Capítulo 3
PONTO DE VISTA DE XANDER
Finalmente terminado com a minha consulta, a cliente se levantou da cadeira, ainda parecendo nervosa, mas seu sorriso contava uma história diferente... como se eu tivesse acabado de lhe dar um filhote de cachorro e um vibrador ao mesmo tempo.
“Acho que te vejo amanhã?” ela perguntou, olhando para o meu braço como se estivesse pensando em pedir meu número e minha camisa.
Dei meu sorriso característico, dentes à mostra o suficiente para provocar, mas não o suficiente para prometer. “Amanhã, então. Vou pegar leve com você.”
Ela mordeu o lábio. “Eu não me importaria se você não pegasse.”
Eu ri e segurei a porta para ela, que saiu, me lançando um último olhar como se estivesse me despindo com os cílios.
Assim que a porta se fechou, Addy gemeu dramaticamente de onde estava esparramada no sofá. “Coitada, vai ficar arrasada quando descobrir que você não gosta de buracos horizontais.”
Balancei a cabeça. “Que porra isso significa?”
“Significa que ela quer montar no seu rosto e você prefere montar no irmão dela... ou no pai. Talvez nos dois, conhecendo você.” ela disse com um sorriso. “Você é definitivamente o despertar bissexual de alguém, Xan.”
Layla, sentada na beirada do balcão da frente, mais uma vez segurando aquele ingresso do Arcadia Bloom como se fosse seu primogênito, riu. “Sério, você precisa parar de flertar com os clientes. Vai acabar engravidando uma delas só com o seu hálito.”
“Eu nem flertei,” eu disse, recostando-me. “Só sorri.”
Ela bufou. “Por favor. Aquilo não foi um sorriso, foi uma preliminar. Você sabe o que seu sorriso faz, metade dos seus clientes saem daqui precisando de roupa íntima nova.”
Addy gargalhou. “Fato. Já vi olhares menos sedutores em filmes pornôs, Xan.”
Balancei a cabeça. “Vocês são dramáticas.”
Layla apontou um dedo para mim. “Todos sabemos que metade dos seus clientes marca sessões só para gemer seu nome enquanto estão sob a agulha.”
“Ah, por favor,” eu disse, revirando os olhos. “Não se faça de inocente. Você se jogou em mim quando nos conhecemos.”
Ela abriu a boca, chocada. “Eu não fiz isso!”
“Fez sim.”
Ela gemeu, escondendo o rosto nas mãos. “Concordamos em nunca falar sobre isso.”
“Você disse isso,” eu disse, com um sorriso presunçoso.
“Eu estava bêbada!”
“Você estava sóbria,” Addy disse.
Layla olhou furiosa para ela. “De que lado você está?”
Recostei-me na cadeira, sentindo-me mais relaxado do que o dia todo.
Addy inclinou a cabeça, estreitando os olhos para mim. “Espera... sou a única que não tentou te pegar no momento em que nos conhecemos?”
Eu dei de ombros. “Acho que tenho esse efeito.”
Elas continuaram rindo, lançando mais provocações, mas a piada me atingiu de forma diferente no peito.
Porque o único rosto que eu conseguia ver de repente não era de uma cliente flertando e mordendo o lábio, era o de Jax.
Aquele olhar que ele me deu naquela manhã. Possessivo. Como se ele acreditasse que eu já pertencia a ele ou algo assim.
Como se fosse um sinal, meu telefone vibrou com uma nova mensagem na mesa, e o som foi tão agudo que me fez estremecer. Olhei para baixo.
Sem nome.
Mas eu reconheci o número. Gravado no meu cérebro agora como uma marca acidental.
Meu estômago revirou.
Não disse nada. Apenas girei na cadeira, virando as costas para Layla e Addy enquanto elas continuavam discutindo sobre sei lá o quê.
Meu dedo pairou sobre a tela.
O que diabos ele queria agora? Verifiquei a mensagem.
"Nossas vidas seriam muito mais fáceis se a gente só transasse e acabasse com isso."
Eu fiquei olhando para ela, as palavras eram ousadas e sem desculpas. Como se ele não estivesse apenas pensando nisso... ele realmente queria.
Que audácia.
Eu não era estranho a conversas sujas. Eu falava, eu ouvia. Fazia parte do território. Mas isso? Isso não era alguém jogando conversa fora por diversão.
Parecia uma ameaça ao meu controle. Como se ele soubesse algo que eu não sabia. Como se ele já tivesse a vantagem e estivesse só esperando eu perceber. Travei a tela e joguei o telefone no balcão.
"Idiota," murmurei baixo.
"O quê?" Layla perguntou, agora desenhando um projeto com Addy ao lado dela.
"Nada," respondi, rápido demais.
Então meu telefone começou a tocar. Mesmo número maldito. Meu estômago revirou, o coração disparou direto para a garganta. Eu não era uma virgem tímida, mas aquela ligação parecia radioativa.
Eu poderia ignorar. Bloquear ele. Ir embora e esquecer.
Mas eu não funcionava assim.
Eu precisava lidar com isso, e acabar com o que quer que isso estivesse se tornando. Lógica. Limites. Sanidade.
"Vou pegar um café," disse, levantando.
"Já é o cliente ligando para uma sessão privada?" Addy perguntou.
Layla sorriu. "Pega um café pra mim também. E eu não reclamaria de um docinho."
"Tá, tá." Eu já estava saindo pela porta.
O ar lá fora estava mais frio do que eu esperava. Caminhei rápido, telefone na mão, enquanto a ligação tocava pela segunda vez. Atendi, sem parar, precisando do impulso.
"O que diabos você quer?"
A voz dele veio, suave e tão irritantemente confiante. "É inevitável. Você sabe disso. Eu sei disso."
Eu bufava. "Me deixa em paz."
"Eu tentei...não funcionou."
Continuei andando. As vitrines borravam. Cheguei ao beco estreito entre um salão e uma loja de conveniência detonada que cheirava a desodorizante vencido, e entrei. Precisava de privacidade e espaço.
"Como diabos você sabe onde eu moro?"
Ele não respondeu imediatamente. Apenas um momento de silêncio e então, "Não importa."
Eu trincava os dentes. "Sim, importa pra caralho."
"Você quer que eu te conquiste ou algo assim?" A voz de Jax baixou, zombeteira e espessa como mel.
"O que eu quero é que você pare de me encher o saco. Eu tenho coisas pra fazer. Vou bloquear seu número de verdade, entendeu?"
Outra pausa.
Então ele disse, baixo e deliberado, "Você está com medo?"
Aquilo atingiu um nervo.
"Eu te assusto...Xander?"
Meu pulso disparou, o calor subindo pelo pescoço, mas eu empurrei isso para baixo. "Pare de jogar seus jogos idiotas. Entendeu, babaca?"
"Quando eu começar a brincar com você," ele disse, voz como veludo escuro, "você vai saber."
Eu parei de andar, algo elétrico rastejando sob minha pele.
"E falando em babacas..."
Desliguei antes de ter que ouvir o resto.
Encostado na parede de tijolos frios, exalei forte, segurando meu telefone como se ele me devesse uma explicação.
Maldito desgraçado!
Não eram apenas as palavras. Era como elas atingiam. Como ele as dizia como se soubesse que eu pensaria nelas o dia inteiro. Como se ele já tivesse entrado sob minha pele e estivesse se acomodando lá. Eu precisava seriamente me controlar.
