Isabela Parte 3

A mensagem de Bill aparecendo do nada faz meu coração parar. Nós nos conhecemos através do Josiah há alguns anos. Trabalhamos juntos porque ele é sócio da Ravina, o estúdio de tatuagem. Foi ele quem me deu o panfleto da Revolta, me demitiu e me disse para estudar Música. E mesmo que eu estivesse com raiva de ser demitida repetidamente sob o pretexto de que eu não merecia viver uma vida atrás daquela mesa de recepção, quando meu sonho era ser cantora, eu ainda gostava dele.

Passei anos deprimida, estudando Marketing porque minha mãe destruiu todos os meus sonhos, dizendo que eu era péssima cantando, que seus ouvidos doíam quando me ouvia tocar piano, e que minha aparência era horrível para uma cantora. Então eu desisti. Mas muita coisa aconteceu nos últimos anos...

Bill foi o único cara com quem fiquei na vida adulta que entendeu meu trauma. Ele foi o único que respeitou minha necessidade de controle, minha aversão a ser tocada sem consentimento. E ele é quem fez minhas tatuagens. Tenho onze no total. A primeira que fiz, aos dezesseis anos, foi um emoji de cocô com dois olhinhos. É o símbolo da minha amizade com a Ana porque quando nos conhecemos, ela me perguntou se eu queria ser amiga de uma "bostinha", referindo-se a ela mesma. Eu retruquei que eu era outra "bostinha", e esse apelido ficou entre nós.

Trabalhando em um estúdio de tatuagem, não pude deixar de me encantar com os designs incríveis que Josiah e Bill criavam lá. Um dia, enquanto fechava o estúdio com Bill, um deus grego de quase dois metros de altura, com músculos rígidos, pele levemente bronzeada e tatuado até a cabeça—literalmente, até ambas as cabeças—ele me viu olhando para a vitrine de designs que mostrávamos aos clientes. Ele perguntou se eu queria fazer uma, e eu considerei a ideia. Encontrei coragem para contar explicitamente sobre meu trauma, sobre meu passado, mesmo que eu não tivesse confidenciado a Harry—ele era o body piercer do estúdio e meu amigo, se posso chamar de amigo alguém que só me olha com desejo—ou a Josiah. Quando ele soube, sugeriu fazer uma pequena tatuagem em um dedo ou nas costas da mão para ver se eu conseguiria lidar, se funcionaria, ou se meu trauma seria muito avassalador. A sensibilidade dele me impressionou, me dando um pouco de confiança, e acabei abraçando totalmente a ideia de fazer a arte. Escolhi um nó celta, e Bill o tatuou na falange do meu dedo médio. Ficou lindo. Foi apenas a porta de entrada para todos os outros designs que ele fez no meu corpo e o início dos nossos encontros diários após fechar o estúdio.

Bill é perfeito. Ele não faz perguntas, me deixa no controle, e se contenta apenas em brincar com a boca. Ele nunca pede mais, nunca tenta ter nada além do que é oferecido. Em outras palavras, ele não tenta transar comigo. Mas, a julgar pela mensagem que ele acabou de enviar, ele também se cansou de mim:

Bill: Oi, Ruivinha. Estou conhecendo alguém, então acho que preciso ser honesto com você. Não podemos continuar mais. Seja feliz, Isabela!

Droga! Meus olhos ardem, mas eu seguro o soluço na garganta. Mesmo estando com raiva das palavras honestas desse idiota, eu o entendo. É um fardo enorme estar com uma mulher que tem trauma de toque, uma mulher bagunçada como eu.

Meu coração dói, e mesmo com o sol escaldante dominando a cidade, eu sinto frio. Mesmo com minha alma sangrando, me forço a caminhar para a próxima aula e fingir que ouvi algo dito pelo homem de meia-idade na frente da classe. Quando desabo na minha cama no final do dia, olho para o taco de beisebol ao lado da porta da frente.

Estou tão bagunçada. Não consigo nem dormir sem ter spray de pimenta na mesinha de cabeceira ou o maldito taco que salvou minha vida ao lado da porta.

Como posso forçar alguém a aceitar os fragmentos venenosos do que restou de mim? No final, preciso estar sozinha. A única mulher que pode me tocar além da minha avó é Ana. E mesmo com minha amiga, eu terminei. Não falamos por anos por causa da minha raiva, e outras coisas que fiz para machucá-la devido ao ciúme de seus novos amigos e ressentimento por ela jogar uma situação traumática do passado na minha cara. Eu mal tenho fé, mas uso o pouco que tenho para agradecer a Deus por me devolver Ana.

E mesmo com amigos, me odeio por me sentir sozinha neste momento.

Penso em ligar para Ana, mas ela provavelmente está dormindo, ou ocupada com o namorado...

Penso em ligar para minha avó, mas o telefone mostra que já passou da meia-noite, e ela vai para a cama cedo.

Olho para o panfleto da Noite do Lobo Mau em minhas mãos e então adormeço.

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