


Salvo
Cercada por um brilho branco, Sara sentiu seu corpo dormente sendo puxado para o fundo de um poço que parecia não ter fim. Lá, uma mulher de beleza inumana estava com os braços estendidos para a frente, como se esperasse que Sara caísse em seu abraço. Ela a olhava com as pálpebras pesadas, notando os cabelos prateados familiares e os olhos puros, os mesmos que via todos os dias no espelho. Mas, ao contrário de suas feições suaves, a mulher tinha traços mais afiados que falavam volumes sobre seu status e força.
A mulher estava dizendo algo, Sara notou pelo movimento dos lábios. No entanto, a garota que se afogava não conseguia ouvir nada além de um zumbido surdo nos ouvidos. A queimação em seus pulmões parecia aumentar à medida que se aproximava da mulher, que parecia ciente de tudo o que estava acontecendo com ela...
"...Dentro...Você...Confie...Não...", Sara não conseguia distinguir nenhuma das palavras enquanto uma pressão dolorosa atingia seu peito repetidamente, como se estivesse sendo martelado sem piedade. Uma dor excruciante irrompeu em sua garganta e se espalhou para seus pulmões, a queimação explosiva era demais para suportar e seus olhos se abriram de repente...
"Senhorita, você pode me ouvir? Você está bem? Senhorita, você está me ouvindo?"
Sara ignorou os apelos preocupados e se concentrou apenas em seus desesperados arfares, tentando inalar o ar precioso que queimava sua garganta como ácido. Seu coração batia freneticamente e seus ouvidos zumbiam alto, uma dor de cabeça lancinante ameaçava tirá-la da sanidade. Mas, apesar de tudo, ela estava grata pela dor, pois isso significava que estava viva.
Uma vez acostumada com a dor, Sara se virou para a pessoa que a segurava nos braços enquanto acariciava suas costas gentilmente, dizendo palavras reconfortantes. Ela olhou entorpecida para os belos olhos castanhos antes que um pensamento aterrorizante a atingisse...
Ele era um estranho, um homem, ela estava nua e sozinha no meio da floresta com suas forças esgotadas, Patrick... o homem era apenas outro Patrick... Ele ia fazer o mesmo com ela...
Rastejando de medo, o corpo inteiro de Sara tremia enquanto olhava para o jovem com absoluto horror. Ela queria gritar por ajuda, mas tudo o que saiu de sua garganta dolorida foram guinchos abafados.
Vendo seu estado assustado, o homem que estava ajoelhado bem ao lado dela levantou a palma da mão enquanto se afastava lentamente.
"Por favor, acalme-se, senhorita, eu não quero te machucar, só quero ajudar...". Sara olhou para o jovem com ceticismo, prestando mais atenção às suas ações e linguagem corporal do que às suas palavras. Um pouco mais tranquila pela maneira como ele mantinha distância, ela aproveitou a chance para avaliar sua situação.
Olhando para si mesma, Sara ficou surpresa ao ver que não estava nua, mas sim envolta em um grande manto preto. Olhando de volta para o jovem, ela notou que suas roupas eram da mesma cor do manto, o que significava que provavelmente era dele...
Aparentemente afetado pelo olhar cético dela, o jovem olhou para o próprio ombro, com um leve... rubor tingindo suas bochechas? Sara ficou perplexa com o motivo pelo qual o homem estava corando. Ainda desconfiada dele, ela puxou os joelhos para o peito de forma protetora quando o viu se levantar...
"Você... Suas roupas, acho que você as quer de volta?", Incapaz de dizer qualquer coisa, Sara assentiu lentamente, ainda cautelosa com o homem que caminhava graciosamente em direção às suas roupas, sentindo algo além do medo e da desconfiança...
Admiração, pensou Sara enquanto observava o homem que voltava com seu vestido dobrado, oferecendo-o a ela com um sorriso gentil e se afastando com as costas voltadas para ela.
"Prometo que não pretendo te machucar de forma alguma, senhorita. Espero que não se importe que eu fique por perto até você melhorar." Sara ainda estava cética em relação ao estranho, tinha dificuldade em estar perto de qualquer homem desde o incidente na torre. Ela observava o estranho cuidadosamente, pronta para correr a qualquer momento. Ela vestiu seu vestido apressadamente sem tirar os olhos do estranho, mas, ao contrário de suas expectativas, o jovem não tentou espiá-la, nem uma vez sequer.
Sara estava acostumada aos olhares discretos dos homens, os padres e guardas que evitavam contato visual com ela sempre davam uma olhada quando achavam que ela não notava. Mas, ao contrário deles, o jovem estranho manteve sua palavra em respeitar sua privacidade. Agora que estava novamente envolta na segurança de suas roupas, Sara aproveitou para observar melhor seu salvador, entendendo a origem de sua admiração anterior.
O jovem era alto, ficando orgulhosamente na mesma altura que seu pai. Suas roupas estavam encharcadas, provavelmente por tê-la salvado, e grudavam em seu corpo, permitindo que ela tivesse uma visão melhor dele: ombros largos, músculos definidos, braços grandes e pernas longas. Algo em sua postura e na maneira como se portava lembrava Sara de seu pai. Uma dignidade e uma nobreza sem esforço que apenas os nobres possuíam, sua cabeça erguida enquanto olhava para o horizonte, seu cabelo preto sedoso ainda molhado e pingando, fazendo-o parecer mais brilhante à luz do sol.
Sara sabia que deveria fugir agora que ele não estava olhando, era sua chance de escapar caso ele fosse um possível perigo. No entanto, um único olhar para seu físico lhe disse que ela não tinha chance de correr mais rápido que ele. Além disso, se o homem quisesse machucá-la, já teria feito isso. Ela estava nua e inconsciente em seus braços. No entanto, em vez de se aproveitar dela, ele cobriu sua nudez, poupando-a do constrangimento e da vergonha, enquanto a ajudava a respirar novamente. Quanto mais pensava nisso, mais seu coração se acalmava em relação ao seu salvador.
Decidindo dar ao homem o benefício da dúvida, Sara tossiu suavemente, o pequeno ruído fazendo sua garganta arder.
"Você terminou, senhorita?", Sara notou como o homem escolheu pedir sua confirmação antes de se virar, e seu coração se aqueceu com o gesto nobre.
"Sim...", Sara gostaria de poder dizer mais, mas já era uma tortura dizer uma única palavra. Envergonhada por sua falta de cortesia involuntária, ela olhou para baixo enquanto mordia os lábios. Ao ouvir sua confirmação, o jovem se virou lentamente. Seus olhos encontraram os dela e seu queixo quase caiu ao ver seu rosto. Suas feições eram esculpidas à perfeição, com o equilíbrio certo entre suavidade e robustez: um queixo bem definido e barbeado, nariz reto, maçãs do rosto altas, lábios cheios e o par de olhos mais bonito que possuía a cor do mel puro, cercados por longos cílios escuros, assim como suas sobrancelhas perfeitas. E como se ele já não fosse mortalmente bonito, ele ainda adornava suas feições com um sorriso brilhante que fazia todo o seu rosto irradiar. Sara não sabia exatamente o que aconteceu com ela, mas seu coração acelerou novamente, no entanto, não era de medo desta vez.
"Estou tão feliz que você está segura...", Parando na frente dela, Sara pôde ver o quão alto e bem construído o jovem realmente era. Ele a dominava sem esforço, fazendo-a se sentir pequena, mas não em perigo, não com a maneira gentil como seus olhos a olhavam...
"Você parece muito mais viva, senhorita. Mas vejo que ainda tem dificuldade em falar", vendo-a acenar com a cabeça, o homem continuou, "É compreensível, já que você engoliu muita água. Mas não se preocupe, senhorita, você vai melhorar em pouco tempo...".
"Tudo graças a você, senhor. Eu devo minha vida a você", Sara usou toda sua força para não fazer uma careta com a dor horrível em sua garganta, pois se sentia obrigada a pelo menos agradecer adequadamente ao jovem, não apenas por salvá-la, mas por não ser uma ameaça.
"Eu não fiz nada além do meu dever...", disse o homem humildemente enquanto balançava a cabeça, o sorriso em seu rosto revelando suas covinhas, "Só desejo que você melhore logo e seja mais cuidadosa da próxima vez".
"Eu serei, obrigada novamente, senhor".
"Se me permite, senhorita, gostaria de escoltá-la de volta para onde você mora. Meu coração não ficará tranquilo até ter certeza de que você chegou em casa em segurança", o sorriso do jovem era ligeiramente nervoso ao oferecer sua ajuda, com medo de soar impulsivo e rude, e ao mesmo tempo, com medo de ser rejeitado...
Sara não queria rejeitar a oferta educada do homem, desde que o conheceu ele não foi nada além de gentil e galante com ela. Infelizmente, ela tinha que recusar e até se despedir dele. Ela não podia arriscar que ele soubesse sobre sua identidade, de ser a filha ilegítima do rei, pois ele poderia ser um dos inimigos de seu pai, por tudo que ela sabia. Sem mencionar aquela pequena parte dela que despertou naquele momento, fazendo-a se sentir envergonhada, de sua identidade, do lugar onde vivia, de toda a sua vida. Ela não pensava nisso antes, mas agora que pensava, ela era menos que uma camponesa, sem nada admirável em sua vida. Até seu pai se recusava a levá-la com ele e anunciar sua existência, enquanto o jovem era um nobre, e um nobre bonito também...
"Oh, não precisa, senhor", Sara acenou com a mão de forma apologética, não querendo ofender seu salvador ao rejeitar sua oferta gentil. "Estou perfeitamente bem agora, tudo graças a você, e já o incomodei o suficiente, é melhor eu ir agora..." Sara disse enquanto pegava sua cesta e balde e se afastava do jovem.
"Por favor, senhorita, deixe-me ajudar", o jovem insistiu, especialmente depois de ver as coisas pesadas que a garota frágil estava carregando...
"Oh, não, por favor, meu pai estaria me procurando e ele é um homem bastante rigoroso e..." Sorrindo de forma constrangedora, Sara esperava que o jovem acreditasse em sua pequena mentira.
"Oh, entendo, não quero causar-lhe problemas então. No entanto, posso pedir uma coisa? Por favor?" O jovem soava tanto triste quanto esperançoso...
"O... Oh? Claro, senhor."
"Posso ter a honra de saber seu nome, bela dama?"
Sara corou imediatamente, surpresa tanto pelo pedido quanto pelo elogio. Olhando para baixo, ela se virou para ir embora, murmurando baixinho...
"Sara, meu nome é Sara", sem esperar pela reação do homem, Sara se afastou, muito envergonhada para ficar ou olhar para trás. Seus passos eram um pouco mais rápidos do que o normal, pois ela não sabia como agir. Era a primeira vez que falava com um estranho. Balançando a cabeça por sua falta de modos, ela continuou andando quando o jovem de repente chamou: "Sara...". Ela se virou com surpresa estampada no rosto e olhou para o jovem atrás dela. Ele estava sorrindo, seus olhos eram tão calorosos quanto o pôr do sol, parecendo divinamente bonito.
"Meu nome é Eren."
Sara sorriu de volta para ele após alguns segundos de pasmo passivo, disse o nome dele em voz baixa antes de se virar novamente, sorrindo de orelha a orelha.