


Dívidas e desespero
Aurora
Os dias passavam em um borrão de trabalho no café e responsabilidades em casa. Cada centavo que eu ganhava era rapidamente consumido pelas dívidas que continuavam a crescer como uma sombra ameaçadora sobre nossas vidas. Os cobradores de dívidas se tornavam cada vez mais insistentes, suas ligações diárias e visitas ocasionais adicionando um peso constante de medo à nossa rotina diária.
Eu estava no meio de um turno especialmente movimentado no café quando meu telefone vibrou no meu bolso. Era um número desconhecido, mas eu sabia exatamente quem era. Com um suspiro, deixei o telefone vibrar, incapaz de lidar com outra ameaça ou ultimato naquele momento. Damian, que havia se tornado um cliente regular e uma presença curiosamente reconfortante, estava sentado em seu lugar habitual, me observando com uma expressão séria.
Depois de servir uma mesa, me aproximei dele, tentando manter a compostura. "Está tudo bem, Damian? Posso te trazer algo?"
Ele me olhou com aqueles olhos penetrantes que pareciam ver através de tudo. "Você parece preocupada," ele disse, afirmando em vez de perguntar.
Suspirei, sentindo uma onda de cansaço me invadir. "É difícil não estar. As coisas em casa não estão fáceis."
Damian se inclinou ligeiramente para frente. "Às vezes, quando a vida nos pressiona demais, forças que não entendemos começam a se manifestar. Você acredita nisso?"
Franzi a testa, intrigada e um pouco inquieta com a direção que a conversa estava tomando. "Forças? Do que você está falando?"
Ele apenas sorriu enigmaticamente. "Apenas algo para você pensar. Lembre-se, Aurora, que a ajuda pode vir de onde você menos espera."
Antes que eu pudesse responder, ele se levantou, deixando dinheiro suficiente para cobrir a conta e uma gorjeta generosa. "Até logo," ele disse, saindo do café com a mesma aura de mistério que sempre o cercava.
As palavras de Damian ficaram na minha mente pelo resto do dia. Havia algo nele, algo que eu não conseguia entender, mas que parecia prometer respostas para perguntas que eu nem sabia que tinha.
Quando cheguei em casa, encontrei Sol sentado na sala, olhando para um livro de histórias. Nosso pai estava em seu quarto, ou dormindo ou desmaiado, como de costume. Sentei-me ao lado de Sol e envolvi meu braço em torno dele.
"Como foi seu dia, Sol?" perguntei, tentando trazer um pouco de normalidade à nossa rotina.
"Foi bom. Eu li mais da nossa história favorita. Você quer ouvir um pouco?" ele perguntou, seus olhos brilhando de expectativa.
Sorri, apesar do meu cansaço. "Claro, Sol. Eu adoraria ouvir."
Enquanto ele lia, minha mente vagava de volta às palavras de Damian. O que ele quis dizer com "forças que não entendemos"? E por que parecia que ele sabia mais sobre mim e minha situação do que deveria?
Naquela noite, enquanto tentava dormir, um pensamento perturbador surgiu. E se Damian estivesse certo? E se houvesse algo mais, algo além da compreensão normal, que pudesse ajudar nossa situação? Era uma ideia louca, mas o desespero pode fazer uma pessoa considerar o impossível.
Nos dias seguintes, comecei a notar coisas estranhas. Pedaços de papel com símbolos desconhecidos apareciam em lugares onde eu nunca os tinha visto antes, e uma sensação constante de estar sendo observada começou a me assombrar. Uma noite, enquanto revisava as contas, a luz da cozinha piscou repetidamente antes de apagar completamente.
Eu pulei da cadeira, meu coração batendo forte no peito. No canto da cozinha, uma sombra parecia se mover sozinha. "Quem está aí?" minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, mas a sombra não respondeu. Em vez disso, desapareceu, me deixando sozinha no silêncio da noite.
Lembrei-me das palavras de Damian novamente. Seriam essas as "forças" de que ele estava falando? Forças que eu não entendia, mas que agora estavam se manifestando ao meu redor?
No dia seguinte no café, mal consegui me concentrar no trabalho. Quando Damian entrou, senti uma mistura de alívio e apreensão. Esperei até que ele estivesse sentado antes de me aproximar dele.
"Damian," comecei, tentando manter a voz firme, "ontem à noite, coisas estranhas aconteceram em casa. Você mencionou algo sobre forças que não entendemos. O que você sabe sobre isso?"
Ele me olhou por um longo momento antes de responder. "Aurora, há mais neste mundo do que a maioria das pessoas percebe. Às vezes, o desespero pode abrir portas que normalmente permanecem fechadas. Essas forças, como você as chama, podem ser tanto uma bênção quanto uma maldição. Tudo depende de como você lida com elas."
"Mas o que eu devo fazer?" perguntei, sentindo-me à beira das lágrimas.
Damian sorriu suavemente. "Continue buscando respostas. Confie nos seus instintos. E lembre-se, a ajuda pode vir de onde você menos espera."
Eu queria perguntar mais, mas ele se levantou, sinalizando que a conversa estava encerrada por enquanto. Observei enquanto ele saía do café, mais uma vez me deixando com mais perguntas do que respostas.
Eu precisava descobrir o que estava acontecendo e, se possível, usar essas forças a meu favor. Porque, no fim das contas, eu faria qualquer coisa para proteger Sol e encontrar uma saída para o nosso desespero.