Capítulo Um

Prólogo

Enterrei minhas unhas na terra sob meu corpo inerte. Tentava me afastar da mulher com a faca. A mulher que eu achava ser inofensiva. A mulher que está tentando me matar.

Kelly entrou como um ladrão na noite, pequena, frágil e assustada. Ela se infiltrou na minha vida, na minha gangue e na cama do meu marido.

Quando percebeu que eu não iria embora facilmente, ela elaborou um plano para me eliminar completamente.

"Grey é meu. Esta criança é nossa. Você está no caminho, Evelyn, sempre no caminho."

Disse a mulher enquanto me esfaqueava novamente.

Eu já não sentia mais a faca entrando. O sangue tinha um gosto metálico na minha língua. Supliquei para que não me matasse e ela riu. Tudo estava ficando preto enquanto a mulher continuava a falar.

"Eu terei Grey só para mim. Nós criaremos esta criança juntos. Eu liderarei nossa gangue ao lado dele como sua esposa. Você e aquela sua amiga insuportável não podem mais me deter."

Parecia que sua voz vinha através de um túnel. Vi algo prateado, um lampejo, e tudo ficou silencioso e escuro.

Ponto de Vista de Evelyn

Acordei, coberta de suor. As memórias inundaram minha mente. Kelly, a pobre menina órfã, cortando minha pele com um sorriso no rosto. O cheiro da floresta fazia cócegas no meu nariz enquanto o gosto metálico do sangue o sobrepujava.

Respirei fundo. Embora estivesse ciente do passado, não conseguia afastar a verdade inacreditável.

Conhecia Grey desde que éramos crianças. Meu pai confiou a ele o futuro do que ele havia conquistado com sangue e suor.

Uma grande parte de sua vida que ele nunca poderia recuperar. Ele colocou todo o seu mundo nas mãos de Grey, seus negócios, sua família e sua filha.

Eu não consegui dar a essa família o que eles queriam, eu sei, um herdeiro. Uma criança para ser criada como nós fomos, treinada para comandar uma Máfia tão grande que era a soberana desta parte do mundo.

Fui até o banheiro e joguei água fria no rosto. Meu celular apitou no outro quarto, provavelmente Sana. Geralmente ela é a primeira pessoa de quem ouço pela manhã.

Saber que ela estava viva para me enviar uma mensagem esta manhã trouxe lágrimas aos meus olhos. Ela não entenderia. Eu não contei a ela sobre as memórias da vida que vivemos antes. Eu não contei a ninguém.

Apenas alguns meses antes, ela também estava fria e morta pelas feridas infligidas por aquela psicopata, Kelly. Sana foi minha melhor amiga por muitos anos. Ela era minha confidente e uma das poucas pessoas em quem eu confiava no mundo agora.

Joguei mais água fria no rosto, desta vez adicionando um pouco de sabão. Às vezes, via os hematomas assombrando meu rosto antes de eu acordar. Recebi uma chance de mudar os eventos, e vou fazê-lo.

Depois de escovar os dentes, saí para escolher uma roupa para o dia. Uma calça legging preta, uma saia preta curta e uma blusa vermelha de botões serão o traje perfeito para o dia. Preciso estar no meu melhor para o dia da adoção da nova senhora.

Seu pobre pai, e aquele terrível acidente que ele deve ter sofrido. Exceto que ele não sofreu, e eu sei disso agora. Olhei pela janela e vi o pequeno pássaro preto sentado no galho da árvore. O mesmo pássaro que vi na manhã em que ela veio pela última vez. Ouvi o relógio soar no corredor e fui transportada de volta para este dia.

Eu sabia que Greta, uma das minhas empregadas pessoais, viria pelo corredor e sorriria para mim assim que eu abrisse a porta. Sei que vou sentir o cheiro do café sendo preparado na cozinha. Este é o primeiro dia de todos os erros que cometi da última vez.

O dia em que conheci Kelly. O dia em que conheci meu assassino. Este será o dia em que mudarei o futuro que sei que está por vir, aquele que me foi dado a oportunidade de corrigir.

Coloquei umas sapatilhas simples e escolhi um coque para o cabelo. Delineador preto sólido e um batom vermelho para combinar com a blusa. Peguei meu telefone, respondi um "bom dia, linda" para Sana e coloquei no meu sutiã. Agora eu sempre o mantinha mais perto de mim.

Quando saí pela porta do quarto, sorri docemente para os guardas. Sempre havia guardas ao redor do castelo que Grey e eu construímos. Ele quer agir como se tivesse feito tudo sozinho.

Ele não fez. Meu pai entregou as chaves do castelo para nós dois. Eu investi tanto tempo e esforço, senão mais, quanto ele neste negócio aqui.

A gangue responderia a mim se eu conseguisse me aproximar de alguns dos homens do lado dele na fusão. Tenho o respeito deles, claro, mas preciso do apoio e da confiança deles.

Quando entrei na área de jantar, sentei no final da mesa onde sempre me sento. O final que pertencia à rainha. Olhei para cima e vi Grey me encarando. Surpreso, acho, com minha aparência em um dia tão comum.

Era apenas um dia comum para ele. Ele não sabe do conhecimento que me foi deixado quando acordei. Pensei que minha vida tinha acabado, mas ela estava apenas começando.

Não mais sob o jugo de um compromisso vitalício com um homem que conhecia há anos. Grey Hunter, o líder da Máfia que ambos construímos.

O jovem que destruiu o carro do pai e me chamou para livrá-lo da enrascada. O homem que ficou ao lado da cama do meu pai por dias para garantir seu lugar no reino.

O homem que eu acreditava me amar, até que eu não pudesse mais lhe dar a vida que ele queria. Ele me olhou por um longo tempo antes de falar.

"Olá, Evelyn."

Ele disse sorrindo para mim, me fazendo querer vomitar na frente dele. Escolhi sorrir de volta. Isso não vai funcionar se eu mostrar minha mão.

"Olá, marido. Como foi sua manhã?"

Perguntei docemente. Ele esperou antes de responder, escolhendo suas palavras cuidadosamente.

"Um dos homens na cidade foi gravemente ferido. Ele não resistiu. Ele tem uma filha. O nome dela é Kelly Russo. Ela ainda é jovem. Ela precisa da nossa ajuda. Pensei que talvez pudéssemos acolhê-la. Temos muitos quartos nesta casa e comida para compartilhar. Pensei que poderíamos retribuir à comunidade acolhendo esta jovem. Ela precisa da nossa ajuda."

As palavras saíram da boca dele suavemente, como se ele as tivesse ensaiado muitas vezes na cabeça.

Kelly Russo.

Ouvir o nome da prostituta que me matou na vida passada novamente enviou um choque através do meu coração.

Cerrei os dentes, minhas pupilas se contraindo bruscamente.

Sua vadia, desta vez, não vou deixar você me matar novamente. Vou matar você!