


Capítulo 2: Assuntos familiares
O fim de semana amanheceu claro e brilhante, lançando um brilho quente sobre o charmoso bairro onde os pais de Enora moravam. Ao entrar pela porta da frente da acolhedora casa da família, ela foi recebida pelo aroma reconfortante das refeições caseiras de sua mãe.
"Enora, querida, você chegou bem na hora do almoço.", chamou sua mãe da cozinha. Um sorriso iluminou seu rosto enquanto ela se movimentava, começando a arrumar a mesa com uma variedade de pratos deliciosos.
Enora sorriu em resposta. Ela havia planejado chegar a tempo para o almoço, precisando desesperadamente de uma comida caseira de verdade. Já sentia o estresse da semana se dissipando. Enora tirou os sapatos e foi para a cozinha, envolvida pelo calor de sua casa de infância. Sentou-se em um banquinho e observou sua mãe terminar de cozinhar.
A cozinha era um lugar de conforto e familiaridade para Enora, um santuário onde ela havia passado incontáveis horas quando criança, assistindo sua mãe fazer mágica culinária. Ela se sentava nesse mesmo lugar quase todos os dias enquanto fazia a lição de casa, enquanto sua mãe cozinhava. O som rítmico das panelas e frigideiras, o chiado da comida no fogão, o aroma fragrante de especiarias e ervas. Tudo isso a enchia de uma sensação de nostalgia e contentamento. Também acalmava sua alma um pouco depois da semana confusa que teve. Ali, tudo era como ela conhecia.
"Então, como está o trabalho, querida?", perguntou sua mãe, quebrando o silêncio confortável enquanto mexia uma panela borbulhante no fogão.
Enora suspirou profundamente, lembrando-se do último evento e do estresse que isso causou.
"Está desafiador, para dizer o mínimo.", admitiu, sua voz tingida de exaustão. "O último evento foi um grande sucesso, mas também foi estressante com as demandas dos clientes e prazos intermináveis. Nunca há tempo suficiente para fazer tudo."
Sua mãe assentiu com simpatia, sua expressão cheia de preocupação.
"Eu sei, querida.", disse gentilmente. "Só lembre-se, é importante cuidar de si mesma. Você não pode servir de um copo vazio."
Enora sorriu agradecida. "Você tem razão, mãe. Também me dá uma grande satisfação quando consigo realizar tudo e recebo elogios dos clientes."
Enquanto se sentavam para comer, os pais de Enora trocaram olhares significativos, um entendimento silencioso passando entre eles. Havia uma certa tensão no ar.
"Enora, querida, há algo que precisamos conversar com você.", começou seu pai, sua voz séria enquanto encontrava os olhos dela do outro lado da mesa. "Sua mãe e eu estamos preocupados com você sozinha na cidade."
Enora levantou o olhar da refeição, uma ruga se formando entre suas sobrancelhas enquanto estudava as expressões sombrias de seus pais.
"O que você quer dizer, pai?", perguntou Enora.
"Bem, à luz dos eventos recentes, acreditamos que é importante você estar preparada para se defender.", ele respondeu. "Ouvimos rumores de aumento da atividade criminosa na cidade.", explicou cuidadosamente.
Enora revirou os olhos. Esse era um comportamento típico de sua mãe e seu pai. Eles sempre estavam extremamente preocupados com ela morando sozinha na cidade grande.
"Pai...", Enora começou a dizer, mas sua mãe falou ao mesmo tempo.
"Tenho certeza de que não é nada para se preocupar, querida. Provavelmente são apenas os crimes pequenos habituais que tendem a surgir nas grandes cidades. Mas nunca é demais estar preparada, não é? Simplesmente nos tranquilizaria saber que você pode se defender. Você sabe que não gostamos da ideia de você morar lá sozinha...", disse sua mãe suavemente.
Enora assentiu lentamente, mas já estava esperando o próximo comentário. O tópico sobre o qual eles discordavam há muito tempo.
"Você sabe que achamos que é hora de você encontrar um parceiro.", disse seu pai, seu olhar intenso enquanto encontrava os olhos de Enora.
"Pai...", o tom de Enora era um aviso para ele não ir por esse caminho.
"Querida, sabemos que você quer focar na sua carreira e construir uma vida para si mesma. Sabemos disso, mas um parceiro também pode te dar alguém em quem se apoiar. Alguém para te apoiar nos altos e baixos. Como seu pai e eu.", sua mãe falou suavemente.
Enora se sentia irritada pelo fato de seus pais não parecerem entender que, nos dias de hoje, uma mulher não precisava de um homem ao seu lado para viver uma vida plena. Ela respirou fundo, tentando acalmar a frustração que borbulhava dentro dela.
Ela amava muito seus pais, mas a constante insistência deles para que ela encontrasse um parceiro a irritava profundamente. Sempre foi extremamente independente, determinada a traçar seu próprio caminho na vida, e ressentia-se da implicação de que precisava de um homem para se completar.
"Eu aprecio a preocupação de vocês, mãe, pai, mas realmente não estou interessada em encontrar um namorado agora.", disse Enora firmemente, seu tom não deixando espaço para discussão. "Estou focada na minha carreira, em construir uma vida para mim mesma. Não preciso de um parceiro para me sentir realizada."
Seus pais trocaram um olhar preocupado, suas expressões cheias de preocupação.
"Enora, querida, só queremos o melhor para você.", disse sua mãe gentilmente. "Queremos que você seja feliz, que tenha alguém ao seu lado que te ame e te apoie."
"Eu sei.", respondeu Enora, sua voz suavizando com afeto. "E eu aprecio que vocês cuidem de mim. Mas sou perfeitamente capaz de cuidar de mim mesma. Não preciso de um homem para me fazer feliz."
Seu pai suspirou profundamente, seu olhar buscando o dela por um momento antes de falar.
"Entendemos, Enora. Mas, por favor, pense no que dissemos. O mundo é perigoso lá fora, e nos preocupamos com você sozinha. Na sua idade, já tínhamos você!"
Enora assentiu lentamente, seu coração pesado de culpa. Sabia que seus pais só queriam o melhor para ela, mas não conseguia afastar a sensação de frustração e ressentimento que fervilhava sob a superfície. Odiava a ideia de decepcioná-los, de não corresponder às expectativas deles, mas também sabia que precisava ser fiel a si mesma.
"Vou pensar nisso, pai.", disse Enora finalmente, revirando os olhos e com a voz tingida de relutância.
Seu pai assentiu compreensivamente, um pequeno sorriso surgindo nos cantos de seus lábios.
"É tudo o que pedimos, querida.", disse gentilmente. "Só me prometa que vai ter cuidado lá fora. Prometa que vai cuidar de si mesma."
O coração de Enora apertou ao ver a preocupação nos olhos de seu pai, e ela estendeu a mão para apertar a dele de forma reconfortante.
"Eu prometo, pai.", disse suavemente. "Sempre terei cuidado."
Com isso, a conversa mudou para tópicos mais leves, e o resto da refeição passou em um borrão de risadas e conversas. Enora sentiu uma sensação de calor e contentamento se instalar enquanto se sentava à mesa com seus pais, cercada de amor e aceitação.
À medida que a tarde avançava, Enora se viu perdida nos ritmos familiares de sua casa de infância. Ajudou sua mãe com a louça, a rotina reconfortante de lavar e secar acalmando seus nervos desgastados. Ela vagou pelos cômodos familiares da casa, parando para admirar as fotos de família que adornavam as paredes.
Quando o sol começou a se pôr no horizonte, lançando um brilho dourado sobre o bairro, os pais de Enora a envolveram em um abraço apertado.
"Obrigada por vir, querida.", disse sua mãe, sua voz cheia de amor. "Significa o mundo para nós ter você aqui."
Enora sorriu com lágrimas nos olhos, seu coração transbordando de gratidão.
"Obrigada por me receberem, mãe, pai.", disse suavemente. "Amo vocês dois muito."
Com um último abraço, Enora se despediu de seus pais e voltou para a cidade, seu coração leve e seu espírito elevado pelo amor e apoio de sua família. Enquanto dirigia pelas ruas movimentadas, cercada pelos sons e vistas familiares da cidade, não pôde deixar de sentir uma sensação de paz se instalar sobre ela.
No entanto, prometeu a si mesma que se inscreveria em uma aula de autodefesa para tranquilizar a mente de seus pais. Se nada mais, isso lhe daria a chance de extravasar algumas frustrações do trabalho. Era o mínimo que poderia fazer.