Capítulo 02

Enquanto ela saía de casa com seu vestido, sua irmã e mãe a viram coberta com a capa e imediatamente perguntaram.

"Cate, cadê o vestido? Por que você cobriu com essa capa velha?" perguntou a mãe de Cateline, que sempre a chamava pelo apelido, curiosa para vê-la usando algo novo.

"Mãe... está um pouco apertado..." disse a jovem timidamente, levantando a capa que quase a envolvia completamente.

Lucinda riu, o que fez os olhos de Cate se arregalarem.

"Não está apertado, sua boba! É o modelo dele. Você precisa mostrar suas habilidades para conseguir um pretendente rápido. Olha a quantidade de busto que está escondida! Com essa guerra, os homens logo vão desaparecer, e você não vai ter nenhum se continuar se escondendo assim, sua boba."

Lucinda era ousada e sempre alegrava a casa com seu jeito.

"Você fez isso de propósito?!" perguntou Cateline, já estressada com a situação. Ela não gostava da ideia de chamar atenção para si.

"Meninas... parem com isso!" Milenna, a mãe das meninas, se aproximou delas com uma cesta de legumes.

"Cateline, você está linda. Seu pai ficaria orgulhoso..." disse ela com os olhos marejados, ainda não superando a perda do marido.

"Quem diria que o tempo passaria tão rápido? Rezo todos os dias para que vocês sejam felizes, e que Deus nos abençoe com Sua graça..." disse Milenna, olhando para cima e pressionando a mão contra o peito.

Todos pareceram desanimados por um momento, pensando na situação do mundo, mas logo aquele silêncio foi quebrado por Lucinda. Ela rapidamente começou a empurrar sua irmã em direção ao carroção, pois não queria perder tempo lamentando.

"Vamos, vamos..." disse Lucinda enquanto empurrava sua irmã.

A mãe das meninas acenou com a cabeça, ficando para trás e se despedindo das meninas.

"Tomem cuidado! E digam à Ellen que mandei um abraço..."

As meninas acenaram de volta e subiram no carroção, puxado por um velho cavalo que pertencia ao pai delas. Mesmo sendo velho, o cavalo era eficiente, o melhor que tinham na fazenda.

"Não acredito que estamos indo para uma festa!" disse Lucinda alegremente, como se nunca tivesse ido a uma festa antes.

"Sempre vamos às festas na vila, Luci!" respondeu Cateline, tentando segurar a capa que quase voava com o vento, pois já estava ficando tarde e o tempo começava a esfriar.

"Mas essa é diferente, não é?" respondeu Lucinda, sem perder o ânimo.

Elas viajaram de carroção por cerca de duas horas até chegarem à vila, que já estava quase escura quando começaram a organizar as mercadorias fora da muralha, perto do grande portão do castelo. Havia várias barracas improvisadas de agricultores, joalheiros, costureiras e trabalhadores em geral, tentando ganhar algum dinheiro vendendo seus produtos aos visitantes que tinham vindo de longe para celebrar o retorno dos filhos de Lorde Sirio.

"Olá, meninas!" uma voz foi ouvida vindo de longe. Quando olharam, viram que era a Dona Ellen, uma senhora que era dona de uma das pousadas da vila.

"Como vai, Dona Ellen? Mamãe manda um abraço." respondeu Lucinda, correndo até ela e dando-lhe um grande abraço.

Cateline fez o mesmo, abraçando-a carinhosamente.

"Vejo que estão todas arrumadas hoje..." comentou Ellen, olhando para as meninas com admiração. "Vocês cresceram tão rápido."

Ela segurou as mãos das meninas enquanto as admirava.

"Por que a capa, Cate?" perguntou a Cateline.

"Está só um pouco frio..." Cateline tentou mentir para evitar explicações, mas sua irmã a interrompeu, falando na frente dela.

"Ela está com vergonha dos seios!" disse Lucinda, explodindo em risadas, e Ellen logo a acompanhou, rindo também. A senhora se aproximou de Cateline para falar mais baixo, percebendo que a jovem estava envergonhada e com medo de que alguém ouvisse.

"Não seja boba, você é linda. Não tenha vergonha de nada. Ah, quase esqueci, vou deixar dois quartos de reserva para vocês na pousada, já que é dia de festa e deve encher logo. Aqui estão as chaves. Eles ficam nos fundos, mas espero que não se importem. Diga à sua mãe que mandei um abraço também."

Ellen deu um tapinha nas costas de Cateline e depois foi embora.

Os quartos nos fundos da pousada davam para a floresta e eram os menos usados porque não havia movimento.

Como a estadia era gratuita, as meninas não se importavam com os quartos velhos e escondidos.

"Você tem que parar de fazer piadas sobre mim!" Cateline disse a Lucinda assim que Ellen voltou para a pousada. Luci fez uma careta em resposta e foi em direção às mercadorias para terminar de arrumar.

As duas organizaram tudo no saguão, junto com os outros vendedores. À medida que escurecia, as pessoas começaram a acender lâmpadas e tochas. De longe, podiam ouvir o som de cavalos galopando, anunciando a chegada dos cavaleiros, generais e dos filhos do Lorde.

Eles estavam tristes e exaustos, com muitos hematomas e rostos cansados. Passaram pelo portão central, onde as meninas e outros comerciantes estavam. Muitos moradores celebravam a vitória com gritos e risadas, mesmo que fosse temporária.

Um dos cavalos puxava algo no carroção, coberto por um pano sujo, e ninguém conseguia ver o que era. Parecia algum tipo de gaiola gigante. No entanto, a empolgação era tanta que as pessoas não prestaram muita atenção.

As meninas estavam perplexas com a quantidade de pessoas chegando e animadas com as vendas. Havia visitantes de todo o reino e até do exterior.

A ausência de crianças entristecia as meninas, que não viam nenhuma na festa, apenas jovens e idosos. As pessoas pareciam não se importar mais, pois a situação estava fora de controle. Muitos se concentravam em viver o momento e seguir em frente.

Assim que todos os cavaleiros entraram pelos portões, um grito ecoou de um dos filhos do Lorde. Os olhos de Lucinda brilharam ao vê-lo.

"Olha! Que lindo, Cate!" ela exclamou para Cateline, que não estava prestando atenção, focada nas vendas.

"Sim, sim! Aqui está seu troco, senhor..." Cateline respondeu seriamente aos compradores, vendendo doces.

"Já vendemos tudo?" perguntou Lucinda, ansiosa para ir à festa. A jovem mantinha os olhos na fila de estrangeiros e comerciantes chegando e entrando no castelo.

"Acabamos de começar a vender, Luci..." Cateline respondeu, ainda com um tom sério. Tudo o que ela queria era vender rápido para poder ir ao seu quarto na pousada e tirar aquele vestido apertado. Ela segurava a capa o tempo todo, envergonhada e com medo de que os outros vissem seu busto.

"Mas o filho do Lorde..." Lucinda começou a fazer beicinho, observando-o de longe.

"Chega!" Cateline olhou para ela como se fosse gritar a qualquer momento, porque não aguentava mais toda aquela agitação.

Os músicos começaram a tocar, pessoas corriam bêbadas pelas ruas, havia brigas e casais se abraçando, uma verdadeira bagunça.

"Podemos pelo menos tomar uma bebida?" perguntou Lucinda, quase implorando, cruzando os dedos.

"Estamos trabalhando, Luci..." Cateline respondeu, mantendo sua postura séria.

"Poderíamos pelo menos beber, já que não podemos entrar..." Lucinda repetiu baixinho, virando as costas para Cateline, que finalmente concordou.

"Certo... só um pouquinho, hein? Ainda temos que vender tudo..." Cateline disse, e Lucinda se virou como se já esperasse essa resposta da irmã. Ela deu um grande abraço em Cateline, sem dizer nada, e correu em direção ao portão, desaparecendo entre todas aquelas pessoas.

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