O Amaldiçoado

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O dragão

O Vale dos Rouxinóis, um pedaço de paraíso na Terra, com vegetação exuberante, montanhas majestosas, lagos serenos e uma comunidade unida onde todos se conheciam como uma família. Crystal, adorada pelos moradores, tinha uma conexão natural com os animais, como se pudesse se comunicar com eles em uma linguagem secreta.

Nesse lugar idílico, Crystal embarcou em uma aventura emocionante com um grupo de crianças, transformando uma simples carona de caminhão em uma escapada eletrizante pelo campo. Risadas enchiam o ar enquanto se agarravam às laterais do caminhão, o vento soprando em seus cabelos e o sol se pondo atrás deles em um espetáculo de laranja e rosa.

O respeito era mútuo, de Crystal para os moradores e dos moradores para Crystal, enquanto ela preenchia o vazio deixado em seu coração pelos pais através do amor dos habitantes do vilarejo.

Crystal entrou pela porta da frente e chamou: "Cheguei!" Mas assim que entrou, uma sensação familiar e assustadora tomou conta dela, como um pesado manto de escuridão sufocando o espaço.

Apesar das janelas, portas e cortinas serem como as de qualquer outra casa, havia algo inquietante na falta de luz solar dentro da casa. Sempre fora assim e, sempre que Crystal tentava expressar suas preocupações aos pais, eles descartavam suas palavras como se não tivessem importância.

Crystal há muito suspeitava que seus pais eram diferentes de todos os outros na cidade. Eles nunca pareciam mostrar emoções, e seus rostos permaneciam congelados em uma expressão séria, quase de pedra. Estar perto deles drenava sua energia e a deixava com uma sensação de peso emocional.

Determinada a encontrar felicidade fora de seu lar sombrio, Crystal se concentrou em espalhar positividade para os outros e fazê-los felizes. Ela sabia que colocar um sorriso falso era hipócrita, mas ainda assim parecia melhor do que se submeter à miséria regular de sua vida em casa.

"Bom, os trabalhadores vão pegar mais tarde. Vai se arrumar para o jantar?" Crystal suspirou e balançou a cabeça em desânimo com a voz monótona de sua mãe. Ela quase podia sentir o peso das palavras de sua mãe a arrastando para baixo. Era como se sua mãe fosse mais um robô do que um ser humano. Ela não tinha emoções, empatia ou compreensão dos sentimentos da filha.

"Não estou com vontade de jantar, então vou direto para a cama," disse Crystal, esperando que sua mãe pelo menos mostrasse alguma preocupação com sua súbita mudança de apetite. Mas, como de costume, sua mãe era indiferente às emoções da filha. Um sorriso miserável se formou em seus lábios ao perceber que não deveria ter esperado nada diferente.

"Crystal!" Um calafrio repentino percorreu sua espinha quando uma voz sussurrou seu nome. Ela se virou rapidamente, procurando a fonte do som, mas não havia nada - nenhuma alma viva ao seu lado na sala de estar.

Não era a primeira vez que ela ouvia algo do nada, mas era a primeira vez que alguém chamava seu nome tão claramente e alto, como se estivesse bem atrás dela.

"Crystal," ela gritou, virando-se horrorizada para encontrar seu pai parado ali com seu rosto usual de pedra, olhando para ela com a sobrancelha esquerda levantada, como se ela estivesse fazendo algo suspeito.

"Eu-- Eu--" Crystal queria contar a ele o que acabara de acontecer, mas sabia como ele reagiria. Ela havia aprendido ao longo dos anos o que dizer e o que guardar para si mesma, e decidiu simplesmente calar-se sobre isso.

"Eu só estava verificando se tranquei a porta," disse, dando um sorriso forçado ao pai e rapidamente correu para a escada para ir ao seu quarto.

Seu pai olhou para a figura dela se afastando com uma expressão de conhecimento, como se sentisse que algo estava errado. Ele se virou para olhar na direção que Crystal estava olhando antes, como se ele também tivesse captado um vislumbre dos sussurros extraordinários que espreitavam dentro das paredes de sua casa aparentemente comum.

...

Ofegante, os olhos de Crystal se abriram. Um suspiro estrangulado escapou de seus lábios enquanto ela passava freneticamente os dedos pelo cabelo despenteado, tentando estabilizar a respiração. A última coisa que se lembrava era de uma sensação sufocante, como se alguém estivesse a estrangulando com um aperto de ferro. Mas agora, ao olhar ao redor, tudo o que podia ver eram as árvores imponentes de uma selva densa e as estrelas cintilantes acima. Ela também sentiu a frieza de um objeto metálico em sua cabeça através dos dedos, mas não se importou com isso no momento.

O céu noturno estava deslumbrantemente bonito, mas havia algo melancólico nele que fazia arrepios percorrerem a espinha de Crystal. As estrelas brilhavam como diamantes contra a escuridão profunda, lançando um brilho surreal sobre a folhagem ao redor. Crystal nunca tinha visto nada parecido antes, e ainda assim havia uma sensação de desolação que parecia pairar sobre toda a paisagem.

Enquanto tentava entender seu entorno, Crystal notou algo estranho em sua vestimenta. Ela estava vestida com um deslumbrante vestido feito de tecido cintilante, com um decote em forma de coração, um cinto apertado e uma saia de seda esvoaçante que se arrastava atrás dela. Uma delicada capa translúcida pendia de seus ombros até o chão, tremulando na brisa fresca. Todo o conjunto era em tons de marrom profundo, como se ela estivesse envolta em um pôr do sol.

O coração de Crystal batia descontroladamente enquanto ela olhava para os brilhos que saíam de seu vestido ou, quem sabe, dela mesma?

"Onde estou?" ela sussurrou, sua voz mal audível na floresta silenciosa. A vasta extensão de árvores se estendia diante dela, um mar aparentemente interminável de verde que obscurecia qualquer indício de civilização.

A única resposta à sua pergunta era o som do vento para lhe fazer companhia. Apesar de sentir o frio, ela ficou surpresa ao perceber que não estava tremendo nem um pouco, o que só aumentava sua suspeita de que ainda estava presa em um sonho. No entanto, o medo que a dominava e os detalhes vívidos de seu entorno pareciam reais demais para serem apenas fruto de sua imaginação.

Com um engolir seco, ela examinou seus arredores, na esperança de encontrar uma pista sobre onde estava. Mas em vão, não havia nada em sua visão além da densa vegetação noturna que a envolvia em um manto de escuridão, deixando-a apenas com uma sensação de desorientação.

Ela só queria saber o que seu sonho significava, pois sabia que seu subconsciente nunca conjurava nada sem um propósito, e suspeitava que tinha algo a ver com sua origem, o que a deixava assustada ou talvez animada.

Enquanto estava perdida em pensamentos, o chão sob seus pés tremeu, fazendo-a cambalear. Um grito de gelar o sangue, tão alto que poderia acordar os mortos, perfurou o ar, tirando-a de seu devaneio e abalando Crystal até o âmago.

"O que foi isso?" ela perguntou a si mesma, quase hiperventilando. Seu coração batia acelerado de terror enquanto ela girava, apenas para ver uma nuvem de fumaça roxa neon subindo da floresta atrás dela. Um pequeno suspiro escapou de seus lábios, e seu pulso acelerou.

Ela percebeu, com um crescente senso de pavor, que estava andando sem nem tentar, em direção à fonte da fumaça, e muito provavelmente de onde o grito ensurdecedor havia se originado. O medo que estava fervendo sob a superfície explodiu em um pânico total, embora ela soubesse, no fundo, que tudo não passava de um sonho.

Passando por um arbusto largo e enorme, Crystal tropeçou na bainha de sua capa e caiu de joelhos, salvando-se de cair de cara no chão ao colocar as mãos no solo. Ela amaldiçoou sua maldita roupa em voz baixa. Por que seu subconsciente insistia em vesti-la como uma rainha medieval, completa com um vestido longo e impraticável? Não fazia sentido, especialmente no meio de uma floresta densa e crescida.

Mas antes que pudesse ponderar mais sobre isso, sua atenção foi atraída por algo muito mais intrigante; alguém tão estranhamente familiar aos seus olhos. Suas asas eram enormes, seu bico afiado como uma navalha, garras fortes, olhos como os de uma serpente, e pupilas afiadas como uma faca bem amolada. Um olhar para a criatura, e ela podia dizer que continha uma glória antiga.

Se tal esqueleto fosse descoberto hoje, as pessoas o chamariam de basilisco, um dragão de duas pernas com cabeça de galo e asas presas aos membros superiores como as de um morcego. E ainda assim, era mais majestoso e inspirador do que ela jamais tinha visto em um livro.

A criatura estava na beira de uma longa e estreita fissura no chão, de onde a fumaça roxa neon saía como um farol.

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