson me disse que meu corpo e loba poderiam lidar com doses mais altas. No entanto, eu não deveria receber ambos os venenos de uma vez. Não tenho certeza de todos os detalhes, pois ninguém me contou. Pelo que entendi, uma enfermeira errou na minha dosagem e Kellen quase a matou. Claro, a enfermeira perdeu o emprego. São erros que você simplesmente não comete. Ela estava convicta de que tinha acertado as dosagens e não conseguia entender como aquela quantidade tinha entrado no meu sistema, mas ela assumiu a responsabilidade, era seu trabalho e estava sob sua supervisão.

Depois desse choque inicial e finalmente me recuperar após bater à porta da morte, as doses se tornaram menores e Inanna voltou. Segundo Kellen, quando minha febre quebrou pela primeira vez, fiquei louca e ataquei Wilson por me submeter a isso. Pessoalmente, não me lembro, mas Wilson passou a me respeitar mais e tinha um pouco de medo nos olhos quando falava comigo.

Ele não me dá mais ordens, apenas pergunta. Kellen também disse que, além de jogar Wilson do outro lado da sala do hospital em que eu estava, também assustei os outros membros da equipe quando arranquei meu soro e joguei minha cama neles. Ganhei outra mecha preta no cabelo naquelas duas semanas. Agora tinha uma de cada lado.

Mike e Kira me disseram que eu nunca poderia passar por algo assim novamente por causa da dor que eu estava sentindo. Kellen conseguia sentir e quase o matava ver e sentir o que meu corpo estava passando. Para Kellen, eles o conectaram a um soro de beladona e cronometraram quanto tempo ele conseguia ficar lá e suportar a queimação antes de desistir. Os tempos eram mantidos em sigilo, mas me disseram que ele nunca desistiu. A única razão pela qual ele foi liberado foi porque o saco tinha esvaziado e nenhum outro lobo até hoje tinha durado um saco inteiro. Eu estava orgulhosa de Kellen por não desistir. Agora posso dizer com certeza que a Beladona não foi um passeio no parque. Um veneno desagradável que agarra seus pulmões, queima sua pele de dentro para fora e causa alucinações. Ao contrário da beladona, que causa aumento da frequência cardíaca, dor abdominal e dormência, para citar alguns.

A última parte dessa tortura seria no final do mês, quando seríamos acorrentados com prata. A prata enfraquece nossa loba e pode causar queimaduras, além de enfraquecer nossa forma humana. Minha Loba disse que não estava preocupada com isso e estava confiante em nossa capacidade de suportar os desafios. Eu, por outro lado, não estava tão certa. Eu tinha certeza de que eles nos surpreenderiam em algum momento; nunca era tão simples quanto parecia.

Era um lindo dia de primavera e agora eu estava indo para o treinamento de armas. Esta era nossa última semana de treinamento de espada longa e sparring.

Isso me entristeceu; eu realmente estava gostando e esperava que, uma vez que voltássemos ao palácio real, eu pudesse continuar, talvez até começar uma classe de treinamento própria para outros guerreiros.

Eu adorava que Hunji não apenas nos ensinasse a usar e matar, com as armas, mas também nos dava uma história de cada uma, de onde vinham, por que eram a arma preferida e qual era o seu propósito. Esta era uma história que me interessava.