Você está escorregando, querida.

A cidade passava rápido pelas janelas escurecidas num borrão de luzes vermelhas e torres de aço, meu motorista serpenteando pelo tráfego como um homem com algo a provar. Mal notei. Minha mente já estava no caos à frente. Inferno era uma das minhas operações mais limpas, um clube de alto nível, elegante e discreto, onde negócios eram fechados com doses de cem dólares e olhares semicerrados. Uma zona neutra. Nada de brigas. Nada de sangue. Nada de besteira. Então, quando Liam ligou com "uma situação", eu soube que era sério. Paramos na entrada dos fundos, a alguns quarteirões da avenida principal. Uma multidão já tinha se formado na frente, flashes de azul e vermelho refletindo na fachada de vidro espelhado. A fila típica de sexta-feira à noite havia se dispersado, substituída por uniformes e curiosos de olhos arregalados com celulares em mãos. Vi dois dos nossos seguranças tentando manter um perfil baixo, afastando civis enquanto fingiam não estar associados à cena. Inteligente. Saí para a noite, minhas botas batendo no asfalto com propósito. O frio me envolveu como um velho amigo. Ajustei os punhos da camisa e fui direto para a entrada dos funcionários, onde Liam já me esperava na porta.

"Lá dentro está uma bagunça," ele disse sem rodeios. "Alguns dos nossos tentaram conter um grupo que entrou ostentando cores. Disseram que eram apenas clientes, mas você não entra no Inferno vestindo aquilo a menos que esteja procurando encrenca."

"E encontraram," murmurei, passando por ele.

A música ainda tocava, abafada e pulsante, tentando manter a ilusão viva. Mas a tensão no ar estalava como estática. Entrei no salão e examinei o ambiente. Mesas viradas. Um copo quebrado brilhando como um diamante caído. Uma das dançarinas estava paralisada em sua plataforma, braços envoltos ao redor do corpo, olhos fixos no grupo de homens na seção VIP do canto esquerdo. Três dos meus estavam tentando contê-los, mal conseguindo. Eu podia ver sangue já manchando a gola da camisa de um deles. Outro tinha uma faca no cinto, dedos tremendo como se quisesse uma desculpa para usá-la. Entrei na confusão.

"Chega," disse, minha voz fria e firme.

Cortou a música como uma lâmina. Todos os olhos se voltaram. Eu não gritei. Não precisava. Meu nome tinha peso. E quando eu entrava numa sala, exigia silêncio.

O homem no canto, na casa dos trinta, musculoso, tatuagens saindo debaixo da gola, não se moveu imediatamente. Seu olhar travou no meu, desafiador. Testando.

"Peça desculpas à moça," disse, acenando para a dançarina abalada. "E depois saiam da porra do meu clube."

Um batimento cardíaco. Dois. Então ele cuspiu no chão e se levantou.

"Tentei ser legal," ele disse, encarando meus homens. "Não pensei que os cachorrinhos do Don fossem tão moles."

Movimento errado. Dei um passo à frente, rápido como um relâmpago, agarrei-o pela gola e o joguei contra a parede com tanta força que o reboco rachou. Seus comparsas se mexeram, mas nenhum avançou. Olhei em seus olhos, perto o suficiente para sentir o cheiro de uísque barato e suor.

"Não me importa de que gangue você é," disse entre dentes cerrados. "Esta é minha casa. Se você sangrar aqui de novo, mandarei seus ossos de volta numa caixa para sua mãe ter algo para chorar."

Soltei-o, e ele desabou para frente, tossindo. Não discutiu.

"Tirem eles daqui," ordenei.

Meus homens se moveram rápido. Eficientes. A tensão quebrou com o arrastar de pés e xingamentos murmurados, o cheiro de sangue e adrenalina denso no ar. Virei-me para Liam, que parecia querer sorrir, mas sabia que não devia.

"Podia ter sido pior," ele murmurou.

"Podia ter sido mais limpo," respondi, tirando a poeira do meu casaco.

Comecei a caminhar em direção ao bar VIP, precisando de um momento, uma bebida, qualquer coisa para tirar a tensão da minha pele. Foi quando eu vi. Um guardanapo. Dobrado cuidadosamente. Colocado exatamente onde eu costumava sentar. Meus passos hesitaram por meio segundo. Peguei-o, desdobrando lentamente. Escrito com batom, um vermelho suave e profundo, três palavras me encaravam.

"Você está escorregando, querido."

Fiquei olhando para aquilo, uma queimação lenta se espalhando do meu peito para a minha garganta. As letras eram limpas, elegantes. O batom era o tom favorito dela. Eu sabia porque já o tinha encontrado borrado em um estojo de bala uma vez. Ela tinha deixado aquilo no meu travesseiro, meses atrás. Olhei ao redor da sala, o pulso constante, mas agora afiado, todos os sentidos em alerta.

Ela está aqui. No caos. Na multidão. Dobrei o guardanapo com cuidado e o deslizei para o bolso do meu casaco como se significasse algo, porque significava. Aquela mensagem não era apenas uma provocação. Era um aviso. Uma provocação. Uma confissão. Para ela chegar aqui antes de mim... ou ela tinha acesso às minhas câmeras ou, pior, ela tinha as próprias. Esse pensamento se acomodou desconfortavelmente no meu estômago. Ela está sempre observando. Tudo. Cada movimento. Cada rachadura na minha armadura. Meu olhar varreu o clube novamente, mas nada parecia fora do lugar. Apenas funcionários do bar limpando mesas pegajosas. Dançarinas escorregando para os bastidores. A multidão se recuperando lentamente, a música encontrando seu ritmo novamente. A ilusão de normalidade se reconstituindo, tijolo por tijolo. Mas então... ali. Uma mudança na minha visão periférica. Perto da porta lateral, logo além do corredor e da placa de saída piscando como uma estrela moribunda. Escondida na sombra da cortina de veludo. Uma figura. Pequena. Encoberta. Roupas pretas que se ajustavam às suas curvas como um segredo. Ela estava perfeitamente imóvel... observando. Observando-me. Minha respiração prendeu, não de medo, não de surpresa. Algo mais pesado. Um fio esticado entre nós. Mesmo à distância, eu sabia. A maneira como ela se mantinha. Relaxada, indecifrável, deliberada. A maneira como inclinava ligeiramente a cabeça, como se já soubesse o que eu estava pensando. Olhos verdes. Mal visíveis sob a sombra do capuz. Mas ardentes. Vivos. Nossos olhares se encontraram. Apenas por um segundo e então, ela se virou. Escorregou pela porta lateral como fumaça. Sumiu. "Merda." Eu estava me movendo antes de perceber. Empurrei a multidão, ignorando a voz de Liam crepitando no meu fone de ouvido, ignorando os chamados de dançarinas e funcionários surpresos enquanto eu passava pela saída e entrava no beco atrás do clube. O frio atingiu como um tapa, agudo e implacável. O beco estava vazio. Apenas uma lixeira. Um rastro persistente de fumaça de cigarro. Sem passos. Sem eco. Apenas silêncio. Ela tinha sumido novamente. Fiquei ali por um longo momento, respirando a quietude, deixando a fúria rastejar sob minha pele como formigas de fogo. Toda vez, ela chegava perto o suficiente para me tocar, depois desaparecia antes que eu pudesse sequer alcançá-la. Ela estava me provocando. Me desafiando. Deixando migalhas e me vendo correr atrás e eu estava correndo. Tirei o guardanapo do bolso do meu casaco novamente, alisando-o com o polegar.

"Você está escorregando, querido."

Não. Não estou escorregando. Apenas afiando porque agora eu sabia. Ela não era mais uma fantasia abstrata. Ela era real. Ela tinha olhos nas minhas operações, no meu clube, em mim e ela estava aqui. Na minha cidade. No meu mundo. Ao meu alcance.

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