Responsabilidades prematuras

Aurora

O sol estava começando a nascer quando acordei na manhã seguinte, com um nó persistente de preocupação no estômago. Hoje era meu segundo dia no café, e eu estava determinada a me provar. Saí da cama com cuidado, tentando não acordar Sol, que ainda dormia profundamente.

Desci as escadas e encontrei meu pai ainda deitado no sofá onde o havíamos deixado na noite anterior. Seus roncos enchiam a sala, um lembrete sombrio do caos da noite passada. Fiz uma nota mental para limpar as garrafas vazias e a bagunça mais tarde, sabendo que primeiro precisava me preparar para o trabalho.

Na cozinha, encontrei pão e manteiga de amendoim suficientes para fazer um café da manhã simples para Sol. Enquanto espalhava a manteiga de amendoim no pão, minha mente vagava para as dívidas que continuavam a se acumular. Eu precisava encontrar uma maneira de ganhar mais dinheiro, e rápido. Mas, por enquanto, tinha que me concentrar em manter meu emprego no café.

Deixei um bilhete para Sol, dizendo para ele ficar dentro de casa e não abrir a porta para ninguém. Ele já estava acostumado com essas instruções, mas ainda me doía deixá-lo sozinho. Beijei sua testa e sussurrei: "Volto logo. Fique seguro, Sol."

A caminhada até o café foi rápida, e o ar fresco da manhã ajudou a clarear minha mente. Cheguei um pouco mais cedo, esperando impressionar Carla com minha dedicação. Ela me cumprimentou com um sorriso caloroso quando entrei.

"Bom dia, Aurora. Pronta para mais um dia?" ela perguntou.

"Com certeza," respondi, forçando um sorriso. "Obrigada novamente por esta oportunidade."

"Você está indo muito bem até agora. Continue assim," ela me encorajou antes de me mostrar as tarefas do dia.

Quando a correria da manhã começou, encontrei meu ritmo no café. Servi café, limpei mesas e até consegui fazer alguns clientes sorrirem. Era bom fazer algo produtivo, algo que pudesse ajudar a melhorar nossa situação em casa.

No meio do turno, o homem de ontem entrou novamente. Ele tinha o mesmo livro e o mesmo olhar intenso nos olhos. Desta vez, não pude deixar de sentir uma estranha atração por ele. Havia algo em sua presença que era ao mesmo tempo inquietante e intrigante.

Carla também o notou e acenou em sua direção. "Parece que você já tem um cliente regular," ela disse com um piscar de olhos.

Sorri nervosamente e me aproximei da mesa dele. "Bom dia. Posso trazer o mesmo de ontem?"

Ele olhou para cima do livro, e por um momento, seu olhar parecia penetrar diretamente em mim. "Sim, por favor. E talvez um muffin hoje."

Assenti e rapidamente trouxe seu pedido. Quando coloquei o café e o muffin na mesa, ele me agradeceu com aquela mesma intensidade silenciosa.

"Obrigado. E seu nome é Aurora, certo?" ele perguntou.

"Sim," respondi, um pouco surpresa. "Como você sabia?"

"Ouvi a Carla mencionar ontem," ele disse com um leve sorriso. "Sou Damian."

"Prazer em conhecê-lo, Damian," eu disse, tentando manter a voz firme.

"Igualmente," ele respondeu, seus olhos demorando-se em mim por um momento antes de voltar ao livro.

Durante uma pausa no meu turno, notei que Damian ainda estava lá, mas desta vez ele parecia menos focado no livro e mais atento à atividade do café. Decidi aproveitar a oportunidade para tentar conhecê-lo melhor. Peguei um pano de prato e caminhei até a mesa dele, fingindo limpar.

"Você vem aqui com frequência?" perguntei casualmente, tentando soar despreocupada.

Ele olhou para cima novamente, e aquele olhar penetrante me fez arrepiar levemente. "Sim, gosto do ambiente aqui. E o café é ótimo."

Sorri, sentindo-me um pouco mais à vontade. "Fico feliz em ouvir isso. Ainda estou me acostumando com o trabalho, então qualquer feedback é bem-vindo."

Damian inclinou a cabeça ligeiramente, como se estivesse me estudando. "Você parece estar indo muito bem. Não é fácil encontrar alguém tão dedicado."

Seu elogio sincero me surpreendeu, e por um momento, senti meu rosto corar. "Obrigada, estou tentando fazer o meu melhor."

Ele então fez uma pausa, seus olhos ainda fixos nos meus. "Você sabia que às vezes, a solução para nossos problemas vem de onde menos esperamos?"

Franzi a testa, intrigada. "O que você quer dizer com isso?"

Damian sorriu enigmaticamente e se levantou, preparando-se para sair. "Apenas algo para você pensar. Até logo, Aurora."

Observei enquanto ele deixava algumas notas na mesa e saía do café, ainda sentindo o peso de suas palavras misteriosas.

O resto do turno passou rapidamente, mas a interação com Damian ficou na minha mente. Havia algo nele que despertava minha curiosidade, algo que eu não conseguia entender completamente.

No final do turno, eu estava exausta, mas satisfeita com meu desempenho. Carla parecia contente também.

"Você está realmente pegando o jeito, Aurora. Continue assim, e logo será uma parte permanente da equipe," ela disse com um sorriso.

"Obrigada, Carla. Agradeço muito," respondi, genuinamente grata pelo apoio dela.

Caminhei para casa com uma mistura de emoções—esperançosa com o trabalho, mas ainda ansiosa com a situação em casa. Quando cheguei, encontrei Sol brincando quietamente com seus brinquedos, exatamente como eu havia instruído. Nosso pai ainda estava no sofá, agora acordado, mas com uma aparência miserável.

"Oi, Sol," eu disse, bagunçando seu cabelo. "Como foi seu dia?"

"Foi bom. Estou feliz que você voltou," ele disse, me abraçando apertado.

Eu o abracei de volta, sentindo o peso das minhas responsabilidades pressionando sobre mim. Eu precisava encontrar uma maneira de melhorar as coisas para nós dois.

Aquela noite, enquanto estava deitada na cama, não conseguia parar de pensar em Damian. Havia algo nele que eu não conseguia entender.

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