


Capítulo 1 - Prólogo 1
Durante a noite, a parte alta de Athea, a capital do Reino de Nodor, permanecia majoritariamente tranquila, exceto pela Milícia que patrulhava as ruas. No porto, construído entre o Rio Eyor—que dividia a cidade em duas—e o grande Lago Ucias—de onde o rio nascia—, as coisas eram bem diferentes. A maioria dos lampiões de rua estava quebrada, e a Milícia raramente estava presente, tornando-o um local ideal para estabelecimentos de má reputação, como tabernas e bordéis. Foi em frente a uma dessas tabernas que uma carruagem parou. Uma jovem envolta em um manto azul escuro com o capuz cobrindo o rosto desceu.
Depois de pagar o cocheiro, a jovem seguiu pela rua. Marinheiros bêbados e prostitutas tentaram pará-la, mas ela manteve a cabeça baixa, prestando atenção apenas aos seus passos. Poças de lama e outras substâncias de origem duvidosa cobriam as ruas sujas. Minutos depois, ela parou em frente a uma taberna construída no final de uma rua estreita e escura, atrás de alguns armazéns.
Antes de entrar, ela olhou por cima do ombro. Exceto por alguns homens bêbados, a rua atrás dela estava vazia.
Marinheiros e bandidos locais ocupavam a maioria das mesas. O cheiro de tabaco era forte no ar, a jovem cobriu o nariz com parte do capuz enquanto se dirigia para dentro da movimentada taberna.
No fundo havia uma pequena mesa, onde um homem vestindo um manto preto estava bebendo de uma caneca de cerveja. Seu rosto estava nas sombras. A jovem parou ao lado da mesa e, depois de se certificar de que ninguém na taberna estava olhando para ela, sentou-se em uma cadeira ao lado do homem.
O homem se inclinou—como se quisesse ver melhor a mulher. Ele bebeu de sua cerveja enquanto a estudava, seus olhos azuis brilhando com inteligência. Ele parecia ter cerca de dezenove anos. Seu cabelo preto curto estava despenteado, a camisa sob o manto estava parcialmente desabotoada—como se ele tivesse saído de casa com pressa. Com maçãs do rosto altas e um queixo bem definido, ele poderia facilmente ser confundido com um aristocrata, se não fosse pelo piercing na ponte do nariz.
No Reino de Nodor, aqueles nascidos fora do casamento eram considerados ilegítimos. Filhos e filhas de amantes, prostitutas, ou marinheiros e viajantes bêbados—os bastardos—eram odiados em todo o reino, pois eram um ponto sensível, um lembrete de que as mulheres não eram tão puras quanto muitos homens queriam.
A jovem colocou as mãos na mesa, o homem deslizou a palma direita pelo madeirado e roçou os dedos nos dela. Um sorriso surgiu em seus lábios enquanto ele sussurrava o nome dela: “Rosalyn.”
Apesar de não ter sido reconhecido pelo pai ao nascer e não ter um sobrenome, ele finalmente estava em um bom lugar na vida. Não tinha sido fácil, e ele teve que trabalhar duro—especialmente após a morte da mãe, mas ele havia alcançado algo que muitos bastardos apenas sonhavam—tornar-se aprendiz de um dos Mestres mais respeitáveis da cidade.
Rosalyn olhou ao redor da taberna nervosamente. Satisfeita de que ninguém estava prestando atenção neles, ela voltou seu olhar para o homem à sua frente. “O que eu te disse sobre usar meu nome em público?” ela sibilou, raiva brilhando em seus olhos castanhos. “E se alguém tivesse ouvido?”
O homem não olhou para a multidão ocupada comendo, bebendo e conversando. Ele saberia se alguém estivesse espionando. “Ninguém estava nos ouvindo. Além disso, eu amo seu nome. É tão bonito quanto você.”
Ela estreitou os olhos. “Como você sabe que ninguém estava ouvindo? Você sabe o que estou arriscando vindo aqui esta noite?”
Ele sabia dos riscos que ela corria ao encontrá-lo na taberna. Bastardos eram, afinal, os párias da sociedade. Aqueles como ele não tinham esperança de se casar e ter uma família. Aqueles como ele geralmente geravam mais bastardos—crianças sem esperança ou futuro. Não era algo que ele queria para seus filhos. Ele havia prometido a si mesmo há muito tempo que não deixaria sua família—se algum dia tivesse uma—passar por todas as dificuldades que ele sofreu desde o dia em que nasceu.
Ele pegou a mão dela e a levou à boca. “Perdoe meu pequeno erro, minha Lyn. Não vai acontecer de novo,” ele se desculpou antes de beijar o topo da mão dela.
Os traços dela suavizaram e os cantos de sua boca se contraíram. “Pequeno erro?” ela bufou.
Deuses, como ele a amava. “Você sabe que eu nunca colocaria sua reputação em risco.”
Rosalyn suspirou. “Por que você me chamou aqui, Jayden?”
Jayden.
Esse era seu único nome, pois o homem que o gerou desapareceu muito antes de ele nascer. A família que deveria ser o direito de nascimento de Jayden desapareceu na noite, junto com seu pai.
“Precisamos conversar, Lyn. Eu aluguei um quarto, mas posso pedir algo se você estiver com sede ou fome.”
Rosalyn balançou a cabeça. “Acabei de jantar com minha prima,” ela informou, revirando os olhos.
Jayden sabia tudo sobre a prima de Rosalyn, Minerva. Ele a tinha visto no porto, mas nunca se aproximou dela, não querendo colocar Rosalyn em risco. Nascer na parte alta da cidade trazia muitos privilégios, mas também muitas regras, especialmente para as mulheres. Embora ele não se importasse com o que Minerva estava fazendo no porto, entre homens bêbados e bastardos, ele se importava com a reputação de Rosalyn. Se os Deuses finalmente tivessem piedade dele, em alguns anos, ele não só teria um sobrenome, mas também se casaria com o amor de sua vida.
“Se você quer conversar, faça isso, pois não posso ficar muito tempo. A única razão pela qual pude vir esta noite é que meu pai e meu irmão estão no Palácio Real, conversando com o Rei Baswein. Hugo deve partir para a guerra em alguns dias. Meu pai não está muito satisfeito e espera que o Rei Baswein mude a opinião de Hugo. Mas meu irmão é muito teimoso.”
Jayden terminou sua cerveja. “Então não vamos perder mais tempo e vamos para o quarto.”
Eles se levantaram, e depois de colocar algumas moedas de cobre na mesa, Jayden guiou Rosalyn escada acima. No topo da escada havia uma porta que levava a um pequeno quarto. Jayden abriu a porta e Rosalyn entrou.