


Capítulo 2
Lucas se recusou a explicar o que Dylan tinha dito ou como ele havia respondido, dizendo apenas que eu entenderia em breve. Papai já estava dormindo quando chegamos em casa, então fomos direto para a cama.
Acordei surpresa na manhã seguinte ao perceber que Gabriel não tinha me ligado para nossa corrida matinal habitual. A luz do sol já entrava pela minha janela — um luxo raro. Me espreguicei, sentindo o puxão nos músculos do treino de ontem, e vesti uma calça de moletom e um moletom antes de descer as escadas.
No meio da escada, congelei ao ouvir vozes sussurradas. Gabriel e Lucas estavam conversando na cozinha, com tons sérios e baixos.
"Papai, ela está desconfiada de nós." A voz de Lucas caiu para um sussurro.
"O que te faz pensar isso?" Gabriel manteve a voz baixa.
"Dylan nos encurralou depois da fogueira ontem à noite. Disse que deveríamos levá-la para Moon Shadow e ficar por lá. Tipo, nem pensar em voltar aqui."
Meu coração martelava contra minhas costelas. O estranho aviso de Dylan de repente fez sentido.
Gabriel soltou um suspiro pesado. "Tenho que dar crédito ao garoto. Ele não é nada como o pai, especialmente desde que a Tara morreu."
"Sim, mas a Aria está ficando desconfiada. Não acho que ela saiba realmente o que está acontecendo com o Alfa. Mas ela definitivamente tem se sentido estranha em relação a ele."
"Vou explicar tudo para ela quando estivermos na casa do Jace," Gabriel disse. "Não dá para falar livremente aqui — as paredes têm ouvidos."
Voltei para cima, depois desci fazendo barulho como se estivesse chegando. Quando entrei na cozinha, Gabriel e Lucas pareciam casualmente suspeitos, com canecas de café na mão.
"Oi, dorminhoca." O sorriso de Gabriel não chegou aos olhos. "Dormiu bem?"
"Sim, tudo bem." Me servi de café. "O que, nada de treino brutal às cinco da manhã hoje? Você está se sentindo bem?"
Gabriel deu uma risada. "Até sargentos de treinamento têm dias de folga. Além disso, você tem que fazer as malas. Vamos partir ao amanhecer amanhã."
Sentei-me e bebi meu café, fingindo que não tinha acabado de ouvir toda a conversa deles.
De volta ao meu quarto, tirei minha maior bolsa de viagem e comecei a dobrar roupas metodicamente dentro dela. Não apenas algumas roupas — quase tudo que eu possuía. A praticidade das instruções de Gabriel agora era clara: não estávamos planejando uma visita curta.
Em uma bolsa menor, coloquei cuidadosamente meus pertences mais preciosos: meu caderno de desenhos, alguns livros, a pulseira de prata que Isabella, a falecida esposa de Gabriel, me deu antes de morrer. Sentia uma estranha certeza de que não voltaria para essa cabana — o único lar que conheci por dez anos.
Enquanto fazia as malas, memórias voltavam. Gabriel me ensinando a rastrear na floresta. Lucas me mostrando como dar um soco sem quebrar o polegar. As noites ao redor da fogueira onde Gabriel contava histórias das antigas alcateias de lobos.
Parei, passando os dedos sobre a marca de nascença em forma de pata de lobo no meu pulso esquerdo. Era estranho como uma humana como eu tinha acabado em um mundo de lobisomens. Às vezes me perguntava se havia algum significado mais profundo nisso, ou se era apenas uma ironia cruel — uma humana com uma marca de lobo que nunca poderia se transformar.
Quando desci novamente, encontrei Gabriel ao telefone na cozinha. Sentei-me silenciosamente à mesa, esperando ele terminar.
"Isso é ótimo, obrigado. Devemos chegar amanhã à noite, se tudo correr bem." Sua voz estava aliviada.
Quando desligou, ele se virou para mim com um sorriso. "Era sua avó Whitman. Ela está ansiosa para nos ver."
"Os pais da mamãe ainda estão em Moon Shadow?" perguntei.
Gabriel assentiu. "Sim. Eles já arranjaram tudo com o Alfa Jace. Você já fez as malas?"
"Quase tudo," confirmei. "Só falta organizar algumas coisas."
"Bom." Ele apertou meu ombro. "Fique por aqui hoje. Temos uma longa viagem pela frente."
Eu entendi a mensagem oculta: Não vá a lugar nenhum hoje. Assenti, compreendendo mais do que ele imaginava.
De volta ao meu quarto, o tédio logo se instalou. Coloquei meus fones de ouvido sem fio e rolei pelo meu app de música. Quando uma música familiar começou a tocar, fechei os olhos, deixando-me levar pelas memórias.
Dez anos atrás. A noite que mudou tudo.
Eu tinha sete anos, escondida em um armário enquanto caçadores invadiam nossa casa. Através da fresta na porta, vi meus pais caírem, seus corpos desmoronando sob balas de prata. Mordi minha mão para não gritar, sentindo o gosto de sangue quando meus dentes romperam a pele.
Depois do que pareceu horas, os tiros pararam. Passos pesados se aproximaram do meu esconderijo. Quando a porta do armário se abriu, olhei para os olhos âmbar de um homem enorme com cicatrizes de batalha no rosto.
"Você está segura agora, pequena," Gabriel disse, sua voz surpreendentemente gentil para um guerreiro tão feroz. "Eles se foram."
Atrás dele estava um adolescente—Lucas—com os olhos arregalados de surpresa ao encontrar uma criança humana.
"Papai, ela é humana," ele sussurrou.
Gabriel assentiu. "Sim. E ela não tem mais ninguém."
Alguns na matilha se opuseram a acolher uma criança humana, mas Gabriel foi firme. "Aqueles caçadores tiraram a família dela assim como tiraram a nossa. Ela fica. Fim de discussão."
Minha música de repente parou, interrompida por sons vindos do andar de baixo—batidas fortes na nossa porta da frente. Tirei os fones de ouvido, ouvindo atentamente.
Gabriel atendeu a porta com uma rapidez surpreendente. Da minha posição no topo da escada, pude ver o Alfa Warren parado na nossa varanda, flanqueado por dois guerreiros. Sua figura imponente preenchia a entrada, sua expressão severa.
"Gabriel," ele disse, a voz fria. "Pensei em passar por aqui. Ver como estão seus... planos de viagem."
O ar crepitava com tensão enquanto Gabriel o convidava a entrar, sua postura calma, mas alerta. Eu conhecia os sinais—ele estava pronto para lutar, se necessário.
"Qual é a dessa viagem repentina para Moon Shadow?" Warren perguntou, andando pela nossa sala de estar.
"Apenas visitando velhos amigos," Gabriel respondeu com tranquilidade. "Faz muito tempo que não vejo Jace."
Os olhos de Warren varreram a cabana, claramente procurando por algo—ou alguém. Por mim. Encolhi-me nas sombras do corredor do andar de cima.
"E levando sua... adotada com você?" A maneira como ele disse isso me fez arrepiar.
Lucas apareceu no pé da escada, posicionando-se protetoramente entre a linha de visão de Warren e onde eu estava. "Vamos como uma família," ele disse firmemente.
Warren os estudou antes de acenar com a cabeça. "Vou mandar alguns caras para escoltar vocês até a fronteira amanhã. Para proteção."
"Podemos nos virar," disse Gabriel.
"Eu insisto." O sorriso de Warren não chegou aos olhos. "Estaremos aqui às nove para vê-los partir."
Depois que Warren saiu, Gabriel fechou a porta e a trancou—algo que ele raramente fazia. Ele e Lucas trocaram um olhar preocupado que confirmou meus temores. Algo estava muito errado.
O jantar naquela noite foi tenso. Gabriel colocou nossa comida na mesa, depois se sentou com uma expressão que me disse que ele havia tomado uma decisão.
"Aria," ele disse finalmente, "tem coisas que você precisa saber."
O momento que eu estava esperando havia chegado. Coloquei o garfo de lado e dei a ele toda a minha atenção.