Capítulo 4

Austin não conseguia conter sua crescente irritação, seus olhos mal focados na estrada à frente. Por que tinha que ser ela? A única mulher que tornava difícil para ele ser qualquer coisa além de indiferente. Como ele iria enganar as pessoas ao seu redor fazendo-as pensar que eles eram um casal apaixonado? Ele pressionou o pé no acelerador, fazendo o carro ir cada vez mais rápido. De alguma forma, ele sentia como se seu irmão estivesse zombando dele. Ele tirou o pé do acelerador; tinha assuntos mais urgentes para resolver. Isso era apenas um arranjo; um que ainda exigia o consentimento de Skylar Taavon. E ele conseguiria. De um jeito ou de outro.

Ele ligou para Thomas quando parou ao lado de um semáforo. Dois toques e a chamada foi atendida pelo destinatário.

"Crise familiar resolvida tão rápido?" O tom de Thomas era zombeteiro; um leve tremor de humor desviando seu timbre normalmente estável. Na verdade, Thomas não tinha ouvido nenhuma explicação real ou esclarecimento sobre a tal crise familiar quando Austin ligou para adiar sua reunião mais cedo naquele dia. A ambiguidade deixou Thomas com um gosto ruim na boca e um desejo de saber o que Austin Cyner estava escondendo. Esse homem era um livro aberto, geralmente falava francamente e sem motivo para se desculpar.

"Não exatamente," Austin inclinou a cabeça para o lado, virando quando o semáforo ficou verde. "E eu preciso de uma distração para desviar meus pensamentos sobre o assunto." Austin sorriu, sua voz suave e persuasiva. Ele sabia exatamente o tipo de ato que proporcionaria uma distração potente.

"Para sua sorte, o trabalho de um assassino nunca termina." A voz de Thomas ecoou sobre o som de seus dedos batendo no teclado. Esse parecia ser o lema de Thomas nos últimos anos desde que Avril foi embora, mas Austin sabia que era apenas uma desculpa para mantê-la fora de sua mente.

"Tenho algo perfeito para você. Simples e rápido." Thomas tinha considerado enviar o arquivo para um de seus juniores e, se Austin tivesse ligado dois minutos depois, o trabalho não estaria mais disponível.

"Perfeito. Me manda as informações por mensagem." Seu sorriso gotejava veneno, o foco voltando ao seu olhar, seu cérebro voltando à consciência.

"Quando vou ouvir sobre a crise familiar em detalhes?" Thomas ignorou o óbvio fim da conversa. Austin mordeu o interior da bochecha, considerando se era hora de divulgar informações. Ele sempre poderia desligar a chamada e fingir que não ouviu a pergunta...

"Vou me casar em breve." Austin respondeu abruptamente, sua mente ocupada em ultrapassar o carro à sua frente.

"Eu não sabia que você estava vendo alguém seriamente." Thomas respondeu após um considerável silêncio. Ele sabia que Austin era tão solitário quanto ele mesmo, exceto pelas distrações de uma noite. Austin casado? Ele acreditaria quando seus próprios olhos vissem Austin colocando um anel no dedo de uma mulher na presença de um padre e sua família.

"Não estou. Colin engravidou uma mulher e eu decidi me casar com ela no lugar dele," Austin pausou, engolindo o bile crescente ao pensar em se casar com uma mulher que achava uma boa ideia ser íntima de seu irmão. "Você sabe, para salvar a honra da família e toda essa besteira." Ele complementou. Thomas não estava mais feliz por ter perguntado, às vezes esquecendo o quanto a família de Austin era tradicionalista. Uma família que Thomas acreditava que Austin não devia nada, mas que sempre parecia usá-lo para consertar as bagunças de seus filhos ingratos. Ele realmente deveria mandar matar Colin. Thomas se recostou na cadeira, passando o polegar pelo lábio inferior.

"Não sei se devo te parabenizar ou te repreender." Thomas respondeu como se sentia. Não havia meias palavras entre eles. Casamento era um passo assustadoramente real. E ela estava grávida? Ele realmente esperava ter uma união duradoura apenas com base na responsabilidade mútua? O objetivo era co-parentar? Se fosse, o casamento não era necessário.

"Provavelmente ambos." Austin deu de ombros. Colin tinha forçado Austin a fazer a única coisa que ele jurou nunca fazer; considerar a possibilidade de se casar. Ele sabia que Thomas estava ponderando sobre a praticidade de um casamento real, mas Austin sentia que, se uma criança fosse trazida ao mundo, era melhor dar a ela ambos os pais. Ele cresceu sem uma figura paterna real em seus anos formativos, não podia sujeitar outra criança a isso. Não quando ele podia fazer algo.

Uma criança não deveria sofrer com pais discordantes quando ela não escolheu vir ao mundo.

"Quando vou conhecer os dois novos membros da família, então?" Thomas perguntou. Curiosidade e algo mais preenchiam suas veias. Como poderiam confiar em uma mulher que se permitiu ser engravidada por Colin Meyers? Seu gosto por si só era questionável.

"Você já conhece uma." Austin parou em um café charmoso. Eles tinham as melhores massas, de acordo com seu paladar. Seu estômago roncava em antecipação.

"O nome Skylar Taavon te lembra alguma coisa?" Ele não esperou Thomas responder ao seu comentário obscuro anterior. Nem tinha paciência para um jogo de adivinhação. Ambos mal conheciam mulheres que valessem a pena mencionar.

Se não fosse pelo leve zumbido do ar-condicionado no escritório de Thomas, que se infiltrava pelo lado da chamada, Austin teria assumido que a ligação caiu.

"Você sabia que Katerina era apenas um pseudônimo, não sabia?" As suspeitas de Austin foram confirmadas. Thomas pigarreou, mas não respondeu diretamente. Skylar havia confiado a ele seu segredo quando tinha apenas dezesseis anos. Depois disso, seu pai morreu e sua mãe a tirou da agência. Ele estava determinado a encontrá-la naquela época, certo de que ela precisaria de amigos para superar, mas seu pai sugeriu o contrário.

Eles queriam um novo começo, longe da lembrança do que perderam. Thomas teve que aceitar isso.

"É realmente ela?" A voz de Thomas mal era audível e Austin se perguntou se os rumores eram verdadeiros. Katerina... quer dizer, Skylar era realmente o primeiro amor de Thomas? Isso era o que se falava entre os trainees na época, sem mencionar que Skylar usou o nome de Thomas e a palavra "paixão" na mesma frase quando Danny Monk deu em cima dela. Ele tinha cerca de dezessete anos na época e não precisou de mais convencimento para deixá-la em paz.

"Crescida e mais feroz do que me lembro, mas é ela." Austin o assegurou remotamente.

"Onde ela está?" Thomas deslizou de volta na cadeira giratória. Ele estava de pé, pegando seu casaco, suas chaves de carro tilintando antes de se acomodarem na palma de sua mão.

"Não se preocupe," Austin desejou não ter ouvido o barulho. "Eu te levarei para vê-la, na verdade preciso da sua ajuda para convencê-la a aceitar minha proposta." Talvez ela estivesse mais inclinada a ouvi-lo na presença de Thomas.

"Ela disse não?" Thomas riu. Forte como sempre, ele pensou. Mas como diabos Skylar se envolveu com Colin?

"Você está surpreso?" Na verdade, Austin estava se surpreendendo. Por que ele não estava aproveitando a saída que ela caridosamente lhe proporcionou? Afinal, se ela não queria se casar, não havia muito que ele pudesse fazer para agradar seus pais.

Então, por que ele estava se estressando com isso?


A gravata em seu pescoço estava comprometendo seu acesso ao oxigênio na última hora. Austin a afrouxou, facilitando o fluxo de ar; seus dedos se movendo para acariciar seu copo de forma tentadora.

"Você parece que poderia usar alguma companhia."

Austin sorriu para seu copo como se tivesse visto uma piada impressa ali, virando sua atenção para a ruiva sedutora que se intrometeu em seu espaço.

"Foi o óbvio mau humor que me entregou?" Ele jogou o copo de lado depois de levá-lo aos lábios e esvaziar seu conteúdo; seus olhos nunca perdendo contato com os dela. Ele quase engasgou, aquele era um uísque bem ruim, mas o que ele esperava naquele lugar decadente. Os alto-falantes mal emitiam sons limpos, de alguma forma convencendo Austin de que a música que ele ouvia através deles era naturalmente cheia de estática. Cadeiras e mesas tinham sinais de "fora de serviço" colados nelas e os frequentadores desse bar eram principalmente homens velhos que não conseguiam comer, respirar ou dormir sem estarem bêbados.

Ela sorriu, deslizando para um assento ao lado dele. "Bem, agora podemos ficar de mau humor juntos." Cruzando as pernas e se aproximando o máximo possível dele, seu seio macio espiando pelo decote baixo e sua mente conjurou imagens de outro par de seios. Os de Skylar não eram tão cheios quanto os de sua nova companheira...

Austin balançou a cabeça, recusando-se a completar o pensamento. Ele não tinha direito ou desejo de lembrar dos seios de Skylar.

"Espero que possamos fazer mais do que isso," Austin falou contra o pescoço dela, apreciando a forma como seu corpo ganhava vida. "Se você estiver disposta, é claro."

Ele notou seu alvo correndo para a área do banheiro e Austin sorriu. O veneno que ele havia colocado na bebida do homem era de ação lenta, não letal, mas suficiente para assustá-lo e fazê-lo obedecer. Exatamente como Thomas queria. O humor de Austin para celebrar aumentou ainda mais, pois sua tarefa estava completa.

"Vamos?" Ele estendeu o braço para ela, sem por um segundo duvidar que ela o aceitaria. Esta noite, o nome não importava e nem o rosto. Embora ela tivesse um rosto que ele não se importaria de olhar esta noite, ele preferia seus olhos topázio - lentes de contato, ele tinha certeza - em vez da imagem escapando de orbes manchadas de mel.

Ele só precisava de algum conforto, do tipo que só poderia ser obtido pela fusão de corpos quentes em um ato suado e intenso de satisfação. Amanhã ele lidaria com sua futura noiva.

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