Capítulo 6 Datas e interrupções

POV da Emma

Gavin estacionou em frente ao meu prédio, as luzes da cidade projetando sombras em seu rosto. Olhei pela janela, o vidro refletindo minha expressão cansada e as lágrimas que lutei para segurar a noite toda.

"Emma, sobre o que aconteceu no hospital..." A voz de Gavin estava incomumente suave.

"Está tudo bem. Já estou acostumada." As palavras saíram mais amargas do que eu pretendia.

Ele estendeu a mão pelo console, segurando a minha. "Olha, eu quero compensar você. Amanhã é sábado. Vou passar o dia inteiro com você."

Virei-me para ele, procurando sinceridade em sua expressão. "Sério? Nada de trabalho? Nada de ligações da Sophia?"

"Só nós dois," ele prometeu, apertando minha mão. "Fiz reservas no L'Espalier—aquele restaurante francês que você sempre quis conhecer."

Depois de tudo o que aconteceu, eu deveria ter dito não. Mas uma parte teimosa de mim ainda queria acreditar em nós—no relacionamento que construímos ao longo de dez anos.

"Está bem," eu finalmente disse. "Espero que não haja 'emergências' desta vez."

Ele se inclinou e beijou minha testa. "Eu prometo. Vou te buscar ao meio-dia amanhã."

No dia seguinte, parada diante do meu armário, tirei um vestido azul-escuro que delineava minhas curvas sem ser provocante. Profissional, mas feminino.

Meu telefone vibrou. Gavin estava lá embaixo. Respirei fundo, peguei minha bolsa e fui para o elevador.

Gavin estava ao lado de seu Bentley, parecendo incrivelmente elegante em um terno sob medida. Ele segurava um buquê de rosas brancas.

"Você está linda," ele disse, seus olhos brilhando enquanto eu me aproximava.

"Obrigada. São lindas," respondi, aceitando as flores, cujo perfume doce preenchia o ar entre nós.

Ele abriu a porta do passageiro com um gesto exagerado, e notei o quanto ele estava sendo atencioso—algo que não experimentava há meses. Enquanto me acomodava no assento de couro macio, decidi dar uma chance justa ao dia.

Quando fui pegar o cinto de segurança, Gavin se inclinou sobre mim. Seu perfume me envolveu, fazendo meu coração acelerar. Ele notou minha reação e sorriu, demorando-se enquanto prendia o cinto.

"Você ainda fica nervosa perto de mim," ele murmurou, dando um beijo leve na minha bochecha. "Isso me lembra de quando nos conhecemos."

Esse beijo, quase imperceptível, de alguma forma me fez sentir melhor do que antes, pensei. Que patético é o fato de que a menor gentileza dele faz meu coração disparar.

Enquanto dirigíamos em direção ao centro de Boston, o silêncio se instalou entre nós. Finalmente, eu o quebrei.

"Como está a Sophia? Ela já teve alta?"

A expressão de Gavin mudou sutilmente. "...Ela está bem. Já saiu do hospital."

Não insisti mais, e caímos em outro silêncio desconfortável.

"Por que tão quieta?" ele perguntou depois de alguns minutos.

"Não sei o que dizer," admiti.

Ele me olhou, sua expressão suavizando. "Tenho uma surpresa para você mais tarde. Espero que você goste."

Quando nos sentamos, Gavin fez o pedido sem abrir o menu. "O foie gras selado com compota de figo, bochechas de boi cozidas em Borgonha, e crème brûlée de sobremesa?"

Olhei surpresa. "Você lembrou de tudo isso?"

Seu sorriso era caloroso. "Eu lembro de tudo sobre você, Emma."

A refeição começou perfeitamente. O foie gras derretia na minha língua, e Gavin estava mais atencioso do que havia sido em meses. Tirei uma foto da nossa mesa—comida requintada, flores frescas, e a mão de Gavin visível na borda—e postei no Instagram: Sábado inesperadamente perfeito #AlmoçoEmBoston.

Jessica comentou imediatamente: O chefe está favorecendo, não convidando a equipe!

Rachel mandou uma mensagem privada: Parece que ele está realmente arrependido. Isso é um esforço sério de desculpas.

Eu estava guardando meu telefone quando Gavin me repreendeu gentilmente, "Concentre-se na refeição. O foie gras é melhor apreciado na temperatura certa."

Ele ajustou meu prato ligeiramente, e eu me senti amolecendo em relação a ele.

Eu estava prestes a provar o foie gras perfeitamente selado quando notei uma figura familiar na entrada.

Sophia deslizou em nossa direção, vestindo um vestido preto que de alguma forma acentuava tanto sua gravidez quanto sua beleza frágil. Sua maquiagem estava impecável, apesar do cansaço evidente em seus olhos.

"Senhora Garcia," ela me cumprimentou com um aceno antes de se virar para Gavin com um sorriso caloroso. "Gavin, que coincidência."

"Você está sozinha?" Gavin perguntou educadamente.

"Sim. É tão solitário comer culinária francesa sozinha," Sophia respondeu, seus olhos brilhando com lágrimas não derramadas.

Antes que qualquer um de nós pudesse responder, ela colocou sua bolsa na cadeira ao lado de Gavin. "Posso me juntar a vocês?"

Gavin me olhou brevemente antes de acenar com a cabeça. "Junte-se a nós."

Notei que ele não se preocupou em pedir minha opinião, e senti uma familiar sensação de desprezo.

Sophia fez seu pedido com a confiança de uma cliente regular—foie gras selado, mousse de cranberry e suco orgânico de cranberry "para grávidas". Então ela se virou para mim com um sorriso açucarado.

"Emma, o suco de cranberry aqui é excepcionalmente fresco. Gostaria de experimentar?"

"Não, obrigada. Vou ficar com o vinho," respondi friamente.

"Gavin, você adicionou compota de figo ao foie gras que trouxe para mim da última vez? O sabor é muito parecido," Sophia perguntou inocentemente.

"Sim," Gavin confirmou, parecendo visivelmente desconfortável.

Meu estômago se revirou ao perceber que Gavin havia trazido comida daqui para Sophia várias vezes. O foie gras na minha boca de repente perdeu todo o sabor.

"Não é à toa que o aroma parecia familiar quando passei por aqui," Sophia continuou. "A culinária francesa aqui é realmente única."

Ela se virou para mim. "Emma, Gavin deve te trazer aqui frequentemente. Ele conhece o menu tão bem."

Encarei seu olhar diretamente. "Na verdade, esta é minha primeira vez. Aparentemente, você tem sido mais afortunada."

A expressão de Sophia mudou para uma de tristeza ensaiada. "Afortunada não é exatamente a palavra que eu usaria desde a morte de Lucas..."

De repente, Sophia engasgou com um soluço. "Desculpe—os hormônios da gravidez deixam minhas emoções tão instáveis."

Gavin imediatamente lhe entregou um guardanapo. "Não fique chateada. Não é bom para o bebê."

A ternura em seu gesto me cortou como uma faca.

"Eu não deveria atrapalhar o encontro de vocês," Sophia disse, fazendo um gesto de preparar-se para ir embora. "Vou embora."

"Não, fique," Gavin estendeu a mão para impedi-la. "Já que você está aqui, junte-se a nós."

Ele pegou seu garfo, aparentemente prestes a cortar um pedaço de foie gras para ela. Intervi antes que pudesse me conter.

"Gavin, isso é seu talher. Você deveria pedir ao garçom para ajudar," eu disse, minha voz calma mas firme.

Um silêncio constrangedor caiu. A mão de Gavin congelou no ar.

"Está tudo bem. Eu consigo," Sophia disse suavemente.

Quando Gavin me serviu água, seus movimentos eram praticados e atenciosos.

"Emma, Gavin é tão bom para você," Sophia observou.

"Por que não seria? Eu sou sua noiva," retruquei. "Seria estranho se ele fosse tão atencioso com qualquer outra pessoa, não seria, Sophia?"

Decidi pressionar mais. "Você já pensou em que nome dará ao seu bebê?"

Gavin imediatamente interrompeu: "Emma, seu foie gras está esfriando."

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