Capítulo Três: Um estômago vazio
O cheiro de salsichas fritando enchia a cozinha, misturando-se com o aroma quente de ovos recém-cozidos e torradas com manteiga. Charlie trabalhava freneticamente, suas mãos se movendo com velocidade prática enquanto despejava massa de panqueca nas chapas espalhadas pelo enorme balcão da ilha. As pilhas de torradas estavam arrumadas em cestos ao lado dela, as salsichas ainda cozinhavam no fogão, e duas grandes tigelas de frutas frescas estavam na beirada do balcão, esperando para serem servidas.
Seus nervos estavam à flor da pele, mas ela se forçava a focar. Já eram quinze minutos passados das sete, e ela sentia o peso do tempo pressionando-a. Não conseguira acompanhar o enorme café da manhã que fora encarregada de preparar, e a pressão era sufocante.
Suor brotava em sua testa enquanto virava as panquecas, seu estômago se contraindo dolorosamente de fome. Mas não havia tempo para pensar em si mesma. A matilha estava esperando, e ela não podia se dar ao luxo de errar novamente.
Justo quando ela alcançava o prato para as panquecas, a porta da cozinha se abriu com um estrondo ensurdecedor. O som a assustou tanto que ela quase deixou cair a espátula que segurava. Ela pulou, seu coração batendo forte no peito, e um gemido suave escapou de seus lábios antes que pudesse contê-lo.
O Alfa Greg entrou na sala como uma tempestade, seus olhos ardendo de fúria. Sua presença encheu a cozinha, sombria e ameaçadora, e Charlie encolheu-se instintivamente, suas costas pressionadas contra o balcão, sem ter para onde ir. A força de sua raiva parecia sugar o ar da sala, e a respiração de Charlie vinha em curtos e rasos suspiros.
"Eu te disse para ter isso pronto às sete em ponto!" A voz do Alfa Greg retumbou, seu tom tão áspero que parecia um golpe físico. Suas palavras estavam carregadas de veneno, e o desprezo em seus olhos a cortava como uma lâmina.
As mãos de Charlie tremiam enquanto ela permanecia ali, incapaz de encontrar sua voz. Ela podia sentir o sangue subindo ao rosto, suas bochechas queimando de vergonha. A matilha sempre a chamara de inútil, e em momentos como aquele, era difícil não acreditar neles.
O Alfa Greg deu um passo ameaçador em sua direção, sua enorme figura lançando uma longa sombra sobre ela. "Você é uma Ômega inútil!" ele rugiu, sua voz ecoando no grande espaço.
Charlie estremeceu quando suas palavras a atingiram como um tapa, mas ela não conseguia nem encontrar forças para responder. Seu corpo inteiro estava tenso, esperando pela punição inevitável.
O Alfa olhou para ela com nojo, o desprezo gravado em suas feições. Ele estendeu a mão e derrubou uma das tigelas de frutas do balcão com um único golpe, espalhando seu conteúdo pela cozinha. Maçãs, frutas vermelhas e uvas se espalharam pelo chão em uma bagunça caótica, rolando sob os balcões e pelos azulejos.
"Pense em como gerenciar melhor seu tempo enquanto estiver de estômago vazio," Greg rosnou. "Talvez da próxima vez você siga as ordens e faça certo."
Os olhos de Charlie se arregalaram de medo quando Greg deu mais um passo em sua direção, sua mão levantada. Ela podia sentir a tensão irradiando dele. Tentou recuar instintivamente, mas não tinha para onde ir. Seu corpo tremia de pavor. Ela sabia o que estava por vir. Os hematomas em seu braço ainda doíam da última vez, um lembrete cruel de quão pouca misericórdia ele lhe mostrava.
Mas antes que Greg pudesse dar outro passo, um rosnado baixo e perigoso ecoou da porta.
Liam estava ali, sua figura alta rígida e tensa, seus olhos brilhando com o inconfundível tom dourado de seu lobo. Seu olhar estava fixo em seu pai, e o poder em sua postura era palpável. Por um breve momento, a sala pareceu congelar, o ar denso com a crescente tensão entre pai e filho.
"Afaste-se," Liam rosnou, sua voz baixa e mortal.
Greg parou no meio do passo, virando a cabeça rapidamente para encarar seu filho. Surpresa brilhou em seus olhos por um breve momento, mas foi rapidamente mascarada pela dureza habitual. Sua boca se contorceu em um sorriso sarcástico enquanto avaliava seu filho.
"O que você disse?" A voz de Greg era gélida, seus olhos se estreitando perigosamente. Seu lobo estava perto da superfície, claro para Charlie ver pela maneira como seu corpo vibrava.
Liam não recuou. Seus olhos dourados permaneceram fixos em seu pai, e havia uma fúria silenciosa fervendo logo abaixo da superfície. Seu lobo também estava perto, muito perto. Charlie podia sentir a energia bruta emanando dele, e deu um passo involuntário para trás, seu coração batendo forte no peito.
"Você me ouviu," Liam disse, sua voz firme apesar do rosnado ainda presente em sua garganta. "Afaste-se."
Os olhos de Greg se estreitaram, um músculo em sua mandíbula se contraindo enquanto estudava seu filho. Por um momento, parecia que ele poderia desafiar Liam. Mas então, tão rapidamente quanto a tensão havia surgido, Greg soltou um suspiro brusco e abaixou a mão.
"Veja como fala," Greg avisou, sua voz carregada de raiva mal contida. "Você pode ser meu filho, mas isso não lhe dá o direito de interferir."
Os olhos de Liam brilharam perigosamente, mas ele não respondeu. Manteve sua posição, seu lobo ainda à flor da pele. Charlie podia ver o esforço que ele fazia para manter seu lobo sob controle, a contenção escrita em suas feições tensas.
Greg o encarou por um longo momento antes de voltar sua atenção para Charlie. Sua expressão se torceu em um sorriso cruel. "Termine essa bagunça rapidamente," ele ordenou. "E lembre-se, nada de comida para você até que tudo esteja perfeito."
Com isso, Greg se virou e saiu da cozinha, mas não antes de lançar um último olhar para Liam. A tensão entre eles era espessa, pesada com o conflito não dito.
Assim que Greg se foi, Liam soltou um longo suspiro trêmulo. Seus ombros relaxaram ligeiramente, mas o fogo em seus olhos não havia se apagado completamente. Ele se virou para Charlie, seu olhar suavizando ao pousar nela.
Charlie ficou congelada no lugar, ainda se recuperando do encontro. Podia sentir suas pernas tremendo, seu corpo inteiro tremendo com uma mistura de medo e exaustão. Ela tinha estado tão perto—tão perto de ser machucada novamente. Mas Liam havia impedido, havia intervindo quando ninguém mais o fazia.
O olhar de Liam se desviou para a bagunça no chão—frutas derramadas, os detritos espalhados do surto do Alfa. Sua mandíbula se contraiu ligeiramente enquanto olhava de volta para ela. Por um momento, parecia que ele queria dizer algo, mas então apenas balançou a cabeça.
"Eu vou lidar com ele," Liam murmurou, mais para si mesmo do que para Charlie. Ele se virou em direção à porta, mas antes de sair, olhou para ela uma última vez. Seus olhos dourados suavizaram por apenas uma fração de segundo, e Charlie sentiu um estranho tremor no peito.
Então, sem mais uma palavra, ele desapareceu no corredor, deixando Charlie sozinha na cozinha mais uma vez.
Ela ficou ali por um momento, ainda abalada, sua mente correndo com tudo o que acabara de acontecer. A sala parecia estranhamente quieta após o caos do surto de Greg, e por um breve segundo, Charlie se permitiu respirar, sentir o alívio que vinha com saber que Liam a havia protegido.
Mas o momento foi fugaz. Ela rapidamente voltou à ação, sabendo que tinha pouco tempo a perder. A matilha estaria esperando pelo café da manhã, e ela não podia se dar ao luxo de cometer outro erro. Com as mãos trêmulas, começou a limpar a bagunça no chão, sua mente ainda presa no olhar nos olhos de Liam—o brilho dourado que tanto a assustava quanto, por uma razão que ela não conseguia explicar, a confortava.
Enquanto terminava de recolher as últimas frutas, o estômago de Charlie roncou alto, lembrando-a da ordem cruel de Greg. Não haveria comida para ela hoje.
