Capítulo 4
Freya
Levantei as sobrancelhas e sorri, embora a expressão parecesse fria e amarga. Tentei puxar a manga para baixo para esconder a queimadura no meu pulso—isso era problema meu. Não queria que estranhos soubessem.
"Acordo de cooperação comercial?" Eu disse, forçando a compostura enquanto estendia a mão não machucada.
Mas Lucas não entregou o documento. Seus olhos escuros me encaravam como se tentassem me enxergar por dentro.
"Você ainda é a companheira do Paxton, e este é território Sterling. Alguém realmente seria desesperado o suficiente para te intimidar aqui?"
O tom dele era frio, seu olhar deslizando do meu rosto para o meu pulso machucado.
Companheira do Paxton—será que Paxton reconhecia isso?
Um sorriso amargo tocou meus lábios enquanto eu permanecia em silêncio. Algumas palavras eram simplesmente difíceis demais de dizer, como a marca do Paxton no meu pescoço que doía de vez em quando, mas não tinha nada a ver com os outros.
Lucas era perspicaz. A cobertura online esmagadora sobre o Alpha Paxton pegando sua amante à meia-noite era suficiente para explicar tudo. A única pessoa que poderia me fazer suportar isso era Paxton.
"Então seu companheiro canalha trouxe a Beta dele para casa?" A voz de Lucas carregava uma raiva contida, seus olhos afiados.
Pressionei os lábios com mais força, minhas unhas quase cravando nas palmas das mãos.
"Não me diga que você vai deixar isso passar. Isso não é nada parecido com você," Lucas disse com frustração. "Se piorar, me avise quando essa Beta aparecer da próxima vez. Não tenho nenhuma reserva cavalheiresca—vou te ajudar a dar uma lição nela."
"Ela se machucou pior do que eu!" Olhei para cima, meus olhos carregando um brilho frio e orgulhoso.
"Vou ao hospital tratar esse ferimento. Volto logo."
"Vou com você."
Lucas imediatamente jogou os documentos para seu assistente e me seguiu para fora.
Fomos ao hospital mais próximo da empresa. Lucas me acompanhou para o tratamento dos ferimentos. Além da queimadura, meu tornozelo estava levemente torcido, embora não fosse sério—alguma pomada o curaria em alguns dias.
Lucas me ajudou a pegar a medicação, pagou as taxas, fez recados de um lado para o outro, atento em todos os aspectos. Depois de toda a correria, finalmente acabou.
Meu rosto permaneceu pálido, meus olhos ligeiramente inchados, completamente esgotada.
Lucas olhou para o relógio—já era quase meio-dia.
"Vamos almoçar juntos. É por minha conta."
Honestamente, eu não tinha apetite algum.
"É só uma Beta, não é o fim do mundo. Você ainda precisa comer—como vai ter forças para lutar contra eles?"
Ele deu de ombros com seu tom habitual despreocupado.
Assenti levemente. Não queria rejeitar demais sua gentileza, especialmente depois de ele ter passado metade do dia me ajudando.
"Qual restaurante você acha bom?"
Ele mencionou vários nomes de restaurantes famosos.
Respondi, "Tanto faz, qualquer lugar está bom."
"Tanto faz? Onde fica esse 'tanto faz'? Deixe-me pensar com cuidado." Ele fingiu franzir a testa, colocando uma expressão séria e pensativa.
"Tá bom, você decide," disse com um pouco de desamparo.
Nesse momento, duas pessoas caminharam em nossa direção—Paxton e Lyra.
Então ele a trouxe para este hospital também.
Vi o rosto de Paxton imediatamente escurecer quando notou o quão perto eu estava andando com Lucas, como minha expressão estava relaxada, carregando um desamparo e indulgência que nunca mostrei na frente dele.
Percebi seus pensamentos através de nosso vínculo mental. Ela ficou tão impaciente? Tão ansiosa para encontrar minha próxima opção? Ou ela estava tramando isso o tempo todo...
"Pax," a doce voz de Lyra quebrou o silêncio. "Não é a Freya? Com quem ela está? Eles parecem... íntimos." Seu tom gotejava uma falsa preocupação. "Eu me sinto mal por você—isso parece uma traição do vínculo de marcação."
"Freya!" Sua voz era um rosnado controlado, vibrando com o comando de um Alfa. "Não se esqueça de que você ainda carrega minha marca! Até que o ritual de dissolução seja concluído, você pertence a mim. Deveria manter distância de outros Alfas!"
Fiquei paralisada, momentaneamente chocada pela audácia de sua acusação. Ali estava ele, com Lyra praticamente pendurada em seu braço, me acusando de impropriedade por simplesmente andar com outro Alfa.
"E quanto a você?" Finalmente consegui dizer, minha voz surpreendentemente firme. "Esqueceu que me marcou, mas abandonou sua parceira para acompanhar essa Beta ao hospital?"
Paxton franziu a testa. "Lyra não é apenas uma Beta."
"Além disso, você claramente a machucou, e em vez de mostrar remorso, diz coisas tão frias?"
Quis rir, mas não consegui. Será que ele tinha visto o curativo óbvio na minha mão, ou tinha visto e simplesmente não se importava?
Não queria mais pensar nessas coisas. Estávamos nos dissolvendo de qualquer maneira—qual era o ponto?
De repente, me senti um pouco liberada.
"Não se preocupe. Vou assinar o contrato de dissolução e terminar o ritual. Então, o que eu fizer não terá nada a ver com você."
A carranca de Paxton se aprofundou. Inexplicavelmente, ele se sentiu perturbado, até sentindo que algo que sempre teve em suas mãos estava escapando do controle.
"Pax, dói tanto!" Lyra choramingou, lamentavelmente.
Finalmente, ele encontrou sua desculpa, falando friamente. "Freya, posso relevar essas coisas, mas você vai se desculpar com Lyra agora mesmo!"
A marca no meu pescoço latejou dolorosamente, o vínculo transmitindo sua raiva diretamente para o meu corpo. "E se eu insistir em não me desculpar?"
Paxton de repente sentiu um desconforto no peito, prestes a dizer algo quando uma risada zombeteira soou por perto.
Lucas parecia ter ouvido uma piada. "O quê? Uma parceira marcada se desculpando com uma terceira pessoa? Seu cérebro deu curto-circuito, ou eu fiquei louco?"
Sua zombaria desenfreada fez o rosto de Paxton se tornar frio.
Ajustei minhas emoções e voltei à minha aparência calma e composta de antes.
"Ela me machucou, então não deveria ser ela a se desculpar? Se você se importa tanto com ela, vamos verificar as câmeras de segurança."
"Acho que é uma boa ideia. Podemos esclarecer tudo." Lucas concordou, lançando um olhar significativo para Lyra.
Lyra entrou em pânico, seu rosto visivelmente aflito.
"Pax, não dói tanto assim. Não foi inteiramente culpa dela—eu realmente fui descuidada. É apenas um pequeno incidente; não vamos nos preocupar com isso, ok?"
Ela olhou para o meu pulso, fingindo preocupação. "Freya parece machucada também. É tudo culpa minha."
Que expressão sincera—que atuação.
Ri friamente. "Já que sabe que estava errada, por que não explicou desde o começo?"
Lyra olhou inocentemente ingênua. "Eu estava com tanta dor na hora, que esqueci."
Ela olhou para Paxton de maneira coquete. "Pax definitivamente não vai me culpar."
"Nesse caso, vamos encerrar esse assunto," Paxton disse desdenhosamente, seu rosto ainda frio e severo, embora seus olhos amolecessem ao olhar para Lyra.
Se eu tivesse cometido um erro, ele iria até o fim. Quando era Lyra, o assunto simplesmente era encerrado. Ele sempre manteve os assuntos públicos e privados separados, mas fez exceção após exceção para ela.
"Vamos," eu disse com um sorriso distante.
Lucas lançou um olhar de desprezo para Lyra e me seguiu enquanto saíamos.
Nesse momento, Paxton chamou. "Espere!"
Imediatamente parei, meu coração cheio de antecipação e alegria secreta. Ele me chamou de volta—poderia ser...
Mas as palavras frias atrás de mim destruíram minha última esperança.
"Não se esqueça do contrato de dissolução da marca," ele disse friamente. "Faremos o ritual na próxima lua cheia."
