Capítulo 7: Os encrenqueiros
Já passava das oito da manhã e Lilia continuava limpando as mesas na cafeteria da família. Os aromas persistentes de café fresco e pão assado flutuavam no ar enquanto os últimos clientes saíam, o sino acima da porta tilintando em sua esteira. Enquanto Miguel e Rosa conversavam baixinho na cozinha, Lilia cuidava da frente vazia, aproveitando um momento para respirar a calma antes da correria matinal. Mas seus sentidos se aguçaram ao ouvir vozes na rua - um grupo de homens rindo ruidosamente.
Um medo afundou em seu estômago com a aproximação deles. "Lá vêm os encrenqueiros," murmurou, franzindo o nariz para as vozes altas e as aparências desleixadas.
Um dos amigos do homem careca se aproximou, exalando cheiro de suor velho e fumaça de cigarro. Ele coçou o queixo por fazer, olhando-a com desdém enquanto gritava seu pedido. "Cinco mochas, garota. E pão."
Enquanto Lilia se apressava para preparar o pedido, o tilintar das canecas e o vapor dos cafés mascaravam suas piadas grosseiras, outro se aproximou sorrateiramente. "Sorria, bela moça," ele zombou, o hálito quente soprando em seu pescoço.
Os companheiros dele riram e gritaram, o arrastar das cadeiras e as batidas das botas no chão de madeira irritando os nervos de Lilia. Ela queria mais do que tudo escapar da presença sufocante deles e devolver à loja sua habitual atmosfera tranquila.
"A senhorita Bonita não tem interesse em você," rosnou o homem careca enquanto se levantava da cadeira, suas mãos carnudas apoiadas na mesa.
O cheiro de suor velho e cerveja emanava de suas roupas gastas enquanto ele se dirigia ao balcão.
"Acho que é sua vez de tentar a sorte então," zombou seu amigo, fazendo os outros caírem na gargalhada, o que abalou ainda mais os nervos de Lilia.
O primeiro homem voltou para seu grupo enquanto o careca tomava seu lugar, invadindo o espaço de Lilia atrás do balcão apertado.
"Ah, senhorita Bonita, posso saber seu nome?" ele perguntou, o rosto barbudo se abrindo em um sorriso malicioso enquanto olhava para ela, o cheiro de tabaco em seu hálito.
"Aqui está o pedido de vocês, senhores," Lilia respondeu rigidamente, colocando a bandeja carregada com canecas de café e pão sobre a superfície de madeira desgastada para criar distância entre eles.
"Você não deveria ser a responsável por entregar na nossa mesa?" o careca zombou, apontando um dedo calejado em sua direção. Seus olhos pequenos a examinavam, fazendo o estômago de Lilia revirar.
Ela ansiava por escapar dos cheiros sufocantes e da presença opressora dos homens que a cercavam. Mas a resistência só incitaria mais assédio, então Lilia manteve a boca fechada. Ela respirou fundo, fortalecendo seus nervos enquanto o cheiro acre de fumaça de cigarro velho pairava no ar. Segurando a bandeja firmemente, ela a levou até a mesa e colocou cada pedido com cuidado, desejando mais do que tudo escapar dos olhares maliciosos dos homens.
"Aqui está tudo. Algo mais que eu possa trazer para vocês?" ela perguntou educadamente, já se afastando em direção à relativa segurança do balcão.
"Moça, você é realmente linda. Qual é o seu nome?" um deles rosnou, enviando um hálito azedo em sua direção.
Lilia permaneceu em silêncio, temendo uma interação prolongada. Quando se virou para sair, o homem careca estendeu uma mão carnuda, envolvendo firmemente seus dedos grossos em torno do pulso fino dela. O toque dele fez sua pele arrepiar.
"Por favor, me solte, tenho outras coisas para fazer..." Lilia implorou, encontrando o olhar penetrante dele com desconforto.
"Eu só quero saber seu nome, isso é tão errado?" ele zombou.
Para satisfazer o homem e se livrar de sua atenção indesejada, Lilia disse seu nome brevemente antes de se apressar para longe, esfregando a marca que o aperto dele deixou.
"Lilia. Lilia Cruz. Estou indo embora agora," Lilia disse, já se afastando.
"Espere um momento. Eu sou Victor Ramos, um soldador," o homem careca disse com um sorriso, seus olhos penetrantes nunca deixando o rosto dela.
Seus amigos zombaram e riram. "Um soldador careca!" As risadas zombeteiras encheram o ar abafado.
Lilia balançou a cabeça em exasperação enquanto se escondia atrás do balcão mais uma vez, aliviada pela barreira entre ela e o olhar vagante de Victor. O cheiro persistente de suor e graxa dele permanecia mesmo à distância. Victor permaneceu em seu assento, mas seus olhos continuavam a seguir cada movimento de Lilia atentamente. Ela continuou seu trabalho, bela mas humilde, inteligente embora incapaz de reconhecer plenamente seus próprios méritos por acreditar que os outros a superavam. Quando Victor se levantou novamente para se aproximar, foi quando a mãe de Lilia chegou do mercado, interrompendo seu plano. Os aromas familiares de frutas e vegetais acompanharam sua entrada, confortando Lilia.
"Comprei o que você precisa para a lavanderia, querida. Água sanitária, amaciante, tudo," disse a Sra. Cruz, entregando os produtos de limpeza.
"Obrigada, mãe. Agora posso lavar nossos lençóis, até as toalhas e os lençóis velhos," Lilia respondeu com um sorriso, feliz pela distração.
"E Miguel e Rosa?" perguntou sua mãe.
"Estamos aqui, tia Sofia!" chamaram Rosa e Miguel, saindo da cozinha perfumada.
"Aí estão vocês. Terminaram o café?" perguntou a Sra. Cruz.
"Sim, terminamos," respondeu Rosa.
"Ótimo, eu cuido da loja. Vá para casa e cuide das suas tarefas, querida. Certifique-se de terminar, pois teremos convidados na próxima semana," disse a Sra. Cruz para Lilia.
"Sim, mãe." Lilia assentiu e saiu, o cheiro de café torrado impregnado em suas roupas.
Rosa e Miguel perguntaram quem viria visitar. A Sra. Cruz explicou: "Minha irmã Analiza e sua família ficarão aqui por alguns dias. Um descanso relaxante para eles."
"Será uma boa companhia para você," comentou Miguel educadamente.
Enquanto isso, Victor seguia Lilia furtivamente enquanto ela saía, curioso sobre suas rotinas diárias. Mas Lilia, de olhos atentos, percebeu sua presença e rapidamente se escondeu atrás de uma esquina fora de vista. Victor piscou confuso, a garota que ele estava seguindo desapareceu de repente.
"Onde ela foi?" ele murmurou, girando para procurar pela rua, captando apenas traços desvanecidos do perfume floral de Lilia na brisa.
Depois que Lilia confirmou que Victor havia se afastado, ela emergiu de seu esconderijo entre arbustos floridos perto de um poste de energia. Os transeuntes lançaram olhares curiosos, se perguntando por que ela estava agachada ali.
Lilia caminhou rapidamente para casa, sua pele úmida se arrepiando enquanto pensamentos inquietos enchiam sua mente. O que o homem careca queria dela? Ela suspeitava que seu interesse não era nada honroso.
"Aquele homem lascivo," ela murmurou para si mesma, abraçando-se contra a brisa quente da manhã.
Perdida em preocupações, Lilia não percebeu o tráfego e quase pisou na rua. Uma buzina estridente a trouxe de volta à realidade.
"Cuidado, moça! Quer se matar?" gritou o motorista furioso ao passar.
Com o coração disparado, Lilia percebeu o quão descuidada havia se tornado. Ela não quer um relacionamento como o comportamento de Victor. O que ela quer é uma pessoa nobre que a ame verdadeiramente.
"Você está bem, moça?" perguntou uma mulher preocupada, tocando gentilmente o braço de Lilia.
"Sim, obrigada," Lilia respondeu, acalmando seus nervos antes de atravessar a rua com segurança entre os outros.
Mas os pensamentos inquietos sobre o homem careca ainda persistiram durante toda a manhã.

















































































































































































