Xena, a Filhote Asa

A semana passou em um piscar de olhos.

Querendo estar deslumbrante para a cerimônia de sexta à noite, Micaela agendou uma série de compromissos de beleza e até se encontrou com um estilista para ajudá-la a escolher a roupa perfeita. Sem mencionar, e mais importante, reservar um tempo de qualidade com seu marido, George, o que significava ir a todos os jogos em casa dos Seattle Mariners naquela semana.

Persephone esteve em sua mente a semana toda, mas foi só na noite de quarta-feira, depois que ela e George voltaram do jogo, que ela conseguiu entrar em contato.

Antes de mais nada, Micaela sabia que precisava avaliar Persephone para ter certeza de que ela não cairia tão facilmente nos encantos e na boa aparência de Chris Ericson. A última coisa que ela precisava era jogar essa inocente e desprevenida cordeirinha em uma jaula com seu afilhado tarado, apenas para vê-lo devorá-la completamente e usar seus ossos como palito de dente em apenas cinco minutos.

Ansiosa para dar início à história de amor na vida real, ela enviou uma mensagem para seu alvo pedindo para se encontrarem no Jardim Botânico Japonês Kubota.

Para seu desgosto, Persephone respondeu imediatamente que já havia planejado uma visita para a manhã seguinte, assim que abrissem... às seis.

Depois de amaldiçoar-se silenciosamente, Micaela respondeu com um entusiasmo gramatical fingido: "Seis horas da manhã está ótimo!!! Mal posso esperar!!!!" (Adicionando emojis para garantir: Carinha sorridente, carinha sorridente, polegar para cima).

Felizmente, no dia do passeio pelo jardim, Persephone a cumprimentou com um copo de café da loja onde se conheceram. Infelizmente para ela, a bebida tinha gosto de perfume floral com um toque de baunilha. Que pecado, pensou Micaela desaprovando. Quem diabos arruinaria os preciosos grãos de café dessa maneira quando sua missão na vida era se sacrificar com o único propósito de trazer alegria aos cérebros das massas?

Mesmo assim, Micaela se animou mentalmente. Ela raramente acordava tão cedo e, se essa era a única xícara de café que viria ao seu resgate, sabia que teria que seguir em frente com a única forma de cafeína disponível hoje, mesmo que estivesse mascarada em líquidos frufrus.

Micaela Dawson não era de desistir!

Ainda assim, ela descobriu que só conseguia dar um gole apertado de vez em quando, e apenas quando realmente precisava.

Elas passaram uma hora caminhando pelos caminhos do jardim, apreciando a natureza e as vistas da folhagem verde com esparsas manchas de flores silvestres em flor.

As hortênsias estavam especialmente lindas com seus tons suaves de violeta e azul. Quando Persephone sugeriu que ela desse alguns passos para trás e olhasse a cena como um todo, Micaela ficou maravilhada. Ela estava olhando para uma obra-prima viva, com os arbustos coloridos em toda a sua glória no primeiro plano e árvores altas e dramáticas ao fundo. Seus corpos verde-escuros cortados em formas geométricas realmente destacavam a beleza das flores. Ela odiava admitir, mas ver o jardim na luz suave do sol era realmente um deleite visual.

Quarenta anos em Seattle e ela nunca teria visto isso se não fosse por Persephone.

"A natureza proporciona as obras-primas mais únicas," Persephone quase sussurrou, olhando na mesma direção que Micaela. "Só precisamos lembrar que temos o poder de ampliar nossos horizontes."

As duas mulheres sorriram uma para a outra.

Aproveitando a oportunidade, ela rapidamente perguntou: "Isso é algo que você faz com frequência?" Micaela retrucou. "Ampliar os horizontes?"

Persephone inclinou a cabeça e sorriu. "É o que a vida é, não é? Quando você está em um aperto, você amplia seus horizontes para encontrar uma solução."

Ela olhou para ela, Micaela podia jurar que sentia a alma de Persephone. Seu corpo podia ser jovem, mas ela apostaria sua carreira que sua alma havia superado mil dificuldades.

"Você deve ter passado por algumas coisas," Micaela provocou.

Persephone simplesmente se virou, sem reconhecer suas palavras. "Vou olhar os lagos," ela disse, caminhando à frente de Micaela.

Ela a seguiu.

Quando finalmente encontraram um lago, Persephone ficou perto da água, esticando os braços para o céu, fechando os olhos e sorrindo. Ela inalou profundamente, como se quisesse encher os pulmões com aquele momento preciso para sempre.

Esse foi o momento que a cativou no coração de Micaela.

Qual é a sua história? Micaela se perguntou, lembrando que tinha uma agenda a seguir. "A paz é algo que você não tinha muito na Califórnia?" Ela perguntou suavemente quando Persephone abriu os olhos.

Sem fazer contato visual, ela notou a jovem mulher respirar fundo novamente... e demorar para responder, como se precisasse encontrar a resposta perfeita.

Quando finalmente a encarou, Persephone simplesmente disse: "A paz é a melhor coisa do mundo," respondendo melancolicamente, passando por Micaela.

Tentando encontrar uma maneira de sutilmente entrar no assunto de relacionamentos, Micaela se virou lentamente para Persephone.

Ela congelou quando notou a maneira delicada como seu corpo se movia. Ela a observou enquanto se dirigia a um banco de pedra que não parecia muito confortável, embora, ela tivesse que admitir, se estivesse usando as sandálias de salto que Persephone estava usando naquela caminhada, provavelmente pareceria muito convidativo para ela também.

Apesar do frio no ar, Persephone desabotoou seu casaco de sarja rosa, revelando um deslumbrante vestido de verão branco com desenhos de medalhões marrons. Ela se sentou com a graça de uma gazela, cruzando as longas pernas com a mesma delicadeza.

Essa era uma jovem muito bem arrumada, pensou Micaela aprovadoramente. Chris teria sorte de tê-la – ela só esperava que ele não estivesse cheio de doenças venéreas.

Antes de se juntar a Persephone no banco, decidiu que era hora de finalmente acabar com a farsa da bebida horrível que ainda carregava. Lembrou-se de ter passado por uma lixeira alguns passos atrás e não perdeu tempo em se dirigir a ela. Ao se aproximar do cesto, notou um jovem muito, muito bonito e suado ajoelhado ao lado de seu cachorro nas proximidades. Seu cabelo estava grudado de suor, fazendo o tom preto parecer ônix brilhante. Seu rosto era anguloso e masculino.

Ele a olhou por um momento, estremecendo como se a reconhecesse – o que era engraçado porque ela também tinha a sensação de já tê-lo visto antes.

O que não parecia familiar eram aqueles olhos magníficos! Deste ângulo, seus olhos pareciam de um impossível tom suave de violeta!

Meu Deus do céu, esse homem era a perfeição, Micaela refletiu, lamentando, realmente lamentando não ter quarenta anos a menos!

Ele estava soltando seu golden retriever, mas seus olhos agora estavam fixos em Persephone.

"Ok, lá está ela, garota." Micaela o ouviu sussurrar para seu cachorro. Ele colocou uma bola de tênis na boca dela. "Aqui está a bola. Vai!"

Ao comando, a peluda correu obedientemente até Persephone, deixando a bola aos seus pés.

Micaela viu o rosto de Persephone se iluminar com um sorriso assim que viu o cachorro. "Você não é uma preciosidade?" Ela perguntou docemente ao filhote, coçando as orelhas do cachorro. "Sim, você é!"

Filho da mãe, Micaela refletiu. Esse cara tinha a arte da conquista dominada: músculos, cachorro irresistível, olhos violetas... tudo.

Quando o jovem correu em direção a Persephone com um sorriso (que só o tornava ainda mais devastadoramente bonito, ela admitiu), Micaela sabia que era hora de se juntar à sua nova amiga. Com sorte, isso lhe diria o que queria saber, porque se Persephone pudesse resistir a esse Adônis, ela definitivamente poderia resistir ao seu afilhado.

Micaela caminhou rapidamente até os dois.

"Xena!" O cara gato chamou seu cachorro ao se aproximar do banco de Persephone. "O que você está fazendo? Não a incomode, garota! Ela está relaxando!"

Alheia ao encontro deliberadamente acidental, Persephone adorou. Ela continuou a acariciar o cachorro perfeito.

"Ela não está me incomodando," ela olhou brevemente para o pedaço de homem, mas sua atenção voltou imediatamente para o cachorro. "Ela é a mais doce."

Micaela não sabia como o cachorro fazia isso, mas ela realmente achou que viu a cadela sorrir.

"Obrigado," ele se abaixou para acariciar seu pet enquanto se ajoelhava bem na frente de Persephone. "Você é a mais doce, não é, garota?" Ele acariciou o pelo dela amorosamente, mas rapidamente focou em Persephone. "Meu nome é Ryan La Montagne," ele estendeu a mão para ela.

Ela apertou a mão dele, "Persephone de Cordova," felizmente, ela fez um gesto em direção a Micaela, que começava a se sentir como um estorvo.

Quarto, se contasse Xena.

"Essa é Micaela Dawson."

Ele se levantou, estendendo a mão para ela. Micaela juntou as peças. "Ryan La Montagne? Primeira base dos Seattle Mariners?" Ela perguntou mais por reflexo. Claro que era ele. Ela não o tinha reconhecido sem o boné de beisebol e as calças justas do uniforme.

De pé, com as mãos na cintura, ele fez um gesto breve com a palma aberta. "Sim - você é uma assinante de temporada, certo? Acho que já te vi atrás do banco com seu... marido?"

Micaela assentiu. "Meu George!" Ela confirmou, colocando as mãos sobre o coração.

Persephone deu um último carinho em Xena, a cadela cupido, e se levantou. "Na verdade, ela é uma autora famosa." Ela esfregou as mãos contra o casaco.

Ryan se virou para ela. "Ah é? O que você escreveu?"

Micaela balançou a cabeça. "Tenho certeza de que nada que você tenha lido." Ela não conseguia imaginar esse atleta ficando acordado até tarde para terminar leituras melosas de sua mente.

"Tente-me," ele desafiou.

Desafio aceito, pensou Micaela. "Romance," ela deu de ombros. "Tenho certeza de que não é seu gênero de interesse."

Ele esboçou um sorriso e olhou para Persephone. "Ainda não."

Ah, ele era bom, Micaela refletiu ao perceber que agora ele estava usando ela para abrir a porta para uma sessão de flerte com Persephone.

Embora o movimento fosse quase imperceptível, Micaela viu Persephone se enrijecer.

Ela não foi tão sutil quanto provavelmente esperava ao puxar o celular do bolso do casaco.

"Ah, droga. Estou atrasada." Ela se virou para olhar para os dois. "Micaela, foi um passeio adorável. Vamos fazer isso de novo!" Ela se virou para Ryan. "Tchau!" Ela disse de forma desajeitada antes de correr em direção à saída.

Micaela e Ryan se viraram um para o outro, cada um perdido em seus próprios pensamentos.

Bingo, pensou Micaela.

Que a história de amor comece.