


O grande segredo dos Savaios
Então eu comecei a rir, como se tivesse acabado de ouvir a melhor piada do mundo. Eu estava no meio de uma crise de risos e, toda vez que tentava parar, começava a rir ainda mais.
Vídia estava me olhando como se tivesse medo de que eu tivesse enlouquecido, mas os dois homens naquela sala continuavam sérios. Em nenhum momento negaram o que Vídia havia dito. Então parei de rir e comecei a encará-los completamente confusa.
"Isso é algum tipo de pegadinha?" pergunto a eles, desejando do fundo da minha alma que tudo isso fosse apenas uma piada de mau gosto.
Há uma batida na porta e um funcionário entra com uma bandeja. Havia água e uma caixa de remédios. Vídia aponta para mim e o funcionário caminha em minha direção. Eu pego aquele remédio como se acreditasse que minha vida dependesse disso.
Tirei um e coloquei na boca, tirei o segundo e o terceiro. Quando ia tirar o quarto do pacote, Vídia pega o remédio de mim. Eu tomo aqueles comprimidos, desejando que apagassem esses momentos da minha vida.
"Você não pode contar isso a ninguém!" Fernando fala, quebrando o silêncio e recebendo um olhar repreensivo de Vídia.
"Lia, você está sentindo alguma coisa?" Vídia pergunta com uma voz doce.
"Não". Respondo.
"De verdade?" Vídia pergunta novamente, se aproximando.
"Sim, nenhuma perna, nenhuma mão, nada." Respondo, deixando mais claro e deixando Vídia ainda mais aflita.
"Respire fundo. Você acha que precisa ver um médico?" Vídia pergunta, Fernando estava mais perto agora, me observando.
"Acho que sim, no caminho você aproveita e me deixa no aeroporto". Digo começando a ficar tonta.
"Ela vai desmaiar." Reconheço a voz de Fernando, pois já não consigo ver claramente.
"Claro que não vai." Vídia fala.
"Ela está fazendo a mesma cara que você fez." Fernando rebate.
A última coisa que ouço é a voz de Vídia gritando comigo em desespero.
[***]
Acordo com um salto, ofegante. Olho ao redor e estou no meu quarto. Para o alívio do meu coração, tudo parece normal e só depois de notar isso consigo respirar. Passo as mãos pelo cabelo e massageio a cabeça.
Eu estava me sentindo tonta e foi quando me lembrei de tudo. Filipe novo padrinho, saindo para uma caminhada, seguindo os gritos, vi um homem sendo torturado e depois Vídia me dizendo que o namorado dela era um mafioso. Mas o pior de tudo, o homem que eu havia beijado na noite anterior também era um mafioso.
Respirei fundo, tentando ter certeza de que isso não era apenas um pesadelo. Um pesadelo muito ruim e que eu esqueceria com prazer. Ouço uma batida na porta e me assusto. Autorizo a entrada e vejo uma das funcionárias entrar no meu quarto.
"A aula de dança começa em 30 minutos." Ela informa e sai.
Fico ali, paralisada. Levanto-me lentamente e vou para o banheiro. Olho no espelho e estou extremamente pálida, como se tivesse visto um fantasma. Mas na verdade era muito pior do que isso. Me arrumei, passei um pouco de maquiagem, blush e saí do quarto.
Desci as escadas me sentindo menos sufocada, o que não durou muito. Entrei em uma das salas que haviam sido improvisadas para servir como salão de dança. Lá estavam todos os suspeitos dessa história.
Filipe estava em um canto falando ao celular, Fernando e Vídia já estavam dançando. A atenção de Vídia se voltou para mim assim que entrei. Fui para o mesmo lugar que as outras madrinhas e vi Vídia correndo em minha direção.
"Como você está se sentindo?" Vídia pergunta preocupada.
"Eu que deveria te perguntar isso, afinal, você é quem está se casando com um bandido". Falo sussurrando, fazendo com que ela me puxasse para um canto.
"Vou te explicar tudo, detalhe por detalhe. Mas, por favor, mantenha isso em segredo."
O olhar de Vídia era de desespero e o que eu poderia fazer? Minha única opção era esperar que ela me desse uma boa razão para estar se casando com um mafioso.
"Todos venham para o centro do salão, por favor." Uma senhora vestida com roupas típicas de bailarina nos chama.
Caminhamos em direção a ela, depois que Vídia me faz prometer não dizer nada. A sala é enorme e tem espaço suficiente para todos ensaiarem. Éramos 8 madrinhas e 9 padrinhos. Graças à nova adição, estávamos em um número ímpar, ou seja, alguém ficaria sem par para treinar.
"Cada homem pegue sua parceira e prepare-se para aprender a valsa." A professora de dança fala animadamente.
Alguns homens disputam algumas madrinhas, como se fossem fazer mais do que dançar.
"O número está ímpar". Uma das madrinhas que não tem par fala.
"Sem problema, o homem que sobrar pode ficar comigo". A professora fala sem perder o ânimo.
Caminho em direção à professora, garantindo que a pessoa mais interessante para dançar hoje seja ela. Mas antes que eu possa alcançá-la, uma mão me puxa para trás, impedindo-me de continuar. Olho para trás e vejo Filipe, segurando minha mão e me puxando para ele. Nem preciso dizer que todos estavam nos olhando.
"Acredito que somos um par, já que somos os padrinhos principais." Filipe diz mostrando aquele sorriso convencido mais uma vez.
Puxo minha mão da dele e fico ao lado da professora, sem desafiá-lo.
"Agora, posicionem-se." A professora diz.
Viro-me para Filipe para ficarmos de frente um para o outro, me aproximo devagar querendo ter controle sobre a distância que deveríamos manter. Mas Filipe, sem qualquer aviso, me puxa pela cintura.
Nossos corpos quase se juntam desnecessariamente, o que é mais do que suficiente para o cheiro dele inundar minhas narinas.
Filipe era o próprio pecado e não tinha vergonha de confirmar isso com suas expressões e ações. Permaneço séria, o que faz Filipe me dar um grande sorriso. Filipe me encara com um sorriso e eu reviro os olhos.
Coloco uma das minhas mãos no ombro dele e juntamos nossas mãos. A música preenche a sala e nós dois começamos a dançar. Fico surpresa ao ver que Filipe dança muito bem e me guia elegantemente pelo salão.