2- Shifters e rabiscos
Passa mais ou menos uma hora até eu finalmente olhar de novo pra minha linha azul. Eu respiro fundo ao perceber que a pessoa à qual ela está conectada está no restaurante agora. A linha leva a uma mulher sentada na mesa treze.
Ela parece ter uns vinte e poucos anos como eu e tem cabelos pretos como a noite com uma leve ondulação caindo pelas costas. É só um pouquinho mais curto que o meu. Sua pele é bronzeada e mesmo daqui consigo ver que ela é absolutamente deslumbrante.
Tentando esconder o nervosismo do rosto, chego na mesa pra anotar o pedido dela. Ao me aproximar, ela olha para cima e encontra meus olhos e fico surpresa ao ver que eles são de um tom amarelo dourado. Olho para o braço dela. Ela está usando um vestido preto deslumbrante que provavelmente vale mais do que eu ganho em um mês inteiro.
Felizmente, é um decote halter que deixa os braços totalmente à mostra para que eu possa ver sua marca. Suas marcas são pretas e o design envolvendo seu braço é marcante, percebo que há cortes através dele que parecem ser feitos para se parecer com marcas de garras. Combinando isso com seus olhos dourados, é bem claro que ela é uma Transformadora.
Isso me deixa um pouco apreensiva, porque Transformadores geralmente não se misturam com quem não é Transformador. Na verdade, até entre eles mesmos, Transformadores são exigentes sobre com quem se associam. Mas nossa amizade já está certa. Preciso ter fé nisso.
Estou prestes a pedir o pedido dela quando uma tosse não muito sutil do homem sentado em frente a ela chama minha atenção. Tava tão focada na mulher Transformadora, minha futura amiga, que nem notei que ela tava acompanhada.
Olhando para o homem, sou primeiro impressionada com o quão classicamente bonito ele é. Ou pelo menos o quanto ele seria bonito se não tivesse aquela cara de metido jogada na minha direção. Ele tem cabelos entre loiros e bronzeados e, como a mulher, tem olhos amarelados, embora os dele puxem mais para o laranja do que para o dourado. Ele está usando um terno, então não consigo ver nenhuma marca, mas apostaria que ele também é um Transformador.
Tentando agir naturalmente, anoto os pedidos deles e fujo para entregar o papel para a cozinha. Pego a garrafa de vinho que o homem pediu e, ao levá-la para a mesa deles, aproveito para verificar se há linhas conectando-os.
Não há linhas ligando os dois de forma alguma. Não consigo ver nenhuma linha saindo da mulher além da azul que a conecta a mim. O homem também tem uma linha. É sólida e vermelha e segue em direção à porta e some de vista. Ele já encontrou sua alma gêmea. Acho que os dois são amigos, ou talvez colegas de trabalho ou algo assim.
Alguns minutos depois, sirvo a comida deles antes de continuar atendendo minhas outras mesas. Me esforço pra não ser a desajeitada de sempre, algo que é ainda mais difícil do que o normal, já que estou completamente distraída observando a mesa treze de canto de olho. Está terrivelmente ocupado e, na maioria das vezes, não consigo mantê-los à vista.
Retiro os pratos da refeição deles e estou prestes a anotar os pedidos da sobremesa quando, de repente, o homem se levanta da cadeira e se ajoelha ao lado da mulher. Eu congelo, confusa. O que diabos está acontecendo aqui?
Abro a boca para perguntar se está tudo bem quando o homem tira um anel do bolso. Meus olhos se arregalam, a mulher dá um suspiro e leva a mão até a boca. Tô tão vidrada nas reações dela que nem escuto o que o cara tá falando enquanto faz o pedido.
No entanto, vejo quando ela aceita. Lágrimas escorrem pelo rosto dela enquanto se inclina para frente para beijar o homem e ele coloca o anel em seu dedo. Uma salva de palmas se espalha pelo restaurante enquanto todos começam a parabenizar o 'casal feliz'. Sob as ordens de Anthony, levo uma sobremesa pra eles de cortesia do restaurante.
Estou entorpecida. Isso está completamente errado. Ele não é a alma gêmea dela, ele tem outra alma gêmea. Ele já achou a alma gêmea dele, então como é que tá pedindo outra mulher em casamento agora? O que devo fazer? Devo fazer alguma coisa?
Normalmente tento não interferir. Essas linhas são destinos, então elas não precisam da minha ajuda. Mas se essa mulher realmente está destinada a ser minha amiga próxima, posso realmente deixá-la se casar com alguém que já tem uma alma gêmea?
Isso só pode terminar em desgosto. Antes que eu tenha a chance de me convencer do contrário, rabisco um bilhete para ela em um pedaço de papel que encontro atrás do bar.
*Você não me conhece, e sinto muito por não conseguir explicar direito num bilhete. Você deve saber que o homem que acabou de pedir você em casamento não é o homem certo para você e, embora possa ser desagradável ouvir isso, pensei que deveria dizer a você agora na tentativa de poupar mais dor no futuro. Um dia espero poder me explicar adequadamente, mas por enquanto isso é tudo que posso fazer.
Sinto muito de verdade.*
Não tenho coragem suficiente para escrever meu nome e assinar o bilhete corretamente, mas também não consigo tornar o bilhete completamente anônimo. Rapidamente rabisco minhas iniciais no final do bilhete. R.G. Para Ryann Gale.
Pego a conta deles e volto para a mesa. Ao colocar a pasta com a conta na mesa, garanto que 'acidentalmente' escorrego e deixo cair no chão. Me abaixo para pegar e rapidamente coloco meu bilhete na bolsa da mulher antes de me levantar, peço desculpas e coloco a pasta na mesa entre eles. O homem estende a mão para pegar a pasta, mas a mulher o dispensa.
“Para de ser bobo, Tristan. Eu tenho grana de sobra, faz sentido eu pagar. Além disso, uma vez que nos casarmos, o que é meu será seu. Então, não importa muito neste momento.” Ela decide. Ela pega sua bolsa e procura dentro dela.
Prendo a respiração. Estava contando que ela não encontrasse o bilhete até chegar em casa. Solto a respiração quando ela tira uma carteira da bolsa, sem notar o bilhete.
Ela retira um cartão de crédito prateado brilhante e me entrega junto com a pasta com um sorriso. Rapidamente vou passar o cartão. Olho o nome no cartão. Megan Kane.
Ao devolver o cartão para ela, dou um sorriso brilhante.
Ela pode não saber ainda e talvez não seja minha amiga, mas desde o momento em que entrou neste restaurante, me tornei sua amiga e pretendo ser a melhor amiga que ela poderia ter.
Os dois saem, de braços dados. Tenho que resistir ao desejo de correr atrás deles e me apresentar a Megan adequadamente.
Lembro a mim mesma mais uma vez que estamos destinadas a ser amigas. Vou vê-la novamente.







































































































































































































































































































