NEGOCIAÇÕES

"Opa, agora é papo de negociação?" Ele agiu com calma, mas Lita podia perceber que ele ficou mais atento. O ginásio claramente precisava do dinheiro para trabalhar na parte exterior, ela presumiu. Este era o ponto de pressão para o qual ela já tinha planejado. Seus pais achavam que ela ia escolher uma academia chique de qualquer jeito, eles nem pestanejariam com o preço, seja qual fosse.

"Quero me juntar ao ginásio - o clube de luta - e estou disposta a pagar por isso. Dinheiro não é um problema."

Lita realmente odiava jogar a carta do dinheiro. Não era como se ela fosse uma patricinha que só liga pra compras e Instagram. E ela não era esnobe como seus pais. Mas o dinheiro tinha seus usos. Inevitavelmente abria muitas portas que de outra forma teriam permanecido fechadas para ela. Especialmente quando os homens não a levavam a sério e isso acontecia mais vezes do que ela podia contar. Muitas vezes ela tinha que encontrar maneiras fora de seu temperamento para conseguir as coisas feitas.

"Não negocio com terroristas, senhora," ele sorriu como se tivesse pego um peixe no anzol. Ele não percebeu que ele era o peixe.

"Não fiz nada. Tudo o que fiz foi colocar os pés no ginásio e já sou uma terrorista?"

"Você entrou aqui e bagunçou metade dos treinos -" ele acenou com a cabeça para o ginásio maior e Lita viu que a maioria dos homens estava assistindo. Alguns riam, alguns cutucavam o outro. Mas não importava o que estivessem fazendo, estava claro que todos tinham parado de trabalhar.

"A falta de foco dos caras não é problema meu," Lita soltou, com firmeza, "Pagarei o dobro da taxa anual de associação antecipadamente se me permitir treinar aqui. Vamos lá, todo ginásio tem aulas para iniciantes. Ou pelo menos treinamento pessoal?"

"Aqui não rola," ele deu de ombros, "Esse lugar não é pra iniciantes e este não é o lugar para uma garota sem noção com tanta músculo quanto um chihuahua."

Aquilo doeu, e Lita não reprimiu o sobressalto. Ele viu a reação e suavizou um pouco, "Ó, posso indicar outra academia se você quiser." Ele se virou em direção ao balcão fora da área do escritório e Lita o seguiu.

"Não, tenho que treinar aqui."

Ele se virou, seu rosto franzido como se ela tivesse dito algo suspeito, "Por quê? Por que está disposta a pagar tanto? Por que realmente quer treinar aqui?"

"Eu só... costumava seguir as notícias nas redes sociais sobre seu famoso lutador, James Dillard. Ele treinava aqui, certo?" Lita teve que pensar rápido, e não era muito boa nisso. Assim que ele aplicou um pouco de pressão à sua razão, ela foi e disse o último nome que queria que alguém soubesse. James era a razão dela estar ali, mas não da maneira que pensavam.

"Então... foi assim que conseguiu o endereço? Você é uma daquelas?"

"Uma daquelas o quê?" seu estômago se contraiu. Será que ele de alguma forma sabia a verdade? Será que seu plano iria desmoronar antes mesmo de se concretizar?

"Uma daquelas fãs doidas, querendo se ligar a um lutador que morreu?" ele cuspiu as palavras como se o enojasse. Isso fazia dois deles. "Ou... você é algo mais?" ele acusou. "Algum tipo de ring bunny?"

O que era um ring bunny? Ela se perguntou a quem poderia perguntar sobre isso. Ela tinha certeza, pela expressão dele, que não seria a ele.

"Você parece mais uma fã louca do que qualquer outra coisa, e eu não gosto de loucura. Mesmo que seja rica," seu rosto ficou sério, seu tom de desprezo chocou Lita. Aparentemente, ele não aprovava o que quer que pensasse dela. Mas a suspeita desapareceu de seus olhos assim que a rotulou, "Triplo da taxa anual. Cara, pensei que seu tipo tivesse seguido em frente para a próxima melhor coisa alguns meses atrás." Seu tom disse a ela que ele ressentia a ideia. Ela também ressentia. Não havia como seguir em frente de James como se ele nunca tivesse existido.

Lita soltou um suspiro fundo e vacilante. Ela estremeceu ao pensar em James. Dizer o nome de seu irmão em voz alta quase a fez chorar. Ela mal acreditava que já tinha passado quase um ano desde a última vez que o viu. Ela acariciou levemente a tatuagem como uma reação automática. Ela não se importava com o que esse cabeça de ginásio a chamava. Ou o que ele pensava sobre ela. Ela tinha que fazer isso. O tempo estava se esgotando.

"Triplo está bom," Lita deu de ombros, "Então, qual é a decisão, temos um acordo?"

Lita tinha certeza de que o Cabeça de Ginásio estava prestes a concordar quando, de repente, mais dois homens gigantes vieram caminhando de trás. Sua conversa animada morreu assim que um deles viu Lita. Aquele homem se virou para encará-la e imediatamente pareceu que ele ofuscava tudo. Ela esqueceu do ginásio, da razão de estar ali. Lita até esqueceu da conversa irritante que acabara de ter com o Cabeça de Ginásio enquanto desviava o olhar para os olhos escuros e penetrantes desse novo homem.

O homem a observou dos pés à cabeça e seus olhos se endureceram, as narinas se contraindo com raiva. Era evidente que ele não gostava dela, embora, por mais que tentasse, Lita não conseguia dizer por quê. Ela deu uma olhada rápida em si mesma e não encontrou nada. Sim, ela parecia um lixo, mas nada sobre ela deveria ser ofensivo.

O homem era alto, mais alto que o Cabeça de Ginásio por mais meio pé. Ela podia ver o volume e definição de seu corpo - cada parte construída para lutar - mesmo em uma camisa de manga comprida e jeans. Ela fez uma nota mental para compará-lo com a foto também.

Seu cabelo estava um pouco bagunçado, mas seu rosto estava barbeado e fresco. Sem linhas duras ou olheiras como Lita. Este homem era toda beleza rústica. Lita viu seu rosto se contrair enquanto ele a encarava, esfregando o lado da mandíbula em uma expressão de confusão. Ele fez suas palmas suarem com um calor desconhecido. Isso não era bom. Ela não podia deixar ele quebrar sua concentração ou interromper o quanto havia avançado nas negociações.

"Temos um acordo?" ela perguntou, sua voz mais trêmula do que gostaria. Ela se virou para o Cabeça de Ginásio e esperou. Lita começou a ficar mais ansiosa. Não podia perder o foco. Nem por um segundo. O Cabeça de Ginásio se virou para trocar um olhar silencioso com o outro homem. Sua expressão parecia endurecer também.

"Que parte de que isso não é um ginásio, é um clube de luta, você não entende? Você não é uma lutadora. E não aceitamos iniciantes. Então, você tem que ir embora." O Cabeça de Ginásio resmungou enquanto voltava sua atenção para ela, tentando voltar ao ponto original: Lita não era uma deles e não era bem-vinda.

"Então eu vou aprender sozinha! Tudo que preciso é de um lugar para fazer isso." Lita estava determinada a levar isso adiante. Ela não tinha certeza sobre a ideia absurda quando estava no estacionamento e havia uma pequena parte mesquinha dela que queria desistir. Mas agora que estava dentro, ela sabia que vir aqui foi a decisão certa. Algo sobre o lugar a acalmava, a atraía e a fazia querer ficar por perto.

Ela olhou de relance para a ameaça atrás do Cabeça de Ginásio. Não, ele definitivamente não a fazia se sentir calma. Na verdade, ele fazia o calor crescer na base de sua espinha. Definitivamente não calma, mas ele era apenas um homem. Não seria difícil evitá-lo. No entanto, estar cercada por esses outros homens musculosos ajudava suas emoções. Ela se sentia mais segura do que em muito tempo. Como aquela presença familiar de James em sua vida mais uma vez.

"Você vai aprender o quê, exatamente? Porque com certeza não podemos estar falando de luta. Você pesa quanto? 90... 100 libras molhada? Não vai acontecer, querida," ele balançou a cabeça. Outro maldito apelido. Lita não pôde deixar de dar outra olhada para o homem na porta. Isso era culpa dele. Seus olhos eram como faróis, eles continuavam a puxá-la e agora ele parecia estar enojado com sua mera presença. Se ele lhe custasse essa oportunidade, o sentimento seria mútuo.

"Não há outras ring bunnies aqui? Não poderia treinar com elas?" Lita fingiu um tom desesperado. Se o Cabeça de Ginásio acreditasse que ela era como aquelas mulheres, quem quer que fossem, talvez ele cedesse. Não importava qual era a verdade. Um momento passou, e ela jurou ter ouvido um ronco de animal. Ela olhou ao redor procurando por um cachorro em qualquer lugar, mas não encontrou. Ela voltou sua atenção para o Cabeça de Ginásio, observando-o ponderar por um minuto, virando levemente a cabeça em direção ao homem atrás dele.

"O que acha, Alpha?" Cabeça de Ginásio perguntou, surpreendendo Lita completamente. Ele era o dono? De repente, seu corpo parecia muito quente, muito tenso. Ela arregaçou as mangas apenas para ter um pouco de ar na pele corada. Lita não estava certa se sua aposta daria certo. Era como se os dois homens estivessem se comunicando um com o outro, mas nenhum deles falava. Os olhos de Alpha desceram para seus antebraços e congelaram. Ela seguiu seu olhar e praguejou baixinho, puxando suas mangas de volta para baixo. Ela tentou disfarçar com um sorriso desajeitado, mas ele já tinha visto os hematomas do tamanho de impressões digitais.

Era evidente na forma como ele continuava a encará-los, como se pudesse ver através de sua blusa. Como ela poderia esquecer por que usava essa roupa? Lita queria fugir, dizer que esquece a ideia toda e correr. Ela já tinha cometido um punhado de erros graves em apenas alguns minutos. Como ela duraria o semestre escolar sem se meter em uma confusão ainda maior?

"Cinco vezes a mensalidade, adiantado. Não arrume confusão e não faça cena. Não pergunte a ninguém aqui sobre James. E sim... podemos ter um maldito acordo," Cabeça de Ginásio disse bruscamente, interrompendo seus pensamentos.

"Concordo." Ela não precisava pensar sobre isso. Já havia escolhido esse caminho antes de sair de seu apartamento.

"Certo. Vá para os tatames. Vamos ver com o que estamos lidando."

"O quê?" ela recuou, assumindo que tinha entendido errado. Mas o fato de que nenhum dos homens piscou uma segunda vez disse a ela que Cabeça de Ginásio tinha dito cada palavra.