Capítulo 8

Enquanto Alberta se refrescava, Lawrence estava perdido em sonhos no convés inferior do navio de cruzeiro.

Suas memórias embaralhadas se transformaram em um sonho selvagem até que um toque de azul trouxe tudo à tona.

Havia uma casa flutuando no ar, cheia de todo tipo de engenhocas de metal. As paredes cinza-esbranquiçadas pareciam uma prisão, mantendo uma jovem garota cativa.

A garota parecia ter uns treze ou quatorze anos, com um rosto delicado e bochechas rosadas. Ela estava começando a crescer, e seu vestido abraçava seu corpo, mostrando suas curvas juvenis.

Ela era a única coisa quente naquele espaço frio.

O sonho era tão silencioso quanto um antigo filme preto-e-branco. Lawrence não tinha certeza se já havia visto a garota antes, mas a tristeza do sonho tocava seu coração.

A garota segurava tinta e um pincel, colorindo uma borboleta de metal na parede com um lindo azul cobalto. Aquele único toque de cor mudou todo o sonho em preto-e-branco, fazendo tudo parecer diferente.

A borboleta de metal pintada de azul ganhou vida nas mãos da garota, batendo as asas e voando alto. Lawrence sentiu como se tivesse se tornado aquela borboleta, subindo mais e mais...

Então, um barulho alto despertou Lawrence. Ele sentiu como se tivesse caído de uma grande altura, seu coração batendo descontroladamente.

O barulho vinha de fora. Lawrence limpou o rosto, acalmou a respiração e saiu da caixa de carga vazia onde estava escondido.

Duas pessoas de mantos pretos estavam discutindo, seus rostos vermelhos de raiva enquanto tiravam os capuzes e máscaras.

"Não podemos continuar fazendo isso! O convite nos enganou! Não estamos vingando ninguém; estamos apenas matando pessoas inocentes!"

"Agora não temos escolha! Todos os outros foram levados. Se não cumprirmos, nossas famílias e filhos morrerão! Mal sobrevivemos ao acidente na mina. A Ilha Paraíso é nossa única esperança!"

"Esperança? Não! Se a Ilha Paraíso pode matar e cometer crimes tão impunemente, não pode ser uma utopia..."

"É exatamente por isso que precisamos de vingança!" O homem mais jovem interrompeu seu companheiro mais velho. "Caso contrário, como nós, meros mineiros, poderíamos buscar vingança? James, não se esqueça do desespero de estar preso na mina. Não se esqueça dos nossos amigos mortos." Com isso, ele colocou a máscara e o capuz de volta e saiu.

O homem que ficou, chamado James Murray, parecia exausto. Ele olhou para Lawrence, que estava observando silenciosamente do canto, e deu um sorriso amargo. "Você ouviu tudo?"

Lawrence assentiu.

James parecia ansioso para conversar. "Não está curioso sobre o que está acontecendo?"

Lawrence respondeu friamente, "Não é da minha conta."

Ele era um homem sem passado e com um futuro incerto, indiferente e desinteressado nos outros. Talvez ele fosse assim mesmo antes de perder a memória.

"Tá bom." James não insistiu. "Eu te salvei, mas não espero nada em troca. Não é seguro ficar conosco. Você deve se misturar com os outros jogadores. Se ganhar o jogo, pode voltar à sociedade normal."

Lawrence agradeceu simplesmente. Depois que James saiu, ele tirou a borboleta de metal azul cobalto do bolso e sentou-se quieto, perdido em pensamentos.

'Será que aquela mulher é a do meu sonho?'

Alberta fez Zayne esperar por mais de vinte minutos.

Assim que Zayne estava afastando a quarta pessoa que tentava puxar conversa, a porta atrás dele finalmente se abriu.

Alberta saiu, carregando uma mochila preta e segurando a mão de Roderick.

Zayne olhou de volta para o quarto. "Tem algum valor lá dentro? Precisa de alguém para tomar conta?"

"Não precisa." Alberta trancou a porta e perguntou, "Quem você planeja contratar?"

"Há alguns grupos de jogadores que são ex-soldados ou especialistas em sobrevivência. Eles estão dispostos a aceitar esse tipo de trabalho. Se quisermos contratá-los, precisamos agir rápido. Se demorarmos, os ricos lá de cima vão pegá-los," explicou Zayne.

Alberta riu. "Aqueles ricos trouxeram tantos seguranças. Não é suficiente?"

Zayne lembrou-se da cena quando embarcaram no navio, onde um bilionário estava cercado por quase cem seguranças.

"Eu achei exagerado, mas agora estou com inveja. É bom ser rico." Zayne suspirou e então perguntou casualmente, "Você sabe quem é aquele bilionário? Provavelmente já ouviu falar dele—Lorenzo Palmer, um magnata da mineração com uma fortuna de mais de cem bilhões de dólares!"

Alberta de fato tinha ouvido falar dele. Anos atrás, a Ilha Paraíso tinha listado Lorenzo como um de seus alvos para seduzir.

Pelo que ela sabia, Lorenzo tinha muitas amantes e filhos ilegítimos. Seus vastos bens de mineração já estavam esticados ao máximo.

"Ele faz o que quer," Zayne continuou a refletir. Ele se importava com Lorenzo por causa do chefe da máfia.

Ele estava curioso sobre o "L" naquela nota. Depois de perguntar por aí, soube que o chefe da máfia sempre quis fazer parceria com Lorenzo, mas Lorenzo não tinha interesse. O nome de Lorenzo começava com "L." Será que "L" poderia ser Lorenzo?

"Falando nisso, se Lorenzo não estiver satisfeito com cem seguranças e quiser contratar jogadores para proteção, ele pode contratar você!" Zayne disse animado. "Você foi a primeira a acionar o anúncio de recompensa do jogo!"

"Recompensa? O que eu ganhei?" Alberta não estava interessada na honra. "Se destacar muitas vezes faz de você um alvo. Não é uma coisa boa."

Enquanto caminhavam para o saguão do segundo andar, Alberta notou uma mudança no grande relógio digital na parede. Os números haviam mudado para 2681.

Ela percebeu que Zayne sabia muito e era bom em reunir informações, então perguntou, "O que é isso?"

Zayne sabia. "As pessoas descobriram isso pela primeira vez às sete da manhã. O número começou em 2727 e tem diminuído, parando em 2681. Alguns acham que é o número de jogadores no jogo."

Alberta assentiu em concordância. "Parece provável."

Zayne estava intrigado. "Mas pelo menos três mil pessoas embarcaram no navio!"

Alberta respondeu calmamente, "Mas algumas pessoas não têm convites."

Se apenas aqueles com convites fossem considerados jogadores, o número no painel digital provavelmente representava o total de jogadores.

Isso significava que 46 jogadores haviam morrido no primeiro dia. No entanto, algumas pessoas, como seguranças, empregadas ou aqueles que embarcaram com família ou amigos sem convites, não estavam incluídos na contagem.

Alberta franziu ligeiramente a testa.

Se a Ilha Paraíso quisesse instilar medo, deveria incluir todos no navio. Mais de 46 pessoas provavelmente haviam morrido no primeiro dia. Quanto mais mortes, mais aterrorizante a atmosfera. Mas a Ilha Paraíso havia ignorado aqueles sem convites, então talvez tivesse outro propósito.

Um homem se aproximou, interrompendo os pensamentos de Alberta. "Você é Alberta? Sou o chefe de segurança do Sr. Palmer. O Sr. Palmer quer contratá-la para se juntar a nós."

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