


Novo padrinho
O dia amanheceu lindo, mas desta vez fui acordada pelo belo som do canto dos pássaros. Abri a janela e os vi voando despreocupados pelo jardim enquanto cantavam.
Ri ao ver isso, adorava esses pequenos detalhes e eles sempre mudavam meu dia. Meu estado de espírito estava excelente. O primeiro motivo era que minha amiga estava felizmente casada com um homem digno desse privilégio.
O segundo motivo é que talvez os vários coquetéis e a cachaça que tomei ontem ainda estejam ajudando a manter meu humor leve. O terceiro motivo é que eu tinha ficado com o primo gato do Fernando e tinha sido bom.
Especialmente a parte em que me afastei, recusando-me a me envolver com um homem do tipo dele. Vesti algo mais fresco e casual, pretendia dar uma caminhada. Ele gostava de caminhar pela manhã, era o único exercício que ele não tinha preguiça de fazer.
Desci animada, tentando assobiar no ritmo dos pássaros, e claro que não ficou bom. Vidia passou por mim no corredor a caminho da sala de jantar onde sempre tomávamos nosso café da manhã.
"Está animada?" Vidia perguntou olhando para mim com um sorriso malicioso.
"Claro, por que não estaria?" pergunto sem entender a reação dela.
"Foi alguém em particular que te deixou de tão bom humor?" Vidia pergunta novamente maliciosamente.
"Não te entendo, você ficou tão bêbada ontem à noite que ainda está bêbada agora?" pergunto ironicamente e Vidia me dá um tapa no braço.
"Vai ficar aí fingindo até que horas?" Pergunta séria, e eu a encaro confusa. "Eu vi você e o Sr. Savaio saindo de fininho da festa". Vidia esclarece. "Por que essa cara estranha?"
"Por que você me faz perguntas estranhas sobre mim e o Sr. Savaio, sério? É assim que você chama o primo do seu noivo?" Rio, zombando dos seus modos.
"Quero saber se você vai continuar nesse bom humor quando entrar na sala". Vidia diz seriamente, olhando para a porta da sala.
"Por que você diz isso?" pergunto, ficando séria também.
"Porque Filipe..." ela enfatiza o nome. "Ele pediu para participar de toda a agenda do casamento". Ela fala me fazendo abrir a boca. "E pediu para ser o padrinho principal."
Vidia fala e meu corpo congela. Eu era a madrinha principal, então Filipe não podia ser o padrinho principal. Por que isso significaria...
"Você negou, né?" pergunto, segurando-a pelos braços e sacudindo-a um pouco. "Você disse que não precisava de mais padrinhos e que mais um só atrapalharia".
Vidia estava segurando uma caixa e quase a deixou cair depois que a sacudi. Ela me olhou espantada, não percebendo minha impaciência.
"Claro que não, ele é primo do Fernando e nos deu sua bênção, o mínimo que podíamos fazer era deixá-lo ser o padrinho principal. Na verdade, todos adoraram a ideia. Quer dizer, todos menos você". Vidia olha para mim e ri do meu desespero. "O que aconteceu ontem? Foi tão horrível para você ficar tão desesperada?"
Continuei olhando para Vidia e depois para aquela porta, que agora parecia uma porta para o inferno. Assim como Vidia, eu não entendia o sentimento que me fazia querer ficar o mais longe possível de Filipe.
Mas eu raramente me enganava, e não queria correr o risco de ignorar meu subconsciente. Filipe era certamente um perigo. Ele era parente do marido da minha melhor amiga, um canalha e um ótimo beijador.
Não era tanto pela beleza, mas pela aura que exalava, era pura sensualidade. Um completo bad boy, só faltava uma placa de aviso.
"Nada, nada aconteceu". Respondo a Vidia, solto-a e arrumo meu cabelo, enquanto tento me disfarçar.
"Sua aparência não vai mudar porque você está prendendo o cabelo." Vidia diz apontando para mim. "Na verdade, seu rosto fica ainda mais exposto assim." Vidia diz ironicamente, piscando e entrando na sala de jantar.
Respirei fundo e me controlei. Não havia razão para estar em tal agonia. Este era apenas mais um homem que eu tinha beijado algumas vezes e não ia dar em nada. Filipe era um adulto e, com fé, seria educado o suficiente para fingir que nada tinha acontecido.
Depois de me acalmar e me consolar com essas palavras, entrei na sala. Todos voltaram sua atenção para mim assim que entrei, o que era costume deles, mas desta vez um par de olhos me deixou desconfortável.
Tentei não me abater e fui para o mais longe possível de Filipe. Consegui e me sentei, fazendo com que todos voltassem às suas tarefas anteriores.
Comecei a comer um pãozinho e, quando olhei para cima, vi que Filipe estava me olhando. Arqueei uma sobrancelha, sem entender por que Filipe não se incomodava nem em fingir ser uma pessoa discreta.
Filipe me deu um pequeno sorriso de lado que quase me deixou tonta e eu desviei o olhar. Comi três pãezinhos, uma fatia de mamão e uma xícara de café. Todos estavam falando animadamente sobre a primeira aula de dança que íamos ter.
Eu também estava animada, adorava dançar, mas sempre deixava claro que só tinha amor e nenhum talento. Levantei assim que terminei de comer e caminhei em direção a Vidia. Cumprimentei Fernando apenas com um aceno de cabeça e beijei Vidia na bochecha.
"Onde você vai?" Vidia perguntou confusa.
"Vou dar uma caminhada, já volto." Vou em direção à porta, ignorando o olhar de Filipe sobre mim.
"Isso quer dizer em uma hora?" Vidia pergunta, já desesperada com o calendário.
"Quer dizer que não vou me atrasar para a aula." Respondo sem me virar, apenas respondendo para que Vidia não continue chamando como uma louca.
Saio de casa e começo a correr. Corro só um pouco e paro sem fôlego. Meus pulmões não funcionam muito bem com corrida, então apenas caminho rápido como de costume. O lugar era lindo, realmente calmo.
Entrei em uma trilha cercada por belas árvores e plantas. A luz entrava suavemente pelas folhas das árvores, embelezando ainda mais o ambiente. Eu estava sentindo uma paz imensa, até ouvir um grito. O grito era alto, indicando que era um homem.
Encolhi meu corpo, automaticamente me protegendo. Comecei a olhar ao redor, mas não havia sinal de ninguém por perto. Foi então que ouvi o grito novamente, desta vez mais alto, e pude perceber de que direção vinha.
Peguei meu celular para ligar para Vidia pedindo ajuda, mas não havia sinal. Tive que tomar uma decisão, me afastar e ignorar o pedido de ajuda ou arriscar me ferrar com esse homem. E é bem óbvio qual eu escolheria.