Capítulo 10 Você não tem vergonha?

POV de Emma

Ouvi sussurros enquanto me aproximava do grupo de funcionários do lado de fora do prédio. Quatro mulheres da contabilidade estavam reunidas, suas vozes diminuíram ao me perceberem.

"Você viu a reação do Sr. Reynolds?" uma delas sussurrou. "Aquele bebê tem que ser dele."

"Clássico movimento de cara rico," outra respondeu.

Elas congelaram quando cheguei perto, seus rostos ficaram mortificados. Encarei-as com um olhar frio.

"Se vocês têm tanto tempo livre, talvez os relatórios trimestrais precisem de atenção," disse calmamente.

Elas se dispersaram. Quem não fala pelas costas dos outros, e quem não é falado?

Avisei Tom, o estagiário que estava dirigindo o SUV. Ele parecia pálido, seu crachá pendurado torto.

"Sra. Garcia," ele gaguejou. "Eu juro que não quis—"

"O que aconteceu?" Mantive a voz calma. "Conte-me tudo."

"Ela simplesmente correu na frente do carro... Eu só tirei minha carteira no mês passado... Não consegui parar a tempo..."

"Não se preocupe," eu o tranquilizei. "Há câmeras de segurança. Se ela correu para fora, as imagens vão mostrar isso."

Seu alívio foi evidente. "Obrigado, Sra. Garcia!"

"Vá para casa, Tom. Lidaremos com isso amanhã. Tente descansar."

Quando ele saiu, liguei para Rachel. "Sophia foi atropelada por um carro. Gavin a levou para o hospital. Provavelmente vão acabar no seu departamento."

"Por que você se importa?" Rachel perguntou.

"O motorista era um estagiário da empresa. Não quero que ele se meta em problemas desnecessariamente."

Enquanto eu dirigia, observei a Torre Reynolds diminuir no meu retrovisor, minha mandíbula firme com determinação.

Na tarde seguinte, entrei na Boston Home Collection, planejando comprar itens essenciais para me mudar de volta para o apartamento dos meus pais. Eu precisava de um novo começo.

"Bem-vinda, Sra. Garcia!" A assistente me cumprimentou. "Você veio ver amostras para o projeto do resort?"

"Não, apenas compras pessoais hoje."

Ao contornar uma exposição, ouvi uma voz familiar e parei.

"Essa tonalidade é muito vibrante," Sophia estava dizendo. "Preciso de algo mais suave. Profundo como o oceano."

"É a preferência do seu marido?" o designer respondeu.

Sophia acariciou a roupa de cama. "Não, é para... um amigo especial."

Ela se virou e me viu, sua expressão congelando.

"Emma! Que coincidência..."

"Sra. Reynolds," eu disse calmamente. "Vejo que a colisão de ontem não deixou efeitos duradouros?"

O rosto de Sophia suavizou para uma fragilidade. "O médico disse que eu tive sorte... o bebê está bem, mas preciso descansar mais."

Olhei para a roupa de cama cara. "Sua ideia de 'descanso' parece elaborada."

"O médico sugeriu criar um ambiente confortável para reduzir o estresse."

"Claro," sorri finamente. "Esse azul profundo é lindo. Tem uma sensação tão... familiar."

Seus olhos se estreitaram. "O que você quer dizer?"

"Nada. Só que Gavin particularmente gosta dessa tonalidade. Que coincidência, não é?"

Sophia prendeu uma mecha de cabelo atrás da orelha. "Não sei o que você está insinuando, Emma."

"Estou curiosa," disse, olhando para ela. "Ontem você precisou que Gavin te levasse para cuidados médicos, mas hoje está comprando roupa de cama de luxo?"

"Você está me espionando?" ela retrucou.

Eu ri suavemente. "Não há necessidade de vigilância, Sophia. Sua atuação tem sido bastante evidente."

"Não sei do que você está falando," ela disse, com a voz tensa.

"Acho que sabe. O 'acidente' de ontem, as compras 'coincidentes' de hoje—cuidadosamente orquestrados, não é?"

A expressão dela endureceu. "Você sempre imagina que as pessoas têm planos para seu noivo."

"Ex-noivo," corrigi. "Gavin e eu terminamos."

Uma surpresa passou pelo rosto dela. "O que você disse?"

Acabamos juntos no caixa, um silêncio constrangedor entre nós.

"Sra. Reynolds, por favor, passe seu cartão ou forneça um número de conta," o caixa pediu.

Sophia puxou um cartão de crédito preto que eu reconheci como sendo de Gavin.

"Obrigado," disse o caixa. "A conta do Sr. Reynolds foi cobrada."

Eu ri suavemente. "Então esse é seu 'amigo especial'? Você está usando o cartão do seu cunhado diretamente?"

Sophia guardou o cartão. "Isso não é da sua conta, Emma."

"Claro que não," respondi. "Só estou surpresa com o quanto você depende do irmão do seu falecido marido."

"Pelo menos eu sei como fazer um homem prover para mim voluntariamente," ela disparou.

"Você não conseguiu mantê-lo por cinco anos," ela sorriu. "O que isso diz sobre você?"

Embora suas palavras me machucassem, mantive a compostura. "O fim de um relacionamento não significa que alguém não era bom o suficiente."

"Gavin precisa de uma mulher de verdade, não de uma máquina de trabalho," ela provocou.

"Você parece conhecer bem as necessidades dele. Há quanto tempo vocês são tão próximos? Antes ou depois de Lucas morrer?"

Ela sorriu com arrogância. "O tempo não importa, a profundidade sim."

"De quem é a criança, Sophia? De Lucas ou de Gavin?" perguntei incisivamente.

O rosto dela empalideceu. "Como você ousa!" Ela pegou suas sacolas e saiu furiosa.

Naquela noite, liguei para Rick Wilson, o melhor amigo de Gavin. "Rick, você está no clube? Preciso conversar."

"Emma?" Ele parecia surpreso. "O que aconteceu?"

"Preciso entender a relação entre Gavin, Lucas e Sophia."

"Por que está perguntando sobre isso agora?"

"Porque não acredito que isso seja simplesmente uma situação de 'viúva do irmão'."

"Não pelo telefone. Venha para o clube."

No Beacon Hill Tennis Club, Rick estava terminando uma partida quando cheguei.

Enquanto jogávamos, perguntei, "Gavin e Sophia eram próximos antes de ela se casar com Lucas?"

A raquete de Rick falhou. "Absolutamente não. Sophia só tinha olhos para Lucas. Gavin sempre achou que ela era muito calculista."

"Então por que ele é tão especial para ela agora? Ele até deixa ela usar seu cartão."

Rick parou, sério. "Gavin estava lá quando Lucas morreu. Desde então, ele se sente responsável."

Fiquei atônita. "O que isso tem a ver com Sophia?"

"Não sei, mas se Gavin está dando tratamento especial a Sophia, ele deve ter motivos."

"Amanhã seria o dia do nosso registro de casamento," disse em voz baixa.

Rick parecia surpreso. "Vocês ainda vão se casar?"

"Nós terminamos. Eu terminei," disse.

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