Capítulo 1
Noah
Isso era tudo pelo que eu tinha trabalhado.
Então por que diabos eu estava com vontade de correr?
O ar cheirava a dinheiro novo e grama recém-cortada. O campus era lindo, digno de capa de revista. O tipo de lugar que não fazia espaço para caras como eu, a menos que alguém morresse ou fosse desclassificado.
E ainda assim, lá estava eu. Quarterback novato dos Texas Wolves. Primeira escolha nos testes de verão. Uma chance em um milhão.
Fui trazido de avião naquela manhã, recebi uma bolsa com a marca do time, uma chave do dormitório, um cronograma impresso e um parabéns que eu não conseguia ouvir por causa da batida forte no meu peito. Tudo estava acontecendo rápido. Rápido demais.
Disseram que eu tinha merecido. Disseram que eu era um natural. Disseram que eu tinha potencial... E eu realmente tinha, mas o pânico ainda agarrava minha garganta como fumaça.
Isso não era como o futebol universitário. Isso era sério.
Isso era tudo.
E eu não estava prestes a aparecer parecendo o caso de caridade que de alguma forma enganou o sistema. Eu sabia como essa merda funcionava. Se eu quisesse respeito, tinha que ganhá-lo desde o primeiro snap. Sem desculpas. Sem segundas chances. Sem erros.
Eu não estava aqui para fazer amigos.
Eu estava aqui para dominar.
Mas ainda assim...
Uma boa primeira impressão nunca fez mal a ninguém.
Especialmente vindo do buraco de onde eu tinha acabado de sair. Agora eu estava parado em frente a uma mansão estilo fraternidade onde a festa de boas-vindas do time já estava rolando.
Eu estava vestido casualmente—jeans apertado, camiseta sem mangas, boné dos Wolves puxado para baixo. Parecia que eu me importava sem me esforçar muito. Esse era o truque. Entrar, sorrir, soltar algumas frases de efeito, agir como se eu estivesse ali desde sempre. Fingir até dominar.
Eu não ia deixar ninguém aqui me tratar como um acaso.
Como fui tratado a vida toda.
Ainda assim, meus dedos estavam suados enquanto eu empurrava a porta.
Lá dentro, era um caos. Música alta, copos vermelhos, beer pong de um lado, mesa de bilhar do outro. Testosterona no ar como fumaça. Caras por toda parte—rindo, gritando, se exibindo.
Algumas cabeças se viraram quando eu entrei.
Eu sorri.
Fiz um aceno.
Aquele olhar convencido de “sim, eu sou esse cara”.
Alguém me deu um tapa nas costas, gritou “Yo, QB1!” como se fôssemos velhos amigos.
Eu ri, curto e superficial. Por dentro, eu estava escaneando as saídas.
Peguei uma bebida. Bebi devagar. Deixei eles falarem. Deixei que me avaliassem. Fiquei apenas confiante o suficiente para ganhar um lugar no círculo, mas não tanto para parecer um babaca.
Foi quando a conversa mudou.
“—Não, estou te dizendo, cara, alguns daqueles subs no ObeyNet são famosos. Tipo, juro que reconheci um no ano passado. Parecia que jogava nos Panthers.”
“Besteira. De jeito nenhum eles arriscariam isso.”
“Você ficaria surpreso, cara. O lugar é anônimo. Cheio de esquisitões. Até betas como você poderiam conseguir alguma ação.”
Risos irromperam. Alguém fez um som de engasgo com a cerveja. Outro cara brincou, “Eu me inscrevi uma vez—um cara tentou me fazer chamá-lo de Papai e latir. Eu caí fora.”
Meu coração bateu forte no peito.
ObeyNet.
Eu já tinha ouvido esse nome antes. Sussurros online. Nada que eu tivesse clicado. Mas algo sobre isso ficou na minha cabeça. Um arrepio subiu pela minha espinha como uma aranha.
Forcei uma risada. “Parece divertido. Talvez eu me inscreva, ensine a eles como um homem de verdade lida com uma coleira.”
Mais risos. Um cara me deu uma cotovelada. “Droga, novato é esquisitão. Respeito.”
Eu disfarcei. Sorri. Bebi.
Por dentro, minha mente não parava.
À meia-noite, eu estava de volta ao meu dormitório. Sozinho. Inquieto. O gosto de cerveja barata e confiança falsa ainda na minha língua.
O silêncio parecia mais alto que a festa. Sentei na beirada da cama, telefone na mão, polegar pairando sobre o navegador.
Só curiosidade, eu disse a mim mesmo. Só dando uma olhada. Nada de estranho.
ObeyNet.
Digitei e criei uma conta simples.
Lá dentro, era tudo sombras e neon.
Fóruns. Perfis. Gravações.
Tudo, desde comandos a confissões a... áudios. Foi onde meus olhos se fixaram.
Sr. A.
Mais bem avaliado. Anônimo. Uma foto de perfil em preto e branco: um terno elegante e uma mão enluvada segurando um cinto.
Cliquei.
E tudo parou.
A voz dele me atingiu como a gravidade.
Baixa. Calma. Controlada.
Não alta, não agressiva—apenas estável. Autoritária. Cada palavra era medida. Precisa. Como se ele já estivesse dentro da sua cabeça e não precisasse levantar a voz para fazer você se ajoelhar.
Minha pele corou. Minha boca secou.
Eu nem entendia metade das coisas que ele dizia - mas caramba, eu estava duro mesmo assim.
A vergonha queimava quente no meu peito.
O que diabos estava errado comigo?
Eu não devia gostar disso. Eu não curtia caras. Eu não curtia isso. Não desse jeito. Não de verdade.
Mesmo assim...
Meus dedos pairavam sobre o botão de mensagem.
Eu olhava. Debatia. Ouvia a voz do meu pai na minha cabeça - meu maior demônio - me envergonhando, me chamando de fraco. Apertei os olhos.
Apenas uma vez, eu disse a mim mesmo. Só uma brincadeira.
Certo.
Antes que eu pudesse pensar duas vezes, digitei:
"Duvido que você consiga me aguentar."
Enviei antes de poder desistir. Sorri. Esperei.
A resposta veio quase imediatamente.
Sr. A:
"Você está errado.
A verdadeira questão é - você consegue lidar com a obediência?"
Uma queimação lenta se espalhou no meu estômago.
EU:
"Por que eu faria isso?
Talvez eu é que esteja no comando aqui."
Sr. A:
"Você não está.
Você não quer estar; você prefere ser mandado.
A maioria dos garotos como você prefere."
Garotos como eu?
EU:
"Você acha que eu sou um frouxo que gosta de ser mandado?"
Sr. A:
"Acho que você é uma ovelhinha assustada vestida de leão.
Só latido. Sem coleira.
E por trás de todo esse barulho, o que você realmente deseja é ser possuído, guiado e punido."
Engoli em seco. As palavras atingiram algo profundo... Eu me disse que era só um jogo. Um estranho na internet com um fetiche de Dom e uma língua afiada.
Mas eu não conseguia parar.
EU:
"E eu suponho que você poderia fazer isso, certo?"
Sr. A:
"Eu poderia, e vou. Nós dois sabemos disso.
E acho que você odeia o quanto isso te excita."
Excitava.
E não só eu odiava que excitava, mas me aterrorizava até o ponto da raiva.
EU:
"Você é completamente insano, e você não me conhece...!"
"Por que eu iria querer ser punido?"
"E como eu ficaria excitado por um cara? Eu sou hétero—"
Meus dedos ainda estavam digitando a quarta mensagem seguida quando a resposta dele chegou.
Sr. A:
"Você precisa respirar, garoto."
Meu peito parou de se mover.
Li de novo.
Garoto.
Deus...
Caramba.
Deixei o celular cair como se tivesse me queimado.
A tela acendeu novamente.
Sr. A:
"Durma bem. Você será meu antes de admitir."
O chat terminou. Ele se foi.
Mas aquela frase - respire, garoto - ficou na minha cabeça como se tivesse sido sussurrada, não digitada.
A manhã seguinte foi pior.
Eu mal dormi. Minha cabeça estava latejando. Eu parecia um lixo, me sentia pior, mas tínhamos nossa primeira reunião da temporada com nosso novo técnico estrela. Vesti meu uniforme, joguei água no rosto e corri pelo campus até a instalação do time.
O salão de treinamento dos Lobos era todo aço, vidro e suor. Os jogadores entravam, barulhentos e confiantes. Alguns ainda no modo festa. Tentei manter a cabeça baixa enquanto me sentava no fundo, mas todos sabiam quem eu era.
Novo QB. Nova esperança.
Eu já odiava isso.
Alguém gritou, "Atenção! O técnico está chegando!"
A sala mudou. Posturas se endireitaram. O volume caiu.
Eu me virei - e o mundo se estreitou.
Ele entrou como se fosse dono de todos nós.
Alto, largo, perfeitamente arrumado. Sólido. Como uma parede que você não poderia mover mesmo se tentasse. Vestido com calças pretas e uma camisa do time que se agarrava aos seus braços como uma armadura.
Mas no momento em que ele abriu a boca, meu sangue gelou.
"Bom dia, rapazes. Eu sou o Técnico Mercer. Vocês já sabem o que é esperado nesta temporada. Não estou aqui para cuidar de vocês - estou aqui para empurrar, quebrar e reconstruir vocês na melhor versão de si mesmos. Aquela que nos trará a vitória."
A sala ficou em silêncio.
Eu esqueci como respirar.
Não pode ser...
Olhei para longe, cada uma de suas palavras combinando com a voz da noite passada ainda gravada na minha mente.
O resto da reunião ficou borrado. Meu coração não se acalmava. Meus pensamentos se embaralhavam, tentando me convencer de que eu estava imaginando. Só coincidência. Certo?
Então - os olhos dele me encontraram.
Aço azul. Ilegível.
"Blake. Você está distraído. Sua atitude precisa melhorar."
Meu estômago caiu. Cada aviso na minha cabeça gritava Eu conheço essa voz.
E não havia como negar.
Manter minha cabeça no jogo ia ser um inferno.
Ele pausou - tempo suficiente para doer.
"Me veja no meu escritório depois do treino. Sozinho."











































































































































