O passado e a floresta

"Corra... Se esconda... Fique longe... das pessoas." O homem sussurrou, com sangue jorrando de sua boca. Evelyn soluçava, colocando a cabeça do pai em seu colo.

"N-Não... Eu não quero te deixar... Você é o único que eu tenho." Ela desabou, abraçando o homem com força.

"N-Não, Eve... Você tem que ir... você não está segura aqui... Apenas vá... Eu não vou sobreviver..." Ele tossiu, tentando não se engasgar com o líquido vermelho.

"N-Não diga isso! Você pode... Eu sei que você pode sobreviver... Deve haver algum jeito... Por favor, fique comigo... Eu não quero ficar sozinha... Estou com medo, papai." A garotinha de dez anos estava apavorada, pensando em um futuro sem seu pai.

"Você não vai ficar sozinha, Eve... Quando chegar a hora certa... você encontrará seu companheiro... Eles vão te amar e te proteger de todo o perigo... até lá você tem que se esconder, tá bom?" Ele apertou a pequena mão dela. "Prometa-me,"

"Mas-"

"N-Não, prometa-me... para que eu possa morrer em paz." Ele se esforçou com o último pedaço de energia. Evelyn chorava desesperadamente, soluços altos escapando de seus lábios.

"Eu prometo..." Ela gaguejou, fazendo o homem soltar um suspiro fraco de alívio.

"Agora... vá... Corra o mais rápido que puder... Eles podem chegar aqui a qualquer momento..." Ele instou a menina enquanto suas mãos fracas a empurravam para se levantar.

"Mas e você..."

"Eu vou ficar bem... Vou ficar bem enquanto souber que você está segura." Ele assegurou e tentou esboçar um pequeno sorriso, mas falhou miseravelmente.

Evelyn não sabia por que isso estava acontecendo com ela. Ela não fez nada de errado. Seu pai também era inocente. Por que estão atacando pessoas que estão tentando protegê-la? O que eles querem? Havia milhares de perguntas passando por sua mente, mas ela não tinha tempo para pensar nelas.

"E-Evelyn, vá. Eu posso ouvi-los chegando," Seu pai instou, o pânico tomando conta de suas feições. Ela olhou para o homem moribundo, mais lágrimas caíram de seus olhos enquanto ela se inclinava para dar um beijo em sua testa.

"Eu te amo, papai..." Seus lábios tremiam enquanto ela enxugava as lágrimas.

O homem tentou sorrir através da dor. "Eu também te amo, Eve... Fique segura e lembre-se do que eu disse, tá bom?" A menina assentiu, tentando limpar a visão piscando para afastar as lágrimas. Ela se virou em direção à floresta, relutantemente dando pequenos passos para lá.

Ela olhou para trás, para seu pai, uma vez que alcançou a linha das árvores e deu um pequeno sorriso para ele antes de correr para o fundo da floresta. Mesmo com medo da escuridão, a floresta lhe dava uma sensação de segurança.

Um grito alto vindo de onde ela tinha vindo fez Evelyn parar no meio do caminho. Ela sabia de quem era aquele som e isso fez sua cabeça girar. Seu corpo tremia enquanto ela caía de joelhos.

Seu pai... Seu pai não estava mais...

Evelyn ofegou ao acordar de repente de seu sono. Mesmo que a noite estivesse fria, ela suava profusamente.

O pesadelo não era algo novo para Evelyn.

Mas, apesar de assombrá-la por quase metade de sua vida, nunca deixava de fazê-la suar e sentir calor.

Ela olhou para fora da casa na árvore e viu que o sol já havia nascido. Era cedo de manhã e a luz do sol espreitando pelas árvores fazia a floresta parecer hipnotizante.

A vista acalmou sua mente perturbada.

Evelyn gostava deste lugar. A casa na árvore, apesar de estar vazia, não era tão ruim. Estava em um estado abandonado quando ela a encontrou pela primeira vez, mas com um pouco de limpeza, ficou perfeita.

Há uma pequena cachoeira perto da casa na árvore que atrai muitos animais. Evelyn amava os animais e eles a amavam também. Ela estava na floresta há dez anos, mas nunca foi atacada por nenhum deles.

Os esquilos e os macacos eram os que mais a divertiam. Eles sempre traziam frutas e flores para ela, sem que ela soubesse o porquê. No começo, ela ficou surpresa, mas agora isso se tornou algo comum. Onde quer que ela vá, sempre recebe esses pequenos presentes deles.

Ela também encontrou os principais predadores da floresta, mas eles nunca tentaram incomodá-la. Uma vez, um grande felino passou por ela como se ela fosse invisível. Ela não sabia o motivo pelo qual eles se comportavam assim com ela. Sempre pensou que era porque ela era uma lobisomem, mesmo que não tivesse um lobo interior.

Os animais a faziam se sentir segura e é por isso que ela gostava deles. Eles a mantinham segura das pessoas que a perseguiam. Segura de sua própria espécie...

Evelyn desceu da casa na árvore, caminhando em direção à cachoeira. Ela se sentou em uma das grandes pedras, aproveitando o som da água e da floresta.

Ela deveria sair daqui em breve. Estava ficando aqui há quase dois meses e não era mais seguro. É uma pena, porque ela gostava muito deste lugar.

Ela precisava se mudar e também comprar algumas roupas e necessidades, já que o inverno estava chegando. Ir aos pequenos vilarejos para comprar coisas sempre era emocionante para Evelyn, pois ela podia ver o que as pessoas como ela estavam fazendo. Mas também a deixava um pouco triste por não poder ter uma vida normal como eles.

Ela queria ser como eles. Rindo e aproveitando a vida com seus entes queridos.

Entes queridos...

Evelyn não tinha ninguém para amar.

Ela esqueceu como era sentir amor. Sua única esperança era encontrar seu companheiro, mas agora ela estava começando a perder essa esperança também...

Próximo Capítulo
Capítulo AnteriorPróximo Capítulo