Capítulo 5-

Fiquei parada, com a boca aberta e os pés congelados no chão, tentando recuperar minha compostura após aquela "entrevista" humilhante. Beta Lucas já não tinha mais o olhar cuidadoso de antes em seu rosto, mas encarava a parede com a testa franzida e os lábios cerrados de tensão. Quando a porta fechou atrás de mim, puxei o robe mais perto do corpo, ainda tentando compreender o que acabara de acontecer. O guarda responsável por me escoltar de volta ao meu quarto compartilhado se inclinou e falou, sua voz rouca e ávida fazendo meu estômago revirar.

"É uma pena que o Alfa tenha decidido competir. Eu adoraria tê-la para mim. Quem sabe ele escolha outra pessoa e então eu possa ter minha vez com você? Há muitas garotas bonitas aqui para ele escolher. Por que não me dá um gostinho do que tem a oferecer? Gosto do que esconde sob esse vestido, e faz tanto tempo desde que toquei uma mulher bonita."

Levantei as mãos na minha frente tentando bloquear seu avanço, mas ele é muito maior e mais forte do que eu. Suas mãos ásperas e gananciosas agarraram meu seio e começaram a puxar meu vestido para baixo. Sem pensar nas consequências, gritei: "Pare, por favor!" Quando meus apelos não o detiveram e suas mãos continuaram a me apalpar, chutei-o o mais forte que pude na virilha.

Eu sabia que se não me afastasse dele, ele me estupraria. Seus olhos negros rapidamente se tornaram vermelhos e pequenos pelos castanhos começaram a brotar de sua pele. Seu rosto começou a se distorcer, e eu não tinha ideia do que estava acontecendo, mas aquilo me aterrorizava. Antes que eu pudesse dar mais do que um passo para longe, ele me agarrou pelo pescoço, apertando com força e me levantou do chão. Desesperadamente, arranhei seu braço tentando fazê-lo soltar, eu só queria estar de volta à minha cama. Queria minha vida pequena e monótona, fui tão estúpida em desejar a rotina.

Quando achei que poderia desmaiar, sua respiração se acalmou e os pelos começaram a desaparecer de volta para dentro de sua pele. Seu rosto, embora ainda me aterrorizasse, já não parecia deformado. Eu tossi e ofeguei quando ele me jogou no chão. "Gosto de uma mulher que luta, torna o processo de domá-la muito mais divertido." Ele riu e olhou para meu rosto cheio de lágrimas. "Isso vai te lembrar de fazer o que eu digo. Você não tem poder aqui." Quando tentei me levantar do chão, senti minhas costelas se quebrarem sob seu pé enquanto ele pisava em mim.Ele vai me matar, passou pela minha mente nas duas vezes em que senti seu pé pesado e esmagador descer sobre o meu corpo. Antes que ele pudesse desferir outro golpe, ouvi uma voz furiosa ecoar. "O que está acontecendo?!" Olhei para cima e reconheci o homem falando como o Beta Lucas. Num piscar de olhos, o beta pressionou o guarda contra a parede, apertando sua garganta como ele havia acabado de fazer comigo. "Que porcaria está acontecendo com você, Ian?! Como ousa colocar suas mãos em Ember!" O homem que agora sabia chamar-se Ian deu de ombros e respondeu de forma displicente. "Essa mulher estúpida achou que poderia tentar escapar. Eu tive que impedi-la e colocá-la em seu lugar."

Os olhos do Beta foram de um azul hipnotizante para vermelho enquanto olhava para mim no chão e depois para Ian. "Vou reportar você ao Alfa e ao conselho. Você sabe que não é assim que lidamos com punições, não importa qual tenha sido a suposta ofensa. Saia da minha vista, sua desculpa patética de homem." Ian me lançou um sorriso, enquanto massageava o pescoço. "Até logo, Ember." Ian disse suavemente ao passar por mim. Lucas deve ter ouvido mesmo que tenha sido sussurrado, pois o agarrou e o socou com força no rosto, fazendo-o voar para o chão. Quando Ian tentou se levantar, Lucas se curvou sobre ele e continuou seu ataque, minha boca ficou aberta em choque diante da cena diante de mim.

Havia tanto sangue saindo do rosto de Ian, se Lucas não parasse, eu temia que ele pudesse matá-lo. Nunca havia presenciado tanta violência e era aterrorizante. Não queria me meter em encrenca se Lucas machucasse seriamente ou matasse aquele homem horrível, eu só queria desaparecer. Lucas ficou de pé sobre o corpo ensanguentado de Ian e disse com uma voz baixa e sombria: "Se você ousar olhar para Ember de novo, eu te mato. Se pensa que acabou; não acabou. Ainda terá que lidar com o Alfa e, se dependesse de mim, eu te mataria agora. Essas mulheres são um presente, não algo com o qual você pode brincar." Comecei a tentar me levantar novamente enquanto Ian rastejava para longe, mas a dor irradiava por todo o meu corpo.Eu só estou feliz que Beta Lucas tenha chegado antes que ele me matasse ou quem sabe o que mais. Senti mãos grandes me levantarem gentilmente e me embalarem em seu peito forte e quente. Não pude evitar respirar seu cheiro terroso e relaxar no conforto e segurança de seus braços. A confusão substituiu esse conforto quando ele me levou do corredor para uma cabana grande localizada atrás do alojamento. O medo retornou quando ele me levou pela cabana até um quarto grande no andar de cima. Por que ele não estava me levando de volta para o quarto que eu dividia com as outras mulheres? Eu me senti tão segura e protegida em seus braços até agora, por que ele estava me trazendo aqui?

Lucas deve ter ouvido minha respiração rápida e assustada, pois me colocou suavemente na cama. "Eu não vou te machucar, Ember. Eu te trouxe aqui para olhar seus ferimentos e garantir que você esteja bem. Também preciso coletar seu depoimento sobre o que aconteceu antes de relatar ao Alfa. Eu não sou nada como aquele lixo do Ian. Ele será lidado, eu prometo." Eu balancei a cabeça em reconhecimento e fiz uma careta, segurando meu lado ao tentar me sentar.

“Me conte o que realmente aconteceu.” Algumas lágrimas escaparam, rapidamente eu as limpei do rosto, não querendo que ele me visse chorar. Odiava me sentir tão vulnerável, especialmente com alguém que eu não conhecia bem. Eu precisava que ele soubesse que eu não tentei escapar, não queria ser punida. “Ele...ele tentou me agarrar e tocar em mim, e eu o chutei. Foi quando ele ficou bravo e...por favor, tentei dizer a ele para parar. Eu só...queria que ele parasse.” Rapidamente olhei para baixo na cama, a vergonha se espalhando pelo meu corpo. Eu odeio me sentir tão fraca, odeio que homens me tenham aprisionado e me façam sentir tão pequena. Quero ser forte e assumir o controle da minha própria vida.

Os olhos de Lucas observaram as marcas vermelhas em meu pescoço e o rasgo no topo do vestido. “Você não fez nada de errado.” Ele disse, segurando suavemente meu queixo e fazendo-me levantar os olhos para os dele. “Você fez bem se defendendo; você nunca deveria ter precisado. Desculpe por não termos te protegido adequadamente, falhamos com você. Escute, preciso voltar para as entrevistas, mas vou contar ao meu irmão o que aconteceu, e ele garantirá que Ian seja punido severamente. Você está segura aqui, eu prometo que ninguém vai te incomodar neste quarto. Vou mandar comida em breve, até lá descanse.” “Obrigada.” Eu disse a ele baixinho. Seus lindos olhos azuis encontraram os meus e eu lhe dei um pequeno sorriso, era a sensação mais segura que eu havia sentido desde que fui capturada. Sei que parece loucura porque ele fez parte daquela horrível entrevista onde me humilharam, mas realmente me sinto segura com ele. Como se ele queimasse o mundo para me manter a salvo.Pouco depois que Lucas saiu, houve uma batida na porta do quarto e um jovem, provavelmente com apenas doze ou treze anos, trouxe uma bandeja e a colocou na mesa ao lado da cama. "Beta Lucas me pediu para te trazer isso e avisar para tomar a medicação e descansar." Agradeci pela refeição e sorri para ele. Ele é a pessoa mais jovem que vi desde que cheguei aqui. Depois de comer, olhei para os comprimidos deixados na bandeja e me senti insegura. Não queria tomar nenhum medicamento com o qual não estivesse familiarizada. Após muita reflexão interna, decidi tomá-los, sentindo que Lucas não estava tentando me prejudicar. Olhando ao redor do quarto, vi que estava muito bem arrumado e era espaçoso.

Havia um guarda-roupa de madeira escura no canto do quarto e uma escrivaninha de tamanho decente com algumas cadeiras ao lado. Ao lado da cama, havia uma pequena mesa com algumas velas e uma foto dele, do alfa e de uma bela mulher. Os três pareciam tão felizes e confortáveis juntos, fico imaginando quem ela é. É estranho, mas sinto uma pontada de ciúmes ao olhar para seus rostos sorridentes. Balanço a cabeça e tento me livrar desses sentimentos estranhos.

A cama era grande e confortável, coberta de peles. O ataque me deixou cansada, mas me senti um pouco estranha ao adormecer em uma cama que deve pertencer a Lucas. Pensei em Ava e esperava que ela não estivesse muito traumatizada pelo "entrevista". Eu desejava que ela estivesse aqui comigo agora, estar sozinha neste quarto me deixou um pouco nervosa, mas Lucas disse que estaria segura aqui. Só não quero que ela tenha medo ou se sinta sozinha, espero que ela não ache que a abandonei. Há uma porta diretamente do outro lado do quarto e a curiosidade falou mais alto, decidi, apesar da dor ao me mover, dar uma olhada lá dentro. É um banheiro, com uma banheira grande e um chuveiro na extremidade oposta. Já fazia muito tempo desde que tive um banho relaxante, mas não havia como entrar sem saber quando Lucas voltaria. A dor do meu lado me fez voltar para a cama para esperar. Pouco depois de me sentar, o sono me dominou, os eventos do dia tinham sido exaustivos. Algum tempo depois, dei um pulo quando ouvi meu nome sendo chamado. "Beta Lucas?" Chamei com voz sonolenta.