Parte 5
"Como ela vai aprender se eu não ensinar nada a ela?" O pai rosnou para a mãe, que estava preocupada na frente deles. Ela franziu os lábios em irritação, braços cruzados defensivamente contra o peito.
Allie piscou para os pais. E antes que percebesse, seu pai estava puxando seu braço machucado com força, forçando-a a ficar de pé. Os olhos da ômega estavam vermelhos com marcas de lágrimas manchando um caminho pelas bochechas, a dor começando a se tornar mental e fisicamente exaustiva. Um fio de sangue escorria pela testa e passava pelas têmporas, criando um caminho vermelho pelo lado do rosto.
A ômega precisava descansar, seu corpo estava gritando por isso enquanto sua boca permanecia aberta e a respiração era rápida demais para contar. Ela também estava com sede, a garganta seca de ficar no sol por muito tempo. Na verdade, a ômega estava treinando desde que o sol começou a nascer e já era quase tarde.
"Adam, eu entendo—" A mãe foi interrompida pelo pai novamente.
"Não, você não entende! O que vai acontecer com ela quando não estivermos mais aqui? Você quer que sua filha e Asher fiquem sozinhos em um mundo onde não sabem se defender? Devemos deixá-los despreparados para um mundo que vai matá-los?"
A mãe franziu o cenho com isso. "Não acredito que você está falando assim na frente dela. Ela não precisa saber de tudo isso, Adam."
"Ela tem dez anos. Não é mais uma criança."
Allie estava desenvolvendo uma dor de cabeça com as vozes altas, sua ômega se encolhendo, fechando os ouvidos. Ela queria fugir e se esconder, escapar dos tons ásperos por um tempo. Isso não estava acontecendo.
"Adam, ela ainda é uma criança, acredite ou não. Eu sei o que você está fazendo, e eu aprecio, mas ela é muito jovem para ouvir essas coisas. Você está treinando ela como um soldado do bando."
Allie sentiu uma mão em seu cabelo, esfregando suavemente seu couro cabeludo e acariciando. Ela quase soltou um gemido ao toque familiar e se inclinou para ele.
"Ah, qual é! Não é isso que estou fazendo. Além disso, ela está bem do jeito que está. Certo, Allie?"
A ômega olhou para os olhos azuis brilhantes do pai, um brilho de esperança para que ela concordasse com ele. Apenas para provar à mãe que ela estava errada. Ele tinha uma intenção nobre por trás de tudo, e isso era proteger seus filhos. Allie entendeu isso. Ser uma Pura Ômega era difícil, e seu pai estava apenas tornando-a mais forte.
Allie assentiu com a cabeça antes de olhar entre os dois, seus braços abraçando a coxa do pai. Ela ouviu a mãe suspirar em derrota, seus braços levantados em irritação antes de deixá-los cair ao lado do corpo.
"Adam, como ela é diferente desses cães? Você está ensinando ela a ser uma assassina," a mãe sussurrou.
"Não, estou ensinando nossa filha a se defender de um assassino." O pai suspirou. "E a diferença é que ela não vai matar a menos que precise."
A próxima coisa que Allie sabia era que ela foi forçada a se afastar do pai com um empurrão, apenas para tropeçar no cascalho. Quando finalmente estava estável o suficiente para ficar de pé, seu pai correu em sua direção, um rosnado saindo de sua garganta.
A ômega acordou rapidamente de seu sono, respirando em curtos intervalos e ofegando por ar. O cobertor que ela tinha agora estava acumulado na cintura, fazendo-a hiperconsciente da camiseta molhada grudada em seu torso. Ela colocou a palma sobre o coração acelerado, tentando respirar fundo. Suor encharcava todo o seu corpo, e seu cabelo estava grudado na testa.
Ela esfregou o sono dos olhos antes de olhar ao redor. Levou apenas alguns segundos para perceber que ainda estava em seu quarto. Por mais que quisesse acordar Rachel, ela não o fez.
Allie tentou descobrir a hora. Estava quieto. Pelo som dos grilos cantando e o farfalhar das folhas do lado de fora de sua casa, ela deduziu que ainda devia ser noite. Quando levantou a cabeça para espiar pela janela, a ômega não viu sinal de sol ou qualquer luz irradiando.
"Você está bem," ela sussurrou para si mesma, tentando fechar os olhos com força.
No fundo, a ômega tinha a sensação de que algo estava por vir. Era forte o suficiente para fazê-la lembrar de memórias do passado que ela não queria lembrar; partes de sua vida que Allie desejava que não a assombrassem. Mas elas a assombravam todas as noites.
Na manhã seguinte, ela pulou sua corrida, muito ocupada com pensamentos. Além disso, a ômega não estava interessada em discutir com Nate sobre algo igualmente tedioso. Isso só a estressava. Por isso, decidiu ir à sua aula de dança semanal, que só aconteceria dali a cinco dias. Era algo que Allie fazia no fim de semana para se ocupar.
A música acelerou, o som dos pés batendo no chão acompanhando o ritmo mais rápido. Havia um som rítmico de palmas mantendo o compasso, e uma voz feminina severa gritando comandos a cada poucos segundos.
As pernas de Allie estavam esticadas para frente e para trás em um espacate; seu corpo arqueado com os braços sobre a cabeça. As meias-calças pretas pareciam pintadas em suas pernas, suor escorrendo pela garganta enquanto ela tentava acompanhar cada passo.
Dançar ajudava a relaxar um pouco, focar nos passos que dava em vez de seus pensamentos.
"Isso, Allie." A mulher na frente do estúdio espelhado bateu palmas uma vez. "Isso é brilhante."
A ômega sorriu com o elogio e pousou no chão, saindo para o lado, seu peito arfando e o suor escorrendo de seu cabelo, que estava preso por uma faixa preta fina. O coração batia forte em seu peito enquanto ela tentava recuperar o fôlego.
Antes que percebesse, sua hora havia acabado. Talvez devesse fazer isso mais vezes, pensou Allie.
"É o Nate ali com o treinador?" Sua amiga perguntou, cutucando seu braço enquanto saíam da aula de dança.
A voz alegre puxou a ômega de seus pensamentos. Ela se virou para olhar na direção que Nina estava apontando. Era, de fato, Nate, dando boas risadas com o treinador. Ela engoliu em seco. Contanto que aquele cão do inferno não mencionasse a garota que ele encontrou nos vestiários que parecia tão "ômega" para ele, ela estaria bem. E por qual motivo Nate traria isso à tona? Não havia nenhum. O que significava que não havia motivo para se preocupar. Ou assim Allie dizia a si mesma.
"Sim, eu o encontrei brevemente nos vestiários," disse ela distraidamente. A ômega tinha dificuldade em desviar os olhos de sua forma esguia e do jeito que ele ria tão perfeitamente. É injusto.
"Oh, você não mencionou isso. Como ele era?" Nina perguntou interessada; seus olhos focados no Alfa também.
Ela deu de ombros. "Agiu como um Alfa irritante de verdade," Allie respondeu sinceramente, antes de morder a língua abruptamente e lançar um olhar nervoso para Nina. Talvez ela não devesse ser tão direta.
Nina caiu na gargalhada. "Por que não estou surpresa?"
Rachel saiu da sala de descanso com as mãos nas costas. Ela amarrou o avental, seus olhos focando em uma cabeça de cachos sentada em uma das poltronas de couro desgastadas perto da janela. Allie seguiu sua linha de visão apenas para resmungar em resposta.
"O que ele está fazendo aqui de novo?"
"Quem?" Sua amiga perguntou.
Allie apontou para o assento. "Ele."
Como se sentisse os olhos dela sobre ele, o Alfa levantou a cabeça. Ele acenou antes de levantar um livro de cabeça para baixo sobre o rosto. Tão ridículo.
"Ele está fingindo estudar, mas só está comendo todos os canudos de biscoito." Rachel riu, limpando as xícaras.
"Eu não gosto dele." Allie bufou. "De jeito nenhum."
"Por quê?"
"Eu simplesmente não gosto."
"Ele parece inofensivo o suficiente." Sua amiga secou as mãos antes de encará-la. "Além disso, ele não sabia sobre sua mãe, Allie. Você deveria deixar isso pra lá."
A ômega escolheu ignorar essa parte. "Tanto faz. Ainda acho que ele não é inofensivo." Allie olhou para Noah e balançou a cabeça. "De jeito nenhum."
"O que te faz dizer isso?"
Allie cruzou os braços sobre o peito. "As pessoas não começam a perseguir estranhos sem motivo. Especialmente jogadores de futebol famosos e babacas como ele. Tem que haver algo mais acontecendo."
"Mhm, por que você diz isso?"
Allie deu de ombros. "Quero dizer, ele tem garotas atraentes caindo sobre ele todos os dias. Por isso é estranho alguém como ele querer falar comigo—"
Rachel apertou seu ombro. "Não, não, não," ela sussurrou, seus olhos calorosos e os lábios puxados em um sorriso suave. "Ouça-me. Ele tem todos os motivos para querer te conhecer. Você é bonita e incrível. Qualquer um teria sorte de ter você na vida."
A ômega corou com isso. Balançando a cabeça, ela piscou para sua amiga. "O que devo fazer?"
"Eu não sei. Talvez falar com ele."
"Falar com ele? Sério? É só isso que você tem?" Allie suspirou.
"Ei! Você perguntou."
"Tá bom."












































