Capítulo 3

Ele resolveu tentar a sorte e girou a maçaneta; para sua surpresa, estava destrancada..

Ele a empurrou suavemente e entrou. Como imaginava, o menino dormia profundamente, enrolado em seu edredom macio.

Ele achava que seu quarto era chique, mas, ao ver o quarto de Ken, percebeu que não havia limite para o luxo na vida.

"Estar contente é ser feliz" — como sua avó sempre dizia.

Ele se aproximou da cama de Ken, colocando delicadamente a caneca na mesa de cabeceira.

"Ken, cara, acorde" — disse, dando um leve tapinha no ombro do menino.

Enquanto olhava para o garoto, percebeu que eles eram completamente opostos em comparação com sua própria infância.

Seus pais não eram bilionários ou mesmo milionários, mas sempre estavam juntos como uma família.

Ele nunca tinha sido deixado sozinho em casa e nunca tinha dormido sozinho.

O pobre menino tinha tudo o que qualquer criança invejaria, mas ninguém imaginava o quanto ele se sentia sozinho.

Seus pais estavam ocupados correndo atrás do dinheiro, esquecendo que seu filho também precisava de seu tempo e atenção.

Para ele, o dinheiro era inútil se fosse usado para substituir a presença de seus entes queridos.

Ele sempre seria grato por sua família, talvez ser mexicano fosse o que os fazia valorizar a família e tornava seu vínculo inquebrável.

Aqui nos Estados Unidos — em Nova York, para ser exato — ninguém ligava para isso; o que importava eram os dólares.

"Me deixa em paz, vai embora," Ken murmurou sonolento.

"Vamos lá, amigo. É só uma pequena xícara de leite, para fortalecer os ossos, você não quer ser forte e saudável?" Zeno perguntou.

"Quero," Ken respondeu, lentamente esfregando os olhos.

"Aqui está," Zeno viu que Ken estava tentando se sentar, então o ajudou a se levantar e a encostar-se na cabeceira da cama.

"Aqui," Ele cuidadosamente entregou a caneca de leite morno ao menino.

Ken a pegou e lentamente tomou gole após gole.

Zeno pacientemente ficou ao lado da cama, esperando que ele terminasse.

Ken finalmente bebeu cada gota do leite e devolveu a caneca a Zeno.

"Vai embora," Ken disse novamente, ele ainda não aceitava Zeno, ele só tinha bebido o leite porque queria ter ossos fortes como seu pai.

"Certo, cara. Te vejo de manhã," — disse Zeno, cobrindo Ken com cuidado.

"Boa noite," Ele deu um tapinha na cabeça dele antes de pegar a caneca e sair.

De volta ao seu quarto, ele se sentou exausto no chão, relaxando as costas na lateral da cama.

Ele fechou os olhos e suspirou; tinha sido uma longa noite. Fazia um mês desde que ele perdeu seus pais e sua avó foi hospitalizada, as coisas não estavam sendo fáceis para ele.

Ele nunca imaginou que a sorte o levaria até ali; acreditava que Deus ainda não queria levar sua avó e, por isso, lhe deu um jeito de salvá-la.

Ele realmente devia uma a Anna.

O último pensamento em sua mente era tomar um banho e lavar o suor e a sujeira da briga, ele planejava ir para casa amanhã e pegar suas roupas, mas, quando abriu os olhos, a luz do sol estava entrando pela grande janela retangular que ele não tinha notado na noite anterior.

"Poxa… dormi no chão." Ele esfregou a palma da mão no rosto cansado.

Ele olhou para o relógio na parede e ficou aliviado ao ver que eram apenas 6 da manhã, ele pensou que ia se atrasar no seu primeiro dia oficial como babá.

Ele se levantou e foi até uma porta do lado esquerdo do quarto, ele esperava que fosse o banheiro, ele estava precisando muito usá-lo.

Mas, antes que pudesse alcançá-la, uma batida soou na porta, interrompendo sua jornada até o banheiro.

Ele caminhou até a porta e a abriu, o mordomo Nicole estava lá, carregando duas bolsas pretas de viagem nas mãos.

"Bom dia, senhor." Zeno cumprimentou.

"Bom dia, Zeno. Aqui," O mordomo Nicole levantou as bolsas para Zeno.

Zeno parecia confuso, mas ainda assim as pegou. Ele não queria que o velho se sentisse mal ou insultado.

"O que tem dentro..."

"Suas roupas. Você não precisa sair desta casa até que o chefe volte. Tudo o que você vai precisar está dentro das bolsas." O mordomo Nicole explicou e saiu imediatamente.

Zeno ficou parado na porta por um tempo antes de entrar com as bolsas.

Ele as colocou na cama e abriu uma delas, com certeza, toalhas, roupas que variavam de calças, cuecas, camisas, regatas, moletons, calças de moletom e até artigos de higiene pessoal estavam todas embaladas dentro da bolsa.

A outra estava cheia de sapatos, tênis, sandálias e meias.

Ele se perguntou de novo quem afinal era esse chefe que tratava os funcionários como hóspedes de um hotel cinco estrelas. Ser rico com certeza era bom.

Ele pegou uma cueca, um short preto, uma camisa branca, uma escova de dentes e pasta de dentes, e entrou no banheiro.

Como esperado, o banheiro parecia sofisticado.

Ele rapidamente escovou os dentes e tomou um banho. Não teve tempo de admirar o interior estético do banheiro.

Saiu do banheiro e encontrou o tablet apitando com uma notificação.

Ele entendeu que o tablet era como um guia para ele, e anotou mentalmente que deveria sempre levá-lo consigo para não perder nada.

Pegou o tablet e deslizou a tela para cima, vendo seis notificações:

• Acordar Ken.

• Escovar os dentes dele.

• Dar banho nele.

• Preparar o café da manhã (sanduíche de vegetais).

• Fazer o que ele quiser pelo resto do dia.

• Nunca levá-lo para fora da mansão sem permissão.

Ele pegou o tablet e saiu do quarto.

Desta vez, ele não bateu na porta porque sabia que Ken ainda estaria dormindo, era muito cedo para ele acordar.

Entrou no quarto e viu o menino abraçando o travesseiro enquanto dormia. Sentiu uma espécie de sentimento tomar conta dele enquanto olhava para o menino adormecido.

Sua expressão inteira transbordava solidão. Lembrou-se dos raros dias em que os pais viajavam a negócios — abraçava o travesseiro do mesmo jeito — mas sempre tinha a avó, e nunca se sentia de fato sozinho.

Ele se sentou na cama e deu um leve tapinha na bochecha de Ken. O menino murmurou incoerentemente e virou para o outro lado.

"Ei, garoto. Hora de acordar!" Ele disse um pouco mais alto do que o normal.

Ele sabia que isso irritaria o pequeno chefe, mas ele tinha um dever a cumprir.

"Me deixa em paz," Ken disse sem abrir os olhos.

"Desculpe, mas não posso. Vamos, para o banheiro." Ele levantou Ken da cama e o carregou até o banheiro.

"Eu disse não! Me deixa em paz!" Ken lutou nos braços de Zeno, mas isso não abalou a determinação de Zeno, o peso dele não era exagerado.

"Aqui estamos," Ele colocou Ken de pé quando entraram no banheiro.

"Saia!" Ken tentou sair, mas Zeno ficou na frente da porta, bloqueando-o.

"Desculpe, garoto, mas você precisa escovar os dentes e tomar banho" — disse Zeno, recostando-se na porta e olhando preguiçosamente para as unhas, como se tivesse o dia inteiro.

"Eu não quero," Ken cruzou os braços no peito.

"Mas, você tem que," Zeno imitou a postura dele.

"Ok, que tal fazermos um acordo?" Zeno se abaixou ao nível de Ken.

"O quê?" Ken perguntou, fazendo beicinho.

"Eu sei que você não gosta de sanduíches de vegetais, certo?" Zeno perguntou.

"Sim, por quê?" Ken perguntou, virando o rosto para o lado com os braços ainda cruzados.

Ele decidiu que não faria nada do que Zeno lhe dissesse. Ele não cairia nos truques dele.

"Escove os dentes, tome seu banho, eu farei waffles de leite doce para você, e..."

"Sério?!" Zeno recuou com o grito ensurdecedor.

Ele não sabia que Ken era capaz de tanta energia, ele o observou enquanto pulava para cima e para baixo, esperando que ele confirmasse o que acabara de dizer.

"Sim, eu prometo," Zeno respondeu, sorrindo.

"Combinado!" Ken pegou a escova e se posicionou diante da pia, escovando os dentes como se não tivesse acabado de recusar entrar no banheiro minutos antes.

Zeno o observou com um sorriso. Ele mentalmente agradeceu à sua avó por lhe ensinar tudo o que sabia sobre crianças e como cuidar delas. Ele teria ficado tão perdido com Ken.

"Você sabe fazer?" Ken perguntou a Zeno enquanto se sentava em um banquinho na cozinha.

"Claro, cara. Só assista," Zeno piscou para Ken.

Zeno misturou os ingredientes e os despejou na máquina de waffles já aquecida.

"Viu, não foi tão difícil," Zeno disse enquanto tirava o avental.

"Já está pronto?" Ken perguntou, animado no banquinho.

"Não, senhor. Mais um minuto," Zeno disse.

Zeno se aproximou de Ken e se sentou no banquinho ao lado dele.

"Me diga, filho, eles nunca deixam você comer doces?" Zeno perguntou.

Ele já sabia a resposta, mas queria confirmar o quão rigorosos eram os pais dele.

"Não," Ken respondeu balançando a cabeça.

"Bem, se você me aceitar como seu amigo, poderíamos ter refeições de trapaça mais frequentemente," Zeno ofereceu.

Ele queria deixar o menino o mais confortável possível com ele, queria ajudar a aliviar a solidão dele durante o período em que seria sua babá.

"Fechado! Você disse, não volte atrás com suas palavras," Ken disse, apontando seu dedinho fofo para Zeno.

"Jura de mindinho?" — disse, estendendo o dedo mindinho para Ken.

Ken entrelaçou seu dedinho com o de Zeno, sorrindo fofamente.

Ele estava começando a gostar desse novo cara, parecia que ele seria melhor do que as babás anteriores.

Zeno riu da empolgação de Ken.

"Aqui está, jovem senhor," Zeno colocou um prato de waffles com morangos frescos fatiados, regados com leite condensado.

"Uau! Isso tá com uma cara ótima" — disse Ken, esfregando as mãos e lambendo os lábios.

"Então experimente," Zeno disse, acariciando a cabeça de Ken.

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