Parte 3

Os olhos de Nate se moviam sob suas pálpebras fechadas. Ele lambeu os lábios secos e exalou um sopro de ar azedo. De repente, um bafo voltou para ele, enrugando suas narinas. O cão infernal virou o rosto e inalou algo que cheirava fresco e alcoólico contra seu nariz. Um corpo quente estava aninhado em seus braços, se mexendo com um ruído abafado, pequenos pés se enfiando entre seus tornozelos.

Nate apertou o braço esquerdo ao redor da pessoa, que murmurou suavemente e encostou a cabeça para trás. A pessoa ficou imóvel e silenciosa por um longo momento. Suas respirações se sincronizaram, seus peitos e costas se expandindo e tocando a cada inalação ou exalação. A república estava quieta, ninguém andando pelos corredores com equipamento de futebol ou fazendo shakes de proteína na cozinha—ninguém transando na mesa de sinuca, para variar.

A curiosidade finalmente superou o sono. Ele abriu os olhos verdes e levantou a cabeça do travesseiro apenas para apertar os olhos contra a luz brilhante. Por que ele sempre esquece de fechar as persianas? O Alfa resmungou sobre isso e piscou algumas vezes enquanto arrastava o olhar para cima e para baixo.

Foi então que ele avistou uma beta desconhecida em sua cama. O cabelo dela, longo e loiro platinado, espalhado sobre o lençol de alta contagem de fios.

O Alfa puxou o edredom para longe do peito da estranha, se perguntando sobre ela. 'Huh,' ele pensou com as sobrancelhas franzidas. Não era a primeira vez que ele levava uma garota de rosto bonito para a cama, e provavelmente não seria a última. Contanto que nenhuma dessas garotas se apegasse demais ou fizesse um espetáculo público, a vida continuaria como de costume. Era um dos muitos benefícios de ser um cão infernal rico, um atleta estrela na era moderna.

O Alfa fechou os olhos e bocejou.

A beta ao lado dele se mexeu, abrindo os olhos para olhar para ele. Ela se sentou e sorriu como se ambos soubessem um segredo. Francamente, ele nem se lembrava do nome dela. Sua cabeça latejava levemente, a queimação na garganta intensificando a cada segundo que passava.

"Tudo bem?" A beta murmurou, deixando o edredom cair de propósito de seu corpo nu.

Ele demorou um momento. Claro, ele estava bem ciente do truque que elas usavam para atraí-lo. Ele já tinha passado por isso muitas vezes. Não que isso o afetasse. Encostando-se na cabeceira, ele piscou para ela.

"Qual é o seu nome mesmo?" Ele perguntou.

Ela fez um som ofendido, cruzando os braços. "Você não se lembra?!"

Nate revirou os olhos. "Eu estava bêbado."

"Jade."

"Jade. Certo," ele disse, prolongando a palavra, seu barítono meloso ecoando no quarto. O Alfa bocejou novamente. "Legal. Você sabe o caminho para sair, eu presumo."

"Você está me expulsando?!"

"Sim," ele disse e saiu da cama, puxando sua cueca boxer preta no caminho. Nate podia ouvir ela murmurar algo sob a respiração, mas ele estava com muita fome para discutir sobre isso.


Quando ele entrou na área comum, avistou seu melhor amigo Chris sentado com o resto do time. Eles nem piscaram ao ver sua forma meio nua, provavelmente já acostumados com isso. Afinal, ele estava quase sempre correndo por aí de calça de moletom. O Alfa soltou um grande bocejo; seus braços se esticaram o máximo que ele conseguiu. Ele relaxou o alongamento.

"Alguém já fez café da manhã? Eu mataria por um MCD agora!" Nate murmurou, caminhando em direção à mesa e se jogando em seu assento. Pelo canto do olho, ele notou a mesma beta loira platinada saindo. Ela bateu a porta com força extra.

"O que foi?" Ele se virou para Chris. "Por que todo mundo está me olhando?"

"Essa é a quarta essa semana," seu melhor amigo suspirou.

"E você tem algum problema com isso?"

Chris levantou as mãos no ar. "Não olhe para mim. Só estou lembrando que você precisa ter cuidado."

Nate bufou antes de tomar um grande gole do líquido laranja. Chris estava cuidando dele como um bom amigo, mas o Alfa não queria pensar em mais ninguém no momento. Ele já tinha muita coisa acontecendo.


Assim que os olhos de Nate caíram sobre ela, seu primeiro pensamento foi, Uau.

Na verdade, não. Isso é mentira. Na maioria das vezes, ele fazia uma cara de paisagem para a pessoa sentada à sua frente. Ele ficou paralisado ao se deparar com a garota mais bonita que já tinha visto. Ela tinha longos cabelos castanhos e pernas intermináveis, lindamente ajustadas em leggings pretas. A camisa larga e folgada escorregava um pouco do ombro, expondo sua pele morena.

Seus lábios rosados e arredondados o distraíram por um tempo, o suficiente para ele imaginar beijá-la. Colocar sua boca por toda a pele dela, marcando-a com seus sinais. Só o pensamento disso fazia seu cão infernal interior arranhar por dentro.

"Você está encarando, cara," Chris murmurou, plantando um cotovelo afiado em seu lado. Ai, isso doeu. O Alfa saiu de seu estado congelado, e a garota, Alina, ainda não estava prestando atenção nele. Ela ainda não o tinha notado. Ele estava se inclinando um pouco, tentando ser notado por ela.

"Não estou," ele sibilou, dando uma cotovelada de volta no amigo.

Ela escolheu o momento exato para levantar a cabeça. E congelou. O reconhecimento surgiu em seu rosto. Ele tinha certeza disso e viu no modo como seus olhos se arregalaram brevemente antes de se estreitarem, combinados com uma súbita carranca que era óbvia mesmo na luz avermelhada que se derramava de trás do balcão.

"Ah, eu te conheço." O Alfa endireitou os ombros e encontrou o olhar dela por um longo e inquietante momento.

Ele foi puxado de lado por Ashton para ser avisado. Como se isso o impedisse de persegui-la. Há algo nela. Os cães infernais são conhecidos por ter o melhor olfato, mas, por mais que tentasse, ele não conseguia captar o cheiro dela. Isso é suspeito.

"No vestiário?!" Rachel exclamou, quebrando o silêncio repentino que caiu sobre eles.

Allie fez uma careta. "É uma longa história."

Nate sorriu com isso. A atenção dela voltou para ele. A coluna da corredora era uma linha tensa, e seu sorriso era forçado, vazio. Ela estava lhe dando um olhar suplicante, e ele entendeu. Não que ele fosse discutir o primeiro encontro deles na frente de todos.

O Alfa estava realmente envergonhado pela maneira como a tratou no vestiário. Ele ainda não estava totalmente convencido de que ela não era uma ômega.

"Sim, é uma longa história. Não vale a pena entediar vocês." Nate deu de ombros, puxando uma cadeira na frente dela.

A corredora soltou um suspiro de alívio. Eles fizeram seus pedidos, mais como chamaram alguém para pegar um pedido para Chris e ele. Nate conseguiu mais um gole gelado antes de empurrar seu copo para longe. Sua garganta se moveu, sua carranca se aprofundando. Ele passou a mão sobre a boca.

"Isso é nojento. Como alguém bebe isso regularmente? Tão caro, e eu digo isso como uma pessoa realmente rica." Nate franziu o nariz.

"Eu acho que é meio bom." Allie retrucou, suas bochechas se afundando ao redor do canudo, um toque de chantilly no lábio superior. Ele olhou para isso por alguns segundos antes de desviar os olhos.

O Alfa empurrou seu Frappuccino venti pela mesa. "Se você gostou tanto, pode ficar com o meu."

Allie revirou os olhos. "Não, obrigada! Eu não aceito nada de estranhos."

"Foi isso que sua mãe te disse?" Ele provocou.

O rosto dela se transformou em uma carranca, e ela se levantou abruptamente. Rachel também se levantou, e ambas saíram sem dizer mais nada. Foi algo que ele disse?

Ashton o olhou com um olhar fulminante. "Você precisa calar a boca às vezes."

Com isso, ele saiu.

Nate se recostou na cadeira, com os pés no assento e os joelhos pressionados na borda da mesa. "Ele é um verdadeiro chato, não é?"

"Ashton?"

"Ah, sim," Nate zombou.

"Talvez porque você tenha chateado a amiga dele."

O Alfa levantou as mãos no ar. "Eu não fiz nada para ela!"

"Talvez ela simplesmente não esteja interessada."

"Todo mundo está interessado em mim. Olá, você já me conheceu?!"

Chris explodiu em risadas, limpando a boca com a outra mão. "Talvez essa atitude seja o motivo pelo qual ela não está tão interessada em você."

"Mas por quê? Eu não entendo," Nate disse, com o rosto franzido. Ele piscou confuso para seu amigo beta. "Eu sou legal, não sou?"

Seu amigo gargalhou de sua posição esparramada na cadeira, um canudo de biscoito meio comido pendurado na boca como um charuto. O beta levantou o corpo sobre a borda da cadeira para sorrir para ele. Ele tirou o canudo da boca e apontou para Nate. "Eu acho que você não quer que eu responda isso, irmão."

Ele precisava de um novo melhor amigo.


Capítulo Anterior
Próximo Capítulo