Capítulo 2 Charles e Sharlec
"O que está acontecendo aqui, Detetive Brand?" O policial Dylan olhou para seu colega mais velho com perplexidade.
A verdade é que Brand também não entendia. Em todos os seus anos na força, ele nunca havia encontrado algo tão bizarro.
"Esqueça isso por enquanto. Vamos verificar a cena do crime. Se prendemos o homem errado, podemos nos desculpar depois. Agora, nossa prioridade é levar o verdadeiro culpado à justiça!"
Com isso, Brand pisou no freio e correu com Dylan para a cena do crime.
Enquanto isso, na sala de interrogatório do Departamento de Polícia de Burmington.
Charles continuava seu monólogo sem fim.
"Sim, sim! Um único crime nunca poderia satisfazer a crescente sede de sangue no coração de Sharlec. Ele definitivamente buscará novos alvos. Deixe-me pensar... jovens mulheres fazendo compras na Avenida New Star? Ou talvez aqueles trabalhadores de escritório apressados? Não, matar essas pessoas não representa desafio para ele. Ele deseja excitação—o prazer de escapar, ou até mesmo zombar da polícia!"
Em seu estado de transe, Charles parecia formar algum tipo de ressonância com o personagem de sua escrita. Sussurros começaram a ecoar ao seu redor.
Charles voltou à consciência. Seu cérebro parecia estar se expandindo, como se enormes fluxos de informação estivessem invadindo sua mente.
Ele vislumbrou uma porta antiga, mas ricamente decorada, materializando-se diante dele. À medida que continuava criando sua história, a porta lentamente começou a se abrir.
...
"Senhor, é inútil. O culpado foi muito cuidadoso desta vez—não deixou uma única pista para trás," Dylan disse, agachando-se para examinar o chão com uma lupa.
Brand ficou furioso, "Isso é impossível! A câmera de vigilância o capturou claramente!"
Dylan levantou-se com um suspiro. "A Avenida New Star é a rua comercial mais movimentada de Burmington, com milhares de pessoas passando por lá diariamente. Ver alguém que se parece com Charles não seria tão incomum."
"Não!" Brand puxou seu tablet, apontando enfaticamente para a tela. "Eu nunca o confundiria! Só ele tem aquela expressão—aquela arrogância genética que apenas criminosos natos possuem!"
...
"Não! O que estou pensando?" Charles voltou à consciência. A estranha porta desapareceu de sua vista.
"Se os personagens das minhas histórias estão realmente entrando no mundo real para cometer crimes, continuar escrevendo me tornaria um cúmplice!"
"Isso não pode estar certo. Estou apenas criando histórias—não quero matar ninguém!"
Charles beliscou a ponte do nariz, tentando se acalmar. Então ele sussurrou, "Assim que a polícia estava perdida, uma testemunha anônima forneceu uma pista crucial. Ele havia observado todo o crime e disse claramente ao policial mais velho em qual direção o culpado havia fugido."
Depois de dizer isso, Charles desabou na cadeira como se toda sua energia tivesse sido drenada.
"Isso deve resolver. Menos de dez minutos se passaram desde que o crime foi relatado. Sharlec não pode ter ido muito longe. Espero que o Detetive Brand o prenda rapidamente."
"Será estranho enfrentar um personagem da minha própria escrita nesta sala de interrogatório."
...
Enquanto Brand e Dylan ainda estavam tentando descobrir como proceder com a investigação, um vendedor de sorvete em um caminhão de comida modificado parou lentamente na frente deles. "Policiais!"
"Não, obrigado," Brand acenou para o vendedor se afastar, gesticulando para ele ir embora.
Mas o vendedor se inclinou para frente conspiratoriamente. "Policial, tenho informações de primeira mão sobre o assassinato. Está interessado?"
"O quê?" Brand congelou, então sua expressão endureceu. "Passe isso. Agora!"
O vendedor, assustado pela intensidade dele, rapidamente deu alguns passos para trás. "Espere, policial! Como você pode ver, sou apenas um pequeno empresário. Estou arriscando minha vida ao lhe dar essa informação. Talvez você devesse me dar alguma... bem, recompensa?"
"Típica mentalidade de comerciante. É por isso que eu desprezo pessoas como você." Brand olhou para ele com desdém antes de levar a mão ao bolso, apenas para descobrir que havia esquecido a carteira.
Relutante, ele sinalizou para Dylan com os olhos.
Dylan sorriu educadamente e entregou ao vendedor algumas notas.
O vendedor, satisfeito, prontamente entregou seu telefone.
O telefone continha outro vídeo. Parecia ter sido gravado ao lado do food truck, a imagem tremida e um pouco desfocada.
Mesmo assim, Brand pôde identificar claramente o assassino daqueles inocentes como ninguém menos que Charles.
"Eu sabia que era ele!"
A filmagem não terminava aí. O vendedor de sorvete não só havia capturado todo o crime, mas também a direção em que o perpetrador fugiu.
Sem hesitação, Brand e Dylan saíram em perseguição.
...
Passos pesados se aproximavam da sala de interrogatório.
Charles se sentia desorientado, sua cabeça latejava de dor e tontura. Imagens bizarras piscavam diante de seus olhos.
Ele viu alienígenas de pele cinza e deformados.
Testemunhou fantasmas horripilantes e etéreos.
Vislumbrou lobisomens uivando sob a luz da lua e vampiros misteriosos com presas afiadas à espreita nas sombras.
A porta da sala de interrogatório se abriu silenciosamente.
O visitante revelou apenas metade do corpo, mantendo o rosto oculto na escuridão.
"Olá, Charles. Acredito que esta seja nossa primeira reunião? Embora em sua mente, você provavelmente ache que sabe tudo sobre mim."
"Afinal, eu sou você—ou melhor, uma projeção do seu eu interior."
O corpo de Charles ficou tenso com essas palavras.
Após um momento de hesitação, ele pronunciou o nome. "Você é Sharlec."
"Sharlec? Certo. Reorganize as letras de 'Charles' e você terá 'Sharlec'. Você foi bastante cuidadoso para evitar compartilhar um nome com aquele famoso detetive."
"Você veio aqui para me matar?" A expressão de Charles voltou à sua calma sinistra.
Desde a morte de seus pais, ele achava o mundo real dolorosamente entediante. Só quando imerso no reino mental ele se sentia verdadeiramente vivo.
Agora, um personagem de sua escrita havia ganhado vida e estava diante dele, aparentemente com a intenção de tirar sua vida.
Ele riu amargamente. "Ser morto por um personagem fictício que eu mesmo criei—provavelmente um primeiro na história."
Sharlec apertou a ponte do nariz com a mão esquerda e suspirou suavemente. "Matar você seria interessante, mas não é minha intenção."
"Por que não? Você não quer o crime perfeito? Matar seu criador em uma sala de interrogatório, depois assumir sua identidade para viver uma nova vida? Ninguém suspeitaria de você. Eles apenas assumiriam que o criminoso cruel Charles Jones cometeu suicídio devido à culpa insuportável!"
Sharlec ouviu pacientemente as palavras de Charles. Ele fez uma pausa antes de responder, "Essas características foram dadas a mim por você, mas eu tenho meus próprios pensamentos."
"Responda-me uma pergunta, Charles: O que faz você ter tanta certeza de que seu mundo é o real?"
Enquanto ele falava, a antiga porta que havia desaparecido anteriormente reapareceu diante de Charles.
Sharlec estava no limiar, banhado pela luz que emanava de dentro enquanto a porta se abria.
Charles instintivamente estreitou os olhos. Então ele ouviu o sussurro de Sharlec, "Entre e veja. Só então você entenderá como é a verdadeira realidade."








































































































