Sabedoria e paz
Crystal estava parada ao lado da janela de onde podia ver a vasta floresta que cercava a vila, e sua mente continuava a vagar em torno da palavra daquele feegestas Custos.
Seria mentira se dissesse que não ficou chocada ao descobrir a realidade, já que sempre foi muito óbvio para ela. Ela não era uma criança humana normal, e seus pais eram quase sempre apáticos e sem emoção. Acontece que eles nem eram seres reais; a humanidade não deveria estar neles desde o início. Mas isso não significava que doía menos do que doeria para qualquer outra pessoa.
Se ela decidisse continuar como Crystal Smith, a garota não tão humana, mas entre humanos, seus pais falsos desapareceriam, e ela continuaria vivendo entre humanos como se nada tivesse acontecido, o que parecia a condição mais ideal para sua situação.
Mas havia muito em jogo, muito que precisava ser descoberto e que ela nunca seria capaz de descobrir. Ela não saberia sobre sua origem, seus verdadeiros pais, e quem plantou aqueles ícones para protegê-la na Terra. Havia muito a ser desvendado, e sua mente estava confusa com todas as novas informações e estresse.
...
O coração de Crystal batia forte enquanto ela olhava para seus pais, ou pelo menos para os ícones que sempre se passaram por seus pais. O silêncio na sala de estar era sufocante, e ela lutava para controlar a respiração.
"Quero perguntar uma coisa--" A voz de Crystal vacilou enquanto falava, seus olhos saltando do rosto estoico de seu pai para a expressão vazia de sua mãe. Ela sempre suspeitou que havia algo errado com seus pais, mas nunca imaginou que eles fossem algo além de humanos. "Vocês sabem o que é um feegestas?"
Seus pais trocaram um olhar, suas expressões inescrutáveis. Crystal podia sentir seu estômago revirando de ansiedade. Ela estava louca? Tudo isso estava em sua cabeça? Era uma verdade difícil de engolir para a qual ela sempre esteve preparada, mas ainda assim doía demais. Ela abaixou a cabeça, sem querer olhar para aqueles rostos que foram seus pais por toda a sua vida.
"Você recebeu sua carta de aceitação da academia?" perguntou o Sr. Smith. Crystal assentiu com a cabeça, ainda olhando para o colo.
"Estávamos esperando que isso acontecesse. Agora você descobrirá tudo o que tem perguntado todo esse tempo," disse a Sra. Smith. Crystal não conseguiu conter as lágrimas, chorando em desespero. O silêncio nunca pareceu tão cortante para ela como naquele momento.
A mente de Crystal estava cheia de perguntas, e ela não conseguiu mais segurar suas emoções. "Por que vocês fizeram isso?" ela perguntou, com a voz trêmula. "Por que fingiram ser meus pais quando sabiam que um dia me deixariam assim? Eu nunca reclamei, mesmo que vocês fossem sempre tão estoicos, mesmo que não pudessem me amar. Nunca exigi nada diferente. Mas mesmo depois de toda a tortura que passei, crescendo pensando que meus pais deviam ter passado por algo, e mesmo que não fossem meus pais de verdade, tudo bem, pelo menos eles me queriam. Pelo menos eles me escolheram para estar com eles. Mas até essa esperança se foi agora. Eu não posso nem esperar que as coisas mudem um dia porque vocês dois vão simplesmente desaparecer no ar."
Crystal finalmente levantou o olhar, lançando um olhar vermelho e penetrante para os ícones. Como esperado, não havia nenhuma emoção em seus rostos, o que só reforçava ainda mais sua convicção na verdade.
"Não tenho nada a dizer sobre suas dores," disse o Sr. Smith gravemente. "Talvez não entendamos como você está se sentindo agora, mas há uma coisa que seus pais queriam transmitir a você quando descobrisse a verdade." Ele se levantou da cadeira e caminhou até Crystal, seguido pela Sra. Smith. Ambos a envolveram em um abraço apertado, oferecendo um conforto que ela nunca conhecera.
Um abraço de seus pais era algo que ela sempre desejou, e ela não podia acreditar no que estava acontecendo. Sem mencionar a revelação de que eram realmente seus verdadeiros pais que haviam plantado esses ícones na Terra para protegê-la; isso devia ser o motivo pelo qual esses ícones tinham uma mensagem para transmitir a ela.
"Minha querida, mesmo que a mamãe não esteja ao seu lado, saiba que você é a coisa mais preciosa que me aconteceu," disse a Sra. Smith, com a voz carregada de emoção. "Não fisicamente, mas eu sempre estarei lá para você, protegendo-a do mal. Você só terá que olhar para dentro."
Crystal sentiu um nó na garganta. As palavras de sua mãe eram ao mesmo tempo reconfortantes e confusas. O que ela queria dizer com 'olhar para dentro'? E de que mal ela precisava ser protegida?
"Desculpe, meu amor, por não ter podido passar tanto tempo com você quanto você merecia, devido às minhas obrigações, mas eu não a amei menos por isso," disse o Sr. Smith, com a voz baixa e rouca. "Os tempos são muito difíceis, e não posso deixar de ser breve. Apenas saiba que, uma vez que você chegar à academia, deve esconder seus poderes de todos. Você eventualmente encontrará um velho companheiro e logo recuperará todas as suas memórias. Apenas saiba que tudo o que fizemos foi para o seu bem. Você deve ser forte e tomar as decisões certas daqui para frente. Acreditamos em você e te amamos."
Crystal agora chorava mais alto do que nunca enquanto absorvia cada palavra de seus pais. A Sra. Smith esfregava suas costas, consolando-a pela primeira vez como se a mãe de Crystal tivesse de repente tomado conta dela, transferindo suas emoções. Era verdade até certo ponto.
"Você deve seguir as palavras de seu pai," os ícones falaram de repente, suas vozes solenes e profundas. "Ele foi um grande homem, e ninguém poderia alcançar seu nível de conhecimento. Você deve esconder seu verdadeiro eu e tudo o que sabe sobre seus poderes de cada ser naquele lugar para onde está indo. Só nos é permitido dizer certas coisas e nada mais do que isso, mas você deve seguir o caminho que seu pai escolheu: o caminho da sabedoria e da paz."
As perguntas de Crystal ainda estavam sem resposta. Depois de passar a mensagem para ela, os ícones voltaram a ser seus verdadeiros eus com seus rostos estoicos. A única coisa que ela podia deduzir de todas as informações atuais era que a criatura e seu pai estavam aconselhando a mesma coisa, mas a razão por trás disso ainda era desconhecida.

















































































