Capítulo 4

As palavras de Thomas pairavam no ar entre nós, pesadas com verdades não ditas. As luzes fluorescentes da academia no porão zumbiam acima de nossas cabeças, lançando sombras duras sobre seu rosto preocupado. Billy dormia pacificamente no colchonete de exercícios, sua febre finalmente havia passado, enquanto meu mundo ameaçava desmoronar ao meu redor.

"Sophia." A voz de Thomas era gentil, mas insistente. "Precisamos conversar sobre o que realmente está acontecendo aqui."

Eu me ocupava ajustando o travesseiro improvisado de Billy, tentando evitar o olhar preocupado de Thomas. "Não há nada para conversar. Eu deveria levar Billy de volta para o quarto dele..."

"Sophia!" A voz de Thomas de repente ficou mais alta. "Por que você não vê? Henry não te ama de verdade!"

"Thomas, por favor..."

Eu me abracei, virando-me para longe de seu olhar penetrante. A verdade em suas palavras parecia cacos de vidro no meu peito. Eu não sabia como responder, naquele momento, eu até queria fugir dali.

"Por que você se casou com ele?" Thomas continuou, sua voz carregada de emoção. "Pela frieza dele? Pelo jeito que ele te ignora? Pelo amor que ele sente por Isabella?"

"Isso não é da sua conta!" Eu me virei, minha voz falhando. "Fique fora da minha vida! Você não tem o direito de interferir!"

No momento em que as palavras saíram da minha boca, me arrependi. Thomas tinha acabado de salvar a vida do meu filho, e aqui estava eu, descontando nele porque ele havia dito a verdade que eu evitava há cinco anos.

Thomas não recuou. Em vez disso, ele se aproximou, suas mãos estendidas como se quisesse oferecer conforto. Mas eu me afastei, meus ombros batendo na parede fria revestida de espelhos. Eu não podia suportar sua gentileza agora, isso quebraria o pouco de compostura que me restava.

"Sophia, me escute." Sua voz suavizou. "Divorcie-se dele. Você merece melhor do que aquele idiota. Existem muitos homens bons neste mundo."

A palavra 'divórcio' me atingiu como um golpe físico. Em cinco anos de casamento, eu nunca me permiti considerá-la. Os Hardings não se divorciavam, era uma regra não dita, reforçada pelo que havia acontecido com Robert Harding quando ele tentou.

"Ele não te merece, Sophia," Thomas insistiu. "Ele nunca mereceu."

Nesse momento, um pequeno som vindo do colchonete de exercícios nos interrompeu. Billy estava se mexendo, seus olhos piscando ao abrir. "Mamãe?" ele chamou fracamente.

Corri para o lado dele, grata pela distração. "Estou aqui, querido. Como você está se sentindo?"

"Melhor." Ele sorriu, então notou Thomas. "O Dr. Sanders nos ajudou, né?"

Thomas se ajoelhou ao nosso lado, seu comportamento profissional voltando ao lugar. "Isso mesmo, campeão. E você foi um excelente paciente. Acha que está pronto para voltar para o seu quarto?"

Billy assentiu, e Thomas o ajudou a se sentar. Enquanto fazíamos nosso caminho até o elevador, a pequena mão de Billy encontrou a de Thomas, natural como respirar. A visão apertou minha garganta, esse simples gesto de confiança que Billy nunca havia recebido de seu próprio pai.

A viagem de elevador foi silenciosa, quebrada apenas pelas perguntas ocasionais de Billy sobre as operações noturnas do hospital. Thomas respondeu a cada uma com paciência e calor, explicando conceitos médicos complexos em termos que um garoto de cinco anos pudesse entender.

Quando chegamos ao décimo sexto andar, uma jovem enfermeira na estação perguntou de repente, "Dr. Sanders! São sua esposa e seu filho?"

Antes que eu pudesse corrigi-la, Thomas sorriu. "Eles não são adoráveis?"

A ternura em sua voz me fez corar, mas outra enfermeira se aproximou antes que eu pudesse responder. "Sra. Harding? Precisamos da senhora no departamento de faturamento. Há um problema com as despesas médicas do seu filho."

No balcão de pagamento, minhas mãos tremiam enquanto eu entregava meu cartão de crédito. A expressão da atendente me disse tudo antes mesmo que ela falasse. "Sinto muito, Sra. Harding, mas este cartão foi recusado. O saldo é insuficiente."

A vergonha queimou dentro de mim. Claro, Henry controlava todas as nossas contas. Eu tinha acesso apenas a um modesto subsídio mensal, a maior parte do qual ia para as necessidades de Billy.

"Aqui." Thomas se adiantou, puxando seu próprio cartão. "Use este."

"Não, eu não poderia..." Eu queria recusar.

"O que diabos está acontecendo aqui?"

De repente, a voz fria de Henry cortou o ar como uma lâmina. Ele estava no final do corredor, seu terno impecável destoando da hora tardia, seus olhos cinzentos gélidos enquanto observavam a cena diante dele.

"Por que você está aqui com outro homem?" ele exigiu, caminhando em nossa direção. "Você tem ideia de como isso parece?"

Thomas se colocou entre nós, sua postura normalmente gentil se endurecendo. "O que isso parece é um pai que não se dá ao trabalho de verificar o filho doente. O que isso parece é um marido que desfila com sua amante enquanto sua esposa não pode nem pagar pelo tratamento médico do filho!"

"Como você ousa..." Henry começou, mas Thomas o interrompeu.

"Não, como você ousa! Você vale milhões, e sua esposa não pode pagar cuidados médicos básicos? Você está lá em cima fazendo papel de amante devotado para Isabella Scott enquanto seu filho tem convulsões?" A voz de Thomas pingava desprezo. "Sophia, divorcie-se desse cretino!"

"Thomas," agarrei seu braço, minha voz tremendo. "Por favor, vá embora. Você já ajudou o suficiente."

O olhar que Thomas me deu estava cheio de dor e frustração, mas ele assentiu. "Pense no que eu disse, Sophia. Você sabe onde me encontrar se precisar de qualquer coisa." Ele lançou um último olhar de desgosto para Henry antes de se afastar.

Henry o observou ir embora, sua expressão ilegível. Então, aqueles olhos cinzentos e frios se fixaram em mim. "Vamos discutir isso em casa," ele disse, sua voz carregando aquela ameaça silenciosa que eu conhecia tão bem. "Por enquanto, sugiro que você se lembre de quem você é, e de cujo nome você carrega!"

Enquanto ele se virava e se afastava, fiquei ali sob a luz dura do hospital, as palavras de Thomas ecoando na minha mente. 'Divórcio', a ideia que nunca parecia possível antes desta noite de repente se sentiu como uma porta se abrindo, deixando entrar o primeiro vislumbre do amanhecer.

No entanto, enquanto eu observava as costas de Henry se afastando, sabia que não seria tão simples.

Ainda assim, algo mudou esta noite. Talvez tenha sido ver Henry carregando Isabella pelos corredores, ou assistir Thomas cuidar de Billy com tanta naturalidade e carinho, ou simplesmente chegar ao fim do que eu podia suportar. Seja o que for, eu não podia mais ignorar.

Fiz meu caminho de volta ao quarto de Billy, onde ele havia adormecido novamente, sua febre finalmente desaparecida. Do lado de fora da janela, as luzes da cidade brilhavam como estrelas caídas. Olhando para meu filho, caí em um pensamento profundo.

Divórcio...

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