Dois.

"Oh, minha querida. Sabe, aquece meu coração ver você, e tão parecida com sua mãe também." Maureen sorriu enquanto colocava uma xícara de chá, sem ser solicitada, na frente de onde Colt estava sentada, no banquinho ao lado da ilha da cozinha.

"Oh, obrigada." Colt sorriu, envolvendo as mãos em torno da caneca grossa e permitindo que o calor penetrasse agradavelmente em sua pele. "Estou muito feliz de estar aqui, e adoraria poder conhecer vocês melhor, se for possível. Toda essa parte da família, na verdade." Ela respondeu genuinamente. "Sinto que estive no escuro sobre meus parentes escoceses, e acho que decidi que era hora de me apresentar." Ela riu de forma constrangida, sentindo que estava falando demais.

"Bem, me diga então, quanto tempo você vai ficar nos visitando? Vou ver o que posso arranjar. Não moramos exatamente perto um do outro, sabe? Então, não posso garantir nada." Maureen avisou. "Mas, tenho certeza de que seu tio Robert vai querer dizer olá, e ele tem uma filha, Iona, que fala pelos cotovelos, então ela definitivamente vai querer te conhecer, mesmo que seja só para ter um par de ouvidos novos para conversar." A avó de Colt riu.

"Bem, na verdade estou aqui por tempo indeterminado. Comprei uma casinha que precisa de algumas reformas, lá na costa." Colt respondeu, tomando um gole do chá que tinha um gosto estranhamente parecido com o que sua mãe fazia. Ela achou que isso aliviava um pouco sua saudade de casa, e sua personalidade de lobo gostava da sensação de estar perto da família.

"Ah? Você pode fazer isso? Achei que estavam restringindo a imigração e coisas do tipo." Sua avó perguntou com uma expressão preocupada.

"Eu, bem, todos nós na verdade, exceto o papai, temos dupla cidadania, já que a mamãe nasceu aqui. Então, os meninos e eu, por termos pais de ambos os países, podemos escolher onde morar, embora ainda tenha bastante papelada. Mais para Solaris, no entanto. Você não acreditaria em como é caro transportar um cavalo pelo Atlântico." Colt fez uma pausa novamente, percebendo que seus nervos estavam fazendo-a falar demais. "Então, é, resumindo, eu, erm, me mudei para cá." Colt acrescentou, em resposta à sobrancelha levantada de sua avó.

"E como estão meus netos? Todos eles eram lobos, certo?" Maureen perguntou com uma carranca, aparentemente não percebendo os nervos de Colt. "Não importa." Ela balançou a cabeça. "Ignore-me, querida, nossos números de gatos selvagens estão diminuindo rapidamente a cada geração, e é uma pena ouvir que não havia mais gatos selvagens na grande prole da sua mãe." Ela suspirou.

Colt ficou surpresa com a mudança de atitude de sua avó, mas felizmente foi salva de responder quando seu avô reapareceu. Entrando na sala de forma sombria, com um ar exigente ao seu redor.

"Onde fica sua casa na costa, menina?" Ele exigiu, franzindo a testa.

"Oh," Colt deu um pequeno salto com o tom abrupto dele. Ela estava atribuindo seus nervos ao desejo de causar uma boa impressão, mas mesmo assim, algo parecia estranho, e ela não conseguia entender o que era. "Fica na borda sudoeste da península de Ardair. Você conhece? O quintal, quero dizer, o jardim se abre diretamente para as dunas e desce até uma enseada de areia branca. Era tão bonito, quando vi, não pude resistir, mesmo que a casa precise de bastante reforma." Colt começou a divagar, a atitude de seu avô a deixando nervosa.

James franziu a testa e lançou um olhar preocupado para Maureen. Colt olhou entre seus avós, confusa com o silêncio repentino que os dominou, e a comunicação silenciosa que parecia estar acontecendo entre eles. Até que, de repente, sua avó fez um som de reprovação e balançou a cabeça.

"Ignore-nos, Colt." Ela disse, "Há uma rivalidade muito antiga entre o clã Campbell e os Macgregors. A casa que você comprou parece adorável, querida, é só que fica nas terras do clã deles, então isso nos fez hesitar, só isso." Ela respondeu, deslizando um prato de biscoitos com gotas de chocolate para Colt. "Tenho certeza de que nada disso realmente importa agora."

"Deve ser uma rivalidade bem forte, para causar tanta preocupação?" Colt perguntou, curiosa sobre no que havia se metido sem saber.

"Sim, bem." James começou, "Houve muitas disputas de fronteira, e não somos exatamente uma raça de metamorfos conhecida por compartilhar. Um dos nossos estar lá poderia causar..."

"Oh, pare de reclamar e se acalme, James Campbell." Maureen o interrompeu. "Ignore seu avô, Colt, ele está cheio de ideias desatualizadas sobre a realidade moderna. Assim como seu guarda-roupa está cheio de roupas desatualizadas. Você é apenas um velho rabugento." Ela jogou para ele.

James apenas suspirou e voltou seus olhos para Colt. Realmente a estudando pela primeira vez. Havia um certo olhar de sua mãe nela, e assim que ele reconheceu isso, seu coração amoleceu um pouco. Ela era definitivamente uma gata selvagem Campbell, mas havia algo mais nela. Ele podia ver na maneira como ela se portava, ela tinha um ar ameaçador, algo que a tornava um pouco mais intimidante.

"Você não é apenas uma gata, é?" Ele afirmou, em vez de perguntar. Respirando fundo pelo nariz, ele falou novamente com uma Colt surpresa, "Você cheira a lobo, lobo acasalado."

Colt parou, sentindo-se desconfortável de repente. Ela sabia que essa conversa surgiria mais cedo ou mais tarde, só não imaginava que surgiria tão rapidamente. Isso a forçou a discutir coisas que não queria, coisas que nem queria pensar.

"Eu sou uma loba, vovô." Ela disse, adotando o termo que sua avó usava, e decidindo que a honestidade direta poderia ser sua melhor chance de ganhar o respeito desse homem. "Eu sou tanto uma gata selvagem quanto uma loba, posso me transformar em qualquer um dos dois. Originalmente, eu era gêmea, mas os dois embriões se fundiram no útero, e agora, eu sou quem eu sou." Ela suspirou, respirando fundo antes de continuar com a parte mais difícil da conversa. "E, eu sou acasalada. Ou pelo menos, era. Com um lobo Alfa, meu verdadeiro companheiro. Mas, digamos que não deu certo." Ela terminou rapidamente, seu desconforto transparecendo e tomando conta dela, enquanto desejava desesperadamente poder ignorar os bons modos que sua mãe havia incutido nela em relação aos idosos. Mesmo quando eles estavam sendo rudes, e ela realmente queria gritar para ele cuidar da própria vida.

"Então, é por isso que você está aqui. Fugindo." James concluiu. "O que havia de errado com ele, então? Muito controlador? Dominador? Violento? O cheiro de cachorro molhado te incomodou?" Ele provocou rudemente, sem saber quando parar.

"James!" Maureen o repreendeu. "Chega!"

"Não, está tudo bem." Colt afirmou, levantando-se ao sentir a necessidade de se defender. "Elijah tinha trinta e dois anos quando nos acasalamos. Ele estava sofrendo de solum rabidus como resultado. É quando o impulso de acasalamento do lobo causa um caos na mente, e o desequilíbrio hormonal leva a um tipo específico de doença mental." Ela começou.

"Eu sei o que é, menina." James afirmou, interrompendo-a.

"Bem, Elijah tinha isso. Mas conseguiu suprimir por causa de Nora, sua filha. Então ela foi morta, baleada em um ataque terrorista na escola dela, de todos os lugares, e a dor o dominou. Ele se perdeu, e então traiu nosso vínculo. Eu não posso perdoá-lo. Eu entendo o porquê, mas simplesmente não posso estar com ele agora. Então, sim. Eu fugi, mas de mim mesma mais do que dele." Colt concluiu com os dentes cerrados, encerrando a conversa, enquanto desafiava seu avô a provocá-la ainda mais ao mesmo tempo.

Pela primeira vez em muito tempo, Colt sentiu a vontade de se transformar, e isso a irritou profundamente, pois vinha de seu instinto de proteger Elijah. Aquele maldito lobo ainda estava influenciando sua vida até agora.

"Colt, querida, sinto muito que você tenha passado por isso." Sua avó respondeu, contornando a ilha e esfregando seus braços gentilmente, certificando-se de que seu marido não pudesse escalar a situação ainda mais. "E você, James Campbell, vai se comportar, ou, por Deus, eu não serei responsável pelas minhas ações! A menina já passou por muita coisa. Ela é uma das nossas, e se você a afastar com seus modos rabugentos ou sua atitude condescendente, eu vou te esfolar vivo e fazer um par de luvas com você! Entendeu?" A velha mulher repreendeu seu marido.

James ficou parado com uma carranca, até que uma realização surgiu em sua mente a partir do discurso de Maureen. Bufando, ele saiu da sala e foi para a sala de estar da casa.

Colt suspirou e tirou um cartão do bolso da calça, com seu novo número de celular de onze dígitos, e entregou à sua avó. "Provavelmente devo ir, tenho muita coisa para desempacotar." Ela suspirou. "Este é meu número, se precisar de mim." Ela sorriu e colocou sua xícara vazia na pia. "Adoraria vê-la novamente."

Maureen acompanhou Colt de volta pela casa até a porta da frente. "Seria possível te dar um abraço, querida? Você se parece tanto com sua mãe e, bem, sentimos muita falta dela."

Colt sorriu ao ouvir isso enquanto chegavam à porta. "Claro." Ela respondeu, estendendo os braços e abraçando sua avó. "Foi realmente ótimo conhecer vocês dois." Ela afirmou calorosamente. "Obrigada pelo chá, vovó."

"Volte logo, querida. Vou controlar o Rabugento direito, para que ele se comporte da próxima vez." Ela riu. "E, por favor, me chame de Vovó."

Colt riu disso. "Tudo bem, Vovó, e pode contar com isso." Então ela saiu e voltou para sua caminhonete.


Maureen se juntou a James na sala de estar do bangalô, e eles ficaram juntos na janela, observando enquanto sua neta se afastava dirigindo.

"Você não foi muito amigável, sabe." Maureen o repreendeu, movendo-se para sentar no sofá.

"Ela é acasalada, Reenie." Ele afirmou. "E com um Alfa, ela não serve." Ele acrescentou, movendo-se para sentar no sofá ao lado dela, enquanto procurava em uma caixinha de madeira na mesa de centro por uma de suas balas de menta.

"Verdade. Mas, ela não é casada, James." Maureen apontou, com um sorriso malicioso. "E o Alfa está doente, e eu apostaria que ele nem sabe onde ela está. Na verdade, eu apostaria que os pais dela nem sabem onde ela está. Pense bem, ela realmente estaria nos procurando se soubesse?"

"Você acha que eles não contaram a ela?" James perguntou à esposa.

"Acho que este seria o último lugar que ela viria se soubesse o que se espera dela." Maureen retrucou, pegando sua própria bala de menta.

"E os Macgregors? Ela está nas terras deles, eles vão reivindicar." Ele disse, mordendo a bala.

"Quando eles descobrirem sobre ela, será tarde demais. Além disso, com um sobrenome como Merrier, não há como eles suspeitarem o suficiente para investigar." Maureen respondeu, desconsiderando a preocupação de seu companheiro. "Não amoleça só porque ela parece uma mistura entre sua mãe e Isla."

"Você quer que eu faça a ligação, não é?" Ele suspirou, pedindo clareza, enquanto olhava nos olhos de sua companheira. "Isla nunca nos perdoará, você sabe disso, certo?"

"Isla foi embora. Ela não está aqui há três décadas." Maureen deu de ombros, indiferente. "Ligue para eles, eu vou trabalhar com a garota."

Nota do Autor: Pobre Colt, não consegue uma folga, hein?

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