Capítulo quatro: O ponto de ruptura

A visão de Charlie estava turva enquanto ela esfregava o chão de pedra do salão principal, as cerdas da escova cavando no corte em sua mão da noite anterior. Seu estômago estava embrulhado de fome, mas ela se esforçava ao máximo para continuar. Sua cabeça latejava com uma dor incessante e pulsante, e seu corpo estava quente e coçando, como se sua pele estivesse apertada demais, sensível demais. Cada centímetro dela parecia errado, como se algo dentro dela estivesse lutando para se libertar.

A punição do Alpha Greg tinha sido cruel, como sempre era. Sem comida, sem descanso. As horas se arrastavam, cada tarefa exigindo mais esforço do que a anterior enquanto ela lutava contra o cansaço e o desconforto. Ela não tinha comido nada desde a noite anterior, e o esforço começava a aparecer. Suas pernas estavam fracas, sua visão embaçada nas bordas. No entanto, ela sabia que não tinha escolha a não ser continuar. Se parasse por muito tempo, se deixasse fraquejar, alguém notaria—e então a punição só pioraria.

A casa da alcateia estava movimentada, lobos se movendo, preparando a refeição da noite. Charlie era enviada de um cômodo para outro, limpando, esfregando, buscando o que fosse necessário. Parecia interminável, um ciclo implacável de servidão que não deixava espaço para descanso ou alívio. Seu corpo parecia estar sendo lentamente desgastado até não sobrar nada.

Quando chegou aos aposentos dos gêmeos, Charlie parou por um momento, apoiando-se pesadamente no batente da porta. A dor em sua cabeça era esmagadora agora, uma pressão constante que dificultava pensar. Sua boca estava seca, suas mãos tremiam enquanto ela empurrava a porta do quarto de Liam.

No momento em que entrou, foi cercada pelo cheiro deles—uma mistura potente de almíscar e pinho, forte e distintamente masculino. Os cheiros de Luther e Liam estavam entrelaçados, familiares e avassaladores. Lavou-a em ondas, deixando-a tonta.

Mas era o cheiro de Liam que parecia se agarrar a ela mais, envolvendo-a como um cobertor. Seu coração disparou no peito enquanto ela respirava fundo, quase involuntariamente. Seu pulso acelerou, e ela se viu parada no meio do quarto de Liam, suas pernas tremendo com a vontade de desabar na cama dele e enterrar o rosto nos lençóis.

O que havia de errado com ela? Ela apertou os olhos, tentando afastar o estranho impulso primal. Sentia-se corada, envergonhada por sua reação, e forçou-se a se mover, afastando o puxão do cheiro dele. Concentrou-se na tarefa em mãos—trocar os lençóis, afofar os travesseiros e deixar a cama impecável.

Mas quando tirou os lençóis velhos da cama de Liam, suas mãos vacilaram. Ela segurou o tecido nas mãos, seus dedos apertando enquanto o cheiro dele enchia seu nariz novamente. O puxão era tão forte, tão visceral, que exigiu tudo dela para não se jogar na cama dele como um animal enlouquecido. Suas bochechas ardiam de vergonha com o pensamento, e ela rapidamente terminou seu trabalho, dobrando os lençóis sujos e praticamente correndo do quarto antes que seu corpo a traísse ainda mais.

Quando Charlie finalmente desceu as escadas, a cozinha estava fervilhando de atividade. Outros Ômegas se moviam ao seu redor, preparando o jantar para a alcateia. O ar estava cheio do cheiro de carne assada e especiarias, e o barulho de panelas e frigideiras ecoava pela sala. Charlie mal conseguia ficar de pé, seu corpo clamando por descanso, mas ela sabia que tinha que continuar. A alcateia exigia perfeição, e ela não estava em posição de falhar novamente.

Ela trabalhava em silêncio, cortando vegetais, mexendo panelas, fazendo o possível para não atrapalhar. Mas não demorou muito para que o problema a encontrasse.

Leah entrou na cozinha com algumas outras fêmeas solteiras, sua risada cortando o barulho como uma faca. O estômago de Charlie se revirou assim que as viu. Leah sempre era a líder, sempre a que tinha prazer em atormentá-la. As outras garotas a seguiam como cachorrinhos leais, ansiosas para participar da diversão.

"Bem, bem, bem, olha só quem está aqui," Leah zombou, sua voz pingando desdém enquanto caminhava até onde Charlie estava trabalhando. "A escravinha da alcateia, trabalhando duro como sempre."

Charlie manteve a cabeça baixa, suas mãos segurando firmemente a faca que usava para cortar cenouras. Ela não ousou responder, sabendo que qualquer coisa que dissesse só pioraria a situação.

Leah se aproximou, seus lábios se curvando em um sorriso cruel. "Você realmente é nojenta, sabia?" disse, sua voz alta o suficiente para que toda a cozinha ouvisse. "Sinto pena de quem ficar preso com você como companheira. Não consigo imaginar alguém querendo ficar com um graveto como você. Você é patética."

O aperto de Charlie na faca se intensificou, seus nós dos dedos ficando brancos. Seu peito estava apertado, seu coração batendo dolorosamente contra suas costelas. Ela já tinha ouvido esses insultos mil vezes antes, mas hoje... hoje, eles pareciam diferentes. A pressão dentro dela, o calor estranho que vinha crescendo o dia todo, estava chegando a um ponto de ruptura.

Leah continuou, indiferente ao silêncio de Charlie. "E você consegue imaginar ter que olhar para esse rosto todos os dias?" disse, sua voz pingando com falsa piedade. "Deus, eu preferiria morrer a ser companheira de algo tão feio."

As outras garotas riram, e Charlie sentiu seu pulso acelerar, sua visão se estreitar. Ela tentou se manter calma, reprimir a maré crescente de raiva e vergonha que borbulhava dentro dela, mas Leah simplesmente não parava.

"Você nunca vai conseguir um homem tão forte e poderoso quanto meu Luther." O sorriso malicioso de Leah irritava os nervos de Charlie, tornando mais difícil ignorá-la, especialmente ao mencionar Luther. "Ele é uma fera na cama!" Ela zombou. "Quase sinto pena de você nunca conhecer os prazeres de alguém como ele entre essas coxas patéticas suas."

Algo dentro de Charlie de repente se quebrou ao ouvir Leah falar sobre estar na cama de Luther.

Antes que pudesse se conter, antes mesmo de pensar, a mão de Charlie disparou e deu um tapa no rosto de Leah.

A cozinha inteira ficou em silêncio.

Leah cambaleou para trás, sua mão voando para sua bochecha, seus olhos arregalados de choque. Por um momento, as duas apenas se encararam, o som do tapa ainda ecoando no ar.

A respiração de Charlie vinha em arfadas irregulares, seu coração disparado. Ela podia sentir o sangue pulsando em seus ouvidos, sua visão turva. O mundo parecia girar em seu eixo enquanto ela percebia o que acabara de fazer.

O choque de Leah rapidamente se transformou em fúria. Seus lábios se curvaram em um rosnado, e seus olhos brilharam de raiva. "Você... sua pequena—"

Mas Charlie não ouviu o resto. O calor que vinha crescendo dentro dela o dia todo explodiu, e ela se virou, fugindo da cozinha antes que Leah pudesse retaliar. Suas pernas pareciam gelatina, seu corpo tremendo com uma mistura de medo e adrenalina enquanto corria, não parando até chegar ao pequeno armário que servia como seu quarto.

Uma vez lá dentro, ela bateu a porta, pressionando as costas contra ela, seu coração ainda batendo forte no peito. Ela deslizou até o chão, suas mãos tremendo incontrolavelmente.

Ela tinha acabado de dar um tapa em Leah. Ela realmente tinha dado um tapa nela.

E pela primeira vez em muito tempo, Charlie não se sentiu impotente. Ela sentiu algo completamente diferente—algo feroz e selvagem, algo que estava enterrado dentro dela desde que podia se lembrar.

Mas o medo ainda persistia, corroendo as bordas de sua mente. O que aconteceria agora? O que Leah faria? O que o Alpha faria quando descobrisse?

Charlie não tinha as respostas, mas por enquanto, permitiu-se respirar. Ela tinha se defendido, mesmo que por um momento.

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