2. SACRIFÍCIO

Acordo com a cabeça girando, meus olhos embaçados enquanto olho para o teto luxuoso acima de mim. Minha mente luta para se aclimatar, como se estivesse emergindo de um pesadelo profundo. Pisquei os olhos por um segundo, tentando entender exatamente onde estou.

Tento me levantar, mas meus braços estão fracos, incapazes de segurar a cama macia que me envolve. Uma sensação de fragilidade me invade, a vulnerabilidade de estar em um lugar desconhecido tomando conta. Minha respiração começa a acelerar, e sinto meu coração batendo no peito, martelando de medo.

"Onde estou?" sussurro, a pergunta ecoando no quarto silencioso. "Para onde aqueles homens me levaram?"

O desespero continua a se espalhar por mim, minha mente nublada pela confusão e pelo medo do desconhecido. Faço uma tentativa desesperada de me levantar novamente, mas meus músculos parecem trair minha vontade. A curiosidade sobre meu paradeiro se mistura com a ansiedade, criando um turbilhão de emoções que me deixa ainda mais perdida e apreensiva.

O som de uma maçaneta girando me faz pular da cama, meu instinto de sobrevivência gritando para encontrar uma saída. Corro em direção à janela, mas a altura do lugar me faz dar um passo em falso. Estou em uma torre alta, cercada por uma floresta densa.

"Senhorita?" diz uma voz suave e calma, interrompendo meu frenesi. Viro-me abruptamente e encontro uma mulher mais velha, serena e imponente. Ela usa um longo vestido azul escuro, suas mãos repousando sobre ele com uma elegância tranquila.

Meu coração ainda bate descontroladamente, mas sua presença exala uma calma que começa a me tranquilizar. Pergunto com uma voz trêmula.

"Quem é você? Onde estou?" Minha curiosidade começa a rivalizar com meu medo enquanto a observo atentamente.

"Senhorita, você está no castelo do Lorde Blackwood. Eu serei sua governanta a partir de agora." Ela faz uma reverência diante de mim, um gesto respeitoso que me deixa perplexa.

"Desculpe. Mas quem é esse Lorde Blackwood, de quem todos falam tanto?" Pergunto enquanto dou alguns passos em sua direção, tentando soar gentil com minhas perguntas. Minha curiosidade é insaciável, uma fome voraz por respostas que possam me ajudar a entender por que estou aqui e o motivo pelo qual ele foi atrás da minha irmã.

"Senhorita, não podemos falar sobre o Lorde Blackwood e os sacrifícios," ela se aproxima de mim, seus dedos segurando minha mão gentilmente. Seus olhos castanhos encontram os meus, transmitindo uma tranquilidade momentânea que me faz suspirar de alívio.

Mas essa calma dura apenas alguns segundos, desaparecendo rapidamente quando suas palavras ecoam em minha mente.

"Sacrifício... isso significa que vou morrer?" O desespero me envolve como uma sombra. Meu coração bate mais forte, e meus olhos se enchem de lágrimas que ameaçam rolar pelo meu rosto. Não posso acreditar no que estou ouvindo.

Tento me afastar dela, meu corpo tremendo, minhas pernas ameaçando ceder.

"Não, isso não pode ser verdade. Eu não posso morrer aqui!" Minha voz treme com o pânico que ameaça me engolir. "Eu preciso sair daqui. Por favor, me ajude a escapar."

"Gostaria de comer algo especial? Acredito que você não tem se alimentado direito, senhorita." Mas ela simplesmente me ignorou, como se eu não tivesse dito nada. Sua voz soa calma enquanto ela pega um carrinho cheio de comida da porta, empurrando-o em minha direção.

Como ela pode pensar que eu quero comer algo quando a única coisa que desejo é sair deste lugar aterrorizante? Minha angústia aumenta enquanto ela insiste que eu coma.

"Eu não quero comer... Eu quero sair daqui!" Meus dedos se enroscam no meu cabelo enquanto grito em desespero.

"Como devo chamá-la?" sua voz soa calma como antes. Ela se afasta do carrinho, vindo em minha direção com passos lentos.

"Nyra... meu nome é Nyra." Minha voz treme, mas o simples ato de dizer meu nome parece trazer um sentimento diferente dentro de mim. Minhas mãos caem ao lado do corpo, como se eu estivesse prestes a perder as forças e desabar.

Suas mãos tocam meu rosto, levantando-o gentilmente para que meus olhos encontrem os dela. Não consigo explicar, mas seu olhar me acalma de uma maneira que nunca senti antes. É como se, mesmo em meio a esse tormento, houvesse esperança.

"Nyra, fique calma. Nada vai acontecer com você. Se não quiser comer, apenas deixe-me vesti-la, tudo bem?" Eu aceno fracamente, permitindo que ela me guie, como se estivesse sendo levada por um caminho irreversível. Por mais que eu tente me acalmar, algo dentro de mim grita que ela está mentindo, apenas para me manter tranquila.

"Você está mentindo para mim. Se eu vou ser sacrificada, isso significa que serei entregue à morte, a que custo?" Minha voz, embora fraca, carrega um tom de desafio. Apesar de querer acreditar nas palavras reconfortantes da governanta, uma sensação de inquietação persiste dentro de mim, como uma sombra que não pode ser dissipada.

Ela retira as mãos do meu rosto, seus olhos castanhos mantendo contato com os meus. Há uma tristeza passageira em seu olhar, como se carregasse um fardo que não pode compartilhar. "Nyra, não posso responder a essas perguntas agora. Tudo o que posso fazer é estar ao seu lado e cuidar de você. Por favor, permita-me ajudá-la da melhor maneira que eu puder."

Sua resposta só aprofunda minha angústia, deixando-me com mais perguntas do que respostas. Mas, por enquanto, permito que ela me ajude, estendendo um vestido branco feito inteiramente de tule transparente.

"Por que eu tenho que usar isso?" Seguro o vestido entre minhas mãos, olhando para ele, minha mente ficando cada vez mais confusa com tantas informações desconexas. Se vou para um sacrifício, por que vestir algo que me deixará completamente exposta?

"Apenas vista, Nyra. Eu garanto que você se sentirá mais segura. O banheiro está bem ali, querida." Ela aponta para a porta, que eu não havia notado até agora. Respiro fundo, dando passos lentos e desanimadores em direção ao banheiro.

Abro a porta e olho ao redor, perplexa com a decoração preta e dourada do banheiro, um enorme espelho que reflete meu rosto assustado e desgastado, sobrecarregado por tantos eventos. Fico em frente à bancada de mármore preto, lágrimas nos olhos, lembrando do momento em que decidi ficar no lugar da minha irmã.

Se eu não tivesse tomado o lugar dela, ela estaria aqui prestes a ser sacrificada por nada. Enquanto tiro meu vestido simples, deixo as lágrimas caírem no meu rosto, escorrendo pelo queixo e pelo peito. Fico apenas de roupa íntima porque o vestido exibe um busto definido, moldando meus seios de forma impecável e atraente, o tule caindo sobre meu corpo, causando um arrepio estranho. Quando me olho no espelho novamente, vejo o quão vulnerável estou, mesmo vestida; pareço estar nua com tanta transparência.

Minha respiração falha, viro meu corpo em direção à porta, segurando a maçaneta. Mas minha mão não a gira; meus dedos começam a suar, meu corpo treme, e uma sensação fria, mas quente, percorre meu pescoço. Meus olhos procuram por alguém, mas não encontram nada, deixando apenas a sensação de que alguém está perto de mim.

Batidas soam através da porta, me tirando do transe que acabei de experimentar.

"Nyra, você está bem?" A voz dela soa abafada através da porta fechada. Uma força incomum toma conta de mim, e abro a porta abruptamente, assustando tanto a mim quanto a ela.

"Sim... estou bem. Estou pronta para a morte." Minha voz soa sarcástica, mas o medo se torna avassalador. Como posso dizer que estou pronta para morrer? Sou tão jovem, tenho tanto para viver, para acompanhar e ensinar minha irmã, mas estou aqui por ela.

"Ótimo, querida, então vamos. Ele já está esperando por você." Meus olhos piscam algumas vezes, tentando processar suas palavras.

"Ele? Lorde Blackwood?" Engulo minha saliva com alguma dificuldade; minha garganta está muito seca. Abraço meu corpo na tentativa de me proteger quando suas mãos tentam tocar meu braço para me conduzir para fora.

"Você poderia me contar sobre ele, já que vou, você sabe, morrer em breve, quero saber o que esperar." Procuro seus olhos como um pedido de respostas. Ela hesita por um breve momento. Seus lábios se abrem como se estivesse prestes a desistir de dizer qualquer coisa. Mas ela me surpreende começando a falar.

"Tudo bem, apenas evite contato visual com ele. Ele tem a reputação de ser persuasivo quando alguém o encara." Isso deve ser suficiente para manter minha mente focada em não olhar para ele.

Enquanto a sigo em direção ao local, mantenho meus olhos fixos nas costas da governanta, o que me ajuda a manter o equilíbrio, embora minhas pernas estejam fracas, dificultando a caminhada.

"Aqui está ela, você pode abrir a porta." Aperto minhas mãos nas laterais do vestido, meus dedos começam a tremer ao ouvir o rangido das enormes portas de madeira escura.

A mão da governanta toca minha cintura, dando-me um leve empurrão em direção à entrada. Um vento frio toca sutilmente meus braços, enviando um arrepio completo por mim e deixando uma sensação de formigamento no meu pescoço.

Quando levanto meu olhar, meus olhos encontram os dele, travando de uma maneira que transforma meu corpo de frio para quente em questão de segundos. Enquanto isso, um sorriso malicioso se forma em seus lábios.

Capítulo Anterior
Próximo Capítulo
Capítulo AnteriorPróximo Capítulo