


Prólogo
A fome se contorcia no fundo do estômago dela, enviando uma dor surda que pulsava por todo o abdômen. Kara segurou a barriga enquanto espiava ao redor da esquina da pequena casa sombria. A dor da fome era algo com que ela já estava muito familiarizada, mas que nunca deixava de ser dolorosa.
Ela mordeu o lábio inferior em concentração enquanto ouvia se alguém se aproximava, sabendo muito bem que, se alguém a pegasse, haveria um inferno para pagar. Não que ela se importasse, já que sua vida há muito tempo havia se transformado em um inferno de qualquer maneira, ela poderia muito bem conseguir um sanduíche com isso.
Nervosa, ela olhou para trás, para a floresta escura atrás dela, seus cabelos negros e indomáveis chicoteando ao vento enquanto fazia isso. O vento uivava ao seu redor, dificultando ainda mais ouvir qualquer coisa dentro da pequena casa.
Experiências amargas do passado a haviam ensinado que correr cegamente para qualquer situação era uma receita para a polícia e a prisão, e com apenas vinte e três anos de idade, isso realmente era a última coisa que ela queria.
Sua boca arredondada se projetou em um beicinho pensativo enquanto ela franzia a testa, examinando a área. Ela tinha acabado de sair correndo da floresta, escapando novamente, quando avistou essa casa.
Ela realmente não tinha visto ao redor e não ficaria surpresa ao andar até a frente e encontrar um rancho inteiro com cavalos e tudo mais. Isso não seria tão ruim, seria? Isso significaria que os proprietários estariam ocupados demais para notá-la se ela entrasse sorrateiramente, não seria?
Antes que Kara pudesse considerar a genialidade de sua própria lógica, seu estômago roncou monstruosamente em seu estado mal-humorado e Kara decidiu que era hora de se mover.
Segurando sua mochila quase vazia, ela correu ao redor da casa, silenciosa em seus pés calçados. Ela chegou à frente e parou. Havia uma vasta extensão de terra verde e, a cerca de vinte e cinco pés de onde ela havia parado, estava uma casa extremamente grande. Bem, era grande do ponto de vista dela, de qualquer maneira. Seus lábios se abriram junto com seus olhos arregalados enquanto ela olhava para a parte de trás daquela bela casa grande.
"Filhos de solteirões devem estar carregados de dinheiro..." ela ofegou. Logo, no entanto, ela se lembrou do que estava fazendo ali. Ela ainda tinha que passar pela casa menor nos fundos e, com sorte, encontrar alguma comida para levar com ela. Mas...
Seu olhar incerto voltou para a mansão na frente da grande propriedade. Esta era definitivamente a casa de algum ricaço, ela pensou. Se ela fosse pega, o velho enrugado provavelmente não hesitaria em chamar todos os policiais da França para ela. Kara fez uma careta para a casa.
Tudo o que ela queria era um sanduíche, com certeza... com certeza ele poderia ter misericórdia?
Decidindo correr o risco, ela avançou para a frente da casa menor, parecida com um chalé. Tinha uma grande porta de madeira que parecia meio comida por formigas ou algum outro tipo de praga.
"Deve ser fácil..." murmurou para si mesma enquanto apoiava as mãos na porta. Tendo originalmente a intenção de empurrá-la silenciosamente, Kara gritou quando o velho pedaço de madeira se desfez em suas mãos, o resto caindo ruidosamente no chão. "Droga!" sussurrou enquanto seu coração disparava como um cavalo assustado.
Ela precisava se mover. Aquela coisa podre caiu bem alto e o velho rico que possuía a propriedade provavelmente estava a caminho, espingarda em mãos.
Kara apressou-se para dentro da pequena casa escura. Parecia abandonada por trás, só Deus sabia o que ela realmente encontraria ali dentro. Apesar da condição da porta, o interior estava bastante limpo. Ela passou correndo por um cômodo vazio, provavelmente o que deveria ser algum tipo de sala de estar. O espaço era bastante grande. Ela e outras seis garotas poderiam facilmente dormir confortavelmente ali. Sem parar para ponderar sobre arranjos de vida inexistentes, Kara correu para a pequena cozinha.
Havia algumas cadeiras de madeira e uma mesa em um canto. Ela olhou para elas, lembrando-se de sua infância e das horas que passava em uma mesa muito semelhante. Desenhando, pintando... chorando. Ela suspirou.
Agora não é hora, querida.
Dando a si mesma um sacolejo mental, Kara seguiu em frente. Tudo ali estava coberto de poeira, mas ela mal se importava. Se pudesse encontrar algo comestível, qualquer coisa, e antes da data de validade, ela ficaria grata. Ela colocou sua mochila na pequena mesa da cozinha empoeirada e correu para os armários marrons. Ela abriu as portas dos armários, seus olhos procurando avidamente.
Nada.
"O quê?" ela ofegou incrédula. "Nada? Você não... você não pode estar falando sério..."
Kara procurou mais intensamente, abrindo cada porta de armário. Apenas para encontrar nada além de teias de aranha. A fome queimava em seu estômago.
Deus, ela precisava sair dali antes que alguém viesse investigar o barulho da porta caindo. Com um gemido frustrado, ela pegou sua mochila da mesa da cozinha, fechando o zíper enquanto se virava para sair correndo.
A próxima coisa que Kara soube foi uma colisão dolorosa com o que parecia ser a Grande Muralha da China. Seu corpo esguio foi jogado para trás até ela cair de bunda no chão, vestida de jeans. Ela olhou para cima com um olhar furioso, apenas para seu olhar congelar na visão à sua frente.
Não, isso não era um velho enrugado e malvado com uma espingarda. Era uma fantasia de homem de olhos cinzentos e expressão pétrea.
Com uma espingarda.