Capítulo 5 - Quem é você?

Alguém, cujo nome agora está esquecido, uma vez disse estas palavras: "A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia a longo prazo."

Eu me perguntava se a minha era uma comédia ou uma tragédia...

À medida que a consciência lentamente se infiltrava na minha mente, encontrei-me em um lugar desconhecido, cercado pelo cheiro estéril de antisséptico e o suave zumbido de equipamentos médicos. Minhas pálpebras tremularam ao abrir, ajustando-se ao brilho intenso do quarto de hospital. Quarto de hospital? Eu não morri naquele beco sujo?

A confusão se estampou no meu rosto enquanto tentava recordar os eventos que me levaram até aquele momento. Os ecos distantes de passos apressados e vozes abafadas filtravam-se pela minha memória nebulosa. Tubos e fios me conectavam a máquinas, uma teia de significados desconhecidos que sugeria a gravidade da minha situação.

Uma dor surda pulsava pelo meu corpo, um lembrete constante de um sofrimento que eu não conseguia juntar as peças. O que aconteceu comigo? Uma onda de vulnerabilidade me invadiu ao perceber a fragilidade da minha própria mortalidade. Eu quase morri. Uma cena ficou presa na minha cabeça: minha irmã apontando uma arma para mim. Deve ter sido um pesadelo.

Virando a cabeça, avistei rostos preocupados pairando por perto—família ou amigos, presumi, seus olhos uma mistura de alívio e preocupação. Suas conversas sussurradas e garantias gentis eram um fio de esperança nesse ambiente desconhecido. Alguém chamou uma ambulância? Por que eu estava no hospital?

Com uma mão trêmula, uma mulher que eu não conhecia estendeu a mão, buscando o conforto de um toque familiar em meio à esterilidade clínica. Perguntas pairavam nos meus lábios, mas a dor latejante e o ambiente surreal abafavam minhas indagações. Quem eram essas pessoas? E quem era essa mulher me tocando? Eu queria me afastar, mas meus movimentos estavam restringidos pelas máquinas que pareciam me manter vivo.

À medida que o nevoeiro da inconsciência gradualmente se dissipava, embarquei na lenta jornada de juntar os fragmentos da memória, navegando pelo terreno incerto entre sonhos e realidade dentro dos limites estéreis do quarto de hospital. Lembro-me de voltar do trabalho para casa e ficar assustado porque achava que estava sendo seguido. Lembro-me de descobrir que minha irmã pagou pessoas para me matar.

E, por fim, lembro-me de estar deitado em uma poça de sangue pedindo a Deus uma segunda chance.

"Essie!" sussurrei, minha voz rachada e seca.

Aquela vadia fez isso comigo. Mas como eu sobrevivi? Eu tinha certeza de que estava morto. Como eu poderia sobreviver a dois tiros, um no peito e outro no abdômen? Não, eu não acho que alguém sobreviveria a isso, a menos que não fosse humano. O que me leva a perguntar... Como eu estava aqui?

"Zendaya!" Alguém chamou, interrompendo meu pensamento.

Zendaya! Quem diabos era Zendaya?

Uma figura estava ao lado da minha cama, sua silhueta lançando uma sombra desconhecida, mas distante. Enquanto tentava focar, lutava para reconhecer a pessoa diante de mim. A busca não deu em nada, eu tinha certeza de que nunca tinha visto essa mulher antes. Os lábios da mulher se abriram, e com um tremor na voz, ela pronunciou um nome—um nome que me parecia estranho. Zendaya.

A confusão nublou meus sentidos, um véu de incerteza encobrindo meus pensamentos. O olhar da mulher se fixou em mim, desesperadamente procurando reconhecimento, um semblante de compreensão no meio desse momento desconcertante.

A estranha mulher, chorosa mas esperançosa, persistiu, falando palavras carregadas de amor e urgência.

"Você voltou," ela sussurrou, usando novamente o nome desconhecido, um nome que não despertava nenhuma familiaridade em mim.

Lutando para juntar os fragmentos da memória, meu coração disparava com uma mistura de emoções—confusão e uma avassaladora sensação de desconexão. Enquanto a voz da mulher continuava a ressoar no quarto, eu lutava com a inquietante noção de que estava sendo chamado por um nome que não conseguia entender, e por uma pessoa que eu deveria reconhecer.

"Q-quem é você?" perguntei, depois de não conseguir reconhecê-la.

Ela engasgou com um suspiro. Seus lábios tremeram ligeiramente, um sinal revelador da tempestade que se formava dentro dela. Uma ruga se formou entre suas sobrancelhas, evidência dos pensamentos tentadores que giravam em sua mente.

Com uma delicada graça, ela inalou uma respiração trêmula, esforçando-se para manter a compostura. Seus dedos se fecharam e abriram em uma batalha silenciosa contra a enxurrada de emoções que ameaçavam transbordar. Uma lágrima solitária escapou, traçando um caminho pela sua bochecha, um testemunho silencioso do reservatório de sentimentos contidos.

Havia algo em vê-la segurar suas lágrimas que partiu meu coração. Eu poderia não reconhecê-la, mas algo dentro do meu corpo foi mexido pelo comportamento dela.

"Desculpe," murmurei.

Eu não queria machucá-la. Ela obviamente me conhecia enquanto eu não sabia nada sobre ela.

"Está tudo bem," ela minimizou, "contanto que você esteja vivo. Isso é tudo o que importa."

Meus olhos pousaram nos belos olhos azuis dela. Seu olhar gentil se chocou com o meu inquisitivo. Suas sobrancelhas se ergueram enquanto ela observava meu rosto.

"Quem é você? Se não se importar em me dizer?" perguntei.

Eu sabia que estava machucando-a, mas precisava de algumas respostas sobre quem eram essas pessoas.

"Eu sou sua mãe, você não se lembra, Zendaya?" ela perguntou, com a mão no peito.

Zendaya! Lá vem esse nome de novo.

"Quem é Zendaya?" perguntei.

Suspiros altos encheram o quarto enquanto todos os olhos se focavam em mim.

"Você é Zendaya, querida," disse a mulher.

Como eu poderia ser Zendaya? Meu nome é Semira. Por que eles me chamariam por outro nome?

"Você deve estar enganada," insisti.

A mulher me olhou. Ela apertou o botão de emergência perto da cama. Em segundos, um médico e duas enfermeiras correram para o quarto. O resto das pessoas foi solicitado a sair, deixando minha suposta mãe, os médicos e eu no quarto.

"Algo está errado com ela, doutor. Ela não consegue lembrar o nome dela ou de mim," ela explicou, sua voz cheia de preocupação e medo.

O médico fez algumas perguntas; meu nome, minha idade, de onde eu era, e outras coisas. Respondi a todas as perguntas conforme me lembrava. Depois de alguns minutos, o médico consultou outro. Eles voltaram ao quarto prontos para explicar a situação.

"Sra. Cole, sua filha parece ter Transtorno Dissociativo de Identidade. Esta é uma condição caracterizada pela presença de duas ou mais identidades de personalidade distintas.

Cada uma pode ter um nome, história pessoal e características únicas. O que explica por que sua filha está convencida de que seu nome é Semira e não Zendaya," explicou o médico.

Eu não estava doente. Bem, eu não me sentia doente. Eu era Semira, disso eu tinha certeza. Mas Zendaya era estranha para mim. Quem era ela e por que eles achavam que eu era ela?

"O que causa esse transtorno?" perguntou a Sra. Cole.

"Sua filha esteve em coma por três meses sem esperança de acordar. É um milagre que ela tenha acordado hoje. Ela pode ter esse transtorno como uma reação ao trauma, uma forma de evitar memórias ruins. Ainda não sabemos exatamente o que aconteceu com ela, e pelo que parece, levará um tempo para obtermos as respostas de que precisamos. Então, não se alarme, trate sua filha como sempre fez. Com o tempo, ela se lembrará de quem é," disse o médico.

Eu sabia que o médico estava tentando ao máximo acalmar minha mãe. Depois de muito pensar e considerar, cheguei à conclusão de que ou eu estava no corpo de outra pessoa, ou eu estava morta.

"Semira"

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