Quatro

"Sua culpa?" pergunto, levantando ambas as sobrancelhas. "Isso está longe de ser sua culpa. Aquele cara, Tristan, começou quando decidiu ser um idiota comigo esta manhã." Não pense nos lábios inchados daquela garota, suas roupas todas desalinhadas, o sorriso triunfante de Tristan... "E não se preocupe, eu esperava por isso." Fazendo uma pausa, dou a Miranda um olhar crítico. Não estou julgando, mas estou curiosa para entender por que ela está tão interessada em ser minha amiga quando seus colegas agem como se gostassem de me ver enforcada. "Posso te perguntar por que você está tão interessada em ser minha amiga mesmo?" Levantando as mãos, continuo antes que Miranda possa se magoar. "Não é que eu não seja grata ou algo assim. Sério, te conhecer foi o ponto alto da minha semana."

Logo antes de empacotar e ser enviada para cá, tive uma semana de aniversário bem ruim em casa. Meu pai estava bebendo de novo, tão mal que quase não saí. Quase fiquei para cuidar dele, mas acho que sou muito egoísta para desistir de uma oportunidade como essa. Foi culpa da minha mãe, eu acho, resistindo à vontade de ceder àquela velha raiva. Primeira vez em quase um ano que ela aparece na nossa porta e é logo antes de eu partir. Toda vez que ele tem um encontro casual com aquela mulher, meu pai volta a beber. Ela me disse para agradecê-la por me matricular na escola com seis anos, entregou um monte de presentes para o meu décimo quinto aniversário e saiu como folhas ao vento de outono.

"Eu..." Miranda começa, fazendo uma pausa breve e exalando. Ela levanta seus olhos azuis para os meus. "A mamãe te contou a história dela?" Ela pergunta, e eu assinto. Eu sei tudo sobre Kathleen Cabot e sua ascensão ao topo da indústria de tecnologia e à lista das Mulheres Mais Poderosas da América da Forbes. "E sobre a parte em que ela teve o Creed e eu, e depois se mudou para Grenadine Heights e nos mandou para a escola pública?"

Minhas sobrancelhas se erguem, e acho que minha boca se abre em surpresa. Kathleen Cabot vale bilhões, e ela se mudou para Grenadine Heights? Claro, comparado ao vagão de trem em que meu pai vive (não pergunte, longa história), é um pouco chique, mas a maioria das pessoas chamaria de classe média. E escola pública, hein?

"Declaração política?" pergunto, e Miranda dá de ombros, ajeitando parte daqueles lindos cabelos loiros platinados atrás da orelha. O cabelo do irmão dela era tão claro, talvez mais claro, quase branco, mas com um brilho dourado inconfundível sob a luz do sol. Outro idiota rico inútil. Eu o expulso dos meus pensamentos. Bem, quer dizer, se eu estivesse sozinha na minha cama, talvez pudesse pensar nele... Minhas bochechas esquentam, e volto minha atenção para Miranda.

"Ela queria que a gente crescesse bem, mas com senso suficiente para..." Miranda faz um gesto na direção da Galeria, que, aparentemente, é o nome do balcão no segundo andar, à esquerda do palco. Fileiras de cadeiras confortáveis ocupam o espaço, e mesmo que eu tente não olhar, preciso dar uma olhada para ver quem está sentado lá.

Tristan Vanderbilt está bem na frente, impossível de perder com aquele sorriso sombrio, como sombras sob a máscara de uma boca cheia e carnuda. Creed Cabot está ao lado dele, mas não como um subordinado ou um ajudante, mais como um rival. Aquela vadia, Harper du Pont, está à esquerda de Tristan, com uma garota loira ao lado dela. Andrew está lá em cima também, e quando me vê encarando, ele acena.

Um pequeno sorriso brinca em meus lábios. Ok, tudo bem. Tenho inimigos em Tristan, Creed e Harper. Talvez naquele cara que estava fumando também (Gregory, era?) mas também tenho aliados. Então os Ídolos e o—verifico a página ainda segurada em meu punho—Círculo Interno, eles não podem ser todos podres. Posso lidar com algumas maçãs podres.

"Senso suficiente para não agir como Creed agiu hoje," Miranda finalmente diz, completando seu pensamento. "Acho que o truque não funcionou com ele, mas talvez tenha funcionado demais comigo." Ela olha para os joelhos nus por um momento. "Nunca me senti confortável indo para a escola com essas pessoas. Sinto falta da minha antiga escola, para ser honesta com você. Se eu pudesse ir para a Grenadine Heights High, eu transferiria em um segundo."

"Então o que você está dizendo é que eu sou a única pessoa normal no campus?" pergunto, e Miranda levanta a cabeça, me lançando um sorriso.

"Praticamente. Todo mundo aqui está ocupado demais se amando para desperdiçar energia com qualquer outra pessoa." Ela dá de ombros e se inclina para trás no banco, observando a sala com um olhar crítico. Nunca fui tão grata por uniformes em toda a minha vida; é impossível distinguir os bilionários dos milionários dos... casos de caridade. Suspiro. Há pequenos toques aqui e ali que dão pistas de personalidade: um laço preto coberto de caveiras, um punhado de pulseiras de madeira, cadarços vermelhos brilhantes. Todos tecnicamente contra o código de vestimenta, mas é o primeiro dia; os alunos estão testando os limites.

"Fico feliz em ser sua única amiga normal em toda a escola," digo com um sorriso, "mas estou longe de ser da Grenadine Heights High. Mais como... se eu tivesse ficado em casa, estaria indo para a Lower Banks High." As sobrancelhas de Miranda se erguem, e eu dou um meio sorriso. Conheço a reputação da LBH. Minha escola, localizada bem em frente, não tem uma reputação muito melhor.

"Não tenho certeza se os alunos da LBH são piores do que os daqui," Miranda hesita, os olhos se levantando para a Galeria onde os, uh, Ídolos estão sentados. Três Ídolos masculinos, três femininos. Que hierarquia social estranha, e tão estruturada. Enquanto estamos sentadas lá, Miranda pega o papel da minha mão, desenhando linhas entre os nomes. "As linhas sólidas significam que estão namorando. Linhas quebradas significam que estão em um relacionamento instável. Linhas onduladas significam que são rivais."

"Estou ferrada?" pergunto finalmente, assim que a multidão começa a se acalmar e um grupo de administradores assume suas posições no palco à frente da sala. Miranda não encontra meus olhos, os dela subindo para a Sra. Felton enquanto ela assume o centro do palco e inicia os discursos de abertura. Podemos estar em uma escola para os alunos mais ricos do mundo, mas juro que já ouvi esse mesmo discurso um milhão de vezes na minha vida.

"Se todos os Ídolos estiverem contra você..." ela começa, engolindo em seco e batendo a caneta contra o papel no meu colo. "Então tenho que admitir que estaria preocupada com você. Sério, muito preocupada. As chances não são boas, Marnye."

Assentindo, foco minha atenção na frente da sala e tento não pensar no pior.

Já enfrentei valentões antes, e sobrevivi; posso fazer isso de novo.

O que eu não sabia naquele momento é que esses caras... não são nada parecidos com os da minha antiga escola.

As coisas estão prestes a piorar muito, muito antes de melhorarem.

REED, MARNYE - 1º ANO, BURBERRY PREP HORÁRIO ACADÊMICO

SEGUNDA/QUARTA/1ª SEXTA:

Sala de Aula: Sra. Felton, Sala T1

Período 1: Literatura Acadêmica, Sala CH7

Período 2: Trig/Pré-Cálculo, Sala CH9

Intervalo

Período 3: Início de Japonês, Sala T210

TERÇA/QUINTA/2ª SEXTA:

Sala de Aula: Sra. Felton, Sala T1

Período 1: Química Avançada, Sala SB1

Período 2: Arte, Música e Dança, Sala MM1

Intervalo

Período 3: Governo, História e Cívica, Sala CH3

OBRIGATÓRIO PARA TODOS OS PRIMEIROS ANOS:

A aula de educação física e saúde é realizada na academia a cada dois segundas-feiras após a aula, a menos que o aluno esteja participando de esportes em equipe. Ausências requerem aprovação por escrito do treinador. Isso é obrigatório a partir da segunda semana de aula.

Guardando meu horário no bolso, sigo Miranda para nossa sala de aula compartilhada no décimo segundo andar da primeira das quatro torres que vi no pátio esta manhã. Com base em minhas próprias experiências de vida, já estou temendo subir doze lances de escadas de pedra. Mas uma vez que entramos na estrutura de pedra antiga, são só luxos modernos: incluindo um elevador.

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