


Itália
Era apenas mais um dia quando tudo se tornou uma confusão de coisas para resolver, e tudo por causa de uma pessoa, Vidia. Sua completa irresponsabilidade no trabalho me colocou em apuros mais uma vez.
Ela, Vidia Rui e Giulia Ghin, eu, sua melhor amiga - e a única capaz de aguentar sua instabilidade - abrimos uma empresa de moda há três anos. Eu tive a ideia, montei toda a estrutura da empresa e também fiz todo o estoque. Mas Vidia entrou com a parte mais importante, o dinheiro.
Eu sou a CEO da nossa empresa, mas ela é a sócia. E uma sócia deveria ajudar a CEO a colocar a empresa em ordem, o que ela não faz. E tudo ficou ainda pior quando ela me ligou na semana passada e disse que estava noiva, noiva de um homem que ela conhecia há menos de um mês.
Que tipo de pessoa se casa depois de um mês? Será que ela estava grávida? Embora isso não seja motivo para se casar. O que realmente importa é que ela me deixou sozinha novamente com um monte de coisas para fazer.
Quem em sã consciência se casaria com alguém que mal conhece? Afinal, em que século estamos? Por isso, não recusei o convite para o casamento dela, precisava garantir que minha amiga não estava entrando numa cilada. Eu veria se o cara era bom e, se ele não fosse digno dela, eu daria um jeito nele e depois trancaria ela em um quarto até ela voltar à razão, o plano era perfeito!
[***]
Parei de encarar o lugar de boca aberta, já que estava assim há tempo suficiente para que qualquer um que me visse pensasse que eu não era muito normal. Na verdade, não sou, mas gosto de mentir e fingir que sou comum no início dos relacionamentos.
Caminhei até a entrada do lugar e toquei a campainha que parecia poder pagar todas as minhas dívidas, ou seja, eu não conseguiria nem pagar pela maçaneta.
A porta logo se abriu, revelando uma senhora com um penteado volumoso, que parecia uma peruca. Seu penteado estava uns 50 anos fora de moda e suas roupas não ficavam atrás. A mulher parecia a Rainha Elizabeth, só que com muita cirurgia plástica e cheirando a charutos. Ela me olhou de cima a baixo e fez uma cara de nojo, em resumo, o jeito que os ricos olham para os pobres.
"Não quero comprar nada." Ela disse, virando o rosto e tentando fechar a porta.
"Não sou vendedora, sou amiga da Vidia." Expliquei, segurando a porta e impedindo-a de fechá-la.
A mulher me olhou de cima a baixo novamente, agora com um sorriso debochado. Finalmente, riu sarcasticamente e revirou os olhos. "Ela não poderia revirar mais os olhos se não os tivesse," pensei.
"Não me surpreende que você seja convidada dela." Ela fingiu um sorriso gentil e minha educação me forçou a fingir também. "Entre e seja bem-vinda." A mulher falou automaticamente.
"Obrigada!" Disse, pegando minhas malas e entrando. "Onde está..."
A velha plástica já não estava mais lá, tinha evaporado no ar e me deixado sem um mapa. Como eu encontraria Vidia naquele lugar enorme? Eu não podia simplesmente andar por aí e arriscar ir aonde não devia.
Então vi uma figura alta e muito magra descendo as escadas. Por um minuto fiquei confusa sobre sua aparência, mas logo percebi que era Vidia.
"Giulia!" Ela disse educadamente, me abraçando e dando um beijo na bochecha.
"Vidia?" Olhei para ela como se tivesse sido abduzida.
Vidia não era delicada, muito menos educada. Ela era do tipo que todo mundo sabia quando chegava a um lugar, ria alto e abraçava como um urso. Uma das coisas que mais amo nela é sua espontaneidade.
"Você está linda com esses shorts e blusa." Vidia disse, me dando um sorriso forçado.
O quê?
"Acho que estou na casa errada." Concluí, afinal, é a única explicação lógica para a situação.
"Não seja boba, eu sou sua Vidia e você é minha Giulia, minha madrinha atrasada." Ela me deu o sorriso mais amigável.
"O que aconteceu com você? Estão te torturando?" Perguntei com um meio sorriso, fazendo-a sorrir também. "Te amarraram numa cadeira e te contaram sobre a cultura italiana?"
"Eu tinha esquecido como você é engraçada." Ela ficou séria e subiu as escadas.
"Você me viu há menos de um mês." Disse, seguindo-a.
"Faz um mês e 14 dias que conheci o Fernando". Ela diz com um sorriso bobo.
Vidia subiu as escadas em silêncio. Ela estava usando um vestido cinza que destacava todas as curvas do seu corpo, sensual, mas elegante. O vestido devia ter custado mais do que a minha hipoteca.
Vidia também estava de salto alto, mesmo sendo inimiga dos saltos. Ela andava de cabeça erguida e com um ar bastante esnobe. Quanto uma pessoa pode mudar em um mês e quatorze dias?
"Fiquei tão feliz quando você disse que vinha, meu casamento só estaria completo com minha amiga e todos que amo presentes. Vai ser um sonho." Ela diz assim que entra em um quarto e se senta na cama. "Você vai ficar aqui pelos próximos quinze dias." Ela diz, mostrando o quarto com orgulho.
"Como assim quinze dias?" Pergunto, minha voz um pouco alta.
"Meu casamento só vai acontecer daqui a duas semanas, boba, ainda tem muita coisa para fazer." Ela explica com um sorriso.
"Vidia, eu não posso ficar tanto tempo e você sabe disso. Estamos no fim do mês, você sabe quanto eu tenho que fazer?" Pergunto em desespero enquanto Vidia me olha com toda a calma do mundo. "Quem garante que teremos todas as peças sem meu apoio lá? Eu pensei que seu casamento fosse amanhã ou no máximo daqui a três dias."
"Giulia, calma. Ela diz, tocando meus ombros e olhando nos meus olhos. "Você merece férias há muito tempo e sua loja não vai desaparecer sem você lá."
"Será, Vidia? Será?" Pergunto ironicamente.
[***]
Eu estava no jantar de recepção do casamento, onde estavam todos os padrinhos e madrinhas. Não havia ninguém que eu conhecesse ali e eu sabia que Vidia não conhecia aquelas pessoas. Suspirei e me concentrei na minha comida, já que todos pareciam muito envolvidos em seus próprios mundos fúteis.
Logo dois homens grandes entraram na sala de jantar e caminharam em direção a Fernando. Não pude deixar de olhar, mas então vi o rosto de Fernando formar uma careta e ele se levantou assustado.
Vidia se levantou e eles conversaram em sussurros. Fernando logo saiu com os homens e Vidia forçou um sorriso. Fernando acabou de ganhar um ponto negativo na minha lista: quem deixa sua própria recepção de casamento?
"Amigos." Vidia falou ainda de pé, chamando a atenção de todos. "Aconteceu um imprevisto, então Fernando e eu vamos nos ausentar." Ela diz um pouco constrangida. "Mas, por favor, aproveitem a recepção."
Vidia mandou os garçons entrarem com comida e bebida. Todos pareciam não ter notado toda a situação. Eu segui, para ver se algo tinha acontecido. Vidia passou pela cozinha e foi direto para uma "sala de recepção". Ela parou em um canto e começou a chorar, e eu fiz o mínimo de barulho possível. Observei-a por alguns momentos e confirmei minha teoria de que ela não estava bem.
"Vidia?" Chamei sua atenção.
Vidia rapidamente endireitou a postura e enxugou as lágrimas, virando-se para mim com um sorriso falso.
"Você está perdendo a recepção." Seu sorriso era largo e qualquer um que não a conhecesse diria que era real. "Só preciso de um minuto e vou ficar melhor logo." Ela disse, virando-se novamente.
"O que está acontecendo?" Perguntei cuidadosamente, com medo da reação dela.
"Está tudo perfeito, Giulia." Ela respondeu um pouco alto, com arrogância. "Está tudo perfeito." Ela sussurrou desta vez.
Aproximei-me dela, de coração partido ao vê-la assim. O mais difícil de tudo era não saber o porquê. Então, apenas a abracei, tentando, de alguma forma, tirar um pouco da dor dela. Vidia se virou para mim e me abraçou. Como se estivesse desesperada por esse tipo de afeto.
Apenas a apertei contra mim, sentindo sua necessidade de conforto e silêncio. Logo, Vidia se acalmou e enxugou as lágrimas novamente. Ela refez sua postura, como se tivesse se tornado outra pessoa.
"Não acho que consigo lidar com tantas emoções." Ela se desculpou e riu. "Estou melhor."
Apenas a observei, vendo como Vidia poderia ganhar um Oscar com sua atuação. Mas eu tinha certeza de que havia algo errado nessa história.
"Vou para o meu quarto, preciso me acalmar." Ela disse sem humor, vendo-me séria. "Volte e aproveite a recepção."
Vidia disse e simplesmente saiu. Fiquei ali, tentando não me irritar com Fernando.