Parte 7

Allie não voltou para o quarto até tarde da manhã. A ômega estava distraída durante a maior parte do dia, então fez uma coisa que a fez se concentrar. Matou um cão infernal. Suas mãos estavam manchadas com o sangue daquela criatura nojenta e os jeans cobertos de lama seca. Ela tentou passar pelas árvores sem ser vista por nenhum dos alunos que estavam fora de manhã. A última coisa que precisava era ser investigada sobre seu paradeiro.

A Pura Ômega não era exatamente a melhor em inventar desculpas, especialmente quando estava desconfortavelmente coberta de sangue e sujeira. Ela tentou não fazer careta de nojo a cada inspiração e expiração enquanto o sol atravessava as árvores acima dela.

No caminho de volta, ela se viu pulando e rolando sobre grandes árvores quebradas e raízes salientes. Pequenos carrapichos espinhosos grudavam em suas calças e sapatos, fazendo-a estremecer a cada passo que dava.

"Por que tem que haver tantos de vocês?" A ômega murmurou enquanto se abaixava, tirando um pequeno carrapicho da perna da calça.

Além disso, ela percebeu que seus jeans fediam a sangue, sangue de Cão Infernal, que era mais forte e fétido. Ela tentou esfregar o sangue nas calças; o nariz se contorcendo em uma expressão de repulsa ao ver suas mãos. Elas cheiravam a um odor metálico, quase como ferrugem, e queimavam seu nariz enquanto ela desviava o olhar. O líquido carmesim agora era um marrom mais escuro, seco entre as dobras de sua palma, fazendo sua mão coçar e rachar sob a substância.

"Ei! Estava te procurando." Ela sentiu uma mão bater em suas costas, fazendo seus olhos se arregalarem. Imediatamente, ela enfiou as mãos nos jeans. A ômega cheirou alto, se acalmando ao inalar aquele cheiro suave e familiar. Rachel. Sua colega de quarto.

Rachel, a beta, estreitou os olhos. A grande janela aberta ao lado de Allie permitia que uma brisa passasse e balançasse seu cabelo. Seu rosto estava quente, e a corrente de ar frio era agradável.

Sua amiga se sentou no sofá próximo enquanto descansava o prato no colo. As vozes das pessoas passando do lado de fora da janela eram a única forma de distração de Allie, e era tão divertido quanto se poderia achar. Elas também permitiam que ela inventasse uma desculpa para responder à pergunta.

"Você me conhece. Correndo." A mentira saiu suavemente de sua língua.

"E de alguma forma isso fez suas roupas ficarem sujas e ensanguentadas?"

Allie riu nervosamente, coçando o pescoço. Ela escondia seu segredo de sua colega de quarto também porque ninguém podia ser confiável. Ninguém na universidade sabia seu segredo, e ela esperava que continuasse assim. "Não. Eu escorreguei e caí."

Rachel fez um som. "Ah, que droga. Vai tomar um banho, temos aula em uma hora."

"Já vou." A ômega respondeu, soltando um suspiro profundo. Allie tinha certeza de que seria pega.


Embora Allie tenha conseguido a admissão através da cota esportiva, ela frequentava todas as aulas. Ela se interessava por psicologia, então não foi difícil para ela escolher isso como sua especialização. Rachel, sua colega de quarto, também se matriculou na mesma aula, felizmente, então elas se davam muito bem.

O lado esquerdo de seus assentos estava sempre vazio porque a maioria dos alunos preferia ficar na cafeteria em vez de assistir às aulas.

Enquanto se acomodavam, uma batida forte soou na porta. Isso é estranho. Allie se inclinou para frente, confusa com a interrupção, apenas para notar o Alfa. Nate. Ele estava do lado de fora da sala, com um sorriso brincando nos lábios.

"Bom dia, Sr. Logos." Ele sorriu encantadoramente, dirigindo-se ao professor sênior.

O professor gaguejou, ajustando os óculos enquanto pedia ao Alfa para entrar. Ele tinha um brilho orgulhoso nos olhos, como se a presença de Nate em sua aula fosse algum tipo de conquista.

O que ele estava fazendo aqui? Allie pensou, seus lábios se torcendo de forma irônica.

"Que surpresa maravilhosa, Sr. Harper!"

"Me chame de Nate."

O professor quase se desmanchou com isso, acenando com a cabeça. "Oh! C-claro, Nate. O que posso fazer por você?"

"Escolhi Psicologia como minha eletiva este ano. Então, estou assistindo à minha aula."

Allie bufou. "Você está na sala errada. Esta aula é para alunos do primeiro ano."

"Eu sei, mas ouvi dizer que o Sr. Logos é um excelente professor e pode ensinar qualquer coisa. Por isso, pedi especificamente para ser transferido para a aula dele."

"Oh, meu Deus!" O professor riu. "É uma honra. Por favor, sinta-se à vontade para se sentar onde quiser, Nate."

Allie tentou não revirar os olhos com aquilo. Era tão óbvio e transparente. Por que ninguém mais estava se opondo a isso? O Alfa fez um sinal de positivo para o professor antes de começar a descer os degraus do auditório. Seu sorriso se alargou ao vê-la com um assento vazio ao lado.

"Por favor, não," Ela se afundou mais na cadeira, escondendo o rosto atrás do laptop. Seu esforço para desaparecer falhou quando Nate entrou alegremente na fileira dela e se sentou bem ao seu lado.

"Oi, estranha."

Allie deveria parar de fuzilar com o olhar. Eles estavam em aula. A ômega deveria estar prestando atenção no professor em vez de desejar que seus olhos desenvolvessem o poder de disparar lasers e matar o Alfa.

"Ok, pessoal," disse o Professor Logos da frente da sala, batendo palmas. "Vamos começar."

De repente, ele diminuiu as luzes e puxou a tela de projeção branca que desceu do teto. Os alunos começaram a murmurar algo antes de caírem em um transe.

Alguns minutos após o início da aula, Nate apoiou as botas na cadeira à sua frente. Allie revirou os olhos.

Nate se inclinou sobre o assento, "Então, sobre o que ele está falando?"

Viu? A ômega sabia que ele estava mentindo o tempo todo. Nate não tinha ideia sobre Thorndike ou seu experimento de aprendizagem. Ele simplesmente queria irritá-la.

"Allie?" Ela respirou fundo suavemente pelos lábios arredondados, seus dedos nunca parando de digitar o texto destacado na tela.

"Ei," Ele sussurrou, cutucando seu ombro com a borracha do lápis. "Allie?"

"O quê?" Ela sibilou para ele, afastando o lápis. Alguns alunos próximos olharam em sua direção, e ela se mexeu no assento. "Qual é o seu problema?"

"Por que todo mundo está tão quieto?"

"Porque estamos em aula," Allie disse em um tom óbvio antes de soltar um suspiro e se concentrar novamente em suas anotações. Isso não foi suficiente. Ele precisava ouvir mais. "Além disso, você nem tem um laptop. Fique quieto. Você está distraindo."

"Onde está a diversão nisso?" Ele bufou.


De alguma forma, ela conseguiu ficar na aula inteira sem matá-lo ou se matar. Assim que o professor terminou, ela correu para fora do auditório e entrou no vestiário. Havia apenas uma pessoa sentada no banco, arrumando suas coisas.

"Oi," Ashton acenou para ela. "Você precisa de ajuda?"

Seu olhar se voltou para seu amigo.

"Estou bem," Ela suspirou. Suas bochechas estavam vermelhas e quentes, o que era irritante porque era uma coisa típica de ômega. Betas raramente ficavam assim, mas em ômegas era uma característica apreciada.

"Tudo bem," Ele bagunçou casualmente seu cabelo loiro escuro, e ela seguiu os movimentos, um pouco hipnotizada. "Eu preciso te perguntar uma coisa."

"O quê?"

"Esta sexta-feira é nossa festa anual de futebol para celebrar o início do semestre," Ele explicou. "Você está convidada! E antes que você diga não, não é ideia do Nate. Eu só estou avisando os novatos para que se acostumem e se conheçam. Além disso, traga a Rachel com você."

Isso não era o que Allie esperava, mas era uma excelente notícia, especialmente se não viesse diretamente de Nate. "Legal! Vou contar para a Rachel hoje à noite," Ela assentiu, com um sorriso largo e brilhante.

"Estou surpreso que você não tenha dito não."

Allie deu de ombros. "Tenho certeza de que a Rachel vai me arrastar de qualquer jeito, então qual é o ponto."

Seu amigo sorriu. "Isso é verdade. A festa começa às nove. Vou te mandar uma mensagem com as direções."

Ele acenou e se afastou, voltando para seu armário. Allie ficou olhando para ele por um segundo, antes de se dar conta e se apressar para sair do vestiário.


Ela acordou na sexta-feira de manhã com o coração acelerado e um suspiro pesado. Ainda piscando os olhos, pensando preguiçosamente sobre o dia à frente e as coisas que tinha que fazer, Allie percebeu que ir a uma festa do time de futebol significava que ela teria que enfrentar Nate. Isso provavelmente deveria ter sido óbvio para ela desde o início, não deveria? Afinal, Nate era o capitão do time. Curiosamente, isso não tinha passado pela sua cabeça antes, mas agora estava batendo nela com tanta força que ela gemeu alto, como se o peso do mundo tivesse acabado de se instalar sobre seus ombros.

A ômega não tinha planejado ver Nate, grata por ter tido um dia de silêncio após o incidente na aula. Mas, honestamente, ela não tinha escolha.

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