Capítulo 2 — Uma gaiola de seda e dentes
O som de batidas tirou Eira do sono.
Suaves. Depois mais fortes.
Ela piscou à luz da manhã filtrando-se pelas altas janelas arqueadas. Como sempre, seu corpo parecia pesado—entorpecido pelo calor viscoso que se agarrava a seus membros. Todas as manhãs eram iguais. Antes de estar totalmente acordada, Miren pressionava um frasco de cristal contra seus lábios e murmurava que era para sua beleza, para seu brilho, para a sagrada Luna que ela deveria se tornar. Eira engolia obedientemente desde que podia se lembrar, nunca questionando a leve amargura ou a névoa que parecia segui-la. Seus membros pareciam pesados, seus sonhos pegajosos e emaranhados. A imagem do homem na clareira ainda a perseguia, mesmo quando a porta de seu quarto rangeu ao se abrir.
“Lady Eira,” veio a voz familiar de Miren, sua criada, “você deve se levantar. O filho do Alfa está chegando em breve.”
Eira sentou-se lentamente, o lençol caindo de seus ombros nus. Seus músculos doíam de uma tensão que ela não se lembrava de ter. Miren entrou com uma bandeja de chá quente e frutas pálidas, seu olhar cuidadosamente evitando o estado desarrumado de Eira.
“O conselho solicitou sua presença para a procissão do meio-dia,” acrescentou. “Você vai caminhar ao lado de Alder pelos jardins do templo.”
Claro que iria.
Eira deixou Miren vesti-la com camadas de seda e renda, seu cabelo dourado trançado e enfeitado com pérolas. Cada detalhe de sua aparência havia sido cuidadosamente planejado desde o nascimento. Não havia espaço para imperfeições, nenhum lugar para selvageria. Até seu perfume era mascarado sob a suave fragrância de flores silvestres e sálvia.
Quando ela entrou no corredor, os guardas se curvaram. Os servos abaixaram os olhos. Ela não pertencia a si mesma—ela pertencia à imagem que haviam construído dela. Luna. Abençoada. Sagrada.
Ela se movia como uma rainha, embora se sentisse como uma prisioneira.
Os degraus do templo já estavam alinhados com membros da matilha e anciãos. No topo estava Alder.
Dourado. Polido. Perfeito.
Seu sorriso não alcançava os olhos.
“Eira,” ele cumprimentou, oferecendo seu braço.
Ela o aceitou porque tinha que aceitar.
Sua caminhada pelos jardins foi silenciosa no início. As sacerdotisas observavam das sombras das passagens arqueadas, seu julgamento palpável.
“Você tem sido difícil de encontrar ultimamente,” Alder finalmente disse. Seu tom era casual, mas havia um tom de reprovação por trás. “Está tudo bem?”
“Eu gosto da floresta,” Eira disse suavemente.
Ele a olhou por um longo momento. “É perigoso perto das fronteiras.”
Não havia afeto em seu aviso—apenas posse.
Ela não disse nada.
O vento soprou, trazendo o cheiro de pinho e algo mais antigo.
Ela exalou lentamente.
Estava sendo exibida. Preparada. Prometida.
Mas parte dela ainda permanecia nas árvores.
E algo nas árvores começava a despertar nela também.
Mais tarde, quando as formalidades terminaram e o sol começou a se pôr, Eira foi escoltada para um dos pátios internos onde Alder esperava sob um dossel de folhas vermelho-douradas. O espaço estava quieto—demais. O ar entre eles esticava-se tenso.
“Você estava radiante hoje,” ele disse, aproximando-se, passando levemente os dedos pelo braço dela onde outros poderiam ver. “Eles te adoram. Como devem.”
Ela lhe ofereceu um aceno gracioso, embora sua coluna se enrijecesse sob seu toque.
Quando não havia mais ninguém por perto, seu tom mudou.
“Mas você precisa parar de desaparecer,” ele disse, a voz baixa e tensa. “Você não é um filhote errante, Eira. Você é minha. Comporte-se como tal.”
Ele segurou o pulso dela — não com força suficiente para machucar, mas com uma pressão possessiva que fez seu coração acelerar pelos motivos errados.
"Eu não estava—"
"Você estava." Seus olhos vasculharam o rosto dela, procurando por rebeldia. "Não me faça lembrar você a quem pertence."
Então, tão rápido quanto veio, seu toque suavizou. Ele se inclinou, pressionando um beijo em sua têmpora, terno para qualquer olhar curioso.
Para o mundo, ele era o futuro Alfa carinhoso.
A portas fechadas, sua doçura se desfiava nas bordas.
E Eira começou a se perguntar se a gaiola em que era mantida não era feita de seda e pérolas... mas de dentes e garras.
Alder se afastou dela logo depois, oferecendo um último sorriso casto para as sacerdotisas que observavam do colunato. Enquanto ele se virava e caminhava pelo caminho de pedra, o calor se esvaiu de seu rosto como se nunca tivesse estado lá.
Ele não voltou para os aposentos reservados para dignitários visitantes. Em vez disso, pegou uma escada estreita na ala leste da mansão — onde ninguém questionava sua presença.
Quando ele abriu a porta do quarto no final do corredor, ela já estava esperando por ele.
Clara.
A filha do Beta. Jovem, esguia, ansiosa. Ela estava reclinada em sua cama com o corpete já afrouxado, o peito subindo e descendo com antecipação ofegante.
"Você demorou," ela fez beicinho, sentando-se de joelhos.
Alder não respondeu. Ele simplesmente atravessou o quarto, agarrou-a pela nuca e a puxou para um beijo tão intenso que roubou seu fôlego. Ela gemeu, arranhou sua camisa, guiou sua mão por debaixo de suas saias.
Quando ele a empurrou para a cama, ela riu ofegante, arqueando sob ele.
"A princesinha te entediou de novo?"
Ele não respondeu, mas seu aperto se intensificou.
A voz de Clara caiu para um sussurro venenoso.
"Ela parece delicada, mas já vi coelhos com mais fogo. Toda seda e sem espinha."
Alder investiu com mais força.
"Ela nunca será suficiente para você. Nunca será."
Ele não disse nada, porque, no fundo, temia que pudesse ser verdade. Mas isso não o impediu. Ele a virou bruscamente, forçando seu rosto nos travesseiros enquanto a penetrava com um ritmo punitivo. A cama gemeu sob eles, e os gritos de Clara não eram suaves — eram sujos e cruéis.
"Mais forte," ela sibilou. "Faça como se a odiasse."
Ele fez.
Ele grunhiu, as mãos apertando seus quadris com força suficiente para deixar marcas. A risada dela se espalhou pelos lençóis, afiada e venenosa.
"Coitada da Eira," ela zombou entre gemidos. "Tão doce. Tão pura. Tão... entediante. Aposto que ela nem sabe o que fazer com você."
Alder rosnou, investindo mais fundo. Ele queria calá-la, mas também queria ouvi-la. Queria a feiura exposta onde ninguém mais pudesse vê-la.
"Ela se encolhe quando você a toca, não é?" Clara ofegou. "Não é?"
Ele não respondeu.
"Você precisa de alguém real. Alguém que não finge ser feito de vidro."
Ela gritou quando ele gozou, enterrado fundo dentro dela, mandíbula cerrada, rosto contorcido com algo mais próximo do auto-desgosto do que da satisfação.
Quando terminou, ele se levantou, se limpando sem dizer uma palavra.
Clara se espreguiçou, sem vergonha, seu corpo em exibição como um convite aberto.
"Ela não é uma Luna," ela disse com arrogância, observando-o se vestir. "Ela é um cordeiro esperando para ser abatido."
Alder não a corrigiu.
Porque parte dele — uma parte feia, apodrecida — concordava.
